terça-feira, 31 de julho de 2012

#48 PEARSE, Lesley - Nunca Digas Adeus


Sinopse: Num chuvoso dia de outono, Susan Wright entrou numa clínica, matou duas pessoas a sangue-frio e aguardou que a polícia chegasse. Terá sido um ato de loucura? Uma vingança planeada? Susan não parece interessada em defender-se e recusa falar. O seu silêncio estende-se a Beth Powell, a advogada a quem é atribuído o caso. Beth é uma mulher de sucesso com uma carreira brilhante mas nada a preparara para o momento em que identifica a autora daquele crime tão bárbaro. Quando eram crianças, Beth e Susan juraram ser amigas para sempre. Vinte e nove anos depois, mal se reconhecem. Mas as memórias dos verões felizes das suas infâncias são suficientemente poderosas para as unir de novo. Enquanto as provas contra Susan se acumulam, elas partilham recordações e revelam os segredos que ditaram o rumo das suas vidas. 
A amizade entre as duas mulheres torna-se cada vez mais forte mas sobre uma delas pende a implacável mão do destino…

Opinião: É o segundo livro que li da Lesley Pearse, tendo o primeiro sido o “Nunca me Esqueças”, e a impressão com que fiquei foi a mesma. Desta vez o enredo revolve em torno de Susan Wright, que matou duas pessoas a sangue frio numa clínica médica e se deixou capturar, e de Beth Powell, uma advogada que lhe calha na rifa para a defender. O livro foi realista neste ponto, estes detalhes legais foram bem geridos, pareceu-me. Felizmente a autora não optou pelo cliché de manter a Beth como advogada de defesa da Susan, e agora vou mudar o meu discurso para não revelar demasiado.
A sinopse é um pouco enganadora – elas não juraram ser amigas para sempre, isso remete ao lugar-comum de juramentos de sangue, etc. Elas simplesmente tiveram-se apenas uma à outra, em pequenas. Depois os seus caminhos seguem direcções opostas. 
Quanto à minha opinião do livro… acho que se mistura com a opinião que tenho da autora. É-me compreensível que tanta gente adore os livros dela, porque de facto ela tem imaginação e um bom enredo. Na minha opinião, o que me impede que lhe dar mais do que um três pela segunda vez, é a extensão de quatrocentas e trinta páginas para uma história que seria sublimemente contada em duzentas e cinquenta. A acção arrasta-se, lenta e, pior, repetitiva! Dei por mim a revirar os olhos. A Susan pensava em a). Contava à Beth/Steven, etc… reflectiam sobre isso. Depois era novamente repensado pela Susan que, por último, o apresenta em tribunal. Bagh!
Outra coisa que detesto nos livros da Lesley é que tudo gira em torno destes termos – injustiça, maldade, piedade, misericórdia, autocomiseração, pena, admiração. É a segunda vez que leio sobre uma coitadinha que até é esperta e se safa bem de quem toda a gente tem pena e com quem toda a gente – do momento, porque o passado é que foi triste, simpatiza. Toda a gente tem pena delas, toda a gente as acham amorosas, toda a gente compreende. Bom eu achei que a Susan merecia, de facto, ser bastante bem castigada. A Lesley pôs-me a pensar sobre o poder de influência que os livros têm sobre as pessoas. Com este pareceu passar a seguinte mensagem: se tiverem uma vida triste, se vos humilharem e maltratarem, se gozarem convosco, podem bem matá-los que os vossos amigos verdadeiros perdoam-vos e continuam a chorar lágrimas amargas por vocês. (PS – A Beth não era assim tão amiga da Susan, geralmente fala com ela retorcida e com azedume, meio seca e céptica e até invejosa por a outra ter tido mais sorte/à-vontade nos relacionamentos carnais). É que também já me aconteceu. Também já me maltrataram e já me humilharam. Pessoas trocadas e depois gozadas – com demonstrações de afecto que vão não se sabe bem onde debaixo das nossas próprias barbas – é um acontecimento habitual na vida de qualquer pessoa. Há egoístas e imorais e gozões e pessoas sem um pingo de decência ou decoro nas vidas de todos. E isso seria, então, razão suficiente para os abatermos a tiro?
Bom, não revelei demasiado porque começam a haver enredos secundários dentro do romance, isto não se prende necessariamente com a linha principal. O que quero dizer é que a Lesley foi demasiado branda com a Susan. Os homens são demasiado ternos – choram x vezes durante o romance, porque se comovem com tudo. Não digo que não suceda, mas quais as probabilidades? Mal sei distinguir as duas principais personagens masculinas, o Steve e o Roy, porque são ambos tolos “ternos” que choram aqui ou ali. E elas? A Beth e a Susan? Foi-me óbvio que a Lesley lhes despejou uma boa dose de desgraças de vida para cima (de ambas) para apelar à nossa pena – do leitor. Mas eu não acho a pena nada de nobre, como me deu a entender a autora, nem tão pouco digno de admiração. Ultrapassar os motivos que fazem os outros terem pena de nós sim, é nobre e admirável. Agora admirar alguém porque cuidou da mãe obrigado, coitado, desgraçadinho… onde é que isto é digno de alguma admiração? Onde é que o ter-se sido vítimas de desgraças nos concede o direito de também sermos cruéis?
Enfim, atribuo três a este livro apenas porque o enredo foi bem pensado e estruturado. Com cento e cinquenta páginas (e lágrimas) a menos, com os cortes dos momentos de reflexão/acção (muito pouca) repetidos, teria funcionado bem. Inclusive emocionei-me quase no final, ri-me um pouco. Mas esperar quatrocentas páginas para me emocionar… haja paciência!

