Opinião: Digamos que não me foi difícil
compreender o espírito de Milan Kundera. Mas não me foi exactamente fácil lê-lo
nem acompanhá-lo. A narrativa segue ao ritmo das ideias, das emoções, da
imaginação, devaneios e sonhos. As personagens são multidimensionais, vão de um
extremo ao outro, são imprevisíveis, inconstantes. Causam desconcerto, empatia,
repugnância, compaixão, estranheza, alienação. Tudo na mesma página. Algumas
reflexões contidas nesta obra são autênticas pérolas de saber. Viver uma vida é como não viver. Uma
vida sem um esquisso é, então, receita para desastre. Algo pesado é negativo e
algo leve é positivo. Tudo isto mergulha em nós quando nos encontramos num
espírito receptivo a “aprendizagens” mais profundas e superei as minhas
expectativas ao lê-lo em quatro viagens de comboio – Richtweg-Hamburgo,
Hamburgo-Richtweg, Richtweg-Hamburgo-Bremen e Bremen-Hamburgo-Richtweg. E
estava lido mais este “a ler antes de morrer”.
Do que trata este livro, afinal?
Meros devaneios existenciais? Não, não. Trata a Primavera de Praga, a
influência do regime comunista sobre a Europa de Leste/Central. A opressão, as
perseguições políticas, o sufoco do povo e dos intelectuais. A busca pela
felicidade, a emigração, o exílio, o campo, a ci
dade, a fidelidade, as ânsias
da alma e do corpo, as necessidades do corpo e as premências da alma. O amor a
uma cadela que se trata por cão. Uma cultura um pouco “alemanhizada” aqui bem
presente, sem que eu o esperasse. Ditados alemães, Nietsche a chorar abraçado a
um cavalo porque o cocheiro lhe aplicou uma chibatada, Beethoven e o “es muss
sein!”. Enfim, uma enxurrada de acontecimentos com pessoas mais ou menos banais
que se conhecem por uma série de acasos e nas quais Kundera deposita, com habilidade, as falhas de carácter e de insustentabilidade
de ser de cada e qualquer humano.
Foi lido no momento certo. Não morri de paixão por ele mas reconheço-lhe o signo do talento genuíno.
Classificação: 4.5****/*
Sinopse: A Insustentável Leveza do Ser é seguramente um dos romances míticos do século XX, uma daquelas obras raras que alteram o modo como toda uma geração observa o mundo que a rodeia.
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