sexta-feira, 17 de outubro de 2014

#120 MAQUIAVEL, Nicolau, O Príncipe

Opinião: Maquiavel conquistou o seu lugar como pensador graças a esta obra, que dedicou a Lorenzo di Médici, o reputado mecenas que instigou a carreira artística de Leonardo da Vinci. Apesar de impregnado do espírito da época – Idade Moderna, combates religiosos, à beira da Contra-Reforma, Itália dividida em vários Estados (com destaque para a Nápoles de Ferrara, a Roma do papa Leão X, a Florença dos Médici e a Milão de Sforza -, várias alianças político-militares, a obra mantém-se, em certa medida intemporal, pois que aborda condições intrínsecas à natureza humana. Falo da ganância, da ambição, do calculismo, da crueldade e dos jogos de poder. Maquiavel é aficionado do pessimismo antropomórfico, pelo que considera a natureza dos homens algo de mau, a ser refreado e libertado conforme melhor cumprir os intentos de um Estado e do seu chefe.
Nesta obra, Nicolau procura orientar Lorenzo para o sucesso, para bem dos florentinos. Pegando em exemplos que lhe são contemporâneos e, noutros dos grandes vultos do outrora Império Romano e da Grécia Antiga, ilustra os erros e as virtudes pelas quais incorrem os grandes chefes.
Não posso dizer que tirei grande prazer do livro, nem que partilho esta visão do autor, segundo a qual a natureza do Homem é ignóbil e falível, não creio que o seja sempre com tendência ao mal. Para mim o Homem, enquanto animal, vê a sua natureza modificada pelas circunstâncias. Um gato selvagem tem de caçar para viver, cria inimigos, mete-se em escaramuças. Um gato doméstico, por ter todos estes recursos à disposição, é dócil e fiel. Não digo que o gato pode ser corrompido por desejos de superioridade ou competitividade só por despeito, como os Homens são frequentemente tomados, mas ainda assim há um termo de comparação.
Entendo que seja uma obra singular nas Ciências Sociais e Políticas, mas não é Literatura, não é um romance, não me entreteve. Informou-me, sim, sobre temas que não me  dizem muito, mas me enriquecem a nível cultural.
Porém, reconheço a assertividade e a ousadia do autor, sem dizer que o seu espírito está bem impresso nestas páginas.

Os homens têm menos receio de ofender alguém que se faça amar do que alguém que se faça temer; porque o amor mantém-se por um laço de obrigação que os homens, por serem maus, rompem sempre que surge ocasião mais proveitosa”.

“Acima de tudo [o príncipe], deve abster-se de tocar nos bens alheios; porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do património”.

Classificação: 3***/**

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

#16 Em Parte Incerta



Título oficial: Gone Girl @ 2014
Realizador: David Fincher
Actores principais: Ben Affleck, Rosamund Pike, Neil-Patrick Harris
Classificação IMDb: 8,6
 Minha classificação: 9,0

Opinião: Como disse anteriormente, o meu avião para Dublin, em Fevereiro passado, foi apanhado numa massa de ar junto ao solo, pelo que abortou a primeira aterragem, e chegou-se a equacionar uma aterragem de emergência desviada para Belfast. Eu teria ficado em pânico, não estivesse a ler o Em Parte Incerta, um livro que nos recorda que nem tudo é o que parece. Esta exploração crua de um casamento entre um “rústico” do Missouri e uma beldade Nova-iorquina foi elevada à sublimidade tanto pela autora como, numa adaptação fiel e cuidada, pelo realizador David Fincher.
Sou fã do David Fincher desde “Os Homens que Odeiam as Mulheres”. Agora que penso nisso, um filme destes com a Rooney Mara como protagonista teria sido igualmente bem-sucedido. Tanto o Ben Affleck como a Rosamund Pike primam pelas suas representações. A química entre os dois consolida a aura doentia que circunda a história do casal. Ben Affleck está perfeito como Nick Dunne, um jeitoso apegado às obrigações, tradicional, escritor frustrado e desempregado de barba e videojogo em punho. Rosamund é sublime, tão bonita e inocente quanto bonita e letal no momento a seguir.
Por favor, vejam o filme. Deixem-se conduzir pela mestria da guionista, a própria autora Gyllian Flynn. Para mim o filme do ano. Perturbador, ousado, pertinente, assertivo. Não tem nada de politicamente correcto e a própria banda sonora intensifica as emoções, constitui um floreado em torno dos muitos twists e revelações. É uma história de psicopatas, macabra, perturbadora, tormentosa, que nos obriga a reavaliar o modo como nos relacionamos, as nossas expectativas face aos outros e o papel dos media e da justiça perante os crimes mais hediondos.
Há muito que um filme não penetrava assim sob a minha pele. O último foi, provavelmente, “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, em 2009.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

