sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

11# Um Quente Agosto

Título oficial: August Osage County @ 2013
Realizador: John Wells
Actores principais: Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Benedict Cumberbatch
Classificação IMDb: 7,4
Minha classificação: 9,5
 
Que filme poderoso; a prova perfeita de que não é preciso falar-se de grandes questões, genocídios ou intriga e espionagem para se obter algo intenso. Conforme ia absorvendo a míriede de personalidades - todas tão fantásticas, todas tão bem caracterizadas e com um casting tão bem direccionado! - ia desejando que houvesse um livro. Disse à minha irmã que um filme com uma riqueza de enredo e um leque tão rico de personagens teria de ter, necessariamente, um grande livro por trás. Parece que não é livro, é uma peça de Tracy Letts que ganhou o Pulitzer. Se conseguir deitar-lhe a mão, será uma leitura para breve. E pensei também que era exactamente o género de livro que eu gosto de escrever.
Cada vulto da família Weston/Aiken tem uma personalidade muito vincada, muito própria, move-se num ritmo muito seu e vem acompanhado de algumas ligações muitíssimo bem exploradas.
Temos o casal Weston, Violet e Beverly, pais de Barbara, Ivy e Karen. Beverly desaparece de casa, não pela primeira vez, e Violet chama as filhas aquando da ocorrência. Ela própria tem cancro da boca e é viciada em narcóticos. Sobre a Meryl Streep como Violet, guardo a minha opinião para o fim.
Uma Julia Roberts mais velha (azar dos azares, revi o Pretty Woman @ 1990 há duas semanas), mas também mais madura, mais mulher maculada, dá a cara por Barbara. É a filha favorita de ambos os pais - e Violet faz estandarte disso -, mas é também a mais amargurada e a mais difícil. Despreza o cantinho do Oklahoma onde os pais continuam encerrados, tal fica subentendido nalgumas das suas observações. Acho que é um papel soberbo interpretado pela actriz certa, só a Júlia exibe um misto de força e vulnerabilidade capaz de tornar a Barbara num molde da mulher real, outrora um forte, agora uma torre em chamas. Apresenta-se em casa com Bill (Ewan McGreggor) e a filha de ambos, Jean (Abigail Breslin).
Juliette Lewis encarna Karen, a irmã mais nova, pelo que julgo ter compreendido. Também a mais desmiolada, embora seja uma romântica bem intencionada e egocêntrica, com laivos de compaixão nas entrelinhas. Reúne-se com a família trazendo o “noivo” (Dermot Mulroney) de arrastão. Ninguém parece muito convencido da durabilidade da nova relação de Karen, e essa descrença, esse deboche quanto ao modo como conduz a sua vida, contribui para a melhor cena do filme, que é também a melhor cena que vi num filme nos últimos tempos (desde A Vida de Pi @ 2012, que está pejado de cenas de beleza incontornável).
A irmã mais discreta, mas cuja história vai abrindo caminho por entre as participações mais efusivas das irmãs nos assuntos de família, é Ivy (Julianne Nicholson), que se vai revelando como a filha desprezada, sempre criticada pela dureza implacável da mãe, mas também a que sempre permaneceu a seu lado. O facto de estar a começar a ser feliz com um homem vai causar dissidências na família e trazer ao de cima um segredo nunca discutido.
Depois ainda temos a tia Mattie Fae (Margo Martindale), como uma irlandesa amargurada que é quase uma bully para com o próprio filho, Little Charles (Benedict Cumberbatch). É a irmã de Violet e a tia das raparigas, e está por dentro de todos os assuntos, alem de ser a pessoa que mais se assemelha ao carácter ríspido da irmã, que suplanta todos. O filho, Little Charles, soberbamente interpretado por Cumberbatch, que gagueja, se encolhe, baixa o rosto e arregala os olhos sempre que a mãe lhe dirige uma crítica, e que recebe com complacência as carícias de apoio do pai (Chris Cooper).
A melhor cena do filme é a que reúne a tensão de todos à mesa, para um jantar que se segue a um acontecimento infeliz, e em que Meryl Streep rouba a cena. Que ritmo, que energia, que capacidade de pular da louca viciada em narcóticos para a mulher inteligente e calculista que não deixa que nada ao seu redor lhe escape. Que vitalidade numa mulher que, apesar de cada vez mais velha, continua um vulto de carisma e de feminilidade, mais nítida quanto mais alto se ergue a sua voz, quanto mais bruscos são os seus gestos. Que admirável o modo como parece carregar em si todos os azedumes que a vida a fez experimentar, guardando a tradição sem ser retrógada, e sendo, em simultâneo, a pessoa menos convencional da casa. E que par à altura descobre na Julia Roberts, que lhe faz frente com tanta mestria!
O filme é uma lufada de ar, um vir à luz, dos segredos de uma família. Poderia chamar-se assim, “Segredos de Família”, mas chama-se antes, no título original, “August Osage County”, porque é como se o calor intenso que se faz sentir, recorrente em cada cena, condicionasse o caminho escolhido por todos, vulgo, “lhes torrasse os miolos”. e fosse o principal culpado pelos erros de todos. As planície do Oklahoma, de Osage County, como as causadoras da traição, da pobreza, da ascenção económica, da rebelião, da gritaria e, sobretudo, da aridez de quase todos os carácteres femininos.
Um ensaio sobre a natureza das relações, sobre a tomada de oportunidades, sobre escolher-se a si ou escolher os outros, sobre desviar-se do caminho, perder-se (a si, ao rumo). O filme deixou-me maravilhada. Nunca eu vira uma família tão brilhantemente retratada, cuja história foi moldada pelos os outros, pelas circunstâncias económicas, pelas aspirações, pelas infâncias e pelo calor de Osage County.

