Título oficial: Fifty Shades Darker @ 2017
Realizador: James Foley
Actores principais: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Kim Basigner
Classificação IMDb: 4,9
Minha classificação: 2
Realizador: James Foley
Actores principais: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Kim Basigner
Classificação IMDb: 4,9
Minha classificação: 2
No Dia dos Namorados, decidi cultivar o meu lado
masoquista e, numa de desportiva, fui com uma amiga ao cinema ver “As Cinquenta
Sombras mais Negras”. O primeiro tinha oferecido bastante material para
risadas, e a minha única expectativa quanto ao filme é que pudesse rir-me do
ridículo. Começo logo a rir-me pela tradução portuguesa da coisa, que lhe roupa o sentido, se é que tem algum...
De salientar que nunca tinha lido os livros (li apenas 30 páginas do
primeiro, por ser tão mau que o meu cérebro se recusou a prosseguir). Já a ver “Crepúsculo”
– outra vez o meu lado masoquista –, o meu cérebro vai ameaçando desligar-se,
tipo corte eléctrico. Sofre assim uns apagões e tal, mas ao menos conseguia ir
lendo as falas sem encontrar defeitos em todas as palavras. Mas nunca me tinha acontecido, durante uma sessão de cinema, sentir-me a ponto de explodir por não poder assinalar todas as absurdidades, e por as minhas pernas terem quase vida própria e quererem sair dali. Felizmente fui com a melhor das companhias, e apesar de sermos as duas mais odiadas da sala - devido às risadas, aos suspiros, aos "oh my God", "ridiculous" e etc., pude respirar a meio da película e despejar na língua inglesa o mal que aquilo me estava a fazer à saúde. Depois mentalizei-me que era só mais uma horinha, e que se estivesse com cólica renal seria pior, e lá assisti à segunda parte também.
Que fenómeno é este que encheu, ontem às 21:40, a
sala 2 de cinema do Almada Fórum? Fileiras inteiras de mulheres de todas as
idades e casais jovens pejavam o cinema de uma ponta a outra, até a Primark estava vazia ontem, porque 70%
do público-alvo estava de bilhete em punho dois andares acima. Seis anos depois
de sair o primeiro livro, continuo sem resposta.
Dakota Johnson
continua embaraçosamente má no seu papel. Eu entendo, não é fácil ler aquelas
saídas “Sim, aceito jantar contigo, mas só porque estou com fome”, ou gaguejar
a cada três linhas, ou gemer a cada duas, ou soltar gritinhos de surpresa a
cada vez que muda de direcção ao caminhar.
Jamie Dornan está bem melhor neste filme, parece que conseguiu ultrapassar o pouco à-vontade do primeiro (arrumando falas como “eu não faço amor, eu fodo à bruta”), mas ainda assim teve de passar por dois momentos em que teriam de me pagar muito bem como actriz: o primeiro ao fingir que está a ter pesadelos, a rebolar-se nos lençóis e a gritar “não”, de modo a que a sua cara-metade venha consolá-lo a meio da noite. Só expliquei em que consiste a cena porque nunca viram isso em lado nenhum. O segundo é quando é obrigado a debitar estas palavras: “tu ensinaste-me a foder, ela ensinou-me a amar”. De salientar que também está bem melhor fisicamente, é da barba. Está mais confortável no personagem e acaba por ser a única coisa menos má do filme, basta imaginarem aquele perfil a dizer-vos ao ouvido “tira as cuecas”, e acabou-se. Está comprado, vamos todas ver o filme. Foi mais ou menos isso que aconteceu. Só que não… até isso se dilui no dilúvio de estupidez. Quando o filme começava a aleijar-me demasiado, punha a vista nele e ligava o piloto automático, e lá aguentava até à próxima panorâmica de Seattle.
Jamie Dornan está bem melhor neste filme, parece que conseguiu ultrapassar o pouco à-vontade do primeiro (arrumando falas como “eu não faço amor, eu fodo à bruta”), mas ainda assim teve de passar por dois momentos em que teriam de me pagar muito bem como actriz: o primeiro ao fingir que está a ter pesadelos, a rebolar-se nos lençóis e a gritar “não”, de modo a que a sua cara-metade venha consolá-lo a meio da noite. Só expliquei em que consiste a cena porque nunca viram isso em lado nenhum. O segundo é quando é obrigado a debitar estas palavras: “tu ensinaste-me a foder, ela ensinou-me a amar”. De salientar que também está bem melhor fisicamente, é da barba. Está mais confortável no personagem e acaba por ser a única coisa menos má do filme, basta imaginarem aquele perfil a dizer-vos ao ouvido “tira as cuecas”, e acabou-se. Está comprado, vamos todas ver o filme. Foi mais ou menos isso que aconteceu. Só que não… até isso se dilui no dilúvio de estupidez. Quando o filme começava a aleijar-me demasiado, punha a vista nele e ligava o piloto automático, e lá aguentava até à próxima panorâmica de Seattle.
