sábado, 18 de janeiro de 2020

#238 ACCIAIUOLI, Filippo, O Terrível Terramoto da Cidade que foi Lisboa - Correspondência do Núncio Filippo Acciaiuoli: Arquivos Secretos do Vaticano

Sinopse: O cataclismo que desabou sobre a cidade de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755 anda ligado a uma memória indelével da história. De tão grande tragédia se faz eco na correspondência do Núncio Apostólico, que desde o dia 4 desse mesmo mês envia semanalmente para Roma informações dirigidas à Secretaria de Estado e ao Papa, às quais se devem acrescentar as cartas endereçadas ao Cardeal Secretário, que era então o Cardeal Silvio Valenti Gonzaga, e aos familiares.


É essa correspondência, depositada no Arquivo Secreto do Vaticano, que Arnaldo Pinto Cardoso traduz para português, dando a conhecer relatos vivos e quase diários das aflições vividas em Lisboa e das reacções que se fizeram sentir no Vaticano, numa obra ilustrada com iconografia da época.


Monsenhor Arnaldo Pinto Cardoso é natural de Penso, Sernancelhe. Sacerdote da diocese de Lamego, licenciou-se em Teologia pela Pontíficia Universidade Gregoriana (1967-69) e em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico (1969-72), de Roma. Foi director do Serviço de Pastoral do Secretariado do Episcopado e professor na Universidade Católica. Conselheiro Eclesiástico na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé. Prelado de Sua Santidade. É sócio da Academia Portuguesa de História. Autor de diversas obras, entre as quais Santuário da Lapa – História e Tradição (Alêtheia Editores, 2007), integrou ainda a equipa de tradutores da Bíblia Sagrada, em 1998.


Opinião: Um bom apanhado de cartas trocadas entre o Núncio Apostólico em Lisboa e o Vaticano, às quais juntou anexos de descrições do desastre elaboradas por indivíduos de nacionalidade espanhola, francesa e italiana. 

A experiência do Núncio é ilustrativa de como a catástrofe foi democrática: não poupou ninguém. A miséria atravessou-se no caminho de todos. Artistas estrangeiros a servir a corte portuguesa, embaixadores estrangeiros, a nobreza portuguesa que gozava a opulência do barroco até vésperas do desastre, a casa real e os seus projectos magnânimos, como a Ópera de Lisboa, o seu palácio real na Ribeira, a sua residência em Belém, tudo engolido pelo sacudir da terra, pela voragem das águas, pelo castigo das chamas. Estas cartas, em particular, focam-se na desgraça das elites, pois que o Núncio priva com o rei em pessoa. Assim ficamos a saber como eram as "tendas" e as "barracas", qual o espírito geral no governo aquando da catástrofe, e como Carvalho e Mello surgiu no leme das operações, cumprindo (e até antecipando) as vontades de D. José.

É um bom ilustrador do que se seguiu ao terramoto, de como se viveram os dias e meses que se seguiram, quais as dificuldades, que estados vieram oferecer apoio, quais os danos específicos que o os elementos, em fúria, inflingiram à população. Porém, a sua visão limita-se a Belém, que, apesar de tudo, não é onde se concentrava a maioria da população (portanto onde o horror terá sido maior), e o que se passa no coração da cidade, onde os danos foram apocalípticos, raramente é mencionado, e apenas o é como relatos de terceiros/notícias a que teve acesso.

As 9h30 da manhã de 1 de Novembro de 1755 foram apenas um anúncio impiedoso do que estava por vir. Estes testemunhos exploram as ondas sísmicas que se lhe seguiram, a destruição do fogo, a inquietude do mar, os moribundos e os seus gemidos sob pilhas de entulho, as estradas intransitáveis, as inundações (inclusive de hospitais trazendo a morte aos enfermos), as sepulturas colectivas, as penitências, as procissões, o horror generalizado.

Na primeira pessoa!

Classificação: 4****/*

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