Classificação: 9,5/10

domingo, 16 de fevereiro de 2014

10# Blue Jasmine

Título oficial: Blue Jasmine @ 2013


Realizador: Woody Allen
Actores principais: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins
Classificação IMDb: 7,5
Minha classificação: 8,5


Nota: O meu pensamento quando acabei de ver o filme: tenho que descobrir quem é o realizador e segui-lo. Ora bem, para mal dos meus pecados, é o génio do cinema/pedófilo Woody Allen. Já me tinha prometido não voltar a dedicar um instante a obra alguma deste criminoso que circula livre, mas aconteceu, foi inesperado. A menos que o filme tenha o nome de capital europeia, dificilmente o associo ao Allen. Por isso a minha opinião abaixo terá de seguir, independentemente dos feitos do escritor/realizador.


Opinião: Por fim, apaixono-me pela Cate Blanchett (Jasmine). É uma figura que se desdobra em emoções neste filme, oscilando entre uma classe invejável e uma alma que se desfaz em pedaços. Ela chora, ela treme, ela deixa que os objectos lhe caiam das mãos, ela sorri com a boca (nunca com os olhos), ela baba-se um bocadinho, ela deixa que a mente voe para longe e fixa a vista num pontinho distante. Ela sibila, ela sussurra, ela grita, ela descabela-se. Em geral, todo o filme é mais uma série de confrontos nevróticos contidos do que um explodir de emoções. Os confrontos dão-se, e bem no ritmo dos reais; com alguém a implorar por calma, a suplicar que se fale baixo, que se mantenha o nível.
Estamos perante Jeanette, que mudou o nome para Jasmine, e que foi durante muitos anos casaca com Alec Baldwin, um corrupto que também a traía. A Jeanette/Jasmine é do género de pessoa que vira a cara quando fareja que algo está errado, a menos que lho acenem com néons e, quando descobre que foi enganada durante todos aqueles anos, envereda por uma via de auto-destruição que está muitíssimo bem caracterizada. Sem ninguém a quem recorrer, atravessa o país, deixando New York pelo abrigo que a irmã lhe oferece.
A Sally Hawkins (Ginger) também tem um bom papel. É uma mulher de pouca auto-estima que não se acha digna de muito. Então vai-se contentando com o que tem à mão, sem hesitar em se embrenhar numa nova história que lhe pareça "um pouco" melhor. 
Não sei se vi alguma aparição do verdadeiro amor neste filme. Vi personagens muito reais, com interesses bem delineados, confusas, traídas, a trair e a enganar também, cada uma ao nível em que isso que é possível. Mas não houve uma aparição de um amor maior capaz de salvar cada um das espirais de decadência em que está mergulhado. É um filme que abre as portas ao mundo que tenho julgado começar a vislumbrar agora que entrei na idade adulta. Os contos de fada vão ficando para trás, os comprimidos ajudam a dormir e a sorrir e ninguém é cem por centro feliz, e ninguém o seria mesmo que tivesse tudo aquilo que considera essencial.