PS - Ainda assim melhor do que muitos romances da treta que por aí andam, com histórias de caracacá, capas e sinopses (enganadoras) muito apelativas...
 Classificação: 3***


domingo, 29 de julho de 2012

»Plano de leitura de Agosto/Relatório de Julho


1 - Acabar o Ligações Proibidas - desisto
2 - Começar e acabar O Véu Pintado
3 - Começar e acabar o Budapeste
4 - Começar e acabar Os Maias
5 - Começar e acabar o To Kill a Mockingbird
6 - Começar e acabar O Caso Rembrandt
7 - Começar e acabar o Um Verão Inesquecível

Parece-me que isto será tudo esquecido em prol d'Os Maias e do Conde de Monte Cristo.

Clube de Leitores d'O Segredo dos Livros
- A Valsa Esquecida
- No Coração do Império
- O Mistério do Quadro de Bellini

Desafio de Julho: incompleto

Li 80/383 páginas do Ligações Proibidas
Li 50/50 páginas d'Os Três Mosqueteiros e terminei-o
Li 50/50 páginas d'A Ilha do Tesouro e terminei-o

Li 2 autores lusos

Não li nenhum clássico - ou contarei Os Três Mosqueteiros como clássico sendo uma versão juvenil?!

Total de páginas lidas: 2300

#47 MCAULEY, Roisin, As Vinhas do Amor

Sinopse: Moonbeam Star, conhecida pelos amigos como Melanie, é filha de um casal hippie. O pai esqueceu-se de regressar de Woodstock e a mãe partiu para se encontrar, portanto, Melanie foi criada pelos avós. Agora na casa dos vinte, Melanie estuda e trabalha num estabelecimento vinícola na Califórnia. Quando o avô tem um ataque cardíaco, revela um segredo que guardou desde que o seu avião foi abatido sobre a França durante a Segunda Guerra: teve um filho com a rapariga que salvou. A criança era um rapaz, e Melanie fica intrigado com a existência desse tio francês e parte à sua procura. Em Inglaterra, a jovem irlandesa Honor Brady apaixona-se por Hugo, um comerciante de vinhos, que a leva para o seu castelo em Astignac, na zona vinícola de Entre Deux Mers. Hugo vende vinhos raros a connoisseurs; vinhos com história; vinhos escondidos durante a guerra; vinhos salvos do Palácio de Inverno em Sampetersburgo… e Honor é deixada sozinha, o que a leva a conhecer Didier, cuja família outrora foi dona do château de Hugo e está ligada ao tio de Melanie. À medida que as vida das duas mulheres se sobrepõem, é descoberta uma teia de mentiras que se estendeu durante décadas.

Opinião: É sempre triste quando a sinopse (enganosa) é mais interessante do que o livro... e esta era muito promissora! Eu não costumo fazer isto (aliás, que me lembre nunca fiz). Quis muito este livro e consegui lê-lo através do clube de leitores do qual faço parte. Tive que ler na diagonal... não conseguia engonhar mais, sou uma pessoa muito ocupada e tenho muito bons livros em linha. Resumindo:
- Oco- Sem substância- Aborrecido- Personagens vazias- Frases feitas- Forçado- Abrupto- Light - a "puxar" ao drama- Cliché
Enfim, isto tudo junto classifica a miséria da classificação.

Classificação: 1*

quinta-feira, 19 de julho de 2012

#46 - BASU, Kunal - O Português Inquieto

Sinopse: Lisboa, 1898: António Maria, jovem médico e afamado playboy, descobre que o seu pai está a morrer de sífilis, a terrível praga que afeta todas as camadas da sociedade. Órfão de mãe desde criança, António não se conforma com a ideia de perder o pai tão cedo. Determinado a encontrar a cura, parte para Pequim, na esperança de que a medicina tradicional chinesa tenha a resposta que teima em escapar ao Ocidente. Sob a orientação do Dr. Xu, António inicia-se naquela prática ancestral. Contudo, esta não vai ser a sua única revelação a Oriente. Quando conhece a sedutora e independente Fumi, ele apaixona-se pela primeira vez. Mas à sua volta, a violência eclode. A Rebelião dos Boxers ameaça todos os estrangeiros a viver no país. António terá de decidir-se rapidamente entre a fuga e a permanência na China, a sua segurança pessoal e a possível cura para a doença. E há ainda Fumi, o amor a que ele não tenciona renunciar e que o leva a questionar tudo, alterando irreversivelmente o rumo da sua vida.

