Opinião: Limões na Madrugada é
uma incursão da Carla M. Soares num estilo que (julgo) lhe é novo. Digo julgo porque
ainda não li A Chama ao Vento. Em termos de construção, parece-me um romance mais
simples do que os anteriores. Em termos emotivos, porém, é bem mais pesado.A história é intemporal, o estilo narrativo é introspetivo, as viagens e
descrições são interessantes. O enredo centra-se em Adriana, que vem da
Argentina (contrariada) para receber uma herança da família (que recebe
contrariada). Adorei o retrato do Porto atual, do Porto invadido de turistas e
fulgurante, que tem encantado toda a gente pelo globo fora. Gostei de passear
pelas suas ruas, e de visitar este seu casarão, que me pareceu tão palpável.
Também apreciei a história (um tanto obscura) desta família, as muitas nuances da
personalidade de cada um, o preto e o branco num cinzento muito humano. Gostei
ainda mais da vida pessoal da personagem principal, tão fora da caixa, uma
lufada de ar fresco na literatura.
No entanto, senti que a dado momento fiquei encurralada nas mesmas dúvidas da personagem principal, e que a sua contrariedade me causava exasperação. Lamentei a sua falta de curiosidade pelo passado da própria família – ou a falta de coragem para explorá-lo. Também senti que a personagem que a acompanha no Porto, à descoberta, é uma espécie de grilo falante, para que a Adriana possa expressar-se e trocar ideias com alguém, mas não o senti muito vívido, nem muito intenso na narrativa. Também os frames do passado eram por vezes pouco nítidos, narrados por vozes externas ou pela imaginação da Adriana, ou seja: não há um mergulho nessas vidas, há apenas um aflorar das águas, um espelho a mostrar acontecimentos de há trinta anos, mas nunca ouvimos aquelas vozes nem sentimos o pulsar daquelas vidas. É normal, uma vez que é um livro na primeira pessoa. Porém, sinto que essa escolha da autora conteve a empatia que poderia vir a sentir pelos Branco.Considerei muito interessante a premissa que retirei do livro: a de que somos um passado tantas vezes desconhecido, tantas vezes nebuloso, e que evitamos as perguntas e os caminhos que o deixam a descoberto.Continuarei a ler a Carla, quiçá de volta ao estilo a que nos habitou, ou a acompanhá-la nestas incursões por novos modos de contar estórias.Num jogo magistralmente imaginado pela autora, entre a vida atual de Adriana e os ecos do Portugal antigo, machista e violento dos seus pais e avós, esta história, de uma família e dois continentes, é uma viagem entre o presente e o passado, uma ponte sobre o fosso cultural que separa as gerações, um tratado sobre tudo aquilo que a família pode fazer à vida de um só indivíduo.Entre a sombra e a luz, deixando que por vezes os silêncios falem mais alto do que as palavras, Limões na Madrugada é um romance sobre o amor incomum, o poder da família e a necessidade da coragem. Classificação: 3,5/5
No entanto, senti que a dado momento fiquei encurralada nas mesmas dúvidas da personagem principal, e que a sua contrariedade me causava exasperação. Lamentei a sua falta de curiosidade pelo passado da própria família – ou a falta de coragem para explorá-lo. Também senti que a personagem que a acompanha no Porto, à descoberta, é uma espécie de grilo falante, para que a Adriana possa expressar-se e trocar ideias com alguém, mas não o senti muito vívido, nem muito intenso na narrativa. Também os frames do passado eram por vezes pouco nítidos, narrados por vozes externas ou pela imaginação da Adriana, ou seja: não há um mergulho nessas vidas, há apenas um aflorar das águas, um espelho a mostrar acontecimentos de há trinta anos, mas nunca ouvimos aquelas vozes nem sentimos o pulsar daquelas vidas. É normal, uma vez que é um livro na primeira pessoa. Porém, sinto que essa escolha da autora conteve a empatia que poderia vir a sentir pelos Branco.Considerei muito interessante a premissa que retirei do livro: a de que somos um passado tantas vezes desconhecido, tantas vezes nebuloso, e que evitamos as perguntas e os caminhos que o deixam a descoberto.Continuarei a ler a Carla, quiçá de volta ao estilo a que nos habitou, ou a acompanhá-la nestas incursões por novos modos de contar estórias.Num jogo magistralmente imaginado pela autora, entre a vida atual de Adriana e os ecos do Portugal antigo, machista e violento dos seus pais e avós, esta história, de uma família e dois continentes, é uma viagem entre o presente e o passado, uma ponte sobre o fosso cultural que separa as gerações, um tratado sobre tudo aquilo que a família pode fazer à vida de um só indivíduo.Entre a sombra e a luz, deixando que por vezes os silêncios falem mais alto do que as palavras, Limões na Madrugada é um romance sobre o amor incomum, o poder da família e a necessidade da coragem.
Sinopse: Ansiosa por regressar à Argentina, mas presa a Portugal, distante do homem que ama e da mulher com quem vive, Adriana está perante um dilema universal e intemporal: manter-se comodamente na ignorância ou desvendar o passado da família, como se de um caso policial se tratasse, enfrentando assim aquilo de que andou a fugir toda a vida, por mais doloroso que seja.
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