domingo, 16 de fevereiro de 2020

#242 STEINBECK, John, A Leste do Paraíso

Opinião: 
"E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; acaso sou eu guardador do meu irmão?" (Génesis 4:9)


A Leste do Paraíso é um romance publicado por John Steinbeck em 1958, dez anos antes da sua morte e quatro anos antes de lhe ser concedido o Nobel. Li-o convencida de que a maturidade do escritor, em termos de imaginação, de domínio da língua e de compreensão do animal humano estavam no seu auge. Esta percepção levou-me a considerar que esta teria sido a última obra em vida de Steinbeck, mas estava errada. Assim sendo, o apogeu do autor não ocorreu necessariamente quando estava em posse de maior compreensão do mundo ao redor, mas num instante de clarividência em que decidiu debruçar-se sobre a sua família e os seus antepassados, e sobre a vivência dos habitantes do Vale do Salinas, na Califórnia.


"Então Caim deixou a presença do Senhor, e viveu na terra de Nod, a Leste do Paraíso." (Génesis 4:9)


Emprestando a esta obra um cunho vincadamente bíblico, Steinbeck projetou nas família Hamilton e Trask trechos da sua própria ancestralidade, personagens da sua vivência e episódios da sua infância e juventude. A família Hamilton é povoada de personagens inesquecíveis, bem como o núcleo Trask. O mais admirável são, no entanto, as relações. A dinâmica das relações marido e mulher, pai e filhos, irmãos, criados e amos. Várias personagens são francamente inesquecíveis – Adam Trask (Adão), Lee (o chinês sábio que nos enternece desde o início), Samuel Hamilton, o inventor louco e ternurento, a maquiavélica Cathy e os jovens Cal (Caim?) e Aaron (Abel?).
Senti-me envolvida nos diálogos e nas decisões das personagens, torci por elas e sentei-me com elas sob as estrelas na noite californiana, a discutir vocábulos em hebraico, mitologia grega e literatura internacional.
Steinbeck polvilhou este romance colossal de humanidade, de dúvidas existenciais. Importa-lhe menos a sociedade, a injustiça, e mais o indivíduo e os seus dilemas interiores. Neste romance debatem-se o bem e o mal, ao longo de três gerações da família Trask. O bem e o mal, anjos e demónios. Sempre à luz de algo intrinsecamente humano e fulcral: o livre-arbítrio.


Sublime, como só Steinbeck.
"- Sabes onde está o teu irmão? (...)- Não faço a menor ideia. Não me pagam para tomar conta dele." (A Leste do Paraíso)


Sinopse: Com acento bíblico, o grande autor de As Vinhas da Ira define o universo de A Leste do Paraíso através das seguintes inspiradas palavras: “O assunto é o mesmo que cada homem tem utilizado como tema: a existência, o equilibro, a batalha e a vitória, na eterna guerra entre a sabedoria e a ignorância, a luz e a treva, o bem e o mal.” A Leste do Paraíso, vasto fresco levantado a partir do relato da vida de várias gerações de duas famílias norte-americanas, os Trask e os Hamilton, num período crucial da história dos Estados Unidos (1860, Guerra da Secessão – 1920, anos imediatos à Primeira Grande Guerra), proporcionou ao malogrado James Dean talvez o mais importante papel da sua carreira.


Classificação: 5/5*****

Sem comentários:

Enviar um comentário