tag:blogger.com,1999:blog-56884900554324608262024-03-14T00:42:43.582-07:00Castelos de LetrasCéliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.comBlogger334125tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-83931875273520081262020-03-04T03:21:00.003-08:002020-03-04T03:21:52.742-08:00NOVA CASAO meu blogue bonito migrou para o Sapo.<br />
<br />
Visitem-no no endereço abaixo.<br />
<br />
<a href="https://castelosdeletras.blogs.sapo.pt/">https://castelosdeletras.blogs.sapo.pt/</a>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-44117745611796828832020-02-27T08:04:00.003-08:002020-02-27T08:05:23.517-08:00#245 FREUD, Sigmund, Cinco Conferências sobre a Psicanálise<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião: </b></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><span style="background-color: white;">Freud foi um revolucionário que se atreveu a estudar o comportamento humano, a traçar a história do indivíduo, a escutá-lo, a seguir as suas neuroses até à origem. Para isso, teve de se despir de muitos dos preconceitos e ideias pré-concebidas da época. Teve de sujar-se e de chocar. Por muito que os seus métodos pouco tivessem de científico, são a pedra base para o entendimento de traumas e neuroses, e como curá-las. Interessou-me sobretudo a sua asserção de como a sociedade, a civilidade, reprimem impulsos básicos do Homem enquanto animal, e de como isso conduz à doença de espírito e às chamadas "perversões".</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span>“Antes ainda da puberdade, assiste-se ao recalcamento enérgico de certos instintos, e forças psíquicas como a vergonha, a repugância ou a moral estabelecem-se como guardiões destes recalcamentos. Com a puberdade, a maré cheia do apetite sexual será repreada pelas chamadas formações reativas ou de resistência, que canalização o seu curso para as vias ditas normais e que impedirão o reavivamento dos instintos recalcados. São sobretudo os impulsos coprófilos da infância, ou seja, o prazer associado aos excrementos, que estarão mais expostos ao recalcamento.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><span style="background-color: white;">De salientar que tinha um domínio admirável da palavra, e que foi-me possível seguir os seus raciocínios com facilidade.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihRpLiMIpO1Cxp9ea09MzrSqIcNV9vdSihJlyIasK48UhDkJARAL2C9BlweYdKvm58q-z8lziqy31kDTg3LOXzrqhm3JTsuJ6WJnfQgvAFqdWNpUMgK8s15sd_5gh3ViczKoBC2QpWkO4/s1600/1_rPEem5TJSqscSwCGijT9ZA.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihRpLiMIpO1Cxp9ea09MzrSqIcNV9vdSihJlyIasK48UhDkJARAL2C9BlweYdKvm58q-z8lziqy31kDTg3LOXzrqhm3JTsuJ6WJnfQgvAFqdWNpUMgK8s15sd_5gh3ViczKoBC2QpWkO4/s320/1_rPEem5TJSqscSwCGijT9ZA.jpeg" width="240" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;">Falamos de repressão (recalcamento) de ideias que as convenções nos obrigam a rejeitar - </span><i style="background-color: white;">como a jovem que se alegra pela morte da irmã num primeiro momento, considerando que agora poderá casar-se com o cunhado</i><span style="background-color: white;"> - também se silenciam os impulsos sexuais das crianças (admitindo-se que o comportamento sexual se inicia muito cedo, com a exploração do próprio corpo e na relação com a mãe, o pai e o mundo ao redor. Freud aborda a interpretação dos sonhos como momentos em que o subconsciente se mostra vulnerável e projecta receios, traumas, para o universo consciente. Fala de hipnose e de como por vezes essa técnica de Breuer auxilia, e outras atrapalha, o tratamento. Lança luz a algumas questões fundamentais do comportamento - como os gestos falhados, os esquecimentos momentâneos, a relação entre pais e filhos.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;">Levou-me à conclusão de que o cérebro (para este neurologista) era algo que ele estudava com paixão e o qual encarava em toda a sua complexidade, tendo devotado a sua vida a procurar compreendê-lo. Volvidos 120 anos, ainda não sabemos tudo sobre narcisismo, psicopatia, depressão, ou mesmo sobre a pertinência ou possível utilidade dos sonhos para a consciência. Continua tudo envolto em mistérios que nem a ciência e a medicina conseguem explicar ou curar por completo. E a maravilha desses mistérios começou a ser desvendada por Freud.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;"><b>Sinopse: </b></span><span style="background-color: white;">A 27 de agosto de 1909, Freud desembarca nos Estados Unidos. É a primeira e última vez que pisa solo americano. Tem 53 anos e viaja a bordo do George Washington na companhia do seu estimado Ferenzci e de Jung, de quem se afastaria mais tarde. A Clark University, para onde se dirigiam e que celebrava o seu 20.º aniversário, situa-se na Nova Inglaterra, em Worcester.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;">As cinco conferências decorrem em setembro, em alemão e de improviso.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;">No auditório de médicos, psicólogos e professores, em geral céticos em relação à psicanálise, destacam-se o antropólogo Boas, Adolf Meyer, que se tornará um importante psiquiatra, o neurologista Putnam, o experimentalista Titchener e William James, que se encontrava doente, mas que queria «ver como era Freud».</span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-15657450693896404662020-02-25T05:56:00.002-08:002020-02-25T06:00:10.901-08:00#244 HAMSUN, Knut, Victoria<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiVmvjaQ7yWrRN4r8C8HpSOuFAoN5g3m4bqKVLHGKz47abQtkDFPPK6MV6m3XwcBwTZ_53Utg_n0BgSx6wT2mZ-lcow8bhyGfMXwKJszfo9XCuam1RfQQ9RoD8iokPeA8zENDXAQabfKs/s1600/WhatsApp+Image+2020-02-25+at+13.59.13.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiVmvjaQ7yWrRN4r8C8HpSOuFAoN5g3m4bqKVLHGKz47abQtkDFPPK6MV6m3XwcBwTZ_53Utg_n0BgSx6wT2mZ-lcow8bhyGfMXwKJszfo9XCuam1RfQQ9RoD8iokPeA8zENDXAQabfKs/s320/WhatsApp+Image+2020-02-25+at+13.59.13.jpeg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse:</b> <span style="background-color: white;">«Hamsun é o mais notável escritor norueguês desde Ibsen.» (Times Literary Supplement)</span></span></div>
<span id="freeText9995922381199318920" style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span id="freeText9995922381199318920" style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span id="freeText9995922381199318920" style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
<div style="text-align: justify;">
«Victoria», livro de rara beleza narrativa, é uma das obras mais representativas de Knut Hamsun. O enredo marca o regresso do autor de «Pan» – escrito quatro anos antes – ao tema do trágico desencontro amoroso, que tem na descrição da beleza taciturna e melancólica da natureza nórdica o seu espelho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Johannes, filho de um modesto moleiro, que em jovem sonha trabalhar numa fábrica de fósforos para ter os dedos sempre sujos de enxofre e assim não ter de apertar a mão a ninguém, ama Victoria, jovem de família aristocrata mas com poucos meios financeiros. Contudo, o deles será um amor impossível, pois Victoria vê-se obrigada a casar com o rival Otto para salvar a família da bancarrota.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span id="freeText9995922381199318920">Em adulto, Johannes tornar-se-á num poeta, que se orgulha de conhecer os nomes das árvores e dos pássaros. Continuará a jurar amor eterno a Victoria, mas o sentimento que nutre por ela é fruto da obsessão, do orgulho e da distância, precipitando um trágico final quando chamado a cumprir-se.</span> </div>
</span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião: </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white;"><b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Alguém pergunta o que é o amor. Diremos: «O amor é um vento que murmura nas roseiras e depois abranda. Mas por vezes é também um selo inviolável, que dura toda a vida. Deus criou diversas espécies de amor: as que duram e as que perecem.»"</span></b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">A vida de Knut Hamsun, que escreveu este </span><i style="background-color: white;">Victoria</i><span style="background-color: white;"> em 1898, parece-me ter o cunho da existência dos grandes artistas. Uma solidão, um isolamento que começaram cedo e que nem a convivência com familiares ou casamentos (invariavelmente falhados) conseguem mitigar. Parece-me fascinante ler sobre este norueguês que passou por tantas paragens, que operou tantos ofícios, e que abominava o meio urbano. Também notável a seu respeito, é o facto de ter publicado um livro com 90 anos, com tal eloquência que deitou por terra o parecer psiquiátrico a que havia sido submetido, e que o declarava senil.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A proximidade à natureza - que nos concede recantos para reflexão, simplicidade e alimento, está muito patente nesta sua obra. Por toda a narrativa vêm denominadas flores, árvores, cursos de água, e são parte da história. Engraçado como a memória se imprime em locais específicos, ou em objectos. E como o amor surge destruidor, quando contrariado. Corrói o interior das personagens, afasta-as de si mesmas e dos seus valores iniciais, bem como da sua própria natureza.</span></span></div>
<span style="background-color: white;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Como a sinopse indica, trata-se de uma história de desencontro amoroso. O moleiro e Victoria, filha do castelão, impedidos de viver o seu amor juvenil um pelo outro, vão andar pela vida sob o peso dessa amargura. As suas vivências e escolhas acabam por ter sempre impacto no outro, pois que não conseguem existir dissociados. Talvez seja essa a faceta nefasta do amor: por muito que a pessoa deva viver a sua vida, e até se alegre que a outra também esteja a viver a sua, tantas vezes as alegrias de um são a morte de espírito do outro.</span></span></div>
<span style="background-color: white;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Achei uma obra de uma simplicidade desconcertante: Bela, angustiante, melancólica. Jamais associaria o seu autor a alguém que conduziu elétricos em Chicago ou que defendia o intelecto e os intentos de Hitler. Tempos complexos, essas décadas do século XX.</span></span><br />
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><u>Classificação: 4****/*</u></b></span></span></div>
<span style="background-color: white;">
</span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-15523690473619508132020-02-16T05:02:00.003-08:002020-02-16T05:02:41.033-08:00#243 COETZEE, J. M., Desgraça<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fmRAJ-K2xidWCdKIVc9CiHVdb5_Q03uLeHj9calzuoc7y8gk29821U5wMU8H9sVU_a7wVNuuEcWMuHcYUqYNe0eLgmBIQY5hcjEhI0XuXEb6S66_jXLGr6Dj9CF2GYHREU5kOR14m5g/s1600/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.53.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fmRAJ-K2xidWCdKIVc9CiHVdb5_Q03uLeHj9calzuoc7y8gk29821U5wMU8H9sVU_a7wVNuuEcWMuHcYUqYNe0eLgmBIQY5hcjEhI0XuXEb6S66_jXLGr6Dj9CF2GYHREU5kOR14m5g/s320/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.53.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse: </b><span style="background-color: white;">Desgraça é muito mais do que um relato social: é um relato de sobrevivência pessoal numa sociedade decadente. Passado na África do Sul pós-apartheid, este romance sincero e despudorado centra-se em David Lurie, professor universitário na Cidade do Cabo, de meia-idade, divorciado, que divide o seu tempo entre o desânimo das aulas e as satisfações momentâneas que encontra numa prostituta. Quando esta o deixa de atender, David desvia as atenções para uma jovem aluna, começando uma aventura sexual que, quando tornada pública, o leva ao despedimento e à humilhação.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Opinião: </span></b></div>
<blockquote style="background-color: white; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"Está bem, eu vou. Mas só se não tiver de me tornar numa pessoa melhor. Não estou preparado para me regenerar. Quero continuar a ser eu mesmo."</span></i></b></blockquote>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Galardoado com o prémio Nobel da Literatura em 2003, J.M. Coetzee é um Sul-africano naturalizado australiano. Este é o primeiro romance que li da sua autoria, e já acrescentei à lista, para ler, <a href="https://www.goodreads.com/book/show/12356700.__Espera_dos_B_rbaros" rel="nofollow" title="À Espera dos Bárbaros by J.M. Coetzee">À Espera dos Bárbaros</a>.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Interessa-me muito ler sobre África e as suas complexidades, e durante a leitura veio-me à ideia a trilogia das irmãs Keating sobre o Quénia. Mas o Quénia das irmãs Keating é um Quénia pós-domínio britânico, e a África do Sul de Coetzee é dos anos 90. Dói bastante o facto de ser tão contemporânea, mesmo porque há um senso doloroso de potencial desperdiçado.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
A nossa personagem principal, o Professor David Lurie, é produto dessa complexidade cultural. Começa o romance com uma posição relativamente privilegiada, numa Universidade, e é destituído do cargo devido aos impulsos incontroláveis da sua sexualidade decadente. Como homem de meia-idade, horroriza-o a falência da masculinidade, do intelecto, do vigor dos membros para realizar tarefas manuais. Junto da filha, uma mulher corajosa que nunca cheguei a compreender por completo, terá oportunidade de reflectir um pouco sobre si mesmo, as suas acções, a sua personalidade e o que, em si e na África profunda, lhe parece imutável.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
O David Lurie de Coetzee não é heróico, nem um idealista, nem se propõe a mudar coisa alguma. É apenas um homem já não muito novo, já não muito forte, perante uma sociedade estratificada e dura que não perdoa um deslize, mas que, ainda assim, é prolífera em favoritismos, em tirania subtil e em crueldade humana.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<b>Terminei o romance com um travo a angústia e a frustração</b>. África é sempre mágica, e também é sempre implacável. Este romance mostra-o com grande competência.</div>
</b></span><div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Classificação: 4/5****</span></b></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-10123308195399547672020-02-16T04:53:00.002-08:002020-02-16T04:54:16.142-08:00#242 STEINBECK, John, A Leste do Paraíso<div style="background-color: white;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQA27x3bK7AQbyW3cArZNaSf9K9MpU_Kje3RqFZ5Tr6m-M_njQfLqggXKj0M3-bXRVBqs2bmSEtTobXr6BL7QgZuJQXhPCCHlqk0zfGnkWNdXLUBHoKqCx2ojCkKa9hBMQeiPJX0iLuAc/s1600/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.37.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQA27x3bK7AQbyW3cArZNaSf9K9MpU_Kje3RqFZ5Tr6m-M_njQfLqggXKj0M3-bXRVBqs2bmSEtTobXr6BL7QgZuJQXhPCCHlqk0zfGnkWNdXLUBHoKqCx2ojCkKa9hBMQeiPJX0iLuAc/s320/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.37.jpeg" width="320" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião: </b><br /><i><b>"E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; acaso sou eu guardador do meu irmão?"</b> (Génesis 4:9)</i></span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i>A Leste do Paraíso é um romance publicado por John Steinbeck em 1958, dez anos antes da sua morte e quatro anos antes de lhe ser concedido o Nobel. Li-o convencida de que a maturidade do escritor, em termos de imaginação, de domínio da língua e de compreensão do animal humano estavam no seu auge. Esta percepção levou-me a considerar que esta teria sido a última obra em vida de Steinbeck, mas estava errada. Assim sendo, o apogeu do autor não ocorreu necessariamente quando estava em posse de maior compreensão do mundo ao redor, mas num instante de clarividência em que decidiu debruçar-se sobre a sua família e os seus antepassados, e sobre a vivência dos habitantes do Vale do Salinas, na Califórnia.</span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><i><b>"Então Caim deixou a presença do Senhor, e viveu na terra de Nod, a Leste do Paraíso."</b> (Génesis 4:9)</i></span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i>Emprestando a esta obra um cunho vincadamente bíblico, Steinbeck projetou nas família Hamilton e Trask trechos da sua própria ancestralidade, personagens da sua vivência e episódios da sua infância e juventude. A família Hamilton é povoada de personagens inesquecíveis, bem como o núcleo Trask. O mais admirável são, no entanto, as relações. A dinâmica das relações marido e mulher, pai e filhos, irmãos, criados e amos. Várias personagens são francamente inesquecíveis – Adam Trask (Adão), Lee (o chinês sábio que nos enternece desde o início), Samuel Hamilton, o inventor louco e ternurento, a maquiavélica Cathy e os jovens Cal (Caim?) e Aaron (Abel?).<br />Senti-me envolvida nos diálogos e nas decisões das personagens, torci por elas e sentei-me com elas sob as estrelas na noite californiana, a discutir vocábulos em hebraico, mitologia grega e literatura internacional.<br />Steinbeck polvilhou este romance colossal de humanidade, de dúvidas existenciais. Importa-lhe menos a sociedade, a injustiça, e mais o indivíduo e os seus dilemas interiores. Neste romance debatem-se o bem e o mal, ao longo de três gerações da família Trask. O bem e o mal, anjos e demónios. Sempre à luz de algo intrinsecamente humano e fulcral: <b>o livre-arbítrio</b>.</span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Sublime, como só Steinbeck.<br /><i><b>"- Sabes onde está o teu irmão? (...)</b></i><i><b>- Não faço a menor ideia. Não me pagam para tomar conta dele."</b> (A Leste do Paraíso)</i></span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i><b>Sinopse: </b>Com acento bíblico, o grande autor de As Vinhas da Ira define o universo de A Leste do Paraíso através das seguintes inspiradas palavras: “O assunto é o mesmo que cada homem tem utilizado como tema: a existência, o equilibro, a batalha e a vitória, na eterna guerra entre a sabedoria e a ignorância, a luz e a treva, o bem e o mal.” <i>A Leste do Paraíso</i>, vasto fresco levantado a partir do relato da vida de várias gerações de duas famílias norte-americanas, os Trask e os Hamilton, num período crucial da história dos Estados Unidos (1860, Guerra da Secessão – 1920, anos imediatos à Primeira Grande Guerra), proporcionou ao malogrado James Dean talvez o mais importante papel da su<span style="color: #181818;">a carreira.</span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="color: #181818;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="color: #181818;"><b><u>Classificação: 5/5*****</u></b></span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-68739787360290664412020-02-16T04:51:00.000-08:002020-02-16T04:51:04.593-08:00#241 SLIMANI, Leïla, Canção Doce<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8pfbTkgtaz7gue8trJ9kbHydYbIJtVzxSWeiLvgasAI-MSedMnJEIzHjCh03b2hbUNP2OhdmNviy8z-JRzefXjSI8JvFzV0OXo-6g_1QA_yApmGEjOBZR9ZybxlW1dVWP3i9akOtHXFo/s1600/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.25.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8pfbTkgtaz7gue8trJ9kbHydYbIJtVzxSWeiLvgasAI-MSedMnJEIzHjCh03b2hbUNP2OhdmNviy8z-JRzefXjSI8JvFzV0OXo-6g_1QA_yApmGEjOBZR9ZybxlW1dVWP3i9akOtHXFo/s320/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.25.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse:</b> <span style="background-color: white;">Mãe de duas crianças pequenas, Myriam decide retomar a actividade profissional num escritório de advogados, apesar das reticências do marido. Depois de um minucioso processo de selecção de uma ama, o casal escolhe Louise. A ama rapidamente conquista o coração dos pequenos Adam e Mila e a admiração dos pais, tornando-se uma figura imprescindível na casa da jovem família.</span></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O que Myriam e Paul não suspeitam - ou não querem ver - é que a sua pequena família é o único vínculo de Louise à normalidade. Pouco a pouco, o afecto e a atenção vão dando lugar a uma interdependência sufocante, com o cerco a apertar a cada dia, até desembocar num drama irremediável.</span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Com um olhar incisivo sobre esta pequena família, Leila Slimani aponta o foco para um palco maior: a sociedade moderna, com as suas concepções de amor, educação e família, das relações de poder e dos preconceitos de classe. Com uma escrita cirúrgica e tensa, eivada de um lirismo enigmático, o mistério instala-se desde a primeira página, um mistério que é tanto sobre as razões do drama como o das profundezas insondáveis da alma humana.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<i><b>PRÉMIO GONCOURT 2016, o mais importante prémio literário francês.</b></i></div>
