Sinopse: Um homem sofre desmesuradamente com as
notícias que lê nos jornais, com todas as tragédias humanas a que assiste. Um
dia depara-se com o facto de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos de
bola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho,
passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéu
pousado no lugar errado. Contudo, talvez por se lembrar bem da magia do
primeiro beijo – e constatar o quanto a sua vida se afastou dela – decide
ajudar o vizinho a recuperar todas as memórias perdidas. Uma história
inquietante sobre
a memória e o que resta de nós quando a perdemos. Um romance
comovente sobre o amor e o que este precisa de ser para merecer esse nome.
Opinião: Fiquei confusa. Não que a história não seja
clara, que a narração não seja coesa… Mas é o estilo, se é que lhe posso chamar
assim. Um desfile tão incongruente de personagens estranhas que atira o livro
para o limbo entre o misticismo de um autor sul-americano e a contemporaneidade
de um José Luís Peixoto. A insistência do autor em que todos sejam esquisitos,
em que abram a boca por três páginas de monólogo. Isto é: cada personagem que
surge, vem com o propósito de contar episódios mirabolantes da sua vida (pisar
lagartixas, ter vocação para palhaço, prometer que só volta a chorar quando
Constantinopla voltar para mãos gregas, etc.). Resumindo, não encontrei grande
originalidade no quadro geral: casamento em ruínas, criança pequena e afectada
por essa mudança, velhote solitário e vítima da degeneração das suas
capacidades mentais, neste caso a memória. E então a personagem principal, cujo
nome não julgo ter apanhado ao longo das 275 páginas, interessa-se pelo passado
que o seu vizinho, o senhor Ulme, esqueceu devido a um aneurisma. Compromete-se
a recuperar-lho, e é assim que começa o desfile dos monólogos das inúmeras
personagens, todas com alcunhas, passados esquisitos, cada uma com um ângulo
diferente a respeito do senhor Ulme. Esta é a parte que apreciei: que uns o
pintem como tirano, outros como um deus benevolente. Lamento apenas o facto de
não ter considerado o enredo muito original, li rápido porque os capítulos são
pequenos, a linguagem muito acessível (com aquela repetição em que todos os
nossos “grandes” recaem, como se por repetir a mesma frase até à exaustão desse
um selo de qualidade ao texto). Gosto do egoísmo, narcisismo e ego evidentes em
cada personagem, é nesse sentido que é um livro humano. De resto, parece-me um
lirismo um tanto forçado. Não desisto de Afonso Cruz à primeira, mas confesso
que esperava bem melhor de um autor publicado na Bulgária.
Classificação: 3***/**
Classificação: 3***/**