sexta-feira, 22 de julho de 2016

#166 STEDMAN, M.L. A Luz Entre Oceanos

Sinopse: Tom Sherbourne é um homem que, regressado dos horrores da Primeira Guerra Mundial, aceita ocupar o posto de faroleiro numa remota ilha ao largo da costa oeste australiana. A ilha proporciona refúgio e consolo para os fantasmas do passado, e Tom e a mulher, Isabel, estão satisfeitos com a sua vida, exceto com o facto de não conseguirem ter filhos. Um dia, numa manhã de abril, um barco dá à costa. Nele encontram-se um homem sem vida e um bebé a chorar. Isolados como estão do mundo real, Tom e Isabel decidem quebrar as regras e seguir o que o coração lhes diz. Mas a sua decisão terá consequências devastadoras... 


A Luz Entre Oceanos é uma história sobre o bem e o mal, e de como por vezes se confundem.

Distinções:- Melhor Romance Histórico de 2012 pelo site Goodreads.
- Melhor Livro do Mês na Amazon.com.

- Melhor Livro do Mês na Apple IBookstore.
- Melhor Livro do Mês nas livrarias Indie dos EUA.
- National Blue Ribbon pelo Book of the Month Club.

Opinião: 

“Só tens de perdoar uma vez. Se preferires sentir rancor tens de fazê-lo todos os dias, a toda a hora.” 

“A Luz entre oceanos” é um livro que já devia constar da minha estante há pelo menos ano e meio. Foi vítima do meu interesse generalizado e negligência em particular. Tendo a ter alguma aversão a livros que estiveram durante muito tempo no top - agradar às massas costuma significar défice de complexidade. De facto não é um livro complexo, nem um livro difícil de acompanhar, mas sim uma obra bem articulada. Por uma vez o marketing foi certeiro (falhou na capa, apenas, posto que a original é bem mais apelativa), quando anunciou uma história em que o bem e o mal se esbatem e em que ninguém é a pior coisa que jamais fez. Pelo que entendi, não caiu nas boas graças da comunidade portuguesa no Goodreads, fora poucas excepções, todos pareceram considerá-lo algo ameno, ou houve quem o odiasse por o considerar “um chorrilho de lamechices”. Cada opinião é válida e é verdade que todo o livro transmite a sensação de angústia, de desgraça eminente; mas é esse o sentimento que corrói as personagens principais, e é por isso que me senti tão próxima dele: o medo, a culpa, o arrependimento. São coisas que devoram uma pessoa aos poucos, mas ainda assim houve momentos de doçura. 
Há um casal a viver sozinho numa ilha ao largo de Port Partageuse, Janus Rock (ambas as referências são invenções do autor, mas tão sólidas na sua descrição que fiquei um tanto desconcertada ao descobrir). Tom e Isabel anseiam por ser pais, e o sonho é-lhes arrancado uma e outra vez, com violência. (view spoiler). E há uma criança que chega num barco, anunciada por um choro desesperado que ecoa nos dois oceanos. A mãe que acaba de perder o seu bebé trá-la para junto de si e a escolhe pensar que a criaturinha está sozinha no mundo e precisa do seu leite e do seu afecto. Porém, do outro lado do estreito, uma mulher está dilacerada pelo desgosto de ter perdido a filha no mar…
Quando as duas realidades colidem, a voz de Tom Sherbourne, o faroleiro de Janus Rock, ergue-se acima do sofrimento de uma e de outra, e ainda da criança atirada para a disputa, como um pai vigilante e também como um homem íntegro, ainda que as duas coisas já não se possam conciliar.
Um livro onde todas as personagens têm um propósito, todas têm um passado e são multidimensionais . Em objectivo, é a dimensão das personagens que enriquece em muito este trabalho. Tom está particularmente bem caracterizado, emana uma essência muito masculina, pelo que fiquei surpreendida quando descobri que a escritora é uma mulher. Só posso concluir que tem um dom, porque não me recordo de um retrato tão nítido de um homem num livro, sobretudo quando intercalado com as vozes viscerais de duas mães a quem lhes é arrancada a cria. Também Isabel, uma mulher em ruínas, está bem caracterizada, e ainda Hannah, cuja educação e gentileza a tornam numa espécie de marioneta, a todo o instante submetida às opiniões alheias.
Estas páginas levaram-me a um sítio tão belo quanto fatal: a Austrália, e recordaram-me os Pássaros Feridos, no mesmo cenário, no qual a morte podia vir de qualquer canto (desabar do céu em tempestade e trovões, investir contra nós sob a forma das presas de um javali, personificar longos meses de seca ou jorrar do veneno da serpente). A esta beleza colossal junta-se a profundidade de dois oceanos, o Índico e o Antárctico, e é na junção dos dois que se ergue o farol de Janus Rock, e com ele a ilusão de estarmos sozinhos no mundo e de que os nossos actos não acarretam consequências.

Classificação: 5/5*****

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