#119 SIMONS, Paullina, Alexander

Sinopse: A viver na América com o filho, Tatiana tentou esquecer a mágoa pela perda do seu grande amor, Alexander. A sua vida seria perfeita se essa memória não estivesse presente a cada momento de cada dia. E quando uma improvável réstia de esperança de encontrar Alexander vivo se apodera dela, Tatiana não hesita. Deixa o pequeno Anthony aos cuidados da amiga Vikki e parte para uma derradeira e perigosa viagem à Alemanha. Em jogo está tudo o que construiu e a sua própria vida. Se for encontrada, Tatiana sabe que não escapará. É uma mulher marcada. Tatiana e Alexander protagonizam uma das grandes histórias de amor da ficção contemporânea. Um inesquecível relato de paixão, guerra, coragem e sobrevivência.



Opinião: Na realidade, 4,5. Contudo atribuo 5 porque foi a melhor história de amor que li desde E Tudo o Vento Levou (descarto O Monte dos Vendavais porque aquilo não é um amor bonito, é um amor doentio).
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Finalmente acabei a leitura do 3º volume da trilogia “O Cavaleiro de Bronze”. Na realidade, o volume 2.5, isto porque a Asa, numa golpada de marketing indecente, decidiu dividir o segundo livro, lucrar em dobro, confundir os leitores e eliminar o terceiro volume do seu calendário de publicações. Uma coisa é certa; aqui a Célia não lhes compra mais volumes 1 de trilogia alguma, não se sabe quando eles mudam de ideias.
Este volume, na realidade uma extensão do segundo livro, avança a um ritmo muito rápido. Parece um pouco apressadinho, propõe-se a fechar este grande amor aos solavancos e com um resumo dos anos vindouros, coisa de que não sou propriamente fã. Contudo, os momentos de magia entre Alexander e Tatiana multiplicam-se. Tive de evocar os livros anteriores para me recordar da intensidade desse amor e dos obstáculos que lhe foram postos.
É importante entendermos como funcionava a mentalidade russa, a máquina soviética, e como se estabeleceu a relação de poderes entre os EUA e a URSS após a segunda guerra. Em simultâneo, temos como pano de fundo a pela Leninegrado, as suas noites brancas, o Jardim de Verão e a Catedral de St. Isaac. Depois passamos para os campos soviéticos, o cenário de guerra do segundo grande conflito mundial, os bosques e vales de uma Europa devastada. E terminamos neste volume, com a paz e o conforto americanos a contrastar com a reconstrução da Europa. Berlim, desfeita, Hamburgo, desfeita, etc., etc.
Um amor tão forte que sobrevive a todo esse horror e ainda encontra forças para lutar. Duas pessoas únicas, apostadas em salvarem-se mutuamente. Eu sou apaixonada por esta trilogia, terei de ler o último volume em inglês. Sim, porque eles ainda não terão paz, a Guerra Fria vem aí e dois soviéticos em território americano podem ser possíveis espiões. Aconselho às românticas, mas sobretudo aos enamorados da História Europeia. Que retrato fiel da guerra sentida pelos russos… Que obra-prima, esta trilogia!


Classificação: 4,5****/*