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Opinião:</b> <i style="background-color: white;">Chanson Douce</i><span style="background-color: white;">, vencedor do prémio Goncourt em 2016, é o segundo romance da franco-marroquina Leïla Slimani, e remexe nos lugares pútridos da vida moderna, quotidiana, inquestionável.</span></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Conforma a sinopse adianta, esta é a história de como a babá perfeita perde a sanidade, o senso de pertença, até se abandonar ao acto abominável de assassinar as duas crianças que tem a seu cargo. Este enredo é uma adaptação livre do caso de Yoselyn Ortega, uma ama que, em 2012, matou as duas crianças a seu cuidado.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
A premissa que o livro defende é <i>o que levou uma mulher submissa, servil inclusive, dócil e responsável, maternal e prestável, <b>confiável</b>, a cometer um crime tão hediondo?</i>, ou, noutras palavras, <i>o que leva uma pessoa a transformar-se num monstro?</i></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Eu diria que o livro é pertinente em muitas frentes, sendo a principal a evidente questão das desigualdades sociais, que cavam fossos de entendimento entre as pessoas. Esses fossos podem atenuar-se com a familiaridade de um emprego/patrão, ou podem aprofundar-se quando as diferenças são obrigadas a conviver tão de perto.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Na Paris dos Massés, Myriam (franco-marroquina) e Paul, enquanto uns se focam na ascensão social e económica, no prestígio e no cumprimento de sonhos materiais, outros debatem-se com polibans bolorentos, comem os restos dos patrões e, por muito que oiçam dizer que <i>são parte da família</i>, são sempre insubordinados, e são apanhados num limbo estranho, no qual pairam entre serem estranhos ao casal, mas familiares às crianças e ao ambiente doméstico.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Louise, a personagem principal, é uma loirinha bonita e frágil, muito limpa, na casa dos 40 anos. Uma vez que não encontrei menções à sua nacionalidade, assumi que é francesa. Myriam é muçulmana, magrebina. Aqui todas as diferenças contam, porque Louise, com toda a competência no seu trabalho, todas as referências que levam à sua contratação, não construiu nada, não tem nada. O seu carácter submisso levou a que o próprio marido tivesse dirigido a vida do casal enquanto era vivo, deixando-a enterrada em dívidas. Vive em situação precária, de tal modo que o apartamento dos Massés, a sua rotina e sobretudo as suas crianças transformam-se na sua única motivação, na sua única ligação ao mundo real, digno e limpo, luminoso, arejado.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Louise está destruída psicologicamente. Sozinha, confusa, receosa do futuro, desligada de todas as responsabilidades fora do apartamento, a vida de Louise torna-se suspensa da existência dos Massés, e está disposta a tudo para evitar um afastamento.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Não atribuo 5* a este livro com o tom de uma crónica porque senti que, perto do fim, faltaram ali alguns alicerces psicológicos. Louise está pressionada, mas estará no limite? Como se passa da mulher que adora os seus meninos, endividada e no caminho da paranóia, para a mulher que se vale de uma faca de cozinha para acabar com a vida dos seus mais-que-tudo?</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Expõe a hipocrisia da nossa sociedade ocidental, supostamente igualitária, inclusiva, sem preconceitos. Vale muito a pena.</div>
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Classificação: 4****/*</span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-39865075206281916592020-02-16T04:48:00.001-08:002020-02-16T04:48:49.651-08:00#240 VOLTAIRE, Cândido ou o Otimismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDfxDETAWJUXin4nO8l-Y4nwOvFCCBDJeFxejjsL7T59KhO5r2TxkikmzGnrQFdzd1WLmO9lDmtAdnh5-BqAr4Ha2FVI9sw0Km-wvEwFppnvz84gp0G1DWkJ5LJ0DvZ8RcbKrlKjdT64s/s1600/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.11.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDfxDETAWJUXin4nO8l-Y4nwOvFCCBDJeFxejjsL7T59KhO5r2TxkikmzGnrQFdzd1WLmO9lDmtAdnh5-BqAr4Ha2FVI9sw0Km-wvEwFppnvz84gp0G1DWkJ5LJ0DvZ8RcbKrlKjdT64s/s320/WhatsApp+Image+2020-02-16+at+12.46.11.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse: </b><i style="background-color: white;">Cândido ou o Otimismo</i><span style="background-color: white;"> é um conto filosófico de Voltaire, publicado pela primeira vez em Genebra em janeiro de 1759. A par de </span><i style="background-color: white;">Zadig e Micromégas</i><span style="background-color: white;">, é um dos escritos mais famosos de Voltaire, tendo sido reeditado vinte vezes em vida do autor.</span></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O livro é pretensamente traduzido de uma obra alemã do Dr. Ralph, pseudónimo utilizado por Voltaire para evitar a censura.</span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
No essencial, trata-se de uma crítica às teses do filósofo alemão Leibniz, convencido da excelência da criação divina, através dos princípios da «razão suficiente» e da «harmonia preestabelecida». Voltaire faz essa crítica através das aventuras de Cândido, um jovem alemão possuidor de um espírito simples e reto, nascido como filho ilegítimo no seio da nobreza e adotado pelo barão de Thunder-ten-Tronckh. É no castelo deste que vai ser educado por Pangloss, partidário, como Leibniz, de que «tudo está o melhor possível».</div>
</span><span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Depressa se torna evidente para os leitores o sarcasmo com que Voltaire trata não apenas as teses de Leibniz mas também o conservadorismo social e a nobreza arrogante.</div>
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Opinião: </b></span></div>
<blockquote style="background-color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<i><b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"(...) Encontraram um negro caído no chão, não tendo mais do que metade do vestuário, isto é, umas ceroulas de tecido azul. Faltava àquele pobre homem a perna esquerda e a mão direita.(...)</span></b></i></div>
<i><div style="text-align: justify;">
<i><b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">- (...) é o costume - disse o negro. - Por vestimenta dão-nos umas ceroulas duas vezes por ano. Quando trabalhamos nos engenhos de açúcar e a mó nos apanha o dedo, cortam-nos a mão; quando tentamos fugir, cortam-nos a perna. Incorri nestas duas situações. É por esse preço que os senhores comem açúcar na Europa."</span></b></i></div>
</i></blockquote>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<i style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<i>Candide ou l'optimisme</i>, publicado em 1759 por <i>Monsieur Le Dr. Ralph</i>, que afinal era Voltaire, que afinal é François-Marie Arouet, foi a maior surpresa literária da minha vida. Jamais tive ambições de ler "Voltaire", e até me senti muito vaidosa nestes dois (curtos) dias em que me passeei nos transportes públicos com esta bomba literária nas mãos. Comprei o livro porque o herói desta sátira, o ingénuo Cândido, desembarca em Lisboa e sofre um terramoto, e ando embrenhada nesse estudo dos terramotos em Lisboa. No fim das contas, o livro valeu por cada parágrafo, e o terramoto ou a estadia em Lisboa são uma pequena vírgula neste mar de reflexões.</div>
</i><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<b>É importante deixar claro que quando decidi lê-lo foi sobretudo porque é pequeno - em conteúdo tem 128 páginas -, e porque é um livrinho bonito, outra primorosa edição da <i>Relógio d'Água</i>, que nos últimos tempos tem-se tornado a minha editora de eleição</b>. Assim sendo, a expectativa era zero, sobretudo tendo em conta que deixei as minhas últimas leituras penduradas - <a href="https://www.goodreads.com/book/show/6518385.A_Montanha_M_gica" rel="nofollow" title="A Montanha Mágica by Thomas Mann">A Montanha Mágica</a>, <a href="https://www.goodreads.com/book/show/25061676.O_Homem_do_Castelo_Alto" rel="nofollow" title="O Homem do Castelo Alto by Philip K. Dick">O Homem do Castelo Alto</a> e <a href="https://www.goodreads.com/book/show/9356579.Quando_Lisboa_Tremeu" rel="nofollow" title="Quando Lisboa Tremeu by Domingos Amaral">Quando Lisboa Tremeu</a>.</div>
</b><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Logo nas primeiras páginas, fui catapultada para a Vestefália e para o tom irónico, bem-humorado, o ritmo rápido, as situações inusitadas, as reações cândidas do nosso Cândido... Em breve surgem as hipocrisias, contradições e crueldades da sociedade do século XVIII, e nesse sentido é evidente que Voltaire fosse <i>persona non grata</i> em muitos círculos, como "libertador do espírito" que era. Voltaire, expondo Cândido às mais difíceis situações, parte da premissa defendida por Leibniz, seu adversário intelectual, de que no mundo tudo está bem, e tudo corre pelo melhor, e tudo é o melhor que pode ser (julgo que esta filosofia só convém ao poder, aristocrático e clerical, porque afasta o povo da contestação - e da consequente revolução, que estava ali ao virar da esquina). Este princípio, defendido pelo seu mestre Pangloss, por quem Cândido tem a maior admiração, é posto à prova nas viagens acidentadas do nosso herói, no decorrer das quais vai conhecendo todo o tipo de pessoas e se vai inteirando de que no mundo nada está bem, tudo poderia ser melhor.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Voltaire arriscou o pescoço ao expor a devassidão e a ganância dos clérigos, tão ou menos honestos do que os ladrões comuns, que mantém amantes e se batem por dinheiro e prestígio. Expôs a Inquisição, "na sua infinita crueldade", ridicularizou o costume de se fazerem autos-de-fé contra desgraças, ignorando a evidência de ser o auto-de-fé em si uma desgraça. As mulheres são objectificadas, violadas, cobiçadas e mantidas por homens desonestos, biltres sem honra nem moral. Em todas as realidades que percorre, a religião infecta o povo, escraviza-o, submete-o aos seus interesses e às suas lavagens cerebrais. O mundo, da Europa à América do Sul, está pejado de religiosos. Há jacobinos, oratorianos, jesuítas, franciscanos, e outros tantos que ele refere e que não chegaram ao nosso tempo, há também protestantes e muçulmanos, e todos se acham donos da verdade, e massacram os diferentes em nome do seu Deus.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Voltaire critica a escravatura e a opulência, o ócio e a malvadez, a presunção dos aristocratas e a crueldade dos costumes. A vida humana nada valia para os governos do século XVIII, que esquartejavam, queimavam, enforcavam, mutilavam, violavam e guilhotinavam o povo para que uma pequena elite mantivesse os seus privilégios.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Neste volume atreveu-se a demonstrar, por a + b, que somos todos iguais e que qualquer governo pode cair a qualquer instante. (Esta ideia tão simples abalava os alicerces do Absolutismo Régio, que estipulava que o rei era intocável e omnipotente, e que Deus o elegia para soberano de um povo. Estas ideias de que os reis são facilmente depostos despoletavam a cólera dos monarcas, e terão granjeado a Voltaire uma horda de inimigos.) Diria que o povo é quem mais ordena e, como pilar do Estado, chegava a hora de tomar as rédeas do seu destino, e de se libertar da tirania dos governos.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Acessível, divertido, pertinente, deliciosamente irónico.</div>
</span><b style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<b>Amei!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><u>Classificação: 5/5*****</u></b></div>
</b></span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-80715617484633258712020-01-18T12:05:00.004-08:002020-01-18T12:07:17.832-08:00#239 AMARAL, Domingos, Quando Lisboa Tremeu<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxva9FgEX-1jxomyGM33lx8a94gWNlX_9KmrMBe8e4U1iIYRYLo_-Wsj5hw3AOwUWv2XnZgVaWlYmmQF234nwlHhbQzNIxX5rheTGFtVNhtypP3NJ6A762ZDuk2S2bk0sanfyxVBAP0L4/s1600/500x.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="759" data-original-width="500" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxva9FgEX-1jxomyGM33lx8a94gWNlX_9KmrMBe8e4U1iIYRYLo_-Wsj5hw3AOwUWv2XnZgVaWlYmmQF234nwlHhbQzNIxX5rheTGFtVNhtypP3NJ6A762ZDuk2S2bk0sanfyxVBAP0L4/s320/500x.jpg" width="210" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse:</b> <span style="background-color: white;">Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, um ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do Rei D. José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span id="freeText15677000785877261437" style="background-color: white;">De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casa caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o terreiro do Paço e durante vários dias incêndios colossais vão atemorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros.</span><span style="background-color: white;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião:</b> <span style="background-color: white;">E é o que se passa com este livro, está ok. É um tema fascinante, desafiante, que com certeza exige uma pesquisa minuciosa. É à pesquisa que atribuo as 2 estrelas. Estou envolvida no mesmo caminho, li inúmeras fontes, muitas delas contraditórias. Creio que os testemunhos em primeira mão são o que de que mais fidedigno julgo poder encontrar-se sobre a época. Ainda assim, nem todos os sobreviventes da tragédia tinham conhecimento de tudo o que se passava ao seu redor, e muitas vezes avançam com informação incorreta ou imprecisa sobre o rei, o governo, os trâmites que estão a ser postos em marcha para reconstruir a cidade.</span></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Reconheci vários pontos da pesquisa que tenho levado a cabo neste livro, mas não me lancei a ele para </span><i>aprender</i><span style="background-color: white;"> sobre o terramoto. Procurei empreender a viagem que um romance promete até ao tempo e ao local que explora, e é aí que surgem os problemas.</span></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">
<span id="freeTextreview268479924" style="background-color: white;"><div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<b>As personagens são ocas, superficiais, personagens-tipo.</b> A freira bonita é boa, a freira velha e ignorante é má. O pirata alto e bonito é charmoso, o espanhol é abestalhado, o inglês só pensa em negócios e tem um linguajar sem qualquer critério, que aleija bastante o leitor, a escrava é espertalhona e fogosa, Sebastião de Carvalho e Melo é implacável, a rainha é dada a achaques e o rei é um fraco.</div>
</b><div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
Este ramalhete pode ilustrar, muito à superfície, a sociedade portuguesa do século XVIII, mas falha na sua compreensão, na sua humanização; não lhe acrescenta nada. Malagrida diz algo como "as mulheres são aparentadas com o diabo". Pergunto-me se haverá fundamento aqui, porque pelas missões que o jesuíta terá empreendido na América do Sul, e a fama de santo que tinha, duvido que andasse pelas ruas, e muito menos junto da corte, a proferir esse tipo de opinião. Pelo que sei da rainha D. Mariana Vitória, era uma mulher de fibra, espírito forte, robusta e saudável, que caçava e montava melhor do que muitos fidalgos da sua corte (sendo inclusive elogiada por isso) e, por muito horrível que o terramoto fosse, até agora nenhum testemunho próximo da corte (o do Monsenhor Acciaioli por exemplo, núncio apostólico), dá a entender que esta tenha fraquejado.</div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<b>Assumir-se que o rei dormia em barracas de pano e madeira porque tinha medo que o tecto lhe desabasse na cabeça é só pueril.</b> Os livros de História perpetuam-no à primeira vista, porque há que resumir. Mas e se nos permitirmos reflectir mais além? <b>O que significava a família real? Significava a soberania de todo um império, significava independência face a Espanha (que ainda no tempo do seu pai lutava por nos dominar), e significava assegurar que Portugal mantinha as suas possessões, a sua história, a sua língua, os seus tratados e compromissos, a sua dignidade e a sua paz e interesses, bem como os dos súbditos</b>. D. José não pretendia apenas salvar a cabeça das pedras, mas um universo de possivelmente milhões de pessoas de cair em mãos hostis. Assim sendo, também D. Mariana Vitória, lado a lado com a Princesa do Brasil, D. Maria Francisca, herdeira do trono, não dorme em carruagens "apenas" porque tem medo de novos abalos, ou porque ficou traumatizada e era fraca de nervos.</div>
</b><div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
