segunda-feira, 3 de agosto de 2015

#136 TÓIBÍN, Colm, Brooklyn

Opinião: Nos últimos dias, embrenhei-me em duas histórias que me absorveram a alma, Longe da Multidão (o filme de 2015 inspirado no livro de Thomas Hardy), e North and South (a série da BBC de 2004, que de longe foi a história que mais mexeu comigo pela complexidade do retrato social e do carácter das personagens principais). Tomei também conhecimento de um filme a sair com a Saoirse Ronan, “Brooklyn”, que me pareceu igualmente interessante. Julguei que o livro abordasse os anos cinquenta numa perspectiva de retrato social. A emigração em larga escala de alguns países europeus para a América, as dificuldades e as realizações que daí adviessem. E, no campo do amor, a difícil escolha entre um italiano amoroso na sua vida nova, ou um irlandês tradicional no país que abandonou.

Aconteceram duas coisas inesperadas com este livro… A primeira é que o li de um sopro, também tem apenas cerca de 250 páginas, e ando numa fase pouco produtiva de leitura. A segunda é que detestei a personagem principal e a condução geral que o autor fez do livro. Nunca se sabe o que a Eilis pensa ou quer, a criatura é completamente frívola e passiva ao ponto da exasperação. Perdi a conta às vezes que recorreu à procrastinação para evitar confrontos ou que surgiu a frase “pensou em dizer x, mas o melhor era ficar calada”. Tudo se decide ao seu redor sem que ela tenha qualquer parecer nisso: dança com quem a convida, beija quem tenta beijá-la, aceita convites que depois declara não querer ter aceitado, muda de país sem o querer, regressa a casa para lidar com uma mãe que já não compreende, debate-se com o dilema de ficar em casa com a mãe que a chamou ou regressar a Brooklyn, onde começara uma nova vida. Nenhuma decisão é baseada no que quer, a moça não tem pulso na sua vida e isso é-me desagradável de ler. Atenção, é verdade que sou apaixonada por anti-heroínas e nem todas as personagens principais podem ter o calculismo de uma Scarlett O’Hara, a determinação cega de uma Cathy Earnshaw ou o brilhantismo de uma Lisbeth Salander, mas não há um pormenor na Eilis que seja digno de elogio.
Penso que o autor conduziu mal a história. Não há um objectivo, só me ocorre a expressão “pointless”. A pesquisa histórica está feita, os detalhes são interessantes q.b., o retrato de Brooklyn e da Irlanda são pictóricos, não se mergulha nas entranhas de um país e doutro, nos prós e contras de se decidir onde se quer envelhecer, ao lado de quem, fazendo o quê. Faltou profundidade à Eilis, assim como a quase todas as outras personagens. Nenhuma se destaca por traços bem marcados excepto, talvez, o apaixonado e leal Tony. 
O livro é superficial, light, e por isso mesmo devorei-o com tanta rapidez. Queria muito ter gostado desta obra, mesmo porque amo a Irlanda e a história do povo irlandês, e aqui estava mesclada com um passado em comum ao povo italiano, e teria sido tão proveitoso explorar-lhes as nuances… E se a Eilis tivesse dois dedos de testa e tomasse decisões, tudo poderia ter sido tão melhor desenvolvido…
A escrita de Colm Tóibín é simplista, não há um trecho que valha a pena sublinhar ou uma passagem de marcada profundidade. A natureza humana é aqui, deste modo, desperdiçada.
Pena, porque quis muito gostar dele…
Deixo também uma nota quanto ao facto de me parecer que a tradução para português peca muito. Li várias passagens que não me soaram bem, perdi a conta às vezes que li “devia de ser”, e fico sempre na dúvida se é realmente assim que se diz… E “doce”, e “encantadora”, e “maravilhado/fascinado”, etc… Pode ser problema da versão original, ou simples falta de criatividade conjunta. É disso que acuso o livro: falta de cor, falta de criatividade para preencher uma tela tão promissora.
Não é dos que aconselho.

Classificação: 2**/****

Sinopse: Numa pequena vila irlandesa dos anos cinquenta, Eilis é uma das muitas pessoas da sua geração que não consegue arranjar trabalho. Quando surge uma oportunidade na América, é-lhe evidente que tem de partir. Jovem, sozinha e saudosa, Eilis começa uma nova vida em Brooklyn e a sua tristeza vai sendo gradualmente apaziguada. Quando notícias trágicas a obrigam a regressar à Irlanda, vê-se confrontada com uma escolha terrível: entre o amor e a felicidade na terra a que pertence e as promessas que tem de manter do outro lado do oceano. Uma história de partida e regresso, de amor e perda, da escolha entre a liberdade pessoal e o dever.