segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

#123 SOARES, Carla M., O Cavalheiro Inglês


Sinopse: Portugal. 1892. Na sequência do Ultimato inglês e da crise económica na Europa e em Portugal, os governos sucedem-se, os grupos republicanos e anarquistas crescem em número e importância e em Portugal já se vislumbra a decadência da nobreza e o fim da monarquia. Os ingleses que permanecem em Portugal não são amados. O visconde Silva Andrade está falido, em resultado de maus investimentos em África e no Brasil, e necessita com urgência de casar a sua filha, para garantir o investimento na sua fábrica. Uma história empolgante que nos transporta para Portugal na transição do século XIX para o século XX numa descrição recheada de momentos históricos e encadeada com as emoções e a vida de uma família orgulhosamente portuguesa.

Opinião: Escrevo a respeito deste livro sem primeiro consultar a autora do mesmo, que comecei a considerar, nestes anos de andanças literárias, como uma amiga. Estou a dever-lhe a leitura de A Chama ao Vento, mas infelizmente ainda não me converti aos formatos digitais. Terei de fazê-lo em breve, posto que devo a leitura de A Sombra de um Passado à Carina Rosa, e de Calor à Dra Maria José Núncio. Todos eles e-books, pelo que serei decerto obrigada a comprar um Kobo ou coisa que o valha… Ora bem, saboreando o prazer de ter um livro físico na mão, poder cheirá-lo e folheá-lo, fiquei encantada com a capa. Prometia tudo o que encontrei no seu interior. Desafio, História, intriga, romance. E assim foi. Falando das personagens, gostei da Sofia. Achei-a humana e compreendi-a. Não é fácil para um autor fazer uma personagem principal evoluir sem se contradizer, e a Carla conseguiu-o. A Sofia do início do livro, de espírito crítico mas conivente com os desmandos da nobreza em decadência, não é a Sofia ávida por se superar do fim, não é a Sofia que quebra com as regras e por fim compreende que se deve o direito de ser feliz. O Tião não é o típico idealista desmiolado, na realidade parece-me mais um menino mimado que até sofre boas influências, tem noção do certo e do errado, mas não consegue levar os seus planos a bom porto. Então, entre o influenciável e o impulsivo, acaba por ir pondo os pés pelas mãos e precisar da irmã. Depois há o Robert, o inglês calculista, homem de negócios quase sem escrúpulos, que se encanta pela Sofia. Porque sim, porque não é preciso motivos para uma pessoa se encantar por outra. Talvez seja da luz, talvez das almas que se reconhecem de há muito e se ligam na atmosfera que circunda os corpos, sem que as mentes o antevejam. Disposto a fazer tudo pela “posse” da Silva Andrade, aproveita uma janela do destino para reclamá-la.A grande jóia do livro é a época. Os cenários, os costumes, os entretenimentos. As personalidades da época, os bilhetinhos, o fervor republicano e anárquico, as Avenidas, os cabriolets, as viagens de doze horas de comboio, os bairros da capital e da Invicta, os hotéis, os transatlânticos e o contexto dos acontecimentos que vão tendo lugar. Deliciei-me nos cenários, por muito que haja quem se queixe das descrições, são os cenários que fazem um romance histórico. Vá lá leitores, não sejam preguiçosos! O que é um bailado sem tules? O que é um teatro sem setting? É meu gosto pessoal não gostar muito de mergulhar dentro da cabeça das personagens. É muito meu agir primeiro e pensar depois, daí que não atribua cinco estrelas. Gostaria de ter visto a personagem principal menos reflexiva e mais proactiva. Contudo, em nada prejudica o bonito quadro de época. Aconselho a quem queira espreitar a última década daquele que é o meu século histórico favorito.