Contudo, esta citação abaixo ficou-me na ideia. Penso que seja o momento mais terno, mais sonhador do filme. Uma possibilidade de redenção e de recomeço. Ninguém é perfeito.

Diálogo entre Dwight e Jasmine.
- Hey, posso perguntar-te uma coisa?
- Claro.
- Alguma vez te imaginaste casada comigo?
- Casada?
- Eu tenho tudo planeado mas, como é evidente, podes dizer que não se te parecer terrível. Está bem? Mas vens comigo no mês que vem para Vienna, vivemos lá uns anos e eu posso ensinar-te a valsar, e podes comer todo o bolo de chocolate e beber todo o vinho que quiseres. E depois voltamos e eu invisto no meu sonho na política. E então adoptámos crianças e vivemos nesta casa, que farás um trabalho fantástico a embelezar. Que te parece? (...)
- Então estás a dizer que me amas?
- Não dá para ver?

Classificação: 8/10

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

#109 FLYNN, Gillian, Em Parte Incerta

Sinopse: Uma manhã de verão no Missouri. Nick e Amy celebram o 5º aniversário de casamento. Enquanto se fazem reservas e embrulham presentes, a bela Amy desaparece. E quando Nick começa a ler o diário da mulher, descobre coisas verdadeiramente inesperadas…Com a pressão da polícia e dos media, Nick começa a desenrolar um rol de mentiras, falsidades e comportamentos pouco adequados. Ele está evasivo, é verdade, e amargo - mas será mesmo um assassino? Entretanto, todos os casais da cidade já se perguntam, se conhecem de facto a pessoa que amam. Nick, apoiado pela gémea Margo, assegura que é inocente. A questão é que, se não foi ele, onde está a sua mulher? E o que estaria dentro daquela caixa de prata escondida atrás do armário de Amy? Com uma escrita incisiva e a sua habitual perspicácia psicológica, Gillian Flynn dá vida a um thriller rápido e muito negro que confirma o seu estatuto de uma das melhores escritoras do género.

Opinião: Não foi um livro fácil. Li até à página 173 e passei outros tantos à frente. Depois, metida num voo de 9h35, peguei-lhe de novo e li até à página 400 compulsivamente. Quando digo “compulsivamente”, significa que é pouco provável que me esqueça das revelações que sugiram no livro durante esse voo – o mais atribulado da minha vida (vida essa que analisei por entre pequenas pausas desta leitura com o avião a chocalhar como louco). No voo de regresso, mais nove horinhas e meia com uma escala interminável pelo meio, li o que restava e fechei as cerca de 520 páginas daquele que é um dos livros mais malucos que já li. Só consigo compará-lo – de modo vago, porque a outra trilogia é bem melhor – à obra-prima do Stieg Larsson. Na trilogia Millennium a Lisbeth Salander é a personagem que mais me fascinou no mundo da literatura até hoje. Ombro a ombro com a Scarlett O'Hara do “E Tudo o Vento Levou”.
No “Em Parte Incerta” temos duas pessoas em tudo comuns e, por estranho que pareça, muito familiares. O Nick (a ser interpretado no cinema pelo Ben Affleck), fica atarantado com o desaparecimento inesperado da sua esposa, Amy, na manhã em que comemoram o quinto aniversário do seu casamento. Acompanhamos as suas reacções ao decorrer da investigação intercaladas com o diário que Amy mantinha, onde ia denunciando as desilusões com o casamento por entre as expectativas e a esperança que ia mantendo de que as coisas se endireitassem.
Será que Nick matou Amy? O que terá acontecido a Amy?
Então fica impossível deixar de ler. Ninguém é bem quem diz ser. Ninguém é perfeito e são todos muito humanos – homens que choram, referências a affairs e ao asco que isso causa a quem é traído em termos pouco educados – traições, vinganças, o quotidiano de um casal contemporâneo e os sucessivos desencantos e aspirações goradas, o desemprego, o isolamento –, mentiras e uma personagem fascinante que arrepia de tão brilhantemente distorcida.
Só não consigo atribuir cinco ao livro porque detestei o final. Penso que no filme, para o render mais cinematográfico, o mesmo seja alterado para algo mais “definitivo”. De qualquer modo, é um livro que vai demorar a deixar-me.