O romance é inverosímel em muitas frentes... Antes de mais, a quantidade de gente que "corre" em fuga. É-me difícil imaginar tanta destreza para escapar a obstáculos ou perseguidores quando as fachadas se tinham derramado para o meio da rua, e o entulho cobria as vias estreitas. Segundo, <b>o retrato psicológico das personagens falha a todos os níveis</b>. Custa-me a crer que num cenário de horror inimaginável, de Apocalipse, de fim do mundo, em que os cadáveres decepados de entes queridos fariam os lisboetas recear um desfecho semelhante para si mesmos, surgisse qualquer tipo de luxúria, de "divertimento", de brejeirice nas horas subsequentes ao primeiro abalo. Também não apreciei a sugestão de que as mulheres seriam todas promíscuas, à excepção do nosso anjo, Irmã Margarida, que por algum motivo nunca teve direito a um artigo definido até meio da narração.</div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
A linguagem é quase atual, e estou convencida de que muitos vocábulos não existiriam ainda, ou não eram usados, tais como "sismo", pelo menos tendo em conta de que nem havia uma palavra em português para "maremoto", à época. Os diálogos preocupam-se mais em soar espirituosos do que em retratar o século XVIII, as hierarquias sociais, os estratos de uma sociedade profundamente desigual.</div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
Como informa a sinopse, esta é a história entrecruzada de várias personagens aquando do abalo sísmico de 1755. O pirata, as freiras, o comerciante inglês, a escrava, "o rapaz", com laivos de aparições do ministro dos Negócios Estrangeiros (Sebastiã de Carvalho e Melo), de Malagrida, da Casa Real, etc. Mas até meio (altura em que abandonei a leitura), não tinha acontecido coisa alguma. Tudo bem, a terra tremeu, há poeira e toda a gente tem imensa sede. Mas num cenário tão caótico, estas personagens andam para cima e para baixo, Terreiro do Paço, Rossio, Rua da Madalena, Alfândega, Patriarcal, Paço da Ribeira, Bairro Alto. A sério? A sério que com a cidade em chamas, as ruas intransitáveis, um maremoto, as paredes a desabarem a cada novo abalo, porque foram vários, estas pessoas conseguiram encontrar-se no meio de milhares, tantas vezes, em situações tão caricatas, trocar três palavras, ver-se de novo daí a nada? Forjar alianças, amizades, criar rivalidades, inimigos em comum, etc.?</div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<b>E a escrita pobre, gráfica e cinematográfica, de vocábulos sem sal, que jamais entra pelas personagens adentro e lhes expõe a alma ou lhes empresta espírito...</b></div>
</b><div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">
Não gosto. Ressalvo que a classificação é pelo trabalhão que com certeza deu ao autor, mas falta-lhe o cunho de um romancista e a substância mágica que permite a um autor moldar personagens credíveis, com as quais nos importamos de facto. Aqui, tudo é vento...</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></i></div>
<i><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span id="freeTextreview268479924" style="background-color: white; color: #181818;"><i>Por sorte, emprestado.</i></span><span style="background-color: white; color: #181818;"> </span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #181818; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #181818; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Classificação: 2**</b></span></div>
</i></span></span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-79963286100028916242020-01-18T12:02:00.001-08:002020-01-18T12:07:56.529-08:00#238 ACCIAIUOLI, Filippo, O Terrível Terramoto da Cidade que foi Lisboa - Correspondência do Núncio Filippo Acciaiuoli: Arquivos Secretos do Vaticano<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvOMsK-Oy49vwxTjzln124HkvZGfYZolRgNn7DacotgVtqzTA1lNTyX8MYmngFPZMAi1r49ZVyJhM3kvUT6tNutBvnjNkRieZ7Iu08xtgYJ-W8J6_J_P4HypeOwyVOVeFUA1x59eipX6Y/s1600/18777464.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="308" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvOMsK-Oy49vwxTjzln124HkvZGfYZolRgNn7DacotgVtqzTA1lNTyX8MYmngFPZMAi1r49ZVyJhM3kvUT6tNutBvnjNkRieZ7Iu08xtgYJ-W8J6_J_P4HypeOwyVOVeFUA1x59eipX6Y/s320/18777464.jpg" width="207" /></a></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse: </b><span style="background-color: white;">O cataclismo que desabou sobre a cidade de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755 anda ligado a uma memória indelével da história. De tão grande tragédia se faz eco na correspondência do Núncio Apostólico, que desde o dia 4 desse mesmo mês envia semanalmente para Roma informações dirigidas à Secretaria de Estado e ao Papa, às quais se devem acrescentar as cartas endereçadas ao Cardeal Secretário, que era então o Cardeal Silvio Valenti Gonzaga, e aos familiares.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white; font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É essa correspondência, depositada no Arquivo Secreto do Vaticano, que Arnaldo Pinto Cardoso traduz para português, dando a conhecer relatos vivos e quase diários das aflições vividas em Lisboa e das reacções que se fizeram sentir no Vaticano, numa obra ilustrada com iconografia da época.</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
<span style="background-color: white;"></span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Monsenhor Arnaldo Pinto Cardoso é natural de Penso, Sernancelhe. Sacerdote da diocese de Lamego, licenciou-se em Teologia pela Pontíficia Universidade Gregoriana (1967-69) e em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico (1969-72), de Roma. Foi director do Serviço de Pastoral do Secretariado do Episcopado e professor na Universidade Católica. Conselheiro Eclesiástico na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé. Prelado de Sua Santidade. É sócio da Academia Portuguesa de História. Autor de diversas obras, entre as quais Santuário da Lapa – História e Tradição (Alêtheia Editores, 2007), integrou ainda a equipa de tradutores da Bíblia Sagrada, em 1998.</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião: </b><span style="background-color: white;">Um bom apanhado de cartas trocadas entre o Núncio Apostólico em Lisboa e o Vaticano, às quais juntou anexos de descrições do desastre elaboradas por indivíduos de nacionalidade espanhola, francesa e italiana. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white; font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A experiência do Núncio é ilustrativa de como a catástrofe foi democrática: não poupou ninguém. A miséria atravessou-se no caminho de todos. Artistas estrangeiros a servir a corte portuguesa, embaixadores estrangeiros, a nobreza portuguesa que gozava a opulência do barroco até vésperas do desastre, a casa real e os seus projectos magnânimos, como a Ópera de Lisboa, o seu palácio real na Ribeira, a sua residência em Belém, tudo engolido pelo sacudir da terra, pela voragem das águas, pelo castigo das chamas. Estas cartas, em particular, focam-se na desgraça das elites, pois que o Núncio priva com o rei em pessoa. Assim ficamos a saber como eram as "tendas" e as "barracas", qual o espírito geral no governo aquando da catástrofe, e como Carvalho e Mello surgiu no leme das operações, cumprindo (e até antecipando) as vontades de D. José.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É um bom ilustrador do que se seguiu ao terramoto, de como se viveram os dias e meses que se seguiram, quais as dificuldades, que estados vieram oferecer apoio, quais os danos específicos que o os elementos, em fúria, inflingiram à população. Porém, a sua visão limita-se a Belém, que, apesar de tudo, não é onde se concentrava a maioria da população (portanto onde o horror terá sido maior), e o que se passa no coração da cidade, onde os danos foram apocalípticos, raramente é mencionado, e apenas o é como relatos de terceiros/notícias a que teve acesso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As 9h30 da manhã de 1 de Novembro de 1755 foram apenas um anúncio impiedoso do que estava por vir. Estes testemunhos exploram as ondas sísmicas que se lhe seguiram, a destruição do fogo, a inquietude do mar, os moribundos e os seus gemidos sob pilhas de entulho, as estradas intransitáveis, as inundações (inclusive de hospitais trazendo a morte aos enfermos), as sepulturas colectivas, as penitências, as procissões, o horror generalizado.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white; text-align: start;"></span><span style="background-color: white; text-align: start;"></span><b style="background-color: white; text-align: start;"></b><span style="background-color: white; text-align: start;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na primeira pessoa!</span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Classificação: 4****/*</b></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-37700541582605508192020-01-18T11:58:00.000-08:002020-01-18T12:08:37.562-08:00#237 MOLESKY, Mark, O Abismo de Fogo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU3Pn5TcDtrb_HbubKh1nGkkrik1TUUMSybIc7eeF4tKZxiX0Jiol8Wg6bf5m10b1t1Opf9zGQzUrXklRizcJ5cgstuHglv2EDHfTpQ4ATfeOBWiGZWMElDZupPaWkmRWo5Dwk3ixAHe8/s1600/Screen-Shot-2019-11-19-at-4.59.40-PM+%25281%2529.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1140" data-original-width="738" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU3Pn5TcDtrb_HbubKh1nGkkrik1TUUMSybIc7eeF4tKZxiX0Jiol8Wg6bf5m10b1t1Opf9zGQzUrXklRizcJ5cgstuHglv2EDHfTpQ4ATfeOBWiGZWMElDZupPaWkmRWo5Dwk3ixAHe8/s320/Screen-Shot-2019-11-19-at-4.59.40-PM+%25281%2529.png" width="207" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse: </b><span style="background-color: white;">No Dia de Todos os Santos, em 1755, um sismo abalou a terra, desde o fundo do oceano Atlântico até às costas ibérica e africana. No caminho estava Lisboa, então uma das cidades mais ricas do mundo e capital de um vasto império. Em minutos, parte da cidade transformou-se em ruínas.Mas isto foi apenas o começo. Meia hora depois, um maremoto originado pelo terramoto atingiu o litoral português, provocando uma enchente no rio Tejo, arrastando milhares de pessoas para o mar. No final do dia, ondas gigantes haviam feito vítimas em quatro continentes.Completando a destruição, uma tempestade de fogo engoliu quase tudo o que restava da cidade, atingindo os sobreviventes com temperaturas que excederam os 1000 ºC. As chamas prolongaram-se por várias semanas.Tendo por base novas fontes, as últimas descobertas científicas e um profundo conhecimento da história da Europa, Mark Molesky dá-nos um relato do Grande Desastre de Lisboa e do seu impacto no Ocidente, em que se inclui a descrição do primeiro movimento de ajuda humanitária mundial, do aparecimento de uma ditadura em Portugal (que, apesar de tudo, serviu para modernizar o país) e do efeito da catástrofe no Iluminismo europeu.Muito mais do que uma crónica sobre destruição, O Abismo de Fogo é um emocionante drama humano onde surgem personagens inesquecíveis, como o marquês de Pombal, que encontra no caos o caminho para o poder, ou Gabriel Malagrida, o carismático jesuíta que acabou por ser morto devido à sua interpretação do terramoto como castigo divino.</span></span></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><span style="background-color: white;">«As batalhas perenes da humanidade entre a fé e a razão sempre foram postas à prova nos momentos de calamidade. O terramoto de 1755 foi o primeiro e mais dramático desses momentos na era moderna, e aguardava pacientemente o seu historiador. Tem finalmente, em Mark Molesky, o seu brilhante analista.»[Simon Schama]</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião:</b> <span style="background-color: white;">Li atentamente cerca de 70% do livro, as partes que se referiam aos vários rostos do desastre e da reconstrução, surpreendida pela horda de novidades sobre esta época tão complexa que o livro oferece. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><span style="background-color: white;">O terramoto, os seus meandros e implicações, o sol a nascer Às 06h02 desse dia fatídico, e a pôr-se às 17h47, para lá de nuvens de fumo e cinzas, fogo e gritos de desalento. Esses são os detalhes que me interessam. O livro explora e complementa muitas outras fontes. É uma obra descomunal de pesquisa e interpretação de um momento complexo que perdurou no tempo, que marcou a civilização europeia, que permitiu a ascensão de um déspota ao governo de Portugal, e que trouxe Portugal, do modo mais violento possível, para a era das luzes.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span><span style="background-color: white;">(Passei por cima das explicações científicas, isto é: daquilo que hoje se sabe sobre a possível origem deste terramoto, e também da parte do processo dos Távoras e de outras medidas do Marquês, no Douro, Coimbra, além-fronteiras, etc.).</span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><b>Classificação: 4****/5</b></span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-59093270090608140252019-12-10T09:56:00.001-08:002019-12-10T09:56:04.581-08:00#236 AMY HARMON, O Que Sabe o Vento<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6t5hOXjskHEamX5S7_NBngWsgEYf3RcYEN9F-RsTk0dHcEAGkBsfmLjBeR4copkgpNQw2x0_mmvs6uxz3cHsT69lA-M3PzqoS2QwV7Qy1QjoYWkR1wHjMAG4BMAYPGZ78S75cKEWzbYc/s1600/1540-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="221" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6t5hOXjskHEamX5S7_NBngWsgEYf3RcYEN9F-RsTk0dHcEAGkBsfmLjBeR4copkgpNQw2x0_mmvs6uxz3cHsT69lA-M3PzqoS2QwV7Qy1QjoYWkR1wHjMAG4BMAYPGZ78S75cKEWzbYc/s320/1540-1.jpg" width="210" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Opinião:</b> <b style="background-color: white;">Mais uma das minhas desilusões literárias.</b><span style="background-color: white;"> A Irlanda convulsa dos anos 20 prometia um enredo intenso, com a complexidade quase indecifrável que a cultura (música, cinema) tanto tem tentado simplificar. A somar a essa expectativa, há uma desvantagem: eu acompanhei duas temporadas de Outlander, cuja publicação original é de 1991, por isso dei por mim a ter </span><i style="background-color: white;">déjà-vus</i><span style="background-color: white;"> da história da Claire, a enfermeira de guerra do século XX, de caracóis negros, e do Jamie, o guerreiro escocês do século XVIII.</span><br />Destaco, como pontos positivos, a viagem do tempo. Aconteceu de modo subtil, com alguma inteligência. Pareceu-me credível (para quem tem a mente minimamente aberta ao surrealismo), que houvesse um portal do tempo no centro de um lago Irlandês, que afinal é a terra da magia e das fadas. Também a pesquisa me parece exaustiva e bem conseguida, embora depois falhe no encaixe no enredo.<br />O problema principal, em contra-partida, é a superficialidade das personagens e a ligeireza com que encaram situações inimagináveis. À excepção, talvez, do Dr. Thomas Smith, que tem ideais, uma história sólida, várias dimensões.<br />Várias coisas me causaram estranheza durante a leitura, e me impediram de vivê-la. Em primeiro lugar, estive na Irlanda por três vezes, e da primeira visitei o condado de Leitrim e de Sligo, entre os quais se estende o Lago Lough Gill, tantas vezes mencionado no romance. Também visitei Parke’s Castle, que se situa no lago e que surge mencionado por alto na narrativa. Conheço um pouco da história irlandesa, e gosto de pensar que compreendo a alma do Éire, por muito complexa que seja (e é).<br />O que dizer da Irlanda de 2019? É vasta, com povoações isoladas, com uma humildade próxima da terra e da lareira, simpática, acolhedora, tradicional. O que sei da Irlanda do século XX? Sofria de carência, de opressão, de miséria generalizada, de convulsões políticas. A Irlanda rural de 1916 e 1921, em que a autora se foca, tem casas de banho modernas, pronto-a-vestir, e ninguém passa fome. Vivem de idealismos, de honra, e falhou no retrato da opressão, do tratamento desumano que o Império Britânico lhes impôs. As informações estão lá, mas não se sentem. Pelo menos achei que não se sentiam. Os acontecimentos são desfiados quase como eventos alinhados numa cronologia, e o impacto direto nas personagens é amenizado pelo eixo central romântico da história.<br />Para mim tudo falhou logo de início, quando a vida da Anne se apresentou como unidimensional. Nada existia para esta mulher de 30 anos além do avô, o que começa por ser pouco credível. Segue-se a partida abrupta para a Irlanda, uma vez mais sem que se evidenciem laços à sua vida em Nova Iorque, quase como se não tivesse qualquer amarra (à exceção da agente literária). Na Irlanda as coincidências sucedem-se. Tudo muito conveniente.<br />O pior é a reação à viagem no tempo. Pânico? Intriga? Busca de respostas? Tentativa de regressar imediatamente a casa, como creio que seria humano fazer assim que se recuperasse do tiro? Nah, vai comprar um guarda-roupa novo na loja de pronto-a-vestir (cerca de 30 anos antes da invenção do pronto-a-vestir). Pareceu-me de uma futilidade atroz tendo em conta tudo o que se estava a passar, e páginas desperdiçadas com coisas sem importância.<br />O amor surge do nada, tipo <i>wow?</i>. Não se entende. Nada mais a acrescentar aqui.<br />A dada altura, o fio condutor do romance, que é o amor do Thomas e da nossa protagonista, perde-se no meio dos acontecimentos. E os acontecimentos, como mencionei antes, são difíceis de acompanhar. Significa que na última parte me desliguei tanto do casalinho quanto dos eventos políticos, e tudo se precipitou com muita rapidez.<br />Duas coisas de grande significância acontecem a velocidade de foguetão, o que mais contribuiu para que revirasse os olhos. A naturalidade da reação das personagens a esses revezes é exasperante. Não há consistência, lógica. As acções e decisões acabam por cimentar o caminho (mal pavimentado) para o fim almejado pela autora, tudo muito <i>bam! In your face.</i><br /><b>Não gostei, só a Irlanda me impediu de desistir.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b><b>Sinopse: </b>Numa Irlanda dividida, uma história de amor épica quebra as barreiras do tempo.<br style="background-color: white;" /><span style="background-color: white;">«Só o vento sabe o que verdadeiramente vem primeiro.»</span><br style="background-color: white;" /><span style="background-color: white;">Anne Gallagher cresceu encantada pelas histórias do avô acerca da Irlanda. Destroçada pela morte dele, viaja até à sua casa de infância para espalhar as cinzas do avô no lago Lough Gill. Aí, invadida pelas lembranças do homem que adorava e consumida pela história que nunca conheceu, vê-se levada para uma outra época.</span><br style="background-color: white;" /><span style="background-color: white;">A Irlanda de 1921, à beira de uma guerra civil, é um sítio turbulento e instável… Mas é lá que Anne inesperadamente desperta, desorientada, ferida e ao cuidado do Dr. Thomas Smith, o homem que a resgatou do invulgar acidente que sofreu e que é tutor de um rapazinho que lhe é estranhamente familiar. Confundida por todos como a mãe perdida do rapaz, Anne adota a sua identidade, convencida de que o desaparecimento dessa mulher está ligado ao seu.</span><br style="background-color: white;" /><span style="background-color: white;">Com a tensão a escalar no país, levando Thomas a juntar-se à luta pela independência da Irlanda, Anne vê-se arrastada para o conflito e percebe que vai ter de decidir se estará disposta a desistir da vida que conhecia por um amor que nunca pensou vir a encontrar. Mas será mesmo dela a escolha?</span><br style="background-color: white;" /><span style="background-color: white;">Numa inesquecível história de amor, a viagem impossível de uma mulher através de décadas pode mudar tudo…</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white;"><b>Classificação: 2**/5*****</b></span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-63305886850626317892019-12-09T13:25:00.002-08:002020-02-27T08:07:28.211-08:00Planeamento de Leituras 2020<div style="text-align: justify;">
