segunda-feira, 15 de abril de 2013

Escrever sob uma fórmula: funciona sempre?


Escrever sob uma fórmula: funciona para sempre?

Aparentemente, sim. Isto porque hoje me pus a fazer reviews dos livros que li há praí dez anos da Danielle Steel. Alguém, num comentário pouco lisonjeiro, mencionou que a “fórmual da autora” não lhe agrada. Eu havia escrito a mesma coisa nos dois livros em que elaborei review – que há um padrão que me aborrece na autora. Também reflecti sobre essas ditas “fórmulas”, e desencantei alguns autores que seguem algo que pode ser assim apelidado. Ocorreram-me de imediato, a par da Danielle Steel, o Nicholas Sparks, o Dan Brown, a Sveva Casati Modignani, a Madeline Hunter e quase todos estes escritores que escrevem romances de época mais malandros. Talvez também porque fechá-los no tempo os limite um pouco, mais é mais do que isso… É uma espécie de auto-plágio repetitivo e cíclico. Ora vejamos:

Danielle Steel (baseando-me em exemplos de livros como Um Amor Imenso, A Dádiva, A Imagem no Espelho, o Rancho, etc…): A personagem principal feminina perde sempre alguém muito importante (mãe, pai, pais, filho), a perda dilacera-a e consegue a piedade de todos para ela. É maltratada durante grande parte da sua vida, metendo-se em disparates porque a vida lhe foi madrasta, e quando conhece “o tal” está muito traumatizada. Toda a gente lhe diz constantemente que é linda e maravilhosa (ao ponto do enjoo) e que a admiram muito. O tipo tem de se esforçar por lhe provar que não é um playboy, não é como o violador, não é indigno da sua confiança… blablá. Sempre a mesma história com personagens de fortes valores morais que atiram constantemente pela janela. É uma frustração de pessoas a cometerem disparates gritantes porque acham que é o certo.

Nicholas Sparks (o Diário da Nossa Paixão, A Alquimia do Amor, O Sorriso das Estrelas, Uma Promessa Para a Vida, À Primeira Vista, Uma Escolha por Amor, Corações em Silêncio, Laços que Perduram, As Palavras que Nunca te Direi, Quem Ama Acredita, etc.): é um caso mais bicudo. Em praticamente todos estes livros – e nos outros que li e cujo nome me esqueci de mencionar – há sempre ou um viúvo (À Primeira Vista, A Alquimia do Amor, Um Refúgio para a Vida, As Palavras que Nunca te Direi), ou uma mulher doente de cancro/vítima dum acidente/Alzheimer (Um Momento Inesquecível, Uma Escolha por Amor, O Diário da Nossa Paixão), ou uma mulher vítima de violência doméstica (Laços que Perduram e Um Refúgio para a Vida), ou um homem no Iraque (Juntos ao Luar, Um Homem com Sorte).

Um deles tende a morrer no final (O Diário da Nossa Paixão, O Sorriso das Estrelas, Um Momento Inesquecível). Depois há outros pontos comuns – as histórias passam-se sempre na Carolina do Norte, há sempre um alpendre, há sempre uma mulher que bebe Diet Coke e um homem que tem covinhas no rosto. O homem é sempre um good guy que nunca tem sexo ocasional e que quebra um longo jejum por devoção à mocinha. Convida-a sempre para sair com a maior cerimónia, debate-se geralmente se deve ou não beijá-la no final dessa saída. Não há grande paixão (ou espontaneidade) entre as personagens. Mesmo as primeiras piruetas na cama costumam ter uma aura de “ao quinto encontro já podemos”. Ele leva-a sempre a jantar a um sítio fixe que conhece. Não é invulgar darem um passeio de barco ou ficarem até tarde no alpendre a conversar e a beber vinho. O tipo grelha sempre qualquer coisa enquanto bebe cerveja (este ambiente de descontracção forçada deita-me por terra). Tenho notado que dá cada vez mais importância à comida – repete muito que comeram isto e aquilo e como o confeccionaram. Os finais são um de dois: ou para destroçar o leitor


(conseguiu com o Um Momento Inesquecível e o As Palavras que Nunca te Direi), ou para o enternecer (Uma Promessa para a Vida). Entretanto comecei a borrifar-me para as personagens dele. São tão sem sal, o romance sempre tão forçado e tão igual…! A culpa é do filme, Um Refúgio para a Vida, que me obrigou a lê-lo de novo. Lamento informar que é um daqueles casos raros em que o filme é melhor do que o livro. Ou isso ou seria uma seca tremenda!