Para quem se interessa por policiais, sociopatas e esquemas bem elaborados, está aqui uma leitura bastante satisfatória. 

Já tinha dissertado um pouco sobre o livro aqui.

Classificação: 4****

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

#108 TIAVÉA, Tuiavii, O Papalagui


Sinopse: Obra incluída no Plano Nacional de Leitura (LER+)

"Papalagui é um humilde contributo a respeito da natureza humana e da busca da felicidade que continua a tocar milhões de pessoas em todo o mundo.

Este livro resulta de uma coletânea de textos escritos por Tuiavii, chefe da tribo samoana de Tiavéa, e dados a conhecer ao ocidente em 1920 por Erich Scheurmann, que com ele conviveu naquela ilha do Pacífico Sul.
Escrito de uma forma simples e honesta – fruto de uma capacidade de observação sem igual–, oferece‐nos um relato impressionante e sincero a respeito da civilização ocidental.
Depois de uma visita à Europa, Tuiavii regressa à sua ilha natal e escreve vários discursos com a finalidade de dar a conhecer ao seu povo os usos e costumes da sociedade ocidental.

Pleno de verdade e com salpicos de humor, Tuiavii descreve ao seu povo a vida dos Papalagui (os ocidentais), narrando os seus hábitos, sensibilidades e maneiras de pensar, obstinados com a necessidade de possuir riqueza e bens materiais, cheios de ilusões e arrogância perante a natureza, mas carentes de afectos, sabedoria e verdadeira felicidade.
Oferece-nos uma visão cheia de amor e sabedoria que nos mostra como o dinheiro, o egoísmo, a produção e o consumo maciços de bens de que não necessitamos nos levaram ao individualismo, à falta de tempo e ao esgotamento dos recursos da Terra."


Opinião: Quem primeiramente me falou deste livro foi a minha professora de Psicologia do secundário. Considerei a temática interessante e fiz uma nota mental para um dia ler. O "dia" foram as horas perdidas no aeroporto no voo Lisboa-Madrid e vice-versa, quase oito anos depois. Como a sinopse indica, o conteúdo da obra são os relatos do chefe da tribo samoana de Tiavéa a respeito do que observou na Europa. Pelos seus escritos, que datam de 1914-15, subentendemos que missionários cristãos chegaram à ilha e introduziram a tribo aos hábitos europeus. Um dos pontos chave era a religião, e tentaram afastar os tribais do culto à natureza e ao Grande Espírito, empurrando-os para o "nosso" Deus de amor e penitência. A evidente inteligência e sentido crítico do chefe levam-no a compreender que o Papalagui/homem branco não segue os ensinamentos que prega, e por esse motivo começa a questionar o seu modo de vida. Tira algumas conclusões que servem para analisarmos o nosso estilo de vida e a vivência em sociedade, mas sobretudo que me puseram a pensar sobre o afastamento da natureza e sobre a montanha de apetrechos com que nos cobrimos. O chefe lamenta que nos fechemos em caixas de cimento mal arejadas, que o verdadeiro deus que louvamos seja o dinheiro e que tenhamos a "doença do pensamento". Que não baste admirar a montanha mas tenhamos que querer ver além da mesma. Que percamos tempo a medir o tempo. Que usemos caixas para guardar caixas e bolsas e bolsinhas. Que inventemos coisas de que, na realidade, pouca precisão temos.
Gostei sobretudo da conclusão, em que o chefe pede aos da sua tribo que virem as costas à escuridão, à insatisfação e às mentiras do homem branco, que prega amor, irmandade, cooperação. Informa-os de que, na realidade, o depôr das armas a que convenceu este povo é uma mera manobra de se aproximar e de os influenciar porque, na realidade, o Papalagui está armado até aos dentes a destruir o seu irmão Europa fora (I Guerra Mundial).
É o testemunho e um apelo de um líder que identifica as ameaças da sociedade ocidental, os seus vícios e fraquezas, e que suplica ao seu povo para que este dê valor à simplicidade com que vive; sem sobressaltos de maior, em plena harmonia e cumplicidade. 