Opinião: Tirei muitos apontamentos ao Português Inquieto enquanto o lia. Primeiro apercebi-me que as páginas fluíam, ao início a justificação foi simples: era um escritor Indiano a escrever sobre um médico português no século XIX, 1898. Era um livro de época a falar de Santo António, sardinhas, noivas, manjericos e tradições antigas, tão nossas. Como podia não gostar?
Depois, apesar do ritmo continuar parecido – porque ao interesse por Portugal neste século, esmiuçado pelo tal Kunal Basu indiano, sobrepôs-se a vontade de conhecer a China – dessa época ou de outra qualquer, e de facto é um relato cuidado e interessante, que não soa forçado. Mas… conforme avançava, foi-se tornando mais óbvio que havia algo em falta. Tive 428 páginas para desvendar o quê, e aqui surgem os motivos pelos quais este livro me deixou um travo acre na boca:
Há um leque riquíssimo de personagens e um tema central riquíssimo, que vai da medicina à cultura chinesa, à política, a tradições, costumes, gastronomia, cheiros, flora, fauna… pareceu tudo novo e vívido, como uma viagem à China oitocentista envolta em nuvens de vapores de ópio… Havia cônsules e personagens de várias nacionalidades, divertidos, outros tempestivos, um padre glutão, um mestre do Nei Ching (medicina chinesa) divertido, e havia os dois eunucos (um carrancudo e outro ingenuamente adorável), havia a Imperatriz Invisível a morar lado a lado com António no palácio, sem se deixar ver, e havia um cigano negociante de artefactos e objectos de valores chineses… Havia ainda a Arees em Lisboa, a suposta “noiva” de António (o português inquieto), com ideais e uma língua que não hesitava em encosta-lo à parede, de tal como que comecei por pensar que eles ficavam bem juntos – isto no início do livro, antes de conhecer o António e de ele partir para a China. Depois comecei a achar que ela era boa demais para ele. E depois havia o António.
Sim, o português inquieto é um António Maria que parte para a China obcecado com a cura da sífilis, a propósito da qual adorei ler. Mas “obcecado” parece ser uma palavra demasiado adequada a este protagonista. Infelizmente, o António é bidimensional. No início do livro só quer saber de mulheres. A dois quartos só quer saber da sífilis, na última metade do livro só quer saber da Fumi – e, por cada coisa em que se foca sem ver mais nada, dá a vida, a segurança, as noites de sono, os pesadelos, tudo. Além disso, este António é francamente estúpido e cego. De início perguntei-me se seria uma característica da personagem – simplesmente era alheado e largava conversas a meio. Depois apercebi-me que era o escritor a tentar prolongar os “mistérios” do livro, as “conspirações”, porque chega um momento em que todo o enredo descamba para uma teia de conspirações, diz que disse e etc. O António, como inquieto que é, esmiúça todos a propósito da sífilis, de início. O médico que o introduz na medicina chinesa, o Dr. Xu, dá-lhe meias respostas. Muito engraçado de início, porque mantém-nos interessados, mas a meio do livro será viável que o protagonista continue a distrair-se com os grous e as peónias a meio de conversas em que todos parecem fazê-lo de tolo? Não há uma única conversa satisfatória neste livro. Nem uma. Porque todas são interrompidas pelo “primeiro arroz” (pequeno-almoço), pela chegada de alguém, pela morte de alguém, pelos boxers ou pelo cair da noite que seja. Deu-me a ideia que o próprio protagonista não tinha prioridades, porque o autor não se deu ao trabalho de estabelecê-las. É um burro teimoso que arrasta o leitor sem lhe oferecer respostas, porque é um frouxo, demasiado fraco para arrancar respostas. E, pior do que isso, quando a verdade está perante os seus olhos, e é péssima: continua a querer fazer amor com a sua querida Fumi, isto no momento em que descobre a que facção ela pertence, e que nem sabe se a sua vida está segura com ela – tudo na mesma recta de pensamentos que se segue à descoberta. Despedida dela? Não há. Depois de tanta parvoíce em seu nome, não lhe dedica um pensamento no final. Deu-me a ideia que é uma história baseada na Madame Butterfly, um marinheiro que vai ao porto e tem um affair. Sim, um affair, porque onde é que havia amor ali? O autor justificou-o com os cânones que outros inventaram. Reflexões sobre saudade e inquietude sobre o seu paradeiro e enfrentar riscos desnecessários para estar na sua companhia. Mas como é que tudo começou? Não sei, ele estava doente e ela “aterrou”, literalmente, em cima dele. Num momento ele não está certo se aconteceu alguma coisa – teria delirado? -, no parágrafo seguinte são amantes furtivos. Dela o que é que se sabe? Só que tem olhos côr de âmbar, quando a tonalidade, os odores da pele chinesa, o negro lustroso dos cabelos chineses teriam tanta poesia para explicar o encantamento (ou palas nos olhos) do António pela Fumi… Eu não simpatizei com ela, terá sido embirrância minha ou ela dilui-se realmente no leque de personagens, tal como o próprio António é sempre o interveniente menos interessante em cada conversa?
Nunca vi um livro com tantos problemas de falhas de comunicação. Ninguém fala abertamente, o que talvez seja compreensível se não se sabe em quem confiar. Mas é tudo dito em meias palavras e conversas inacabadas (entretanto chega o chá e muda-se de assunto), o que é um pouco frustrante quando se deseja compreender como eu. As viagens, no início – Portugal-China -, são omissas, porque de repente ele já lá está. Seria interessante conhecer alguns pormenores, não?
Como justifico a estupidez gritante deste “melhor médico de Portugal” e “melhor médico estrangeiro na China”? Bom, havia conversas em que ele perguntava “porquê?”, numa perda de tempo absurda em situações de crise, quando ele devia saber, se eu sabia por conversas que ele tinha tido, os motivos. E ele perguntava “Porquê?” na maior das inocências, sem um clarão de luz que fosse. E mais, num momento crucial em que embarcar pode significar viver quando ficar em terra pode equivaler à morte, é-lhe especificamente dito que na cidade onde se encontra, nas circunstâncias em que se encontra, os chineses são muito mal vistos, principalmente por estrangeiros que têm relações próximas com eles – por isso, muito cuidado no momento de tentar embarcar o seu criado, Tian, de quem é também amigo. Ora bem… o que faz o António para o salvar? São abordados no momento do embarque e a conversa desenrola-se do seguinte modo:
«- O melhor é dizerem ao vosso criado para se despachar a trazer as vossas coisas de onde quer que as tenham escondido.
[Ao que o brilhante António responde:]
- Ele não é nosso criado.
- Não? – O americano pareceu ficar surpreendido. – Então é o quê?
- Um amigo
Ao que terão de descobrir vocês aonde leva esta extraordinária sinceridade do António. Bom, compreende-se que não gosto dele, certo? Da história – muito boa, embora a acção só comece a 50 páginas do fim. Das personagens? Muito boas, excepto o protagonista. Ri com o livro, por causa de algumas personagens únicas. Com este António só exasperei. O final pareceu-me muito apressado, meio às três pancadas, e cheguei a perguntar-me se ele não teria contraído sífilis e se não estaria também ele louco. Parece uma marioneta desajeitadamente conduzida pelo autor…
Aconselho pelo valor da cultura chinesa e pelos pormenores históricos e, sobretudo, pelo choque de culturas. Se ele voltar a publicar, lerei. Preciso de descobrir se o tolo é o autor (incapaz de criar um protagonista com substância) ou o António, que era oco, coitado.
Classificação: 3***