A ideia com que fiquei é a de que o autor tem um casamento longo e sólido, é um homem conservador de covinhas no rosto e a mulher provavelmente bebe Diet Coke. É um good guy até no sorriso. Por isto acredito que não faça ideia do que são grandes ímpetos de amor. Atira obstáculos para o caminho dos dois inflamados responsáveis e sérios, que praticam sempre o mesmo género de piada fácil – doenças, acidentes de carro, distância (oh, esqueci-me de mencionar os problemas geográficos; não ficamos juntos porque moras longe??? – Quem Ama Acredita, As Palavras que Nunca te Direi, O Sorriso das Estrelas) – homens violentos a espancar as mocinhas e a persegui-las. É pena é que atire sempre os mesmos…

O Dan Brown já sabemos, é sabido que haverá uma morte, um mistério, algo intrincado por detrás, um inimigo quase invisível mas sempre presente, uma revelação BAM! e um sentimento de satisfação por termos, algures a meio do livro, desconfiado que fosse aquele o mau.

A Sveva Casati Modignani é outro caso sério de quem repete infinitamente a mesma fórmula. Tirando o Mister Gregory (que ademais não li) todas as obras que li dela apresentam o mesmo “guião”. Uma mulher forte, de Chanel Nº 5, quase nos quarenta ou na casa dos quarenta, a viver um casamento infeliz e tantas vezes com um cão basset. Entretanto surge a sua infância no sul de Itália, o pai operário, os irmãos inconsequentes, a vizinha velha que coleccionava peças de antiquário, a senhora rica que se encantou dela e lhe disse que devia ir para a moda/ser sua criada num palacete onde o seu filho mora e é jeitoso/estudar porque é muito inteligente. E conhece um grande empresário. E fica muito rica. 
E o empresário trai-a/ela trai o empresário. A mãe fora uma desvairada, traíra o pai. O pai era um amor de pessoa, um idealista. A avó dava bons conselhos, fazia boa comida. E com isto disse tudo o que havia a dizer desta senhora, de quem li obras como Baunilha e Chocolate, Desesperadamente Giulia, A Viela da Duquesa, 6 de Abril de ’96, Lição de Tango, Qualquer Coisa de Bom, Uma Chuva de Diamantes, etc., etc. E sempre, a cada página, com as personagens secundárias a revoltearem em torno da principal a dizer-lhe como é linda, honesta, franca, admirável. Um enjoo.

A Nora Roberts idem, cheguei ao terceiro livro e senti que já tinha lido a obra completa. Ao ler outras sinopses já sabia que ia, exactamente, dar ao mesmo. Mulheres que gostam de cozinha e jardinagem e com homens para a agricultura ou a construção civil... basicamente isto, embora esteja a ser redutora. Uma Ilha qualquer ou uma bonita paisagem na Irlanda (devo-lhe a motivação para a minha viagem à Irlanda em Setembro passado). Gostei muito da Trilogia "Herança" de Fogo, Gelo e Vergonha. Três irmãs, um ambiente familiar, pubs irlandeses, ocasionais idas a Dublin. Depois li a trilogia das "flores" Lírio isto, Dália aquilo, Rosa tal. Aborreceu-me de morte, para além de que tudo gira em torno do mesmo... Desisti dela tão rápido quanto me apaixonei, de início.

Agora pergunto: porque vamos nós dar ao mesmo? Porque é que estes autores que mencionei até ocupam um papel central nos best-sellers? Será possíveis que queiramos mais do mesmo? Eu acuso-me porque, como vêem, li vários dos mesmos autores. Mas quando é que um autor enjoa os leitores com a mesma fórmula repetidamente? Será possível que, em casos como o Nicholas Sparks, os leitores nunca se encham? Será que a isto se chama jogar pelo seguro? Voltar a um sítio que nos é confortável e não guarda surpresas nem estranhezas?

Eu escrevi dois livros sobre pequenas vilas/aldeias e sinto-me na obrigação de fugir para o Histórico ou para a cidade. Não tiro prazer algum de nadar em círculos nas mesmas águas…
Será que… não se mexe em fórmula vencedora?

Conhecem outros autores com fórmulas que queiram partilhar?

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