É do livro, entende-se à terceira linha. É a
escritora que não tem talento, pertinência, tacto, substância, profundidade. Acredito
plenamente nela quando diz que ia escrevendo o livro no seu Blackberry, porque a preguiça está lá e
qualquer pessoa sabe como se tem de abreviar a lista de compras quando usamos o
bloco de notas do telemóvel. Podia ter podido a coisa depois, mas parece
que não se deu ao trabalho.
A ideia do ciúme e da posse levados ao extremo é
perigosa. A ideia de que uma mulher possa virar as costas a compromissos de
trabalho porque o namorado tem ciúmes do seu chefe, pior ainda. E que a
escritora acabe por mostrar que o namorado tinha motivos (quando nenhum tinha
sido apresentado) para desconfiar do chefe *porque o chefe acaba por se atirar
à rapariga* é a gota de água. O facto de este sétimo sentido do Grey acerca de
quem quer comer a sua namorada desinteressante, se provar assertivo é um livre
passe para que os homens deem ordens às mulheres sob o pretexto do “vais ver,
acredita em mim”. Não sendo linear, porque conheço inúmeras mulheres
inteligentes, independentes e capazes, mas não são elas as que metem um dia de
folga para ir ver este filme. E essas não se sabem proteger, e os homens ao
lado delas, ao ouvido dos quais elas explicavam que ele tem um trauma de
infância (que ninguém que não tenha lido o livro entende – como eu), começam a
achar que como as mães lhes bateram com a concha da sopa, agora podem usar-se
de violência para com as namoradas, porque elas estavam ali a rir-se, a torcer
as pernas e a soltar longos suspiros enquanto o Grey aplica umas palmadas bem
energéticas nas nádegas da Miss Steele. Para quem nada entende do franchising, há palmadas e palmadas. E estas
não são do tipo palmadita, são mais do tipo que a pessoa não se consegue sentar
no dia seguinte.
Supondo que o cinema e as artes não influenciam assim
tanto as pessoas, e que a cena da manteiga em "O Último Tango de Paris" não impulsionou a prática de sexo anal, ficamos
só com uma história estúpida, vazia e cheia de incongruências. Uma escrita
preguiçosa e desinspirada, em que cada conflito é uma preparação para a cena de
sexo seguinte, e em que o protagonista é dono do mundo, viaja em colunas de
carros para ir a uma festinha em casa da mãe, refugia-se num barco quando acha
que a casa está a ser ameaçada e mantém dossiers acerca de todas as gajas com
quem privou. Uma história impossível sobre um homem que compra a empresa onde a
namorada trabalha, só porque é maluco, e em que lhe enfia dinheiro pela goela
abaixo, quer ela queira, quer não. E ela, claro está, não quer.
De tudo o que me irritou nisto das Cinquenta
Sombras de $, o pior é a fingida aura de sucesso e de independência da
protagonista, sendo que toda a gente a aborda para lhe dizer que o Christian
gosta de mandar e que as mulheres lhe sejam submissas, e que ela não é o tipo
de mulher que se deixa controlar. Certo. Ela
não é o tipo de mulher que se deixa controlar. Quando, nestas quase três
horas de dois filmes assistidos, é que a personagem feminina tomou uma
iniciativa? Fez uma pergunta pertinente? Tomou uma decisão? Uma mulher que
deixa de cumprir compromissos de trabalho por ordem do namorado, que dá dois
minutos de luta só para não ser demasiado óbvio que é unidimensional, para
depois ceder sempre? Ah, está bem. No fim do primeiro, quando ele a espanca e
ela lhe diz que aquilo não é para ela. (Porém, contudo, no seguimento…) De
resto, da pouca vida que E.L. James soprou a esta personagem, só lhe resta
gaguejar e falar para dentro, por sorte com toda a gente ao redor muito interessada
em escutar o que ela tem a dizer. Nunca a expressão “mosquinha morta” se
aplicou melhor.
Por último a questão do ardente, escaldante,
alucinante, inigualável sexo entre as personagens principais…
O que vejo é uma história escrita por mulheres e para
mulheres, em que o homem cumpre as suas fantasias, certo, mas visualmente o que
se vê, o que se ouve, o que se respira são as fantasias de uma mulher. Engraçado que a câmara, como é hábito, esteja focada no corpo feminino, mas é um erro de marketing. O olhar deste lado é de mulheres, pelo que surge assim mais uma coisa para corrigirem. Entendo que depois de um século a explorarem o corpo das mulheres no cinema, a favor dos homens, agora tenham de admitir que as mulheres também têm dinheiro no bolso para gastar, por isso basta mudarem a câmara das pernas da Anastasia para os abdominais do Jamie Dornan, como na cena em que ele está a fazer ginástica em casa, para verem o que são as gajas a gritar mais alto ainda.