«O Papalagui quer sempre chegar depressa ao destino das suas viagens. A maioria das suas máquinas tem o único propósito de transportar pessoas rapidamente; mas logo que chega ao fim do caminho quer de imediato enveredar por outro. E assim o Papalagui apressa-se pela vida sem descanso, perdendo cada vez mais a capacidade de caminhar ou correr, e sempre sem alcançar o seu destino; o destino que vem ter connosco sem que o procuremos».

Classificação: 4****

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

#107 QUINN, Julia, A Grande Revelação

Opinião: A Grande Revelação era, pelo menos por mim, o livro mais esperado da série Bridgerton. Afinal, é a história da discreta Penelope e do seu amor de sempre, o Colin. Não gosto de fazer exposições de opinião a revelar a história toda, mas tenho de revelar uns pontinhos desta.
O mais importante é saberem que o nome do livro se deve ao desmascarar de Lady Whistledown, que é, de facto, alguém bastante inesperado. Mesmo eu, que já havia lido o livro em Inglês, já me tinha esquecido de quem era a infame aristocrata.
Neste livro o Colin regressa de outra das suas viagens e está com trinta e três anos. Não é pragmático como o irmão mais velho, Anthony, nem um tolo romântico como o outro irmão, Benedict, mas também não anseia (nem sente repulsa) por casar-se. Sente apenas que ainda não encontrou a mulher ideal e, de repente, Penelope revela-se. Isto porque, aos vinte e seis, a jovem perdeu qualquer esperança de se casar e finalmente começa a dizer o que lhe passa pela cabeça, tornou-se independente e dona do seu próprio nariz.
É neste contexto que os dois se aproximam como amigos e que entendem que, apesar de ele sempre a ter visto como a grande amiga da sua irmã mais nova, e ela sempre o ter tido como o homem ideal, o príncipe dos seus sonhos, há muito que desconhecem sobre o ombro. Vão-se tornando mais nítidos aos olhos do outro, vão entendendo que ninguém é perfeito. Tudo regado a muitas risadas, mas também pontuado por momentos de reflexão e dilemas pertinentes. A Quinn não aposta em casais tolos que discutem por tudo e por nada, e é isso que gosto nos livros dela. É o “eu amo-te, mas neste momento não gosto de ti nem concordo contigo”.
Enfim, foi uma leitura prazerosa, despachei-o desde ontem à noite (li 299 páginas de seguida, eu, que não lia nada na íntegra desde Outubro, e mesmo aí devo admitir que pulei algumas páginas de conversa fiada) e a hora em que cheguei a casa hoje.


Gostei muito e fiquei na dúvida se a série encerra aqui ou prossegue com as histórias da Eloise, da Francesca e da Hyacinth, bem como do Gregory. Pelo que vejo no Goodreads, foram os menos populares.

Não consigo atribuir 5* ao livro porque, apesar de ser o meu favorito da série, apesar de terno e de ambas as personagens principais, bem como quase todas as secundárias também, serem excepcionalmente bem criadas, falta qualquer coisa. Qualquer coisa que a Sherry Thomas consegue com naturalidade - um certo desalento de alma, sentido de sobrevivência, luta pelo que se quer. A Lisa Kleypas também trabalha muito bem a química dos seus casais, falo sobretudo do Simon e da Anabelle (1º livro) e se me ponho a falar no St. Vincent e na Evangeline nunca mais me calo (3º llivro)...!

Sinopse: O coração de Penelope Featherington sofre por Colin Bridgerton há... não pode ser!?? ...mais de dez anos? Sim, essa é a triste verdade. Dez anos de uma vida enfadonha, animada apenas por devaneios apaixonados. Dez ingénuos anos em que julga conhecer Colin na perfeição. Mal ela sabe que ele é muito (mesmo muito) mais do que aparenta... Cansado de ser visto como um mulherengo fútil, irritado por ver o seu nome surgir constantemente na coluna de mexericos de Lady Whistledown, Colin regressa a Londres após uma temporada no estrangeiro decidido a mudar as coisas. Mas a realidade (ou melhor, Penelope) vai surpreendê- lo... e de que maneira! Intimidado e atraído, Colin vai ter de perceber se ela é a sua maior ameaça ou o seu final feliz. ps: este livro contém a chave do segredo mais bem guardado da sociedade londrina.

