Opinião: Há dias, a ver uma entrevista da Paullina Simons sobre o último
livro desta trilogia, “The Summer Garden” em Inglês, ou “Alexander” em
Português, guardei uma frase que a autora disse. Com um sorriso melancólico, a
escritora garantiu que não conhece ninguém no mundo como conhece a Tatiana e o
Alexander. E, quando se cria personagens assim tão transcendentes, é natural
que sejam todas elas humanas e que possamos conhecê-las melhor do que a nós
próprios. Mas este livro não deveria ser chamado “Tatiana”, nem “Tatiana e
Alexander” no original. Este livro é algo de maior. E é-o porque a Paullina,
nascida em 1963 em Leninegrado, tem um passado de família que ajudou a colorir
este amor intemporal, este cenário épico de guerra.
As histórias de guerra são, sem sombra de dúvida, as minhas favoritas. Quem
leu o primeiro volume, sobre o qual escrevi aqui, sabe que entre a Tatiana e o
Alexander, nas noites brancas de Leninegrado, nasceu um amor que tudo suporta e
tudo supera. Neste livro esse amor são lembranças, um conforto terno por entre
quilómetros de marcha num continente irreconhecível. Eu, que amo história, fui
tomada da agonia destes soldados, tomada das suas dores, aprisionada pelos
mesmos grilhões que os mantiveram cingidos uns aos outros.
Nunca lera nada sobre a Segunda Guerra Mundial da perspectiva da Rússia, e
aqui tenho uma nativa do maior país do mundo a falar-me da sua cultura e dos
seus horrores. Que conflito ignóbil, mas, sobretudo, que filosofias asquerosas
as que se confrontaram via térrea, marítima e aérea nesta época. É caso para
dizer “venha o diabo e escolha”. Nem Hitler nem Estaline eram alternativa para
um mundo melhor, e mesmos os Aliados fizeram uma triste figura ao retalhar
Berlim e ao ceder praticamente o Leste todo Europeu às ambições da União
Soviética.
Sem revelar demasiado do livro, deixem-me revelar-vos um pouco da época e
desta nação comunista, fortemente militarizada, que foi arrastada para a guerra
por um passo imprudente do Hitler.
Aos dezasseis anos, era-se obrigado a entrar para o Exército Vermelho. Isto
é, como a América estava mergulhada na Grande Depressão (1929), cidadãos
americanos e do restante mundo abraçaram a filosofia de Marx e mudaram-se para
o estado socialista que se comprometia a dar-lhe forma com eficácia. Era-se
assim obrigado a abdicar da sua verdadeira nação. Os emigrantes, na URSS, eram
colocados em apartamentos onde dividiam a casa e as latrinas com estranhos. Um
quarto geralmente era tudo o que era atribuído por um Estado a uma família. As
profissões eram pagas de acordo com as posses do Estado, sem que se gerasse
qualquer lucro, pelo que mesmo que se trabalhasse em dobro não havia qualquer
hipótese de melhorar o estilo de vida. Apesar de todo o esforço para
implementar planos Quinquenais, todos falharam e não só a nível industrial…
Também o sector alimentício era incapaz de fornecer alimentos a toda a
população, sendo a mesma racionada. Isto intensificou-se com o início da
Guerra.
Quando a guerra começou de facto, os Russos achavam que se livrariam do
Hitler num instante, mas as suas defesas estavam em baixo. Apesar da
militarização da sociedade, não havia fábricas de armamento que suportassem as
frentes. Os Alemães promoveram cercos às principais cidades Russas (Moscovo,
Leninegrado/São Petersburgo) e, já nos Julgamentos de Nuremberga,
descobriram-se documentos onde Hitler e os seus compinchas se comprometiam a
destruir totalmente o património Russo, sobretudo a nível de construção civil e
cultural. Queriam que as suas cidades e os seus tesouros “desaparecessem do
mapa”, fossem “arrasados por completo”. Não se preocupavam com a população, a
quem não permitiriam fugir aos cercos, pois a Pátria Mãe Alemã não iria
promover quaisquer esforços para matar a fome aos soviéticos, ainda que civis.