domingo, 15 de julho de 2012

#45 JAMES, Eloisa - Milagre de Amor


Sinopse: Miss Linnet Berry Thrynne é Bela … Naturalmente, está noiva de um Monstro. Piers Yelverton, conde de Marchant, vive num castelo no País de Gales, onde, corre o boato, o seu mau humor arrasa todas as pessoas com quem se cruza. E também consta que uma lesão deixou o conde imune aos encantos de qualquer mulher. 
Só que Linnet não é qualquer mulher. Ela é mais do que simplesmente formosa: o seu espírito e encanto forçaram um príncipe a ajoelhar-se. E calcula que um conde se apaixonará loucamente por ela… em apenas duas semanas. No entanto, Linnet não tem ideia do perigo a que o seu coração é exposto por um homem que poderá nunca devolver-lhe o seu amor. Se ela decidir ser realmente muito perversa … que preço pagará por domar o coração selvagem desse homem?

Opinião: Dentro do romance deste género é bastante bom. Sim, especialmente quando comparado com o "Força do Desejo" da Jess Michaels e o "Ligações Proibidas", que de "Histórico" só têm as descrições das camadas de roupa que vão removendo. Ai corpetes e anáguas e blabla.
Pontos positivos - é divertido, tem vários pormenores históricos, têm o Piers inspirado no Dr. House, embora muito mais charmoso, tem alguma audácia quanto ao que a autora causa à Linnet no final do livro, gostei de ver uma personagem de romance histórico nesses sobressaltos, sim, porque geralmente o maior sobressalto que as senhoras destes livros sofrem é 1) serem raptadas, 2) serem picadas por cobras, 3) serem raptadas. Adorei o romance secundário entre os pais do Piers, que se tinham separado e se encontram agora no castelo. Achei também que todas as personagens secundárias estavam muitíssimo bem criadas, o que tornou o livro mais realista - o mordomo (sou incapaz de escrever tal nome), a tia da Linnet, Zenobia, o pai e a mãe do Piers, a enfermeira Matilda (mencionei que o Piers é médico???), um rapazinho que é paciente... o primo do Piers, Sébastien, etc...
Pontos negativos - quanto ao "romance" propriamente dito... falhou ali qualquer coisa. Primeiro porque, supostamente, ele é conhecido como "monstro", mas acho que a autora não transpôs para o Piers essa carga sombria associada a um "monstro". Ele tem mau feitio, é irónico e assertivo nos comentários que faz, além de ser um génio, mas uma maldadezinha ou outra não lhe teriam feito mal. Em seguida, ele e a Linnet caem demasiado rápido nas boas graças um do outro. Isto é; teria sido bonito se ele tivesse resistido um bocadinho mais...
Houve só um pequeno pormenor que me confundiu: no início do livro deu-me a ideia que a Linnet é descrita como sendo loira de olhos azuis. Depois a meio passa a ter o cabelo "loiro-arruivado", depois quando está ao sol o cabelo brilha em "ruivo-escuro". Ora... que magnífica cabeleireira a que a assistia – ou estaria eu distraída?
Em resumo: gostei bastante, sim. Tirei prazer das piadas e dos diálogos, que foram inteligentes e tinham substância, coisa que hoje em dia tem andado complicado, sobretudo nos diálogos destes livros que revolvem sempre em torno da "inexperiência" da donzela e na "vida devassa" do galã. Teve momentos realmente ternos e, ao contrário da Phaedra e do Elliot (Lições de Desejo? Já não sei distinguir o nome dos livros da Hunter", estes dois foram claramente feitos um para o outro. Só lamente que não houvesse mais dúvidas, mais reservas, mais hesitação, antes de se tornarem melhores amigos e andarem às cambalhotas. Ele devia ter sido mau para ela, devia!!! Porque a essência da Bela e o Monstro é o modo como o Monstro começa por ser grosseiro - até cruel - para ela, para depois deixar-se conquistar pela sua bondade, e ela pela sua redenção.
Classificação: 4****


quinta-feira, 12 de julho de 2012

#44 BUARQUE, Chico - Leite Derramado


Sinopse: Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história da sua linhagem, desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até ao tetraneto, um jovem do Rio de Janeiro actual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e económica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.



«A força maior da narrativa é, neste quarto romance de Chico Buarque, a simplicidade aparente. Lê-se e é como se cada um dos leitores pudesse ocupar um lugar na borda da cama do enfermo Assumpção e o estivesse escutando e segurando-lhe a mão, à espera do seu derradeiro suspiro.»