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#1 História, Política e Personalidades</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;"><strike>O Abismo de Fogo, Mark
Molesky</strike><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">A Direita e as Direitas, Jaime Nogueira
Pinto</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Maria Antonieta, Stefan Zweig</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#2 Sátira, Distopias</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;"><strike>A Quinta dos Animais,
George Orwell</strike><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Farenheit 451, Ray Bradbury</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#3 Ficção Científica</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">A Mão Esquerda das Trevas, Ursula Le Guin</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#4 Clássicos Russos</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Guerra e Paz, Leo Tolstoi</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Os Irmãos Karamazov, Fiódor Dostoievski</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><strike>A Morte de Ivan Iliitch, Leo Tolstoi</strike></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#5 Europa Central/Germânicos</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;">A Marcha de Radetzky,
Joseph Roth<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">A Oeste Nada de Novo, Enrich Maria Remarque</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Morrer na Primavera, Ralf Rothmann</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#6 Clássicos</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Grandes Esperanças, Charles Dickens</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Mansfield Park, Jane Austen</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;"><b>#7 Lusófonos</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;">Memória de Elefante,
António Lobo Antunes<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Húmus, Raul Brandão</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#8 Escandinavos</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;">Paraíso e Inferno, Jón
Kalman Stefánsson<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Os Frutos da Terra, Knut Hamsun</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#9 Autores favoritos</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<strike>A Leste do Paraíso, John
Steinbeck</strike></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Palmeiras Brancas, William Faulkner</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">As Paixões de Júlia, W. Somerset Maugham</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><b>#10 Grande desafio</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-ansi-language: PT;">A Morte do Comendador I,
Haruki Murakami</span></div>
<br /></div>
</div>
</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-88052832997221019052019-12-01T16:06:00.003-08:002019-12-01T16:08:14.952-08:00Leituras 2019 - Balanço<div style="text-align: justify;">
Este ano superei-me em termos de leituras. Desde 2015 que não lia tantos livros num ano (33 de momento, mas creio que consiga pelo menos acabar mais 2), e com certeza que não lia livros tão desafiantes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O meu interesse por clássicos tem vindo a sobrepor-se aos livros contemporâneos, e sobretudo aquilo que chamo "os livros do momento".<i> Best-sellers</i> que surgem na lista do <i>New York Times</i> e que venderam aos milhões, mas que depois leio e meh. Não me inquietam. E eu, como tenho assumido várias vezes, leio para me inquietar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em resumo, olhando por sobre cada título a que me dediquei este ano, decidi escolher 5 que me apeteça comentar por algum motivo específico, e atribuir-lhes uma palavra que represente o que tirei da leitura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>#1 - SENTIDO</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguHc5IWRuBZMG4WHcR9lrXrLNLfrlUO-PqJssCDZk0p0jccaVbVjCahXZs7he7wdmCgBjvjfE7-W11WQm14pbZNsW2cdPjW3SYs1ULJEy2eYOEE6pxSomWseDxRFTkAQ__r8uhdH00pOk/s1600/250x.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="250" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguHc5IWRuBZMG4WHcR9lrXrLNLfrlUO-PqJssCDZk0p0jccaVbVjCahXZs7he7wdmCgBjvjfE7-W11WQm14pbZNsW2cdPjW3SYs1ULJEy2eYOEE6pxSomWseDxRFTkAQ__r8uhdH00pOk/s320/250x.jpg" width="207" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Em "O Estrangeiro", de Camus, nada faz sentido. Ou melhor, o sentido da narrativa com certeza transparece o caos da época em que foi escrito. Tendo sido publicado em 1942, é com certeza fruto da insegurança dos seus tempos, da guerra a nível global e do valor das vidas, diminuído pelos interesses das nações. Camus criou um homem indiferente, Mersault, que se deixa ir com as ondas. Um alheado da vida ao seu redor, a quem nada afecta, nada chega. Mersault é o homem inalcançável, um observador neutro do certo e do errado, sem vontade ou alento, que passa pela vida sem grande entusiasmo, mas sem se dizer, ao mesmo tempo, deprimido. O livro levou a que me questionasse se não será a nossa capacidade de reflectirmos, de nos iludirmos, de <i>querermos</i>, <i>sonharmos</i>, aquilo que nos torna humanos, espirituais. <b>Ainda assim, não foi um livro que me tenha ficado. Não me apaixonei, e até já o vendi.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>#2 CRU</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjylPPHYp3J9xfgh5AaLRd0_qDn04MAKiDp8irCCeSdUqxIZTxgNvQf4o0kF-IoxCvvcEEACN_3n_bcxs89yJI-lN6ElUl-Kf-c88LU0EvbYnebdvwzieG4V3uYEq5DaG3nXOxZq3c7rOo/s1600/250x+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="251" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjylPPHYp3J9xfgh5AaLRd0_qDn04MAKiDp8irCCeSdUqxIZTxgNvQf4o0kF-IoxCvvcEEACN_3n_bcxs89yJI-lN6ElUl-Kf-c88LU0EvbYnebdvwzieG4V3uYEq5DaG3nXOxZq3c7rOo/s320/250x+%25281%2529.jpg" width="210" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Da primeira vez que tentei lê-lo, fiquei-me pela segunda página. Mas 2019 era o ano para me estrear com o nosso eterno candidato a Nobel. Fiquei surpreendida não pela narrativa do que foi o Ultramar, não pela escrita elaborada (que muito dificulta a leitura), mas pela crueza de tudo. Lobo Antunes leva-nos para um mundo frio e cruel, desprovido de calor humano, de compreensão, de abraços. Em <i>Os Cus de Judas</i>, é-nos apresentado um homem incapaz de esquecer África, ou de tirar a guerra da pele. <b>Lobo Antunes lembrou-me que o Ultramar foi um desperdíciotremendo e embaraçoso para o regime português dos anos 60 e 70, e que também por isso o sofrimento dos envolvidos foi esmagado, obliterado pela ilusão colectiva de que podíamos vencer, ou de que valia a pena lutar.</b> Apenas lamento que algumas frases levantassem voo de modo promissor, belas, pungentes, plenas de sentido, e que depois o autor as prolongasse por mais um, dois, vários raciocínios ou metáforas que despedaçavam a beleza simples da premissa inicial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>#3 MÁGICO</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjydGEicIcNIWCzeXTmtbI8KdOJw3JnldLeGg_uDtXCWf_M7BD9naZjuQE1nT1pQUxwYD2HgLb47M8Hq809nEgEWwfifkGJcPIzhu2FCcjga7I8Zmn4tqieFVfZMZOyukQIhhct0SOJxLk/s1600/1507-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjydGEicIcNIWCzeXTmtbI8KdOJw3JnldLeGg_uDtXCWf_M7BD9naZjuQE1nT1pQUxwYD2HgLb47M8Hq809nEgEWwfifkGJcPIzhu2FCcjga7I8Zmn4tqieFVfZMZOyukQIhhct0SOJxLk/s320/1507-1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Creio que quando tinha uns 20 anos tentei ler <i>Cem Anos de Solidão</i>, sem sucesso. Não era a hora certa. Desta vez, tornou-se naquele prazer que levamos para toda a parte, que acarinhamos quando estamos distraídos e o temos no colo. Gabriel García Márquez, que recebeu o Nobel em 1982 pelo seu contributo para as letras, tem aqui a obra-prima do realismo mágico.<b> É um <i>Dali</i> em versão romance, profundo, delicado, angustiante, maravilhoso. </b>Daqueles que ficam para sempre, fruto da imaginação mais fértil com que me cruzei até hoje por estes caminhos. E pensar que as suas personagens, apesar de completamente loucas, originais, me são tão familiares!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>#4 RÚSSIA</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2ZK-g09HXhVHVM6QQz6m0gA-u9boX4u8HvEICvE6_J3rtxyq7T4DCnM1eeud1RMcAOav8r-hQPWlztkzHOUXzOC5VFv9rA1ZbrMkeRHHmYYskz5K0bZ_ZQMh5K8QXOTnduaJXqD4rUPk/s1600/Crime-e-Castigo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="339" data-original-width="222" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2ZK-g09HXhVHVM6QQz6m0gA-u9boX4u8HvEICvE6_J3rtxyq7T4DCnM1eeud1RMcAOav8r-hQPWlztkzHOUXzOC5VFv9rA1ZbrMkeRHHmYYskz5K0bZ_ZQMh5K8QXOTnduaJXqD4rUPk/s320/Crime-e-Castigo.jpg" width="209" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Este ano estive por duas vezes na Rússia. Primeiro em <i>Fumo</i>, de Ivan Turguénev, e depois nas páginas do famoso <i>Crime e Castigo</i>. Parece-me que a escola é à mesma, à qual também pertencia Tolstoi. O romance permitiu-me compreender melhor a natureza dos russos, os seus desafios, as suas dores, a sua melancolia. Os russos são loucos, de uma maneira maravilhosa e trágica, ou eram-no pelos olhos de Dostoievski. <b>Um autêntico ensaio da natureza humana e da cultura de uma Rússia imensa; com rasgos de desespero, de humor negro, de esperança cega, de cobardia e de bravura, com lealdade, amizade, amor e sacrifício em boa medida</b>. Não é um livro fácil, mas teve passagens inesquecíveis, como o banquete funerário do funcionário público, em que Katerina praticamente ofende cada um dos seus convidados com gargalhadas nervosas. Só tenho pena de não conseguir dizer (nem escrever!) o nome da personagem principal. Mas começa por R!</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>#5 TRANSCENDENTE</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidhr9efN4sqPBX5C4s2UUAfEhBw1UzULFBTLEuceUO1pcZxGKFRbHt4FrgG4h66OAOsdiEcDUx2JZi8yTcPvUFL66-BG4CqnjCjfzxLVwBxMCtOOeLZV9qkaoYqhVxZD_51LIz9VPNG5Y/s1600/250x+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="377" data-original-width="250" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidhr9efN4sqPBX5C4s2UUAfEhBw1UzULFBTLEuceUO1pcZxGKFRbHt4FrgG4h66OAOsdiEcDUx2JZi8yTcPvUFL66-BG4CqnjCjfzxLVwBxMCtOOeLZV9qkaoYqhVxZD_51LIz9VPNG5Y/s320/250x+%25282%2529.jpg" width="212" /></a>Há muito que não passava um Sábado na cama a ler (pelo menos sem me dar sono ao fim de dois parágrafos), mas foi o que aconteceu com <i>O Fio da Navalha</i>. Somerset Maugham é um dos meus escritores favoritos, e cada um dos seus livros que li guardei num cantinho especial da memória. Até ler este volume, julguei que <i>Servidão Humana</i> seria o meu livro favorito de sua autoria para sempre, mas mudei de ideias. Larry, o piloto da I Guerra Mundial em busca pelo sentido da vida - e pela resposta sobre a existência de Deus - que percorre o globo e abandona mesquinhices e materialismos conquistou-me. Esse espírito livre, ansioso por aprender, por conhecer, por <i>descobrir</i>, recordou-me das coisas essenciais à vida. Recordou-me o que é <i>ser</i>, em vez de simplesmente estar. <b>Conduziu-me a dois momentos transcendentes, dois Nirvanas através da simples leitura dos êxtases das personagens. </b>A compreensão da vida, a absorção da beleza da natureza pelos olhos de duas personagens, roubou-me o fôlego, encheu-me de paz. Larry é um aro de luz no centro de uma sociedade cinzenta, fútil, agarrada às tradições e encandeada pelo progresso na América e na Europa do entre guerras. Amei a passagem do tempo pelo seu punho, a evolução das personagens (oh, Elliott!), a subtileza de sentimentos, de acções, que o britânico sempre imprime nas pessoas que lhe saíram do punho... Admiro imenso o intelecto e a sensibilidade do autor, e guardo cada livrinho seu por ler como a um tesouro.</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-87693321399457472282019-11-25T06:46:00.003-08:002019-11-25T06:48:35.100-08:00#235 ORWELL, George, Animal Farm<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse: </b><span style="background-color: white;">A farm is taken over by its overworked, mistreated animals. With flaming idealism and stirring slogans, they set out to create a paradise of progress, justice, and equality. Thus the stage is set for one of the most telling satiric fables ever penned –a razor-edged fairy tale for grown-ups that records the evolution from revolution against tyranny to a totalitarianism just as terrible.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">When </span><i style="background-color: white;">Animal Farm</i><span style="background-color: white;"> was first published, Stalinist Russia was seen as its target. Today it is devastatingly clear that wherever and whenever freedom is attacked, under whatever banner, the cutting clarity and savage comedy of George Orwell’s masterpiece have a meaning and message still ferociously fresh.</span></span></div>
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b>
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Opinião: Ouvido em audiobook, em Inglês.</span></b><br />
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b>
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Beasts of England, beasts of Ireland,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Beasts of every land and clime,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Hearken to my joyful tidings</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Of the golden future time.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Soon or late the day is coming,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Tyrant Man shall be o’erthrown,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">And the fruitful fields of England</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Shall be trod by beasts alone.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Rings shall vanish from our noses,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">And the harness from our back,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bit and spur shall rust forever,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Cruel whips no more shall crack.</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Riches more than mind can picture,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Wheat and barley, oats and hay,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Clover, beans, and mangel-wurzels</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Shall be ours upon that day.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></i>
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(...)</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></i>
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">For that day we all must labour,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Though we die before it break;</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Cows and horses, geese and turkeys,</span></i><br />
<i><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">All must toil for freedom’s sake.</span></i><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br style="background-color: white;" /></i></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><span style="background-color: white;">Publicado em 1946, </span><i style="background-color: white;">O Triunfo dos Porcos</i><span style="background-color: white;">, na minha opinião um título que lhe cai melhor do que </span><i style="background-color: white;">A Quinta dos Animais</i><span style="background-color: white;"> (tradução literal), é uma alegoria </span><b style="background-color: white;">assustadora</b><span style="background-color: white;"> do que vinha e viria a acontecer na Rússia Soviética durante as décadas seguintes, mas sobretudo durante o governo totalitário de Estaline.</span></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Nesta obra do escritor britânico, também famoso por </span><i style="background-color: white;">A Guerra dos Mundos</i><span style="background-color: white;"> e </span><i style="background-color: white;">1984</i><span style="background-color: white;">, temos Mannor Farm como os limites do Estado Soviético, e os animais como os seus operários. O antigo caseiro, ou tratador, o demónio Mr. Jones, é possivelmente o czar assassinado, removido de cena para que os animais da quinta possam livrar-se das ordens, do chicote, dos símbolos da escravidão (as coleiras, os lacinhos e torrões de açúcar das éguas, as cercas, a sela, etc.). Tudo começa com uma revolução liderada pelos animais mais inteligentes e mais capazes de conduzir o discurso e, portanto, galvanizar os restantes: os porcos.</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Os porcos abrem os olhos de todos os animais para a exploração de que são alvo, e para a brutalidade das condições que enfrentam, e para a injustiça da sua condição de servos dos homens. Alguns animais, como Boxer, um cavalo idealista, abraçam a essência desse espírito, vêem-lhe Verdade e sentido, e adoptam um mote "I will work harder", para que tudo seja melhor para todos, agora que os benefícios que a quinta tem para oferecer serão compartilhados por todos. </span><i style="background-color: white;">Todos os animais são iguais</i><span style="background-color: white;"> é um dos sete mandamentos que conduzem o espírito da revolução e que servem de regras para a conduta de todos.</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Esse espírito de união que os conduz, em colectivo, a uma viragem de "regime", rapidamente é deturpado a favor de um pequeno círculo de animais - os porcos, que de tanto se verem na liderança da revolução, das ideias, da criação de novas estruturas -, acabam por ser corrompidos pela própria ganância e começam eles próprios a explorá-los. Para isso valem-se de propaganda, de um discurso de medo que os recorda os horrores dos quais estão agora a salvo, da intimidação (usam cães que criaram desde o nascimento como seus guardas pessoais, diria que representam a máquina militar soviética), e em suma reescrevem a História a seu favor, convencendo os restantes de que sempre viram mais, melhor e mais além, e de que tudo o que levam a cabo é para o bem geral. Em breve os porcos estão afastados do trabalho em si, que é levado a cabo com mais ou menos entusiasmo pelos restantes animais, e começam a arrebatar-lhes os melhores frutos da terra. O Homem, inimigo da Quinta dos Animais, e do </span><i style="background-color: white;">animalismo</i><span style="background-color: white;"> (socialismo), torna-se num parceiro conveniente de troca para os porcos, que o usam para obter luxos e extravagâncias (como álcool) que a Quinta não consegue produzir, e os quais cobiçam.</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O lema de que todos os animais são iguais, com o passar dos anos, transforma-se em "Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros", e assim, de um modo simples, Orwell desmonta os princípios do socialismo. Para mim, tudo se resume a: não se pode confiar que os lobos e as ovelhas vivam em harmonia e trabalhem para a mesma causa, porque a </span><i style="background-color: white;">natureza</i><span style="background-color: white;"> de uns e doutros leva sempre à exploração dos mais fracos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Vou lê-lo assim que possa, não vá ter-me escapado algo no </span><i style="background-color: white;">audiobook</i><span style="background-color: white;">.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<b style="background-color: white;">Delicioso!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="background-color: white;"><br /></b></div>