CLASSIFICAÇÃO: 4****

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Elogio do Bom - Máfia das Pizzas

Quando se carrega um sonho durante muito tempo, há que ter em conta duas coisas; a primeira é que é impossível concretizá-lo sem que todo o universo se alinhe nesse sentido, disposto a criar as circunstâncias ideais. A segunda é que, num sonho, geralmente atribuímos contornos difíceis de alcançar àquilo que almejamos. Mas ontem, sentando-me com quatro amigos no Máfia das Pizzas na Rua Cândido dos Reis, em Cacilhas, soube que estava a tomar parte no bonito sonho de alguém. Todos os que chegam (e que fazem fila para entrar, se não tiverem reservado mesa) vêm e, sem querer, tornam-se parte desse mesmo sonho.

A Câmara de Almada há muito que queria reabilitar esta zona, junto ao terminal dos Cacilheiros, e como resultado, agora que o fez, esta zona pedonal, embelezada pela tradicional calçada portuguesa, é uma "espécie de Bairro Alto" na Margem Sul. Há diversas ofertas de restauração e outros entretenimentos, mas o Máfia das Pizzas parece ser detentor de grande parte do movimento da rua, pelo menos no Sábado à noite em que o visitei.

O espaço é algo de arrebatador. Combina bom gosto, criatividade e uma notinha de história, visto que o edifício data do séc. XVII e ainda exibe arcadas e um poço dessa época. No verão, os convivas sentam-se na esplanada em originais "mesas barril". O tom "vinho" intercalado com o branco, no interior, cria um ambiente simultâneamente caseiro e requintado. As paredes exibem uma instalação de caixas de bom vinho com os mesmos em exibição.
Cada recanto denuncia o cuidado com que foi pensado. O winebar/vinoteca também é detendor de uma ambiente a colhedor e especial, ideal para a degustação dos vinhos de qualidade disponíveis no catálogo.

De salientar também a cozinha aberta, que não guarda segredos se não os de uma família de cozinheiros de mão cheia. No meu caso, e porque somos família, vi mais do que alguém a aplicar as receitas que lhe chegaram de Roma na confeccção de pizzas, e mais do que um primo a valer-se de todos os seus dotes culinários para a preparação de uma excelente pasta. Vi profissionais empenhados em partilhar a sua paixão com os apaixonados da boa comida.

A comida, porque foi sobretudo isso que nos reuniu nesse serão, é o grande motivo pelo qual escrevo este "artigo". A fama do primo que faz excelentes pizzas - receitas romanas - já corria na família. A fama do primo cuja pasta é de perder a cabeça, também era há muito comentada entre nós. Eu nunca havia provado as suas confecções, mas sabia que a mãe dos primos faz umas sobremesas de chorar por mais, e parece até que a esposa de um dos primos se empenhou na tarefa de elevar um tiramissù a um pedacinho de perdição. O menu está disponível na página de facebook do restaurante, e poderão verificar que os preços são acessíveis e adequados à qualidade da comida e do serviço.

Para mim pedi um spaghetti com gambas, que depois vim a saber que é a assinatura da casa. A meu lado o meu irmão saboreou um spaghetti com legumes, os meus amigos provaram a pizza Alentejana e a pizza Rústica, e a minha amiga não resistiu à promessa de um bom spaghetti carbonara. Tudo regado a lambrusco. Ao ouvido, a tia orgulhosa dos filhos empreendedores sussurrava-me que os ingredientes são todos frescos, como me foi evidente pela qualidade do meu prato, ali não se trabalha com nada congelado. O doce da casa, que aconselhou para sobremesa, é receita sua. O café equilibra o chocolate; é divinal.


Têm serviço de take-away e continuam empenhados em desenvolver novas receitas de sucesso - quem sabe lasanhas? - para garantirem também a variedade da oferta.

Posto isto, e sendo evidente que a minha dieta pós-natalícia ficou assim comprometida - pelos melhores motivos possíveis - sugiro a todos um giro por esta zona. Saboreiem estas pizzas de massa fina, familiares, cozinhadas com amor e cozidas em forno de lenha, e deliciem-se com as pastas pecaminosas.

Não duvidem de que serão bem recebidos; mas não se esqueçam de reservar mesa!

MÁFIA DAS PIZZAS
RUA CÂNDIDO DOS REIS, 81 E 85
2800-270, CACILHAS
ALMADA
00351 212 740 774 - para reservas

*Algumas das fotografias foram recolhidas no facebook do restaurante, outras são da minha autoria na noite em que lá estive a jantar.