Jorge Marmelo, Ipsilon

Opinião: Eu tinha posto na cabeça que Chico Buarque era só um "cara sensível" da Bossa Nova e que só escrevia baseado na fama que obteve como músico. Mas outra das minhas ideias pré-concebidas foi deitada por terra (e tanto é que estou louca para ler o Budapeste, que vai directo para a wishlist). Estou até mais perto de adoptar o acordo ortográfico (brincadeirinha), só porque também se pode fazer poesia sem C em correCto. Enfim, estou até falando português do Brasil.
Leite Derramado é a história de Eulálio d'Assumpção, por amor de Deus, não se esqueçam do P em AssumPção, ele faz questão disso. É um centenário estendido numa cama de hospital a tagarelar as reviravoltas do seu século de vida com uma beleza muito particular - porque ora é sensível ora é grosso. Adorei conhecer parte da História do Brasil, e da decadência da própria sociedade globalizada e actual, ao longo do séc. XX. Fiquei também deliciada com os pontos em que a mesma se entrecruza com o meu país. Esta é a história de um quase moribundo que receia se esquecer da sua vida, que começa o romance com uma frase inesquecível «Quando eu sair daqui...». Daqui, donde? E está a minha curiosidade aguçada. E há a Matilde, que amei tanto quanto o Eulálio, e a Maria Eulália, filha do Eulálio, e uns quantos Eulalinhos, isto apenas para ressalvar que a estória se repete. Tanta atenção aos pormenores, tanta humanidade... o Eulálio centenário é-me tão familiar quanto os meus avôs, apaixonei-me pela leveza, o optimismo, os acessos de fúria e os caprichos a que cede na vida.
Hesitei entre um 4,5 e um 5, mas a minha percepção do romance ganha na atribuição deste último valor entre o 4 e o 5. O livro pode não ser genial, mas eu queria voltar para dentro dele a cada vez que o pousava. Houve umas deixas geniais e houve momentos de pura literatura, aquela que dá vontade de citar. E assim fiquei a saber que "A curva é o gesto do rio".
Classificação: 5****

quarta-feira, 11 de julho de 2012

»resposta à Carla sobre "como dar continuidade a uma obra...?"



Resposta a um pedido muito querido que me chegou:

Olá Carla,


Não me esqueci do teu pedido – até me senti toda importante por me procurarem para conselhos dessa espécie, logo eu, que ainda sou uma novata nestas andanças.

A principal dúvida que me colocas é o que deves fazer para começar e terminar uma “obra”. Eu responderia “degrau a degrau”. Isto é, quando eu conhecei a escrever tinha doze anos. Houve qualquer coisa na minha vida – uma paixoneta tola – que me deixou indignada, e eu quis poder mexer com ele. Manipulá-lo, ficar com ele, castiga-lo. Então peguei em papel e caneta e escrevi uma história com quê… doze páginas e muitos desenhos pelo meio? – onde ficávamos juntos e felizes. E isso descansou-me. Desde aí, sempre que qualquer coisa mexe comigo, ou não é bem aplacada dentro de mim – absorvida, cimentada – eu pego na escrita para a aplacar, a fim de continuar a viver em paz. É o meu modo de compreender as lições. As primeiras histórias que escrevi tinham doze, vinte, quarenta páginas. Fui crescendo aos poucos. Da primeira vez que ultrapassei as cem páginas parei nas cento e vinte, pus um ponto final na história e fiquei louca de orgulho em mim mesma, porque tinha sido um trabalho moroso. Foi em papel – num dossier daqueles que nos oferecem no 6º ano aquando dos primeiros ensinamentos sobre o sistema reprodutor, o período, gravidezes, etc. Guardei-a aí e andava com ela para onde ia. Riscava aqui e corrigia ali. Hoje olho para ela e penso: que coisa vergonhosa, que letra medonha, tantos erros frásicos, gramáticos, etc… Mas sabes que mais? Ela foi necessária. Porque foi um degrau. Meti-lhe o pé em cima e cheguei a outra maior, melhor elaborada. Peguei nos erros dela e distorci-os para algo maior, corrigi-a em algo melhor.

Também tu, Carla, certamente que poderás conseguir essa evolução para ti mesma. A sociedade pressiona um bocado hoje em dia – para seres bom em qualquer coisa, tens que ser reconhecido e precoce. O que te aconselho é uma vida de paz e tranquilidade em torno da escrita. Procura inspiração – a minha é, de longe, a música. Quando leres o Demência, hás-de sentir a Para Sempre dos Xutos, a Unforgettable do Nat King Cole e, nos momentos solitários da Letícia, ouvi muito a Mother’s Journey do Yann Tiersen (banda sonora do Goodbye Lenin!). E então a música é como a personagem na minha cabeça, mais do que isso, estava sempre comigo. Ouvia a música e as nuances dela é que ditavam o que ia suceder. Há muitas técnicas, Carla – técnicas que não pesquisei, nem investiguei, porque quando dei por mim já queria fazer algo meu, algo que saísse de mim, ainda que corresse o risco de colidir com o trabalho de tantos outros que possam ter pensado igual.

Geralmente, pego em duas personagens invulgares – é o que gosto mais, ou personagens invulgares, ou momentos-chave nas vidas/história. Por exemplo – eu queria uma velhinha com Alzheimer e a Olímpia nasceu na minha cabeça. Eu andava meio preguiçosa nessa altura (2009) e demorava dois/três anos a escrever um romance. Então adiei o despeja-la no papel, até porque, tal como dizes, começava muitos projectos que simplesmente não terminava. Mas ela flutuava-me na cabeça e ocorriam-me inúmeros episódios que queria relatar a seu respeito. Ela escrevia-se recadinhos, sabes? Eu sabia disso muito antes de escrever a primeira frase do livro. Ela tinha tido uma vida difícil… O Demência foi deixado a meio gás de 2009 até ao início de 2011, altura em que peguei nele pelos cornos e o terminei em Julho. Mas eu sabia que ele tinha potencial – porque a história era boa, o enredo era bom (desculpa a vaidade, mas eu estou a perder a imaginação e o Demência foi, até aqui, o meu melhor enredo. Duvido que volte a sair-me da cabeça um tão bom. Quando o li foi como uma estranha – e arrebatou-me, por muito esquisitinha que seja com o que leio e, mais ainda, com o que escrevo. Por isso, descobre algo sobre o qual valha a pena falar. Algo que te indigne – que mexa contigo. Pode ser a tua imaginação – pode apetecer-te criar mundos paralelos, mas aí os limites são nulos. Pensa numa linha geral – não tentes cingir o romance todo na cabeça, porque os romances, nas mãos dos escritores, são coisas imprevisíveis que se reviram e tomam novos rumos quando menos esperados. Têm vida própria, pelo menos os meus.