</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white;">PS: Estou apaixonada pelo Boxer e pela Molly! </i></div>
</span><br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Gl4REOWdJSE" width="400"></iframe>
</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-67508052370270565582019-11-18T09:02:00.001-08:002019-11-18T09:07:45.818-08:00#234 LEVIN, Ira, Rosemary's Baby<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTxxJ1ohCsoyJVV9Sa4YA6ANXDO3GgdcWjRtxzTcKNNsDxw2UX4aC3OWCD15yZ0pap9dNh6pDKHVubZRVwUWCBAnaF2UFAaa5TDunTJ954G3UYWooAjGKaFroEfQc3MyRzVAF4-s-_HeI/s1600/rosemary_hed.webp" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="617" data-original-width="1100" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTxxJ1ohCsoyJVV9Sa4YA6ANXDO3GgdcWjRtxzTcKNNsDxw2UX4aC3OWCD15yZ0pap9dNh6pDKHVubZRVwUWCBAnaF2UFAaa5TDunTJ954G3UYWooAjGKaFroEfQc3MyRzVAF4-s-_HeI/s400/rosemary_hed.webp" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mia Farrow (Rosemary), no filme de Roman Polanski</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Ouvi o audiobook abaixo:</b></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/NKucRkpjkH0" width="400"></iframe></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião: </b><i style="background-color: white;">Rosemary's Baby</i><span style="background-color: white;"> é o primeiro livro do género "terror" que me atrevi a tocar. Ouvi o audiobook completo, disponível no </span><i style="background-color: white;">Youtube</i><span style="background-color: white;">.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Trata-se do segundo livro publicado por Ira Levin em 1966, e vendeu milhões de cópias, despertando o mercado da época para o potencial lucrativo do género. Creio que a adaptação para o cinema, em 1968 por Roman Polanski, tenha ajudado a imortalizar esta dona de casa dos anos 60, bem como a realidade dos nova iorquinos nessa década.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Segundo o livro nos leva a crer, não é fácil encontrar um lugar decente para viver no centro de Nova Iorque nos anos 60. O casal Woodhouse acabou de alugar um apartamento a custo, mas são surpreendidos pela notícia de que está um outro disponível, com 4 quartos, construção pré-II guerra e vista para Oeste do Central Park. É um sonho tornado realidade para o casal Woodhouse, sendo que Rosemary, de 24 anos, se mostra muito insistente para que agarrem a oportunidade de se mudar para o <i>Bramford</i>. Em conversa com um amigo, Hutch, os dois anunciam a boa nova sobre a mudança, e Hutch tem algumas histórias macabras para lhes contar acerca do local e dos seus antigos rendeiros. Desde mortes misteriosas a cultos satânicos, Hutch aconselha-os a ficarem longe daquele edifício porque, apesar de bem localizado, as coisas más tendem a acontecer com maior frequência nele do que em outros prédios da <i>Big Apple</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />O casal Woodhouse decide ignorar o aviso e afastar as crendices do amigo mais velho, pelo que selam o negócio e em breve se vêem no 7º Piso do <i>Bramford</i>. Guy é um ambicioso aspirante a ator e Rosemary é um tanto simplória e ingénua - talvez devido à juventude -, e também me parece muito submissa, de tal modo que permite que todos ao seu redor tomem disposições a seu respeito por ela. Creio que Rosemary é uma vítima da prisão domiciliária que era tantas vezes o casamento no século XX, em que o marido é o sustento da casa e a mulher lhe deve gratidão e obediência. É também vítima absoluta das circunstâncias que a rodeiam - do desejo de ascensão social do marido, das convenções sociais que a impedem de recusar a atenção desmesurada dos vizinhos, etc. A sua liberdade - inclusive ao nível do corte de cabelo - é constantemente castrada pelas exigências e palpites de quem com ela priva.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Julguei que a história tivesse a casa - e os seus ruídos e antigos ocupantes - como fonte dos horrores, mas o Mal nesta obra tem outra origem. Em breve, Rosemary vê-se prisioneira da vontade do marido, dos vizinhos Minnie e Roman, do seu obstetra aconselhado por estes últimos, e dá por si isolada, assustada, desconfortável na sua condição de grávida e enclausurada. É como se a sua gravidez fosse propriedade de todos, e todos tivessem algum interesse macabro a seu respeito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Creio que o grande feito de Levin, nesta obra, é a de transformar uma cidade tão ampla e cheia de vitalidade, como Nova Iorque, num retiro lúgubre, claustrofóbico, onde Rosemary se sente sufocada de atenções e envolvida numa conspiração que, quando revelada, é demasiado cruel - e horripilante - para que possa acreditar!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /><b>Aconselho e estou louca por embarcar em outros enredos do género.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><u>Classificação: 4/5*****</u></b></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-14668969904085589112019-10-18T02:04:00.005-07:002019-10-18T02:05:11.562-07:00#233 STEINBECK, John, O Inverno do Nosso Descontentamento<blockquote style="background-color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKQtZcQYb4J9wYVMmnml4O9n06Oii33MAgHP7HIrRq_EVtiyLdibZgS1LK5ewVsxCNlrA6L5mhgBJP4tmfsZpAd5U5w2rkxNNEBAyPcQ3HAMo34PeGdT8poBNnF8sM_Tuw6JiYktFumTU/s1600/250x.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #181818; float: left; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 14px; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="250" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKQtZcQYb4J9wYVMmnml4O9n06Oii33MAgHP7HIrRq_EVtiyLdibZgS1LK5ewVsxCNlrA6L5mhgBJP4tmfsZpAd5U5w2rkxNNEBAyPcQ3HAMo34PeGdT8poBNnF8sM_Tuw6JiYktFumTU/s320/250x.jpg" width="207" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><b>"Now is the winter of our discontent;</b></i><i><b>Made glorious summer by this sun of York"</b></i></span></div>
</div>
</blockquote>
<br />
<blockquote style="background-color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />Se considerar <u>O Inverno do Nosso Descontentamento</u> avulso, atribuir-lhe-ia um 5. À luz de outros trabalhos de Steinbeck, seria um 4 - falta-lhe a pujança e a pertinência de um <a href="https://www.goodreads.com/book/show/6294159.As_Vinhas_da_Ira" rel="nofollow" title="As Vinhas da Ira by John Steinbeck">As Vinhas da Ira</a>, ou a espiritualidade de um <a href="https://www.goodreads.com/book/show/7324729.A_Um_Deus_Desconhecido" rel="nofollow" title="A Um Deus Desconhecido by John Steinbeck">A Um Deus Desconhecido</a>, ou mesmo a nota de desconcerto final que nos deixa um <a href="https://www.goodreads.com/book/show/12407884.Ratos_e_homens" rel="nofollow" title="Ratos e homens by John Steinbeck">Ratos e homens</a>.<br />Na minha percepção, este é um romance mais contido, mais reflexivo e até mais pessoal. A sociedade está presente, as suas injustiças, hierarquias, vícios e manias. E, uma vez mais, estamos perante a narrativa de um homem honesto, de bom fundo, perante as vilezas que o rodeiam. Não é uma história de sobrevivência, como outras do autor, mas sim de ganância, de <i>status</i> social, e também de idoneidade. Declínio e ascensão na sociedade é o que molda e o que move Ethan Allen Hawley e a sua pequena família, no seio de uma cidade fictícia que o autor inventou para urdir o seu enredo.<br />Acompanhamos, ao longo das cerca de 300 páginas, a decadência moral que tem lugar por detrás das fachadas de New Baytown, que mina a política e a autoridade local. E Steinbeck presenteia-nos com uma personagem principal complexa, multidimensional, cujas ações nos surpreendem e nos chocam, sem que nunca deixem de nos importar.<br />Mais um romance de excelência daquele que se tem consagrado como o meu autor favorito, a par com o grandioso <a href="https://www.goodreads.com/author/show/19120859.Somerset_Maugham" rel="nofollow" title="Somerset Maugham">Somerset Maugham</a>.</span></div>
</div>
</blockquote>
<br />
<blockquote style="background-color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Sinopse:</b> O Inverno do Nosso Descontentamento, o último romance que Steinbeck publicou, em 1961, é dominado pelos temas sociais, que conferiram à obra do autor uma unânime ressonância internacional.<br />O núcleo do romance é o dinheiro, a hipocrisia e os falsos valores, a crítica serena mas implacável às engrenagens de uma sociedade que mutila o homem no que ele tem de mais autêntico.<br />Na ponta final da sua carreira literária, John Steinbeck reencontra o fulgor de As Vinhas da Ira, o seu romance mais famoso, galardoado em 1940 com o Prémio Pulitzer</span></div>
</div>
</blockquote>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-59251942020936904572019-10-14T04:42:00.000-07:002019-10-14T05:16:16.904-07:00As Mulheres e o Nobel<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE6C6-Ct0ZsYM7Ihk-oWCD29_TyMVtzjmjzRIvE_BJkgfJ_HT0MMTRnYLMbzs8gWoQiGdUK-wIaJJDHccOWCwUx1-VOs_pszPNvadLPEescFzYruSbJAl2-M422Myo7dqBUeIn_ctKwpQ/s1600/all-women-infographic.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE6C6-Ct0ZsYM7Ihk-oWCD29_TyMVtzjmjzRIvE_BJkgfJ_HT0MMTRnYLMbzs8gWoQiGdUK-wIaJJDHccOWCwUx1-VOs_pszPNvadLPEescFzYruSbJAl2-M422Myo7dqBUeIn_ctKwpQ/s320/all-women-infographic.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://www.nobelprize.org/prizes/lists/nobel-prize-awarded-women">Prémios Nobel atribuídos a mulheres</a></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Apesar de me propor a um texto sobre as mulheres e o Nobel, na realidade este é um texto sobre <b>as mulheres e o sucesso, em geral</b>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Nos últimos 12 meses, reeditei um romance (<i>Demência</i> @ Coolbooks), com todo o trabalho envolvente (revisão, por exemplo), escrevi dois romances de raiz (coloquei ambos em prémios literários, porque a esperança é a última a morrer, e por isso abstenho-me de revelar os seus títulos de momento), e revi um quarto romance para publicação nos próximos seis meses (<i>Os Pássaros</i> @ Coolbooks). Além de todo este trabalho de escrita, li 32 livros nos últimos 12 meses. Não é um número muito elevado, tendo em conta que há quem leia 30 por mês, mas estou orgulhosa de mim mesma porque entre os títulos lidos encontram-se <i>O Som e a Fúria</i>, <i>À Espera no Centeio</i>, <i>Crime e Castigo</i>, <i>O Adeus às Armas, O Fio da Navalha</i>, etc., etc. Nessa lista constam alguns dos melhores livros da minha vida. Dão trabalho e obrigam a pensar - contam em peso na questão da "disponibilidade emocional". Acrescentam inquietação (mesmo porque leio para me inquietar) a uma vida já de si muito exigente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas não foi só isso que fiz nos últimos 12 meses, e é por isso que, quando oiço dizer (a propósito de o Nobel da Literatura de 2018 ter sido atribuído a uma escritora polaca) que "<b>ultimamente as mulheres andam a escrever quase tão bem como os homens</b>", fico um bocado aborrecida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">De algum modo, em 2019, continuo a ver as mulheres mais ancoradas à casa do que os homens. Não todas, mas muitas. Ainda há mulheres a engomar as camisas dos seus homens. Mas eu não tenho homem, então o que me impede de "escrever melhor", segundo esse tipo de comentário? Ou de ter mais visibilidade do que os homens na literatura? Bom em primeiro lugar, talvez, <i>talento</i>. Eu gosto de considerar que os prémios são atribuídos por mérito e meramente apoiados na qualidade do conteúdo dos manuscritos a concurso, embora entenda que isto soa muito ingénuo. Muitas vezes, a nível internacional, os prémios são política e regionalismo. Muitas vezes importa mais <i>o objetivo</i> da obra a concurso, a sua <i>pertinência</i>, do que a execução da mesma. Tudo bem, estou a fugir ao tema.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Voltando à premissa: <b>porque é que eu escrevo pior do que os homens, ou porque é que as mulheres, em geral, imaginam e executam pior literatura do que os homens</b>, segundo algumas vozes ou até segundo a análise das quotas de vencedores de prémios literários em geral, em que o sexo masculino sai sempre beneficiado? Não pôr de lado o facto de a sociedade, em geral, considerar os homens mais capazes para as áreas do intelecto, isso com certeza terá o seu peso. Mas serão os júris assim tão quadrados, hoje em dia?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ontem, enquanto varria o chão da cozinha pela segunda vez, perguntava-me o que há de biológico em mim que me obriga a tomar atenção ao que se passa na casa. Passei em revista a quantidade de detalhes insignificantes que fazem da vida num lar uma coisa mais higiénica e confortável. Coisinhas às quais empresto o meu cérebro, o meu tempo, a minha "disponibilidade emocional" desde os 23 anos, e que me roubaram tempo e disposição para sonhar, para imaginar. Se eu não andasse pela casa a varrer rodapés, a lavar a parede da bancada da cozinha, a desengordurar o exaustor, a encher o dispensador de sabão, a lavar a gaveta do amaciador da máquina de lavar roupa, a meter sal na de lavar loiça, a lavar o tacho dos gatos, a desentupir o ralo do duche, a verificar o nível de óleos essenciais dos ambientadores da tomada elétrica, a comprar saquetas anti-traças para os guarda-fatos, a ir ao supermercado perder horas nas compras e depois na fila, a pagar contas e a verificar se os débitos diretos não me andam a roubar, a rearranjar os tachos e suas tampas no armário que anda sempre de pernas para o ar, a cozinhar, a estender roupa, a fazer máquinas de roupa, a arrumar a loiça da máquina nos armários, a varrer, a aspirar, a passar o pano na parede branca onde alguém fez um risco, a escovar os gatos, a arrastar o sofá para endireitar a proteção e as mantas, a passar o pano do pó por cima da televisão e pelas prateleiras dos livros... </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bom, se não tivesse tudo isto para fazer, quem sabe eu e milhentas mulheres mundo fora não pudessem ser Nobel. Escrever melhor. Sonhar mais, sei lá...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O meu tempo (para mim) por dia começa pelas 21h30 durante a semana e pelas 17h ao fim-de-semana. Depois da casa, das compras, de toda a gente que depende de mim. Cortar as unhas ou fazer uma máscara capilar são um luxo. E é assim desde os meus 23 anos. É por isso que dizerem-me que a casa está muito arrumadinha, quando há visitas, me sabe quase melhor do que ganhar um prémio literário. É o bendito reconhecimento do meu trabalho diário. Do meu trabalho a tempo inteiro que roça a escravatura. E, uff, pelo menos não tenho filhos (pequenos). Se tivesse, podia bem arrumar a caneta pelos próximos 10 anos, pelo menos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>A verdade é que o sucesso da mulher, seja em que área for para lá do emprego das 9h às 18h, está sempre dependente da casa.</b> Do dinheiro que dispõe para se comprar <i>mais tempo</i>, contratando uma empregada doméstica, trazendo refeições já feitas, metendo a roupa na lavandaria, comprando uma casa no centro para diminuir o tempo de deslocação de casa ao trabalho (o meu chega a ser de 3 horas diárias), dos recursos para ter uma ama que apanhe as crianças na escola, se as tiver, e que quem sabe vá adiantando os banhos? <b>Sem filhos, sem "casa", sem emprego (ou com um emprego em jornalismo!) é mais fácil chegar-se lá na escrita.</b> É por isso que os homens tiveram esta vantagem civilizacional durante o tempo em que é conhecida a civilização - sempre livres para imaginar que extraterrestres invadem a sua aldeia natal, livres para filosofarem, para terem visões e para serem visionários. E ainda castravam as mulheres que também viviam do ócio em séculos distantes, embora algumas, apesar dos grilhões, tenham sido capazes de dar cartas nas mais diversas áreas do conhecimento.</span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ainda assim, há quem consiga, no meio disto tudo, ter excelência em áreas relacionadas com <i>hobbies</i>, como a escrita. É a essas mulheres (e homens) que dou os parabéns:</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> a essas mulheres com filhos e sem dinheiro para empregadas que conseguem levar também uma vida longe do fogão e das reuniões de pais e do condomínio. Posto tudo isto, imagino que sejam poucas, mas bato-lhes palmas. </span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Parabéns, são as minhas heroínas.</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="tab-stops: 108.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;">As mulheres não andam a escrever melhor do que os homens. Algumas
mulheres conquistaram as mesmas circunstâncias dos homens, o que as liberta
para as Artes e o pensamento, o que, com certeza, os põe em pé de igualdade </span></b><span style="font-family: arial, sans-serif;"><b>pelo menos na qualidade (não digo na premiação)</b></span><b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;">.
