quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

#189 MILAN, Courtney, A Guerra da Duquesa

Sinopse: Miss Minerva Lane é calada e discreta, talvez até banal. Mas nem sempre foi assim. Da última vez que esteve no centro das atenções, a sua reputação ficou irremediavelmente manchada. Daí o novo nome e a nova identidade, duas máscaras que terá de ostentar para sempre. E, quando, numa festa, se esconde atrás do sofá da biblioteca, quer tudo menos dar de caras com... um magnífico duque!

Mas lá está ele, escondido atrás das cortinas...
Robert Blaisdell, duque de Clermont, também sente necessidade de se esconder. Embora batalhe diariamente para corrigir os erros do seu abominável pai, as comparações com ele são inevitáveis... Pode não o mostrar, mas vive consumido pela frustração e a culpa. Não tem paciência para jogos de sedução. Mas partilhar um esconderijo com Minnie é inesperadamente excitante. Por baixo da aparência apagada, o olhar da jovem é indomável... e se há algo a que Robert não resiste é um bom enigma.
Juntos, vão enfrentar os seus medos, aprender a perdoar e ultrapassar as suas limitações. E perceber que, acima de tudo, precisam de amor nas suas vidas...
Gostei do livro porque é inteligente e franco, não há grandes mal-entendidos porque há boa comunicação entre os dois protagonistas e as restantes personagens do seu universo. Há muita honestidade nos diálogos e um bom retrato psicológico de ambos. Gostei também do modo como é evidente que foram feitos um para o outro, sendo que apenas Robert poderia aceitar a bagagem de Minnie, e apenas ela poderia afastá-lo da insegurança e do receio de se tornar no seu antigo e execrável pai.
Estarei atenta a outros títulos da autora, pois foi a primeira vez que li Courtney Milan, e este género de livro lê-se bem numa tarde de domingo, ainda que sonolenta.

Opinião: Não tenho conseguido ler. Li “A Guerra da Duquesa” na diagonal, porque é um livro que trazia por casa há meses. Não me recordava do que tenha lido, à exceção de que a personagem principal não é bonita. Isso é novo, neste género de livro, em que a heroína é sempre cobiçada pelo herói por ser linda, loira e de peito abundante. Neste romance, Minnie e Robert conhecem-se numa situação fora do comum, em que de imediato ambos subentendem que o outro não aparenta ser aquilo que é. O fascínio é mútuo e imediato, mas também jogam com a cautela, a timidez e a inteligência de ambos. Tornam-se um desafio, um enigma para o outro. Sobretudo o Duque de Clermont, um romântico incurável diferente de tantas outras personagens na mesma posição, torna-se incapaz de tirar Minnie da cabeça. O romance prima pela abordagem diferente ao género, em que o herói não é um mulherengo, e a heroína não se pode valer da beleza para ascender, mas apenas e só do seu intelecto.

Classificação: 4****/*

#188 ROBERTS, Nora, Caminhos do Amor

Sinopse: Iona Sheehan sempre ansiou por devoção e aceitação dos pais, mas foi só na terra da avó que recebeu os dois: Irlanda, país de florestas exuberantes, lagos deslumbrantes e lendas centenárias, onde o sangue e a magia dos antepassados fluem há gerações. Iona chega à Irlanda apenas com as indicações da avó, uma atitude otimista perante a vida e um talento inato com cavalos. Perto do castelo luxuoso onde está hospedada, encontra os seus primos, Branna e Connor O’Dwyer. E como família é família, eles convidam-na para a sua casa e para as suas vidas. 

Quando Iona arranja emprego nos estábulos locais e conhece o dono, Boyle McGrath, todas as suas fantasias se reúnem num só homem. Será que com ele vai conseguir viver a vida com que sempre sonhou? Infelizmente nada é o que parece. Um mal antigo espalhou-se na sua família e tem de ser combatido. E quando família e amigos lutam entre si, será possível encontrar os caminhos do amor? 