Quando me vem um bloqueio, eu desvio-me para a periferia do romance. Isto é, imagina – tu tens duas personagens principais e estás a mil com elas. Entusiasmada, achas que o rumo deles é óptimo. E então chegas a um beco – pum! É o que me aconteceu agora com as personagens principais do 1809 – houve uns amassos, os tão esperados amassos há 300 páginas adiados, e agora? Pronto, já se entenderam mais ou menos. E agora, vou onde? Faço o quê? A minha visibilidade da história morreu ali… Ou teria morrido, se eu não tivesse deslocado o romance para a sua periferia. Isto é, peguei noutro dos seus ângulos. Noutra personagem. Consegui até incluir estes dois noutro cenário – que não o contemplar entontecido um do outro – e moldei mais um bocadinho da personagem dele. Sim, dele, neste caso. Mas sabes que mais? Eu não os descrevi. Não disse “era arrogante”, “era bondoso”. Não, não. As personagens (as minhas, ao menos, se é a mim que pedes opinião), nascem e conquistam o seu próprio livre arbítrio. Ah pois é. São tão voláteis, tão inconstantes, tão indecisas, tão errantes quanto qualquer humano… Têm vários lados da moeda, não são brancos nem pretos – sempre adorei esta metáfora e a Andreia Ferreira lembrou-me dela ontem. O Gabriel tem um papel crucial para reencaminhar a vida da Letícia para melhor, mas também foi responsável por muitos dos males do passado… saberás quando leres. A Letícia sofreu, sim, pois. Mas no fundo não estava assim tão inocente daquilo que o marido a acusava, pois não?

Aconselho-te a jogar com a subconsciência das personagens. Mete-os em mar aberto, a desviarem-se em direcção às rochas sem se darem conta. Entretanto descreve o muito que apreciam as paisagens da ilha a que aportam. Fá-los acordar para a sombra no último momento. Ou fá-los não acordar – culpa deles, não estavam atentos!
Pega em ti – nas tuas mudanças de atitude, de humor, na tua evolução como pessoa. Pega em pessoas, ilustra-as, que façam promessas e as quebrem. Que façam viagens enormes e desistam no final. Oh, muda-lhes as ideias, muda o rumo da história. Dá uma guinada no enredo a cada vez que fuja para o lugar-comum. Surpreende-te – porque, acredita, um livro é qualquer coisa de manipulador dentro de ti, exige-te a tempo inteiro, recusa a dar-se a ti quando mais precisas de expulsá-lo, e vai crescer como um filho rebelde que não é nada do que julgaste ao início. No fim, siga o caminho que seguir – acabe por ser homossexual, ter tatuagens e piercings – ama-o e orgulha-te dele.
Querida Carla, espero ter-te ajudado na tua demanda por método e ordem – ui, lembrei-me o Poirot. Método e ordem não os há, porque dar origem a uma criatura como um livro é um trabalho de inconstância e de imprevisibilidades. Agora consigo disciplinar-me melhor, mas isso não nasceu do dia para a noite. Tenho dezenas de projectos começados e nunca acabados, dois ou três romancezinhos de cento e poucas páginas só para expelir a vontade de crescer sem que um grande enredo me assomasse à mente… Só uma ideia fixa, em torno da qual as cem páginas giram, dançam, convergem para conclusões simples.
Segue o teu coração – na escrita também. Os teus medos, os teus receios, os teus palpites, instintos. Funde-te nas personagens e vive a vida deles – deixa a própria vida vir e tirar-te o tapete debaixo dos pés. Descreve a sensação de vertigem. Ri-te e chora por eles, com eles, em vez deles.
Que mais posso eu dizer? Para ser honesta, nunca tinha reflectido muito sobre o assunto.
Espero ter-te ajudado na tua demanda e espero vir a ver o teu nome CARLA, antes do meu nas prateleiras das livrarias… Ups, os malvados metem por sobrenome!


Beijinhos

terça-feira, 10 de julho de 2012

#43 FERREIRA, Andreia - Soberba Tentação


Sinopse: Depois de descobrir que o sobrenatural não representa um medo irracional e que as criaturas caminham lado a lado com os humanos, Carla tem de enfrentar as consequências do seu envolvimento com o Caael. Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carla começa a sentir algumas dificuldades em encontrar-se. Entre lacunas na memória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada do avesso com a linha da vida mais ténue do que nunca. Com a ausência do Caael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entre iguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com a rainha a jogar contra ela