Também discordo de qualquer tipo de pressão que sugira que <u>se devem atribuir
prémios a mulheres só porque sim, porque elas também são capazes, coitadinhas!</u> </span></b><br />
<b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span></b>
<b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;">A arte deve falar mais alto. Mesmo que seja um elefante quem a criou.</span></b></div>
</div>
</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-88184043713984673842019-09-27T02:35:00.001-07:002019-09-27T02:43:29.127-07:00Ainda o Desacordo Ortográfico<div class="OutlineElement Ltr BCX0 SCXW133318011" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4a2480bd-0634-41c2-859e-0093b4c3fb6e}{51}" paraid="1371546617" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Descobri que não sei escrever e isso, para uma pessoa que tem nas letras um </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">hobby</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">, uma terapia, um possível sonho, é inquietante. Antes do Acordo Ortográfico ser implantado, em 2009, eu sabia que «</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"><span class="SpellingError SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: inherit; background-image: url("data:image/gif; background-position: left bottom; background-repeat: repeat-x; border-bottom: 1px solid transparent; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;">flôr</span></span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">» já não tinha acento circunflexo, como me ensinaram que tinha quando, entre 1995 e 1999, fiz o ensino primário. Quando publiquei o meu primeiro romance, em 2011, não me passava pela cabeça convertê-lo para uma grafia que me era desconhecida, que em certa medida não me parecia lógica e que foi, acima de tudo, controversa.</span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> Já se falava no Acordo, mas envolto em tanta polémica que se tornou fácil contorná-lo, ignorá-lo. </span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4a2480bd-0634-41c2-859e-0093b4c3fb6e}{51}" paraid="1371546617" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr BCX0 SCXW133318011" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4d505b09-5b5c-4652-9078-b18cd9e6a0a4}{178}" paraid="726534184" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Segui publicando romances de cariz histórico, e consegui <i>contornar </i>o Acordo. De algum modo, parece que é </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">facultativo</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> escrever-se no Português que está instituído legalmente, e que tanto trabalho e esforço deve ter arrancado a uma boa comitiva de intelectuais linguísticos (perdoem-me por não saber como se escreve </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">intelectuais ao dia de hoje – com C ou sem C, eis a questão).</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> Entretanto aportei no facto de que o Português das edições antigas de livros que leio – como “As Vinhas da Ira”, da coleção do Jornal Público </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">–</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> não é o mesmo que o das edições que adquiro recentemente, pelo que ao ler já não estou a aprender a escrever, pelo contrário, estou inclusive a </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">desaprender</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> algo que me era adquirido. Como se uma capacidade da qual me orgulhava me tivesse sido arrebatada sem mais.</span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> </span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4d505b09-5b5c-4652-9078-b18cd9e6a0a4}{178}" paraid="726534184" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr BCX0 SCXW133318011" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4fee79ea-6bea-46d1-a96d-9d1ab606c2e8}{191}" paraid="753709156" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Mas o que me custou mais foi ter entregado um novo manuscrito à minha editora </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">–</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> o primeiro manuscrito em que julguei ter cedido à pressão do Acordo Ortográfico, em que julguei que </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">simplificava</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">, que me aproximava dos muitos mundos e letras portugueses no globo, em que, de modo ingénuo, considerei que a intuição haveria de me ajudar a pôr a minha língua por escrito na sua correta forma </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">–</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> e descobrir que <b>a língua em que escrevi não existe</b>. Há um limbo entre o que era e o que é. Escrevo na antiga grafia e afinal há uma nova para aquele vocábulo, ou arrisco eliminar um C que afinal ficou, e o manuscrito é-me devolvido rasurado a cada página. A cada parágrafo uma nota do revisor a questionar em que me baseei para escrever aquela palavra assim. Menções a vários acordos, </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"><span class="SpellingError SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: inherit; background-image: url("data:image/gif; background-position: left bottom; background-repeat: repeat-x; border-bottom: 1px solid transparent; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;">pré</span></span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> e pós, isto e aquilo, e a palavra a fundar-se no lodo da incerteza, da imprecisão gráfica. “A autora tem de optar se quer manter Acordo ou não”. Ah é uma opção? Desde 2009 que cada cidadão luso tem o seu próprio Português? Faz a sua própria escolha dependendo da versão do <i>Google Chrome</i> e do <i>Microsoft Word</i> que tem instalado no computador? E quando isso está em colisão com o <i>Outlook</i> que tem instalado no trabalho?</span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{4fee79ea-6bea-46d1-a96d-9d1ab606c2e8}{191}" paraid="753709156" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr BCX0 SCXW133318011" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{a31e4427-69ae-4b63-925a-15b17ab8b802}{239}" paraid="2045188338" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Estou magoada. Não me interessam os motivos do Acordo, as intenções do Acordo. Interessa-me saber que me interesso pela Língua Portuguesa, que a tenho usado como instrumento de trabalho e de lazer, de ócio, de prazer, e que agora me é estranha. Interessa-me – desconcerta-me –</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> saber que escrevo de um modo, os meus avós de outro, e a minha irmã mais nova de outro. Esse fosso geracional linguístico era escusado, pelo menos entre mim e ela. Não nos entendemos nos recados e nos <i>post-its</i>, e nem sequer temos autoridade para corrigir o Português uns dos outros. Sabemos lá nós.</span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{a31e4427-69ae-4b63-925a-15b17ab8b802}{239}" paraid="2045188338" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<br /></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{934101b1-ddbb-40e2-80c1-601c8ce61422}{25}" paraid="274920410" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">O Acordo Ortográfico roubou-me a palavra, a língua, a certeza. Agora os meus manuscritos têm de ser corridos no conversor do Acordo Ortográfico. Há outro modo de registar corretamente o que tentei atabalhoadamente dizer no meu texto. O meu texto está </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"><span class="ContextualSpellingAndGrammarError SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: inherit; background-image: url("data:image/gif; background-position: left bottom; background-repeat: repeat-x; border-bottom: 1px solid transparent; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;">todo</span></span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> errado. Tornei-me uma iletrada, o que é trágico quando se ama assim as palavras.</span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> </span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{934101b1-ddbb-40e2-80c1-601c8ce61422}{25}" paraid="274920410" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{a441bec2-382e-4848-b580-dcd2bdeb36df}{215}" paraid="1142508950" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Os Portugueses já não sabem escrever </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">–</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> o AO atirou-nos para o lodo do analfabetismo, iliteracia entre Licenciados, entre Doutores. Quantos de nós, não vivendo dire(c)tamente das Letras (como Tradutores, Editores, Professores, Linguistas), estão certos de saber escrever em Português? Quantos de nós compraram os livrinhos “Português para totós” para </span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-style: italic; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">reaprender</span><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"> a sua língua, em efe(c)tivo?</span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> </span></span></div>
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{a441bec2-382e-4848-b580-dcd2bdeb36df}{215}" paraid="1142508950" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{c7a76219-4f43-40b9-8a5b-8004a555b2bf}{224}" paraid="1740909945" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;" xml:lang="PT-BR">Bom, talvez alguns Portugueses ainda saibam escrever na sua língua. Eu descobri ontem que já não sei.</span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":6,"335551620":6,"335559739":160,"335559740":360}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 27px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> Obrigada, Cavaco Silva.</span></span></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{1b921dff-fbf3-427e-9280-356523f10714}{55}" paraid="673815197" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<br /></div>
</div>
<div class="OutlineElement Ltr BCX0 SCXW133318011" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: white; clear: both; cursor: text; direction: ltr; margin: 0px; overflow: visible; padding: 0px; position: relative; user-select: text;">
<div class="Paragraph SCXW133318011 BCX0" lang="PT-BR" paraeid="{1b921dff-fbf3-427e-9280-356523f10714}{68}" paraid="1009571541" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: transparent; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; user-select: text; vertical-align: baseline;" xml:lang="PT-BR">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="TextRun EmptyTextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 19.425px; line-height: 19.425px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"></span><a class="Hyperlink SCXW133318011 BCX0" href="https://www.portoeditora.pt/lingua-portuguesa/conversor-acordo-ortografico" rel="noreferrer" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; user-select: text;" target="_blank"><span class="TextRun Underlined SCXW133318011 BCX0" data-contrast="none" lang="PT-BR" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 19.425px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: underline; user-select: text;" xml:lang="PT-BR"><span class="NormalTextRun SCXW133318011 BCX0" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; background-color: inherit; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;">https://www.portoeditora.pt/lingua-portuguesa/conversor-acordo-ortografico</span></span></a><span class="TextRun EmptyTextRun SCXW133318011 BCX0" data-contrast="auto" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; font-kerning: none; font-variant-ligatures: none !important; line-height: 19.425px; line-height: 19.425px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"></span><span class="EOP SCXW133318011 BCX0" data-ccp-props="{"201341983":0,"335551550":1,"335551620":1,"335559739":160,"335559740":259}" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; -webkit-user-drag: none; line-height: 19.425px; margin: 0px; padding: 0px; user-select: text;"> </span></span></div>
</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-13930488501718273552019-09-24T15:20:00.003-07:002019-09-24T15:20:43.851-07:00#232 HARRIS, Joanne, A Menina que Roubava Morangos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTMg5mA7P-x9KsvRFuD6d2Ls60UTf6Pm3z1avXgDDAj4Td4UQiayzqZeBVGEnpFXlLOcicoEmmfPFEhPA_hLNUK0CU0JbK5anaKY5FYwxhK-1_xjTLuHDKzA5Pdy9u0Ar7S9kXrYL91Is/s1600/250x.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="378" data-original-width="250" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTMg5mA7P-x9KsvRFuD6d2Ls60UTf6Pm3z1avXgDDAj4Td4UQiayzqZeBVGEnpFXlLOcicoEmmfPFEhPA_hLNUK0CU0JbK5anaKY5FYwxhK-1_xjTLuHDKzA5Pdy9u0Ar7S9kXrYL91Is/s320/250x.jpg" width="211" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse:</b> <span style="background-color: white;">O coração de Vianne Rocher, a encantadora e inquieta maga do chocolate, parece ter finalmente serenado. A vila de Lansquenet-sous-Tannes, que em tempos a rejeitou, é agora o seu lar. Com a filha mais velha, Anouk, a viver em Paris, Vianne dedica-se por inteiro à chocolaterie e a Rosette, a filha mais nova, a sua menina "especial". A acompanhá-las estão os seus amigos do rio, os extravagantes vizinhos, e o circunspecto padre Reynaud. Mas o vento, quando sopra, traz sempre mudanças… E estas começam com a morte de Narcisse, o temperamental florista. A vila fica em alvoroço pois Narcisse deixa não só uma surpreendente herança a Rosette, mas também uma inesperada confissão.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nada voltará a ser como dantes. E quando uma loja nova abre onde antes se dispunham as magníficas flores de Narcisse, tudo parece um prenúncio de algo: um confronto, alguma turbulência, ou talvez até… um crime? Conseguirá Vianne impedir que o vento leve tudo o que lhe é mais querido?</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<i><div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Há magia no ar. Há luz e sombra. Vingança e amor. Vinte anos depois da publicação de Chocolate, Joanne Harris regressa à pitoresca vila francesa num romance sobre a força do passado, o poder da memória e a aceitação das marcas que a vida deixa em nós.</span></i></div>
</i><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Opinião: <span style="background-color: white;">Joanne Harris foi das primeiras autoras que li e adorei, ainda em tenra idade. Comecei pelo </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/47425.Chocolate__Chocolat___1_" rel="nofollow" style="background-color: white;" title="Chocolate (Chocolat, #1) by Joanne Harris">Chocolate</a><span style="background-color: white;">, segui por todos os seus outros clássicos. Mais tarde adorei reencontrar essas personagens em </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/6333913.Sapatos_de_Rebu_ado__Chocolat___2_" rel="nofollow" style="background-color: white;" title="Sapatos de Rebuçado (Chocolat, #2) by Joanne Harris">Sapatos de Rebuçado</a><span style="background-color: white;"> e </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/16041948.O_Aroma_das_Especiarias__Chocolat___3_" rel="nofollow" style="background-color: white;" title="O Aroma das Especiarias (Chocolat, #3) by Joanne Harris">O Aroma das Especiarias</a><span style="background-color: white;">. Julgo ter entendido que este volume encerra o mundo de Vianne Rocher, com certeza a chocolateira mais famosa do universo literário.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b style="font-weight: bold;">Senti o a narrativa mais fraca, a entrar um bocadinho por aquele campo do espremer uma fórmula ao máximo. </b>Como se a autora não estivesse tão inspirada como nos restantes volumes, apesar de se ler bem, porque me é território confortável. Vianne Rocher cede o protagonismo à sua filha de 16 anos, Rosette, e a M. le Curé, o <i>Père</i> Reynaud. Sem dúvida que as complexidades deste homem de Deus, atormentado pela própria natureza falível, dão substância à melhor personagem (pelo menos à minha favorita) criada pela autora neste universo de uma aldeia francesa à beira-rio, na qual aportam os barcos dos ciganos, onde há uma comunidade muçulmana (Les Marauds) e onde colidem o mundo tradicional das beatas e dos hipócritas com as minorias que despertam a mesquinhez nessas almas cristãs.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Adoro a temática dos livros da autora, que giram sempre em torno da <b>diferença</b>; do ser-se diferente e do aceitar-se o diferente. Neste volume, Rosette é a personagem diferente. Tem um discurso próprio (<i>Bam!</i>) pontilhado dos seus limites de discurso (terá uma doença que a arrasta para tiques nervosos?). Traz alguma pureza à narrativa. É a sua voz, mas também a de Vianne, a de Reynaud e os relatos na primeira pessoa de Narcisse, o antigo florista que morre e que deixa o seu bosque de carvalhos e morangos silvestres à curiosa Rosette que instiga a ação deste último tomo da série. É que os habitantes de Lansquenet-sous-Tannes não compreendem o porquê de um homem inescrutável ter deixado um bosque de valor precioso a uma criança com <i>limitações</i>, e a justificação que oferece ao executor do seu testamento, bem como a nova ocupante da sua loja de flores desocupada, diante da porta da <i>Chocolaterie</i> vão desenterrar os segredos de outro habitante da pequena povoação.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O interessante é a premissa de que ninguém é o que parece, combinada com a mestria da autora em criar universos mágicos, místicos, plenos de superstição e de maravilha, em que o chocolate, os desenhos, a arte em geral, o fogo nas fogueiras dos ciganos, os amuletos islâmicos, as tradições maias, se tornam formas de praticar feitiçaria e de pôr o vento a nosso favor, ou contra os nossos inimigos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<b style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Ocorre-me uma questão interessante sobre a obra da autora: os homens costumam ser personagens voláteis, pouco confiáveis, que vêm e vão com o vento, egoístas. As mulheres têm-nos como adereços temporários. O amor nunca se sobrepõe à razão e, quando o faz, é para desgraça da mulher (recordo-me de algumas das suas mulheres, desgraçadas por homens ignóbeis). Que significa isto? Gostaria de perguntar à autora se é de algum modo feminista, e se conhece homens de integridade inabalável.</span></b></div>