Opinião: A REVIEW CONTÉM ALGUNS SPOILERS 

Li o meu primeiro livro da Nora Roberts em 2011. Comprei-o num quiosque à saída da estação do Cais do Sodré, numa altura em que ia lá todos os dias ver as novidades a preços simpáticos. Herança de Vergonha era o terceiro volume de uma trilogia passada na Irlanda, e comprei-o precisamente porque a Irlanda era o meu sonho de terra-prometida. No ano seguinte, em Novembro, haveria de pisá-la pela primeira vez, e, a cada nova aterragem em Dublin, entendo que este modo de retratar o Éire é muito estereotipado. 

Nora Roberts é norte-americana, de ascendência irlandesa, e isso fica muito evidente nos enredos que ela revisita a cada novo livro: o sangue irlandês está muito diluído em Coca-cola. Gostei dessa trilogia da Herança, que explorava o reencontro de três irmãs, sendo Maggie a irascível, Shannon a sonhadora e Brianna a tímida que cozinhava para todos. Depois embrenhei-me noutra trilogia; a das flores (dália isto, rosa aquilo, lírio acolá), e entendi que a fórmula era a mesma. Na realidade, a N.R. pega num número limitado de ingredientes, sacode bem e volta a deitar as cartas. Este livro não é exceção, e recordou-me porque é que deixei de gastar dinheiro e tempo com os seus livros. Sem falar no quão aborrecido e repetitivo o livro se torna. Aí a partir da página 250 fui lendo apenas para chegar ao fim, porque o livro é leve sem doer, mas as páginas sucedem-se sem emoção. Talvez com alguma expectativa do final, também um tanto gorada pela superficialidade do confronto final.

Esta trilogia explora três casais, que ficam muito claros à partida: Iona e Boyle, Meara e Connor, Branna e Finn. O pano de fundo é uma feiticeiro feroz que os persegue através dos séculos, porque, por algum motivo que N.R. não se dá ao trabalho de explicar, tomou-os de ponta. Três deles são descendentes da Bruxa das Trevas (soa a conto para crianças), e têm-se debatido, de geração em geração, para aniquilar Cabhan. 
Problemas evidentes: não há uma contextualização. Há uma bruxa, há um feiticeiro que a deseja e a amaldiçoa, há a passagem do testemunho às gerações vindouras, mas não se entende de onde nasceu esta inimizade, porque é que os O’Dwyer possuem esse dom e outros não. Porque é que o vilão apenas protagoniza uma ameaça contra os “nossos heróis”, e não contra toda a comunidade? Enfim, parece-me infantil e atabalhoado, e não chego a sentir medo genuíno ao ler (como sinto do Voldemort ou de Mordor), nem o arrepiar da descoberta de um mundo mágico, que era o que me mantinha pregada a cada página do Harry Potter. Mesmo as cenas de acção parecem muito cinematografadas. Não vejo aqui nenhuma originalidade, apenas um reciclar de ideias gerais que, quiçá, já povoem outros livros seus, mas decerto já povoam o imaginário de quem vive, nesta era, o revivalismo do fantástico e da feitiçaria na literatura.

Mas eu não comprei este livro por causa da bruxa, comprei-o por causa do cenário irlandês e pela promessa de romance light e, neste campo, encontro os mesmos homens sedentos de música, de porrada e de álcool de todos os livros da Nora. 

Encontro as mesmas mulheres de barriga no fogão, a preparar petiscos que toda a família admira, porque mais ninguém sabe cozinhar à sua altura. E encontro os mesmos homens ditos rudes, que depois acendem velas quando fazem amor, lhes oferecem flores (mais ou menos voluntariamente), e lhes abrem a porta do carro. São retratos muito superficiais de histórias perfeitas, com o final feliz a cumprir-se sem excepção. Neste livro houve até o absurdo de um conflito forçado, o típico truque de se ouvir algo a meio, que não se entende mas do qual se tira conclusões precipitadas, e a separação que se segue. 

Enfim, foi uma leitura leve que não aqueceu nem arrefeceu. A Iona e o Boyle hão-de esfumar-se da minha cabeça em pouco tempo. Fiquei, contudo, cheia de curiosidade de ler o livro da Meara e da Branna. Em parte porque sou um bocado masoquista, em parte porque estas personagens foram tão meh que as outras têm (não têm?) de ser melhores.
Vamos lá prosseguir para mais duas desilusões só porque, por esta altura, já não consigo evitar o acidente de comboio.

Classificação: 2,5/5*****