Classificação: 4****/*

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

#122 QUINN, Julia, Para Sir Phillip, com Amor

Sinopse: Sir Phillip sabia que Eloise Bridgerton tinha já 28 anos e era, pois claro, uma solteirona. Foi por isso mesmo que pediu a sua mão em casamento. Sir Phillip partiu do princípio de que Eloise estaria desesperada por casar e não seria exigente ou caprichosa.
Só que… estava enganado. No dia em que ela lhe aparece à porta, torna-se óbvio que é tudo menos modesta e recatada.
E quando Eloise finalmente para de falar, ele percebe, rendido, que o que mais deseja é… beijá-la.
É que, quando recebeu a tão inesperada proposta, Eloise ficou perplexa. Afinal, nem sequer se conheciam pessoalmente. Mas depois… o seu coração levou a melhor e quando dá por si está numa carruagem alugada, rumo àquele que pensa poder ser o homem dos seus sonhos. Só que… estava enganada. Embora Sir Phillip seja atraente, é certo, é também um bruto, um rude e temperamental bruto, o oposto dos gentis cavalheiros que a cortejam em Londres.
Mas quando ele sorri… e quando a beija… o resto do mundo evapora-se e Eloise não consegue evitar a pergunta: será que este pesadelo de homem é, afinal, o homem dos seus sonhos?

Opinião: Tratando-se de um livro da Julia Quinn, é certo que gostaria dele. Já tinha lido algumas reviews a respeito deste livro, e não me parece que tenha sido o favorito de muitas pessoas no Goodreads. Contudo, foi um dos meus favoritos da saga dos irmãos Bridgerton, lado a lado com a história da Daphne e do Simon, e do Colin e da Penelope.
Achei a Eloisa uma personagem forte, bem construída, convicta e de grande dignidade. E o Phillip pouco tem dos heróis comuns destas novelas, posto que não é um vagabundo libertino, nem se propõe a corromper a mocinha. É um viúvo a braços com duas crianças complicadas, um botânico demasiado afogado nas suas lides para dedicar algum tempo aos filhos, e isso corrói-o de culpa.
Precisa de uma mãe para os filhos mas, conforme vai conhecendo Eloisa, começa a entender que está há tempo demais sem contacto humano e sem os abalos habituais que as relações amorosas causam a quem os experiencia.
O livro é tão terno quanto divertido, a Julia tem esse dom; o de me pôr a rir às gargalhadas a meio da noite. Depois aperta-me o coração, e é por isso que continuo a lê-la, para experienciar emoções através da mestria da pena dela neste género.
Há, contudo, algo que não gostei no livro. Perdoem-me por tentar descortinar ideologias e responsabilidade social na ficção, mas isto de facto assustou-me.
Phillip fora anteriormente casado, a esposa, Marina, suicidara-se. Pelo quadro de apatia, choros contantes e isolamento, diagnostico-a facilmente com depressão. A autora menciona que tudo isto se intensificara após o nascimento das crianças, pelo que penso que poderia querer referir-se a uma depressão pós-parto que, não curada, levou ao desespero final. O que é que detestei aqui?
Ninguém chega realmente a falar mal da Marina, mas culpabilizam-na pelo seu estado. Recriminam-na, passam longos diálogos a comparar essa mulher “triste”, na realidade doente, ao furacão de alegria que é a Eloisa. Este homem diz que tentara tudo (não sei ao certo o quê), e que Marina decidira não lutar. A autora apresenta-nos aqui uma pessoa com uma doença do foro psiquiátrico e o seu marido, que não a compreende, não sabe apoiá-la, e se regozija (embora não de forma aberta) pela sua partida. Chega a dizer que não quer rodear-se novamente de pessoas “tristes”, e que tudo o que almeja é uma esposa feliz.
Fiquei triste com esta abordagem superficial que a autora fez ao tema “depressão”. Basicamente deu a entender que o ideal é partirmos para outra, que essas pessoas estão condenadas à partida e não têm nada para oferecer que não angústia e sofrimento a quem se preocupa com elas. Este fantasma de preconceito assombrou-me durante todo o livro.
Isso e uma cena mais para o final, em que “flores” e “centenas” são mencionadas na mesma frase, recordou-me que o livro deve ser levado com leviandade, e por isso não poderia atribuir-lhe cinco estrelas.

Classificação: 4****/*