Os soldados soviéticos eram acusados de alta traição se se deixassem
capturar pelos inimigos da Pátria. Eram acusados do mesmo se desertassem ou se
cumprissem qualquer serviço (campos de trabalho, por exemplo) para o inimigo da
Mãe Rússia.
Após a libertação da Europa do domínio nazi, os prisioneiros de guerra
foram deixados em liberdade. Britânicos, Americanos, Franceses, etc., sob
domínio Alemão, bem como os poucos sobreviventes judeus do Holocausto, ficaram
livres de partir. Os cidadãos soviéticos (de qualquer país sob este domínio)
foram obrigados a esperar nos campos de trabalho/prisões pela chegada do
Exército Vermelho, que tinha outros planos para os seus soldados. Apesar de
vencedores, os soldados soviéticos recuperados a campos de prisioneiros de
guerra foram condenados à prisão e a trabalhos forçados. As penas andavam à
volta de vinte e cinco anos por traição à URSS.
As relações com a Rússia eram tão delicadas que os próprios Americanos
receavam interpelá-los a respeito de possíveis soldados americanos extraviados
em território soviético e feitos prisioneiros. Mesmo a Cruz Vermelha fora banida dos campos de
prisioneiros europeus, pelo que não havia qualquer controlo.
Um cidadão que fugisse da URSS tinha o seu nome notificado nas embaixadas
estrangeiras, com um decreto a exigir que fosse entregue à sua pátria para que
esta o punisse pela sua ingratidão.
O filho do Estaline foi capturado por tropas inimigas. Estaline não moveu
um dedo para o auxiliar; o filho tornara-se um traidor da pátria.
Um país conduzido por um ideal que abomina a ideia de Estado, mas onde o Estado é detentor absoluto de todas as decisões.
Com o mundo do avesso, quero ver como é que o meu querido Alexander e a
incansável Tatiana se irão reunir.
Que mundo mais louco, este! E pensar que tudo isto aconteceu há nem cem
anos…
O livro foi uma lição de História perfeita, daquelas em que vivemos algo através da nossa afeição às personagens principais. Ambos já fazem parte do meu universo de personagens favoritas. Como Scarlett e Rhett (E Tudo o Vento Levou), na Guerra Civil Americana, ou Matilde e Manet (Um Longo Domingo de Noivado), na Primeira Guerra Mundial. Neste último caso, também estamos perante uma mulher de fé inabalável, que vai percorrer todas as trincheiras da França até descobrir, ao certo, o que sucedeu ao amor da sua vida. Um dos finais que mais me emocionaram até hoje, e um livro nada fácil que tive de ler duas vezes.
Sinopse: Com apenas dezoito anos, Tatiana está grávida e só. O seu marido,
Alexander, foi acusado de espionagem e preso pela infame polícia secreta de
Estaline.Alexander é um herói de guerra condecorado que carrega um segredo
fatal. Nascido na América, vive encurralado desde a adolescência na União
Soviética, para onde imigrou com os pais, que queriam viver o ideal comunista.
Mas o brutal regime do país rapidamente destroçou os seus sonhos. Para se
proteger, Alexander serviu o Exército Vermelho e fez-se passar por cidadão
soviético. Para ele, a II Guerra Mundial é já uma causa perdida: tanto a
derrota como a vitória significam a morte.
As notícias
que dão conta do triste destino de Alexander levam Tatiana a fugir para a
América. Quando chega a Nova Iorque, ela é uma jovem viúva com um filho pequeno
nos braços e um passado doloroso. Pouco tempo depois, tem um emprego, amigos e
a vida com que nunca ousou sonhar. Mas a dor pela perda de Alexander nunca a
abandona. Algures dentro de si e contra todas as evidências, ela continua a
ouvir a voz do seu grande amor...
Uma história
épica de amor e guerra. Um hino ao poder dos sentimentos e da fé humana.
Tatiana é a
sequela do bestseller mundial O Grande Amor da Minha Vida.
Classificação: 5*****
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