sábado, 19 de janeiro de 2013

#71 HARRIS, Joanne, O Aroma das Especiarias


Sinopse: Vianne Rocher recebe uma estranha carta. A mão do destino parece estar a empurrá-la de volta a Lansquenet-sur-Tannes, a aldeia de Chocolate, onde decidira nunca mais voltar. Passaram já 8 anos mas as memórias da sua mágica chocolataria La Céleste Praline são ainda intensas. 

A viver tranquilamente em Paris com o seu grande amor, Roux, e as duas filhas, Vianne quebra a promessa que fizera a si própria e decide visitar a aldeia no Sul de França. À primeira vista, tudo parece igual. As ruas de calçada, as pequenas lojas e casinhas pitorescas… Mas Vianne pressente que algo se agita por detrás daquela aparente serenidade. O ar está impregnado dos aromas exóticos das especiarias e do chá de menta.
Mulheres vestidas de negro passam fugazes nas vielas. Os ventos do Ramadão trouxeram consigo uma comunidade muçulmana e, com ela, a tão temida mudança. Mas é com a chegada de uma misteriosa mulher, velada e acompanhada pela filha, que as tensões no seio da pequena comunidade aumentam. E Vianne percebe que a sua estadia não vai ser tão curta quanto pensava. A sua magia é mais necessária do que nunca! 

Opinião: O Aroma das Especiarias é o terceiro volume da trilogia inaugurada com o sublime Chocolate. Esclareçam-me se haverão mais… se for uma trilogia finda-se aqui, mas aquele final talvez sugira mais.
Ao longo das suas quase quinhentas páginas acompanhamos o regresso da Vianne Rocher à aldeia onde Chocolate teve lugar. Lansquenet-sur-Tannes é agora um local diferente e, oito anos volvidos após La Céleste Praline, também os seus habitantes estão diferentes. Um feliz reencontro com Joséphine, Luc e Caro Clairmont, Guillaume e os ciganos do rio, intensificado pelo twist na personagem do Père Reynaud, em torno de quem parece girar agora o romance e que se tornou, rapidamente, na minha personagem favorita deste volume. Cada um transporta agora novos segredos que muito gosto me deram a desvendar. Para quem não sabe (como eu, que não estava à espera), há uma comunidade de Muçulmanos de niqab a viver na tacanha aldeia a que a Joanne Harris já nos habituou.
Imaginem só o modo como as coscuvilhices da pequena aldeia revolvem em torno desta nova comunidade e dos seus muitos segredos, a fervilhar sob véus, lantejoulas e a rigidez do Ramadão. São personagens fascinantes, uns e outros. Conheci uma Anouk crescida, uma Rosette quase mística, uma Vianne por uma vez insegura, hesitante em usar os seus poderes. Um Reynaud que aprendeu a lição em Chocolate
A somar a tudo isto existe o fascínio de conhecer uma nova cultura apresentada por esta autora que me é tão querida e que tem o dom de, nos seus enredos, aproximar pessoas das mais diversas origens. Receei que o livro fosse previsível mas deu-se bem o oposto. Todo ele tem aroma a pêssegos (Peaches for Monsieur le Curé), açafrão, chili, chocolate. Outra aventura dos sentidos e mais personagens para desvendar. Mais cartas de tarot e destinos a serem decifrados em sonhos e no fumo da mistura do chocolate.
A Joanne habituou-me a um universo só seu onde a contemporaneidade sempre pareceu ficar voluntariamente excluída. Lê-la a referir-se ao Facebook, telemóveis e rede arrastou-me para a reflexão que é promovida no livro, para a mudança dos tempos, a tolerância que é aconselhada e os perigos envolvidos. Foi algo novo de encontrar nesta minha escritora quase favorita e é bom saber que algumas receitas nunca azedam.
Na realidade atribuo-lhe 4,5 estrelas, porque de algum modo não é um livro perfeito. Penso que o Chocolate tem uma atmosfera mais própria, mais homogénea. Neste livro senti a Vianne distante, como se em vez de ter amadurecido estivesse menos atenta ao que sucede em redor. Uma vez mais há um culminar – um clímax – num livro dela e confesso que não o antevi, pelo que foi uma surpresa que me obrigou a sorver quase 200 páginas de um sopro em pouco mais de uma hora. Ainda assim, o clímax de Chocolate não mete ninguém em perigo mas é inesquecível! Gostei muito do livro, mas por vezes considerei o discurso da autora forçado – a revolver desnecessariamente em torno dos receios da Vianne - sobretudo no início, em que a decisão de regressar a Lansquenet foi muito precipitada. A Anouk poderia ter sido melhor desenvolvida, visto que começa a fascinar tanto quanto a própria mãe e o Roux é quase uma personagem secundária, estranhamente encaixado nos eventos finais. É o Père Reynaud e Lansquenet, que é sem dúvida uma das personagens, que marcam os 4,5 pontos que atribuo à obra.
Classificação: 4****/*

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