</b><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Despeço-me com saudade, e um dia regresso com o <i>Hurakan</i> a Lansquenet-sous-Tannes, para reencontrar todos estes amigos de longa data.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><u>Classificação: 4/5*****</u></b></span></div>
</span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-56037878488870734972019-09-20T11:15:00.000-07:002019-10-10T03:40:33.417-07:00#231 LOCKHART, E., Quando éramos mentirosos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrPntCzPXpv94Q4h-bjEeX79QmBA2JSUf-paS6O_UUBx72x3fbC5V6ICFfMlbiTBI3q8fUMmuqdMDHyCwe2-i4k7Svrc_FlhG8enTTZBDhoUFns1ZfJTKGwasYwCE-ng5Lkegiqd0gwEI/s1600/500_9789892327365_quando_eramos_mentirosossdsd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="522" data-original-width="356" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrPntCzPXpv94Q4h-bjEeX79QmBA2JSUf-paS6O_UUBx72x3fbC5V6ICFfMlbiTBI3q8fUMmuqdMDHyCwe2-i4k7Svrc_FlhG8enTTZBDhoUFns1ZfJTKGwasYwCE-ng5Lkegiqd0gwEI/s320/500_9789892327365_quando_eramos_mentirosossdsd.jpg" width="218" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse</b>: <span style="background-color: white;">A família Sinclair parece perfeita. Ninguém falha, levanta a voz ou cai no ridículo. Os Sinclair são atléticos, atraentes e felizes. A sua fortuna é antiga. Os seus verões são passados numa ilha privada, onde se reúnem todos os anos sem exceção. É sob o encantamento da ilha que Cadence, a mais jovem herdeira da fortuna familiar, comete um erro: apaixona-se desesperadamente. </span><span style="background-color: white;">Cadence é brilhante, mas secretamente frágil e atormentada. Gat é determinado, mas abertamente impetuoso e inconveniente. A relação de ambos põe em causa as rígidas normas do clã. E isso simplesmente não pode acontecer. Os Sinclair parecem ter tudo. E têm, de facto. Têm segredos. Escondem tragédias. Vivem mentiras. E a maior de todas as mentiras é tão intolerável que não pode ser revelada. Nem mesmo a si.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Opinião:</b> <b style="background-color: white;">"Ninguém falha, levanta a voz ou cai no ridículo. Os Sinclair são atléticos, atraentes e felizes. A sua fortuna é antiga. Os seus verões são passados numa ilha privada, onde se reúnem todos os anos sem exceção."</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Narrativa simples, despretensiosa, que dispensa demasiadas questões.</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Os Sinclair são perfeitos</b>, e são-nos apresentados pela voz de Candace, de 17 anos - umas das netas e futura herdeira da sua fortuna. Ela e os dois primos, Johnny e Mirren, juntamente com Gat, são "os Mentirosos". Os Mentirosos são jovens idealistas que convivem com a família completa Sinclair e os seus tesouros, segredos, ambições, todos os verões na sua ilha privada. Os Sinclair têm uma ilha privada onde cada uma das três filhas de Tipper e Harris tem a sua casa, sendo que depois se reúnem todos em Clairmont, a casa dos pais, para discutir quem tem mais direito a herdar o quê, e quem tem a cozinha melhor equipada, e quem deve ficar com as pérolas da mãe depois da sua morte.</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O que mais gostei no livro foi a prosa acessível, sem trejeitos desnecessários, que me pareceu adequada a uma adolescente com algumas preocupações existenciais, para lá da sua juventude e do seu estatuto de privilegiada. E também do contraste jovem/idealista e adulto/cínico. Li-o em dois fôlegos, fiquei surpreendida com o final e recomendo-o como uma leitura leve com alguma substância.</span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Os Sinclair não são nada do que apregoam ser.</b></span></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif; font-weight: 700; text-decoration-line: underline;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><u>Classificação: 4/5*****</u></b></span></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-23596291513121951122019-08-22T02:18:00.000-07:002019-08-22T02:18:20.997-07:00#230 CLAUDEL, Philippe, O Arquipélago do Cão<div class="big450BoxBody" style="background-repeat: repeat-y;">
<div class="big450BoxContent" style="overflow: hidden; width: 430px;">
<div class="reviewText mediumText description readable" itemprop="reviewBody" style="line-height: 21px;">
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWrOYsEbODly8tP2Oc-gBfeUdVv0iBwcpQ7Bg8x9JTETIZbOTxfpbJkyMm8_kwMAFxun9DXz_9z3NjEo12j4REVwFa3QqjUo80hw2LKlVnh8kPWpDpaLhsOo1mV4HtQDP9O69NIRlgH3U/s1600/image.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="471" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWrOYsEbODly8tP2Oc-gBfeUdVv0iBwcpQ7Bg8x9JTETIZbOTxfpbJkyMm8_kwMAFxun9DXz_9z3NjEo12j4REVwFa3QqjUo80hw2LKlVnh8kPWpDpaLhsOo1mV4HtQDP9O69NIRlgH3U/s320/image.jpg" style="cursor: move;" width="203" /></a><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Opinião:</b> Este livro poderia chamar-se <u>Manual para a corrupção</u>. </span></div>
<br />
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois de ler </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/9572927.O_Barulho_das_Chaves" rel="nofollow" style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;" title="O Barulho das Chaves by Philippe Claudel">O Barulho das Chaves</a><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;"> e </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/6887441.Almas_Cinzentas" rel="nofollow" style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;" title="Almas Cinzentas by Philippe Claudel">Almas Cinzentas</a><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">, rendi-me a Philippe Claudel. Sobretudo o último romance marcou-me de forma inesperada, e recordou-me de outro autor Francês cujo trabalho também admiro: </span><a href="https://www.goodreads.com/author/show/9144.S_bastien_Japrisot" rel="nofollow" style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;" title="Sébastien Japrisot">Sébastien Japrisot</a><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">, falecido em 2003, que me encantou com </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/3860081.Um_Longo_Domingo_de_Noivado" rel="nofollow" style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;" title="Um Longo Domingo de Noivado by Sébastien Japrisot">Um Longo Domingo de Noivado</a><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">.</span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
Este <b>"O Arquipélago do Cão"</b> foca-se, como a própria sinopse indica, em torno do facto de o nosso Mediterrâneo se estar a tornar num cemitério, um repositório das vítimas de guerras, fome, crises humanitárias em geral. É clara a premissa do livro, que sugere que há uma <i>responsabilidade coletiva</i> no modo como gerimos a situação, mas é tudo tão mais complexo do que isso. Creio que não se discute aqui a humanidade dos <i>três corpos que dão à costa</i>, nem a dignidade daquelas pessoas com base na cor de pele ou crença religiosa. Parece-me que o ponto fulcral, e que passa ao lado do romance porque este tem um tom apressado de novela, ou talvez de ensaio em que a posição do autor surge clara, é que a maioria dos países europeus não tem qualquer <i>responsabilidade</i> sobre o desterro voluntário - e tantas vezes o perecimento - destes homens que arriscam a vida para chegar <u>ilegalmente</u> à Europa. Reconhece-se o desespero com que essas almas se precipitam numa travessia fadada ao insucesso, mas a verdade é que o impacto que vão ter neste <i>Aquipélago do Cão</i> é negativo, e é com esses "prejuízos", que vão muito além de económicos, que o núcleo central de personagens do romance se debate. Procura minimizá-los - na realidade, omiti-los -, o que constitui um evidente dilema moral, gera culpa e macula a alma coletiva daquela comunidade.</div>
</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
O livro deixou-me um sabor agridoce na boca - não sugere uma solução, não dá a entender que a mesma exista, limita-se a culpabilizar os governos e os povos por se alienarem desse problema, ou por o varrerem para baixo do tapete. Com laivos de superstição e de um fatalismo que não creio que tenha sido bem desenvolvidos nas curtas 180 páginas deste quase "ensaio". Faltou o que me mantém presa aos raciocínios do autor: aquelas tiradas inéditas, esclarecedoras, clarividentes, que vêm <i>acrescentar</i> algo aos meus conhecimentos. Ao invés, achei o livro muito dependente de frases que buscavam uma profundidade que nunca atingiam, e até de alguns clichés de discurso. Considerei-o superficial, mesmo por lidar com temas tão lúgubres e delicados. Senti-o mais um embrião do que um livro concluído. Ainda assim, interessante.</div>
</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="background-color: white; text-align: justify;">
<b>Uma nota para a edição da Sextante: </b>não detetei uma única gralha, livro <u>lindo</u> do ponto de vista estético, quer em cor, textura, tipo de letra ideal, facilitou muito a leitura, papel adequado, etc. Foi um caso raro em que o próprio suporte físico do livro contribuiu para elevá-lo e tornou a leitura mais aprazível.</div>
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
<b><u>Classificação: 3/5*****</u></b></div>
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Sinopse: «</b>A história que ides ler é tão real como vós o sois. Passa-se aqui, tal como teria podido desenrolar-se ali. Seria demasiado cómodo pensar que aconteceu noutro lugar. Os nomes dos seres que a povoam pouco importam. Poderiam ser alterados. Pôr os vossos no lugar deles. Assemelhais-vos tanto, procedendo do mesmo molde inalterável. Estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, fareis a vós próprios uma pergunta legítima: terá ele sido testemunha do que nos conta? A minha resposta é: sim, fui testemunha disso. Tal como vós o fostes, mas não quisestes ver.»Três cadáveres de homens negros dão à praia, numa pequena ilha perdida do arquipélago do Cão. Dominados pela força divina do vulcão Brau, as gentes do Cão vivem da pesca, da agricultura, da vinha. Todos se conhecem. Que fazer com aqueles corpos? Philippe Claudel, com mão de mestre, escreve uma história notável, uma negra parábola sobre o cinismo, a indiferença e a apatia moral que invade o nosso tempo, tendo como pano de fundo a tragédia das migrações mediterrâneas de hoje.</span></div>
<br />
<br />
<div style="background-color: white;">
</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #181818; font-family: Lato, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div id="review-like" style="background-color: white; color: #181818; float: right; font-family: Lato, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-top: 8px; text-align: right;">
</div>
<div id="review-follow" style="background-color: white; color: #181818; font-family: Lato, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-top: 8px;">
</div>
</div>
</div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-74192527494442917722019-08-15T04:31:00.002-07:002019-08-15T04:31:43.571-07:00#229 DOSTOIEVSKI, Fiódor, Crime e Castigo<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/hostedimages/1565867980i/27997318._SY540_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #181818; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 14px; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="description" border="0" class="gr-hostedUserImg" height="320" src="https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/hostedimages/1565867980i/27997318._SY540_.jpg" style="background-color: white; border: 0px; color: #181818; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 14px; max-width: 100%;" width="256" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dostoievski, por Vasily Perov @ 1872</td></tr>
</tbody></table>
<blockquote style="background-color: white;">
<i><div style="text-align: justify;">
<i><b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"Vês, eu nesse tempo perguntava sempre a mim próprio: porque sou eu tão estúpido que, se os outros são estúpidos, e eu sei que são, não quero ser mais inteligente? Depois descobri, Sónia, que se ficamos à espera que os outros se tornem inteligentes, passará demasiado tempo… Depois descobri também que isso nunca acontecerá, que as pessoas não mudarão e ninguém as fará mudar e não vale a pena o esforço!”</span></b></i></div>
</i></blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white;">“Crime e Castigo”, publicado inicialmente em 1866 por capítulos no “Mensageiro Russo”, tornou-se um clássico da literatura internacional. Confesso que a minha curiosidade quanto aos tão aclamados romances russos nunca foi muito intensa – li </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/15952372.A_Sonata_de_Kreutzer" rel="nofollow" style="background-color: white;" title="A Sonata de Kreutzer by Leo Tolstoy">A Sonata de Kreutzer</a><span style="background-color: white;"> e </span><a href="https://www.goodreads.com/book/show/16072200.Fumo" rel="nofollow" style="background-color: white;" title="Fumo by Ivan Turgenev">Fumo</a><span style="background-color: white;"> sem encontrar nada de extraordinário excepto, talvez, algumas reflexões acerca da condição humana e uma dificuldade imensa em acompanhar aqueles caráteres impulsivos, auto-destrutivos e aqueles nomes que me soam tão exóticos. Procurei em “Crime e Castigo” traços do romantismo que, trinta anos anos, lavrava por toda a Europa – o da tuberculose, dos amores condenados, dos suicídios. Numa Rússia profundamente influenciada pelas culturas germânica e francesa, faria todo o sentido que as vozes literárias, de cunho nacionalista, se erguessem para imortalizar a essência de um povo tão sofredor, tão martirizado quanto o russo por essa altura, no entanto, com potencial para tanta grandeza… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">De algum modo, “Crime e Castigo” moldou-me, preparou-me para apreciar melhor a riqueza de emoções humanas desses grandes antropólogos russos, e creio que se voltar agora a ler um desses outros romances, ou se me aventurar num <a href="https://www.goodreads.com/book/show/17182953.Anna_Kar_nina" rel="nofollow" title="Anna Karénina by Leo Tolstoy">Anna Karénina</a> tirarei muito mais proveito deles do que antes de o ter lido. De repente, vejo-me fascinada pela realidade russa. Há livros assim, que nos expandem a compreensão e nos oferecem um conhecimento maior do mundo ao nosso redor. Há livros que criam um inequívoco <i>antes</i> e <i>depois</i> no leitor…</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Creio que é nesse contexto que surgem Dostoievski, Tolstoi, Turguenev e tantos outros seus contemporâneos. <b>Acredito que um escritor é melhor quanto mais tiver sofrido, quanto mais se inquietar com os desconfortos de ser de carne e osso, de sentir, de perder</b>, e a Rússia da segunda metade do século XIX era prolífera nestes desconsolos, pelo que brotaram dela várias vozes superiores nesta nobre arte que é o observar e imortalizar um tempo por via das letras.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b style="font-weight: bold;">Acompanhamos Ráskolnikov numa espiral de desencanto quanto ao seu futuro</b><b>, às suas circunstâncias e às das pessoas que o rodeiam, em especial a mãe, a irmã, o melhor amigo. </b>Ao cruzar-se com um núcleo sofredor composto por um ex-funcionário público, a sua esposa que decaiu de um estatuto de filha de “quase” governador para infeliz e tísica mulher de um bêbedo (aliás, a personagem que mais me cativou, Katerina Ivánovna), e as muitas e miseráveis crianças desta malfadada união, começa a envolver-se nas misérias de outros, e acaba por ir pondo de lado, em ocasiões, os seus próprios delírios. Destaca-se ainda Sónia, que se ocupa do bem-estar de todos, “aceitando o sofrimento” para apaziguar um pouco as angústias de quem a rodeia, e que personifica uma espécie de Maria Madalena, abnegada e crente, benevolente e sacrificial.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Para mim, a cena de um certo banquete fúnebre é o momento inesquecível deste romance em seis partes, um humor tão apurado, tão delicioso, que não queria sair nunca daquela mesa e daquela companhia:</span></div>
</span><br />
<blockquote style="background-color: white; text-align: justify;">