Opinião: Acabei agora de ler o “Soberba Tentação”, o segundo volume da Trilogia Soberba da Andreia. E o que poderei dizer sem soar suspeita? Sim, suspeita porque admiro a Andreia, o seu trabalho com estes dois livros e, ainda por cima, partilhamos a mesma editora. Já houve, inclusive, insinuações sobre as nossas opiniões serem influenciadas por esse facto. Bom, sugiro a quem o insinuou que entre no meio e depois se pronuncie. Há-de haver sempre quem não se venda, e também haverá sempre honestidade para não se procurar comprar quem quer que seja. E é livre de todas estas suposições que me expresso em relação ao II volume desta trilogia, com o despreendimento de uma leitora que, por acaso, se apresentou em Braga (infelizmente tarde e a más horas) para o lançamento da obra, e que deu um beijo de duplos parabéns à feliz escritora, que trouxe assim à luz um segundo rebento promissor. 
O “Soberba Escuridão” foi o meu primeiro contacto com este género de livros sobrenaturais. Gostei do facto de ter um pé na realidade e de a Carla ir absorvendo o que acontecia com a estranheza que eu própria, como leitora, também absorvia. Abriu-me o apetite para este mundo e que me deixou com sede de mais. Agora que terminei de ler o Soberba Tentação? Sinto-me tão ansiosa quanto ao próximo volume quanto me sinto em relação a Abril de 2013, para quando está prevista a nova temporada do Game of Thrones. Já viram o muito que tem de se esperar?
Ora bem, o que explicar desta obra a quem não leu o primeiro volume? Em “Soberba Escuridão”, a Carla toma conhecimento da existência de um mundo que subsiste paralelamente à consciência humana – tantas vezes voluntariamente ignorado por ela. Curiosamente, ela não vai à procura desse mundo – é ele que vem ter com ela. Levanta-se um pouco do véu sobre estas coincidências, que o “Soberba Tentação” começa a explicar a um ritmo ainda mais fluido, ainda mais interessante. A autora amadureceu a olhos vistos, foi estonteante essa mudança de uma primeira obra para esta segunda, tão bem consolidada, tão mais sólida, por muito que o talento já fosse transbordante no primeiro volume. As respostas às dúvidas que o primeiro livro suscitou vão surgindo de modo a manter o leitor interessado, vidrado nas páginas, que parecem voar! Quis tanto acabá-lo e agora foi-se-me.. que hei-de eu ler cujo entusiasmo se compare?

As personagens – a Raquel, fragilizada pelos acontecimentos do primeiro volume, a Ana, que “renasceu” para o mundo sob outro prisma, a Carla, que finalmente começa a questionar o chão que pisa, as nuvens por onde caminha… não foram esquecidas. E, para meu deleite, surge, com mais destaque, um vampiro descontraído e sedutor que me pôs de faróis atentos durante toda a leitura.

O que vos posso prometer? Novas explicações sobre este mundo sobrenatural que saiu da cabeça da nossa querida Andreia Ferreira. Romance – um novo, inesperado e arrebatador romance, cujo futuro quero desesperadamente conhecer no III volume da trilogia! Revelações – a maior delas todas, inesperada, que me deixou boquiaberta quando a autora fechou a obra com chave de ouro… Oh, o meu apetite pelo “Soberba Ilusão”, é assim que se chamará, não é? Está tão aguçado…!

A Andreia é tão jovem e, no entanto, vê-se o dedo de uma mulher do Norte aqui! Ela não se coíbe de ser cruel, explícita, maliciosa, irónica, divertida. Aprecio o humor negro de algumas personagens, todas elas tão bem delineadas e distinguidas neste livro que é, quase todo ele, um mergulho a fundo na consciência do que é real e no que é ilusão e, garanto-vos… de facto é soberba esta tentação que lhe empresta o nome…

Fico-me por aqui, com novos parabéns à autora. É maravilhoso que tenha sido a Andreia Ferreira, com um género que estava longe de entrar no meu campo de interesse literário, a reconciliar-me com os autores portugueses?

Recomendo vivamente.
Classificação: 5*****

terça-feira, 3 de julho de 2012

»O Funeral da Nossa Mãe

Lançamento previsto: Outubro 2012
 

#42 CHRISTIE, Agatha - Um Crime no Expresso do Oriente

Sinopse: Pouco depois das doze batidas da meia-noite, um nevão obriga o Expresso do Oriente a parar. Para aquela época do ano, o luxuoso comboio estava surpreendentemente cheio de passageiros. Só que pela manhã havia, vivo, um passageiro a menos. Um homem de negócios americano jazia no seu compartimento, apunhalado até à morte. Poirot aceita o caso, aparentemente fácil, que acaba por se revelar um dos mais surpreendentes de toda a sua carreira. É que existem pistas (muitas!), existem suspeitos (muitos!), sendo que todos eles estão circunscritos ao universo dos passageiros da carruagem. Para ajudar às investigações, o morto é reconhecido como sendo o autor de um dos crimes mais hediondos do século. Com a tensão a aumentar perigosamente, Poirot acaba por esclarecer o caso…de uma maneira a todos os títulos surpreendente!

Opinião: Nunca tive especial predilecção por policiais/livros de mistério. Gosto de um segredo bem guardado, ou de algo tão cativante quanto os dilemas da Religião, da História e da Ciência, mas não sou fã deste género de livros. Conheci o Hercule Poirot, a tão famosa personagem da Agatha Christie, nesta obra de renome internacional, e fiquei… como colocá-lo? Desapontada. Será exagerado dizer que, por muito “brilhante”, e eu diria antes “lógica”, que seja a sua mente… o homem é um cretino arrogante e pomposo? Detestei os modos altivos dele, a sua astúcia pretensiosa… enfim. Tê-lo-ia perdoado, se a Agatha Christie não fosse, ela própria, tão metódica na construção do livro. Os capítulos são pequenos e, por este motivo, muito fáceis de ler. Mas senti que a obra estava dissecada. Facilmente teria sido montada aos poucos, o que rouba um pouco da beleza à orquestração… É tudo muito frio e calculado e, se não fosse a solução do mistério ser tão inesperada e tocar-me particularmente, devido a um caso verídico que se torna o centro do enigma, não teria passado de um 3 muito pouco sólido. Ainda assim, atribuo um 3,5 arredondado para 4, pelo simples motivo de que algumas das personagens são amorosas, bem conseguidas, outras ásperas e intrigantes. Curiosamente, é o próprio Poirot que se dilui no enredo, na minha modesta opinião. É ele que fica renegado para segundo plano enquanto absorvia as histórias das viagens anteriores dos passageiros e ouvia falar da conjuntura mundial nesse início do séc. XX, no modo como as nações se encaravam mutuamente, na História recente do nosso Velho Continente a partir de Istambul que, a partir de agora, será recordada como a fronteira entre estes dois mundos, estas duas mentalidades.
Fiquei com pouca vontade de voltar a ler Agatha Christie… mas talvez eu tenha pegado pelo caso errado...
Classificação: 3,5***/*