E em que consistem essas fantasias de mulher que o Mr. Grey cumpre com tanto entusiasmo? São as de um
homem que tome iniciativa, que se mexa, que paire acima dela, que lhe dê ordens
(geralmente relacionadas com a roupa interior dela, não com a sua carreira), que mostre que a deseja,
que se aplique em dar-lhe prazer. Pelo menos pelo filme, não parece que a Steele dê grande retorno ao pobre homem. Uma vez mais, a sua falta de iniciativa a impor-se, e também nunca a vemos empenhada em satisfazê-lo a ele. Neste sentido, não me parece que os casais possam beneficiar muito desta promessa de sexo fantabulástico. Se a mulher não se mexer, e se o homem for como muitos, à espera de ser atendidos, não me parece que as brincadeiras vão muito longe, pelo menos sob o signo das Cinquenta Sombras. Lá está: escrito por mulheres e para mulheres, num universo onírico em que o homem não busca nada e dá tudo, ou, mais perfeito ainda, em que o homem descobre nos gemidos (ainda que de dor) da mulher a sua própria satisfação, e não precisa de mais nada.
Há coisas que sinceramente preferia não
saber do universo íntimo destes dois personagens monocromáticos. É que isto não é bem pornografia, mas também não é bem a típica história
“rapaz conhece rapariga”, e por várias vezes pensei “já estou a saber demais”. Não
quero saber em que posições eles fazem sexo – o que é esquisito, porque o
assunto interessa-me. Eles é que não. Este casal tão pouco nítido, em
nada palpáveis, nem através da prometida quebra de
tabus ganha cor. Fica por ali, fora da sala de cinema, sem alma nem contornos
reais. Como o meu cérebro, que também se recusou a entrar na sala e que só me voltou
a falar hoje de manhã.
A cada vez que ele dizia que aquela casa também era dele, e a outra propriedade, e as jóias, e os carros, e as empresas, só me perguntava como tudo isto, esta inverosimilhança flagrante, pode apelar a todas as raparigas que estavam sentadas na sala de cinema, e como os seus homens, quem sabe de ordenado mínimo em carteira, podem sentir-se excitados perante uma história de um tipo novo, bom de cama e podre de rico, que faz o que quer de uma miúda descompensada.
Para entenderem o quão má a coisa é, deixo uma lista
de inconsistências. Só não escrevo mais porque não estou desempregada:
Portanto atenção spoiler alert:
- A rapariga passa a vida metida na casa dele, mas quando
vai a casa para buscar algumas coisas, é na escova de dentes que pega – porca!
- Há uma antiga submissa do Grey à solta, apostada em
assassinar a sonsinha de serviço, e apesar de ser uma pessoa frágil e desequilibrada,
consegue infiltrar-se na garagem do Grey, cuja casa é tipo uma fortaleza, mas
nunca explicam como;
- Quanto à mesma rapariga, o Grey diz que tem “o seu
pessoal” em cima do acontecimento para a encontrar, mas a rapariga entra na
casa da Anastasia na boa – sem chave, sem arrombar a porta, sem partir uma janela,
para vê-los dormir. Como? Fica por nossa conta.
- Ainda quanto à mesma rapariga, que é o grande
conflito e suspense do filme, o pessoal do Grey continua em cima dela, mas uma
vez mais ela entra tranquilamente na casa da Anastasia, sem que se saiba como
posto que não há nada arrombado nem fora do sítio, para a surpreender com outra
das suas inspirações. Acham que nos explicariam porquê? Que se lixe a lógica;
- O matulão despenca-se com grande aparato num helicóptero
acompanhado de uma assistente (julgo), acham que morre? Não, primeiro é
socorrido não se sabe por quem, faz todo o caminho de Portland para Seattle não
se sabe como, chega todo desgrenhado a casa sem que uma equipa de socorros
tenha notificado a família de que está inteiro, e apresenta-se em casa a dizer
que perdeu o telemóvel e por isso não pode ligar, enquanto a televisão notifica
a sua provável morte e a família chora reunida;
- Acham que, no seguimento do acidente, o homem foi
descansar e quem sabe reflectir sobre a vida? Não, foi fazer aquilo que pagámos
para vê-lo fazer;
- Acham que uma pessoa com sangue na fronte vai ao
hospital ou fica em repouso? Nope, o
todo-poderoso Grey vai à sua festa de aniversário, com direito a foguetes, e a
empregada que se despencou com ele está lá, sem uma entorsezita que seja;
- Christian Grey, com tantas empresas e
investimentos, que toca piano e pilota helicópteros e barcos, que viveu uma
vida de horror e traumas que o marcaram para sempre, tem que idade? Este bilionário
(milionário está fora de moda, a E.L. James quis fazer tudo em grande) que no
meio de todo o seu sucesso ainda tem tempo para dar uns tautaus às moças com
chicotes e fivelas e coleiras na sua sala vermelha, tem que idade, vá? Um
palpite? Trinta e cinco, como eu pensava? Não, não, senhores. Tem vinte e sete.
Now deal with it;
- Está sempre lua cheia em Seattle, espero que a NASA
já esteja em cima do acontecimento.
Para terminar, concordo com o anónimo – estou a
varrer a internet à procura dessa crítica, mas não encontro –, que diz que a
coisa mais profunda sobre o filme são o cordão de bolas metálicas que a
Anastasia Steele usa. Agora deixo-vos a reflectir onde.
Bella Heathcote como sempre lindíssima, a vi recentemente em Professor Marston e as mulheres maravilha é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. O grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações. Serve para complementar os fimes de super herois que vimos e entender mais sobre a mulher maravilha. Sem dúvida a veria novamente.
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