<i><b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"- Essa cuca é que tem a culpa de tudo. Compreende de quem estou a falar. Dela, dela! - e Katerina Ivánovna indicava-lhe a senhoria. - Olhe para ela: arregala os olhos, sente que estamos a falar dela, mas não percebe. A coruja! Ah-ah-ah!... E o que quer ela mostrar com aquela touquinha? Gha-gha-gha! Já reparou que ela quer fazer crer a toda a gente que me ajuda e que me honra com a sua presença? Pedi-lhe, como a uma pessoa decente, que convidasse pessoas de qualidade, e concretamente os conhecidos do falecido, e olhe o que ela me trouxe: uns palhaços! Uns porcalhões! Olhe aquele, com a cara cheia de sinais: parece uma ranhoca com duas pernas. E estes polacos...ah-ah-ah! Gha-gha-gha! Ninguém, nunca ninguém os viu por aqui: e porque vieram cá, pergunto eu? Sentadinhos lado a lado, todos cerimoniosos. (...) Não faz mal, que comam. Ao menos não fazem barulho, mas... mas, na verdade, receio pelas colheres de prata da senhoria!... Amália Ivánovna - disse, dirigindo-se à senhoria, quase em voz alta -, se por acaso roubarem as suas colheres, eu não me responsabilizo por elas, aviso-a já! Ah-ah-ah! - e desatou a rir, dirigindo-se outra vez a Ráskolnikov, indicando-lhe de novo a senhoria com a cabeça e alegrando-se com a sua pilhéria. - Não percebeu, não percebeu outra vez. Olhe para ela, ali de boca aberta: uma autêntica coruja com fitas novas, ah-ah-ah!”</span></b></i></blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj81EMIplQrxZXy79rOxbpUNDvJMA0Z6ZEFXDRcdaMQKzv0XLJnTNdqnclSBp_64K9wA7j-bbhtZmG4P9JPhyphenhypheni_M2E7vT_DVQubKIqtvGPHOgBX1iFMdxR0maXS_JyE74Y5BhjfT2SNdis/s1600/9789896410803.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-weight: bold; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1230" data-original-width="794" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj81EMIplQrxZXy79rOxbpUNDvJMA0Z6ZEFXDRcdaMQKzv0XLJnTNdqnclSBp_64K9wA7j-bbhtZmG4P9JPhyphenhypheni_M2E7vT_DVQubKIqtvGPHOgBX1iFMdxR0maXS_JyE74Y5BhjfT2SNdis/s320/9789896410803.png" width="206" /></a><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">“Crime e Castigo” está cheio de personagens complexas, absorventes, que causam pasmo e exasperação. De algum modo, este segundo núcleo proporciona uma redenção inesperada à nossa alma-penada, o assassino torturado que vagueia por S. Peterburgo, o jovem idealista caído da graça de um futuro promissor, mas gorado. O autor criou, neste seu <i>magnus opus</i>, um retrato nítido de uma Rússia desgastada e decadente, sem oportunidades, onde imperam os vícios e as vilanias, pontuados de muita depravação e de uma tendência quase <i>natural</i> para transgredir a lei e os limites da moralidade, para se embebedar, e também por um certo regozijo perante a própria desgraça. A filosofia, a muita dialética que povoa a riqueza destes diálogos vertigionosos, a loucura quase palpável destas personagens em situações extremas de contrariedade e insatisfação, as sementes para a Rússia socialista ali tão evidentes… </span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A obra de um génio das letras e da arquitetura narrativa, que me chega tão atual, tão intemporal, cento e cinquenta anos depois do seu momento. Um daqueles livros que não conseguirei esquecer pelo tom lúgubre dos cenários, a dimensão da claustrofobia e do desespero na alma de Ráskolnikov e dos seus conterrâneos. Uma obra colossal alinhavada em torno de um jovem de 23 anos que abandonou os estudos de Direito por acreditar que as pessoas de dividem em “vulgares” e “invulgares”, e que o “invulgar” é raro e é por sua ação que o mundo progride, que a antiga ordem se desfaz para que nasça uma nova, revolucionária, e que lhe é vital ultrapassar os limites das convenções para provar a si mesmo que não é um mero “piolho”, mas sim uma “pessoa”, e por isso urge cometer um crime, livrar-se de uma criatura indesejada e até nociva para a sociedade. </span></div>
</span><br />
<blockquote style="background-color: white; text-align: justify;">
<i><b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"Ou supões que eu fiz o que fiz como um tolo, sem pensar? Fi-lo como um homem inteligente e foi isso que me perdeu! Pensarás que eu não sabia, por exemplo, que se começava a interrogar-me sobre se tinha o direito ao poder, precisamente por isso não tinha o direito ao poder? Ou que, se me fizesse a pergunta: é um piolho ou uma pessoa?, por conseguinte a pessoa não era um piolho para mim, mas era piolho para aquele que vai em frente sem fazer essas perguntas…”</span></b></i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Palpita-me que é outro livro que me ficará para a vida, que me há-de ocorrer em inúmeras situações e que voltarei a ler, quando a hora de reler os livros da minha vida chegar</span></span><span style="background-color: white; color: #181818; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 14px;">.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #181818; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 14px;"><b><u><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Classificação: 5/5*****</span></u></b></span></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-74465238066807320892019-08-07T09:37:00.001-07:002019-08-07T11:43:53.046-07:00#1 - Jonathan Bate on the Age of Romanticism<br />
<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGRpnrvveq8jgxfoLkvSWrKY4Dpd1ZhrgUuoEblH2hNJNLQTSmhlnwJA-egVGLyzexgY365YdwkQandG64hQo-x3SZ90zYhKLkQ88EwL7NNxlsVMeg7Fjfi_9b481kgiFU7L-2jyLx5qI/s1600/wanderer-above-the-sea-of-fog-by-caspar-david-friedrich.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1399" data-original-width="1100" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGRpnrvveq8jgxfoLkvSWrKY4Dpd1ZhrgUuoEblH2hNJNLQTSmhlnwJA-egVGLyzexgY365YdwkQandG64hQo-x3SZ90zYhKLkQ88EwL7NNxlsVMeg7Fjfi_9b481kgiFU7L-2jyLx5qI/s400/wanderer-above-the-sea-of-fog-by-caspar-david-friedrich.jpg" width="313" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Wanderer above the sea of fog - Casper David Friedrich</td></tr>
</tbody></table>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br />"Romanticism is above all a movement of ideas. The idea of revolution and the idea of nacionalism. The preposterous sugestion that women, slaves and even animals might have rights. Reverence the nature, vegetarianism and enviromental conscienceness. The radical theory of anarchism and the conservative theory of the organic state. The cult of personality and the very idea of sincerity. The reinvention of poetry as the expression of the self. The belief that nothing matters more to us as human beings than our sensations, our feelings. That individualism and individuals' ideals, whatever they might be, define our freedom and our modernity (...) The modern meanings of the words imagination, creativity, genius, literature. The freedom fighter on the streets and the hiker in the mountains. (...) The alarming notion that it might be glamorous to take drugs and to commit suicide or, at the very least, to live hard and die young. The rebel and the outsider. (…) These are all ideas that emerged or grew in the Romantic Age.”</span></span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/t2-EA6doUf4" width="460"></iframe></div>
Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-57418969997517240612019-08-01T04:46:00.001-07:002019-08-07T11:51:34.534-07:00#228 NABOKOV, Vladimir, Lolita<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-mn7qoY8xuqJ_X4ihry1lYcW1m4GqtXuAEes3QU9g3_GsO7UNLY9kxEGse4tyLnlEtXL6ExNadxh9j_bIgjCR3unW3uzzLrHEQZlDrZQH7eVAqOpkmSd15iAXT4Yk_SV7kXPv1RbtKCc/s1600/8d4311b9b26bb288d3eb1d0a116c930f6020952a.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="287" data-original-width="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-mn7qoY8xuqJ_X4ihry1lYcW1m4GqtXuAEes3QU9g3_GsO7UNLY9kxEGse4tyLnlEtXL6ExNadxh9j_bIgjCR3unW3uzzLrHEQZlDrZQH7eVAqOpkmSd15iAXT4Yk_SV7kXPv1RbtKCc/s1600/8d4311b9b26bb288d3eb1d0a116c930f6020952a.jpg" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Opinião:</b> <span style="background-color: white;">Este livro é um daqueles que se pega à pele de quem o lê e assim segue, vida afora. Não me esquecerei da mente conspurcada do Humbert, a ousadia da Lolita e o ambiente doentio que é proporcionado por estas duas pessoas, tão retorcidas, tão marcadas pelo pior da natureza humana. Foi a primeira vez que dei por mim dentro da cabeça do vilão e, consequentemente, surpreendi-me ao desejar que os seus planos se concretizarem sem embaraços. Alguma magia o Nabokov dedicou a este "Lolita"</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><b><u><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Classificação: 5*****</span></u></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white;"><b>Sinopse:</b> </span><span style="background-color: white;">«Quase quarenta anos depois, este romance tão artificial criou uma nova palavra internacional ("lolita"), inventou uma América — a dos motéis e autoestradas — de que se nutre ainda boa parte da narrativa americana contemporânea, é uma das obras com o inglês mais rico e preciso da literatura deste século e, ao contrário das acusações iniciais de pornografia que teve de sofrer, é talvez — e no que me diz respeito — o romance mais melancólico, elegante e lírico de quantos li.» [Javier Marías in Literatura e Fantasma]</span></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
«A única história de amor convincente do nosso século.»</div>
</span><span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
[<i>Vanity Fair</i>]</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
«Nabokov escreve prosa do único modo que esta deve ser escrita, ou seja, extasiadamente.»</div>
</span><span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
[<i>John Updike</i>]</div>
</span></span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5688490055432460826.post-75161753481873751322019-07-24T15:06:00.002-07:002019-07-24T15:06:46.037-07:00#227 STORK, Francisco X., The Memory of Light<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsqgw24zkTFSSaZacK9T0STar33yvxjbcTVnNbIiuI_Twn6OFwZACS4G0iQthJb-ph5k6d8jDOU_PP8TZ4LIaYxuJM9t8_v6TU4VNfguj7VFriZeacEw0F0vXEULwwL0_nuOoW37lCYvM/s1600/c9415ff3-a937-42cc-9f8b-9b6219a9a127.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1201" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsqgw24zkTFSSaZacK9T0STar33yvxjbcTVnNbIiuI_Twn6OFwZACS4G0iQthJb-ph5k6d8jDOU_PP8TZ4LIaYxuJM9t8_v6TU4VNfguj7VFriZeacEw0F0vXEULwwL0_nuOoW37lCYvM/s320/c9415ff3-a937-42cc-9f8b-9b6219a9a127.jpg" width="240" /></a></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><i>"This strange feeling of not belonging, this sense that every task, even the smallest one, is unpleasant and requires effort - this is how my days will be here."</i></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b><b>This book pierced me in places I had forgotten about</b>. I had forgotten that it is possible to forget how it's like to be <b>you</b>. Depression does that for people. Back in 2014, shortly after my cat disappeared and I moved into an apartment alone, I was stroke with depression. It wasn't my first, but it was the first time I named it that way, and it got pretty serious. It stood around until about 2016. Only in January 2016 did I quit medication and started feeling like myself again. Sorry for making the review sound personal, I'll eventually get to the part in which I praise kind and loving Francisco X. Stork, who was writing the book at the time, for having had the bravery to touch his own wounds and dig into these themes. Also, I am amazed at how someone who's lived through so much was capable of writing a novel with this voice - such purity in his view of the world that I almost forgot it wasn't a teenager, but an experienced writer and gentleman, the hand behind it. Thank you, Francisco, for throwing this rope to young people, and to explaining so well that having a mental disease is like living life in the hard mode, with everyone telling you that they'd enjoy it better than you. And that the world isn't so awful, maybe your brain is forcing to see it through the goggles of depression.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /><b><i>"The brokeness out there seems so much greater than the strenght and life given to us."</i></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b>So, back to my experience with depression, to which I've been open about in the past... I didn't know the nature of that sadness when I was 18, but somehow I was able to reset my mind and produce happy thoughts, listened to joyful songs, moved on from what was holding me to the ground. In 2014 I was firstly hurt by the disappearance of my cat. You might say it was just a cat, but pets are never just animals, and you put your heart, your responsibility, sometimes the love you're not able to share with others into the care of that little creature. And the world is cruel and takes it away with no warning. Then I found myself alone after growing up in a house full of people and noise, without a care in the world for the first time ever. And the weight of the world started to lean on my shoulders and my chest. Anxiety, later on panic attacks. Not being able of keeping the tears from falling in public places, for instance. First I'd cry once a week, only at things that would cause me pain. Soon even beauty, besides animal cruelty, ignorance, prejudice, bad weather, everything would be an excuse to cry. I lost the ability of controlling the tears; they were there several times a week, then every day. Weekends alone were dreadful. My friends were way too young and focused in their own lives - as you should be when you're 23 - to fully acknowledge my aching. And yet some of them managed to understand the seriousness of it and to help me out. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /><b><i>"Is it possible to be loved and not to feel loved? Isn't love supposed to be felt by the beloved?"</i></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b>Taking medication wasn't easy. It put me to sleep all day long. I could've lost my friends, my job, the support from my family, for I wasn't me anymore. Everything bothered me or left me upset or made me cry. People said they felt like they weren't allowed to smile or express happiness next to me. I reached rock-bottom, and them climbed all the way back up through months of apathy, tiredness, sleepiness and dizziness from the medication. I had to face the prejudice of going to see a Psychiatrist - everybody was telling me good thoughts and keeping busy would solve it for me. I should stay away from 'taking chemicals". My loved ones made me feel like I was damaged. They didn't realize it this way. You see, besides depression there was anxiety and panic attacks. These last two are kind of hard to ignore, or to fight off with happy thoughts. Right as I write this review, the fire of anxiety is burning in my chest. It's like my lungs can't catch enough air. I'm at peace. Got nowhere else to go. The room is fresh and the book I just finished was good. But the fisiology in me is full alert mode, sirens' on, telling me to rush, to run, to worry. It's also taking my breath away.<br />Don't expect happy twists and endings. When you have a mental disease, I agree you see the world from a different angle. Maybe you feel things more deeply, all the way down to the layer of your skin where it starts to hurt. Maybe you feel lonely and not fully understood. People who you love will address to you as if somehow this is a weakness of yours, a choice, a trait of softness. As if it is your responsibility that you feel this way. They won't want to hear it, because they believe speaking of it summons the thing with more intensity. Ignore it and it'll go away, as if to say. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />People will surely let you down, because no one is prepared to deal with others acting against what's normal due to mental illness or limitations. No one is ready to see you acting as being other than you. But one thing this book also reminded me, and I needed this reminder: depression may be chemical, physical, physiological, mental, and clinical. But the environment you're in is always - I guess - a trigger to it. The way the author wrapped Vicky's reality shows it pretty well. It's the hidden things, the silenced things; non processed pain, feelings, suppressed will and going against yourself that will possibly get you ill. Vicky was a sensitive girl in a toxic environment, and it doesn't require domestic violence, or poverty, or starvation and filth for once to feel like there's a toxic fog around her.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />She was frustrated, silenced; she had given up on explaining herself or being heard and understood. She felt lonely and awkward in her circumstances, in her own home. You can't feel alienated from your relatives, your own space, and not become somehow ill. Also, the pressure I believe to be an American thing - such competition from such young age... I mean, what for? What's made of cooperation? It sounds sick to me that a parent would see financial success and prosperity as the only way to grant his children happiness. That's not even a need... A need would be love and care. I relate to Vicky, for I'd never survive with a sane mind in a society which expects me to compete with others at all times.<br />This is a novel about friendship and overcoming monumental obstacles - obstacles that only you aknowledge. About the little things you can do to help others. About the absolute necessity of making yourself clear and listen to others. Maybe that's all they need: that someone else stops pushing their idea of happiness and health on them, so that they can foresee a future and a happiness of their own.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />So thank you, Francisco. You trully are a gentle soul. I'll write you an e-mail telling you what's so special about having finished this book today.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><u>It's a 5 out of 5.</u></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><u><br /></u></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Synopsys: </b>16-year-old Vicky Cruz wakes up in a hospital's mental ward after a failed suicide attempt. Now she must find a path to recovery - and perhaps rescue some others along the way.</span></div>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">When Vicky Cruz wakes up in the Lakeview Hospital Mental Disorders ward, she knows one thing: After her suicide attempt, she shouldn't be alive. But then she meets Mona, the live wire; Gabriel, the saint; E.M., always angry; and Dr. Desai, a quiet force. With stories and honesty, kindness and hard work, they push her to reconsider her life before Lakeview, and offer her an acceptance she's never had.</span><span style="background-color: white;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
But Vicky's newfound peace is as fragile as the roses that grow around the hospital. And when a crisis forces the group to split up, sending Vick back to the life that drove her to suicide, she must try to find her own courage and strength. She may not have them. She doesn't know. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
Inspired in part by the author's own experience with depression, The Memory of Light is the rare young adult novel that focuses not on the events leading up to a suicide attempt, but the recovery from one - about living when life doesn't seem worth it, and how we go on anyway.</div>
</span></span>Céliahttp://www.blogger.com/profile/17737608801129261940noreply@blogger.com0