segunda-feira, 2 de julho de 2012

»Leituras para Julho/Relatório de Junho

Falhei o desafio de Junho, li bastante mas fartei-me de fintar o plano mensal. Plano para Julho:
1. Acabar o Sob o Céu de Paris
2. Acabar Um Crime no Expresso do Oriente
3. Começar e Acabar o Ligações Proibidas
4. Começar e Acabar o A Noite É o Dia Todo - substituído pelo Leite Derramado
5. Começar e acabar o Drácula - substituído pelo Milagre de Amor
6. Começar e acabar o Soberba Tentação
7. Ler pelo menos 150 páginas d'O Conde de Monte Cristo 

Clube de Leitores do segredo dos livros: 
O Português Inquieto
As Vinhas do Amor
Nunca Digas Adeus

  
Regras mensais:
(pelo menos)
1 autor luso por mês (Jorge Campião e Elisabete Caldeira + Andreia Ferreira)
1 clássico por mês (Drácula)
____________________________
Desafio de Junho: incompleto
http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/05/leituras-para-junhorelatorio-de-maio.html 


Li 98/98 páginas do Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher (e terminei-o: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/06/39-zweig-stefan-vinte-e-quatro-horas-na.html)
Li 240/240 páginas do Frankenstein (e terminei-o: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/06/sinopse-frankenstein-conta-historia-de.html)
Li 208/208 páginas d'O Teu Rosto Será o Último (e terminei-o http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/06/38-pedro-joao-ricardo-o-teu-rosto-sera.html)
Li 179/179 páginas do Terra de Neve (e terminei-o: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/06/37-kawabata-yasunari-terra-de-neve.html)
Li 368/368 páginas d'O Casamento do Ano (e terminei-o:http://castelos-de-letras.blogspot.pt/search?updated-max=2012-06-09T15:50:00-07:00&max-results=7)
Li 155/880 páginas d'O Conde de Monte Cristo
Li 188/336 páginas d'Um Crime no Expresso do Oriente
Li 20/304 páginas d'O Deus das Pequenas Coisas
Li 260/368 páginas do Crónica de Paixões e Caprichos (terminado a 01 de Julho: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/07/41.html)
Li 35/330 páginas do Sob o Céu de Paris


Total: 1751 páginas em Junho

#41 - QUINN, Julia - Crónica de Paixões e Caprichos

Sinopse: As mães casamenteiras da alta sociedade londrina estão ao rubro: Simon Basset, o atraente (e solteiro!) duque de Hastings, está de volta a Inglaterra. O jovem aristocrata mal sabe o que o espera pois a perseguição das enérgicas senhoras é implacável. Mas Simon não pretende abdicar da sua liberdade tão cedo… Igualmente atormentada pela pressão social, a adorável Daphne Bridgerton sonha ainda com um casamento de amor, embora a sua espera por um príncipe encantado comece já a ser alvo de mexericos. Juntos, os jovens decidem fingir um noivado, o que garantirá paz e sossego a Simon e fará de Daphne a mais cobiçada jovem da temporada. Mas, entre salões de baile e passeios ao luar, a paixão entre ambos rapidamente deixa de ser ficção para se tornar bem real. E embora Daphne comece a pensar em alterar ligeiramente os seus planos iniciais, Simon debate-se com um segredo que pode ser fatal…

Opinião: Uma vez que eu já li tantos romances históricos (isto é, houve uma altura - chamada faculdade, boa vida! - em que diariamente baixava um livro e só dormia quando acabasse de o ler, em pt-br, em pt, em inglês) parece que já nem sei distingui-los. Pareceu-me que já o tinha lido devido a alguns momentos que tiveram lugar. O livro é tantas coisas... Hilariante, é  o mais óbvio, mas também tem uma história bem elaborada, tem momentos em que me deixou angustiada, tem uma profundidade humana muito bem vinda nesta espécie de obra e tem um casal de protagonistas que, ao contrário de tantos livros do género, conseguem manter algum decoro até serem livres de se enrolar. Adorei a Daphne, era muito directa, muito sensata, muito amiga de rir, e arrasta o Simon para isso: para a leveza de espírito e para as gargalhadas. Eu já não sabia se dava gargalhadas à noite porque achava graça às parvoíces deles ou porque estavam perdidos de riso. É um livro muito bem disposto, com a dose certa de romance e de discussão - e o que dizer dos três irmãos da Daphne? Anthony, Benedict e Colin, sempre em cima do acontecimento e sempre prontos a exigir explicações ao Simon... ou ainda o que dizer da Violet, mãe dos irmãos, sempre em cima dos rapazes?
Dentro do género, hesitei muito entre 4 e 5 estrelas, porque, para mim, 5 estrelas sem hesitação é O Casamento do Ano (Laura Lee Guhrke), Desejo Subtil (Lisa Kleypas), o Um Amor Quase Perfeito e o Promessas de Amor, da Sherry Thomas. Estou ansiosamente à espera do próximo da Quinn.

Classificação: 4,5****/*