Título oficial: The Normal Heart @ 2014
Realizador: Ryan
Murphy
Actores principais: Mark Ruffalo, Taylor Kitsch, Matt Bomer, Julia Roberts
Classificação IMDb: 8,3
Minha
classificação: 9,0
Apesar
de não ter andado com grande apetite para filmes, vi uma frase deste filme que
me deu vontade de ir descobrir o trailer. “Man do not naturally not love. They
learn not to”. Depois do Dallas Buyers Club, que adorei, surge um filme em
torno do mesmo tema. Porém, aqui temos a perspectiva da comunidade nova-iorquino
gay. Pessoas com acesso a altos
cargos, papéis na imprensa e na saúde, que a partir de 1981 parecem começar a morrer
de uma epidemia desconhecida. Um novo tipo de cancro, suspeita-se. Um cancro
que apenas ataca os homossexuais. Os pacientes são submetidos a quimioterapia e
tratamentos experimentais mal financiados, apenas para morrerem desse mal
desconhecido. Suspeitam de uma conspiração do governo para acabar com os
homossexuais. O histerismo social eleva-se; é punição pelo pecado da
promiscuidade.
Neste
contexto, temos o jornalista/escritor Ned Weeks (Mark Ruffalo), judeu, a
conhecer o amor pela primeira vez. Foi um homossexual reprimido e, apesar da
boa relação com o irmão, nem este parece considera-lo um igual. Como inconformista
que é, Ned alia-se a uma médica igualmente inconformada (Julia Roberts) que
está desesperada por financiamento para pesquisas e que vê os seus pacientes a
morrerem sistematicamente sem que o governo atribua a devida importância ao
assunto.
De
mencionar que apenas em 1986 o Presidente Reagan finalmente menciona a doença perante
o país, permitindo que saia do estigma das minorias sociais.
O
filme demonstra, sobretudo, o esforço levado a cabo e a união da comunidade gay, que se vê vítima de ainda mais
discriminação perante o desconhecido.
O
filme tem uma realização e um argumento muito realistas, muito terra-a-terra.
Nada de dramatismo exagerado, por vezes o conformismo com que se aceita o
inevitável é mais tocante que uma cena de lágrimas e gritos. É uma obra de
grande sensibilidade, que mostra o amor homossexual com mestria, de um modo que
toca o coração e que não ridiculariza as diferenças nem cai em estereótipos. O
filme está tão bem conseguido que, não fossem as repetidas menções aos direitos
das minorias, ao facto de os gays
serem igualmente cidadãos americanos, não teria atribuído qualquer importância à
orientação sexual do casal principal. Ruffalo e Bomer trabalhavam com
eficiência nas suas personagens – a actuação do primeiro é assombrosa, e o
segundo completa-o. A química entre os dois é de louvar.
Mas
o que fica no final do filme é o sabor a amargo na boca. A dúvida se uns são
mais cidadãos do que outros, se há, ainda agora, um modo correcto e um modo
errado de viver, se merecemos todos o mesmo tipo de respeito e protecção por
parte do Estado. Se o Estado, basicamente, nos leva a todos a sério.
Ned
Weeks compara a situação que atravessam ao passado recente do seu povo; todo o
mundo suspeitava do que estava a suceder aos judeus e, ainda assim, ninguém fez
nada. Todos lavaram daí as mãos até que o assunto “Hitler” lhes tocou também.
Acrescenta que um dos grandes responsáveis pelo final da II Guerra Mundial (Green
Beret) foi um homossexual que acabou por se suicidar mais tarde devido à sua
orientação sexual.
É
um filme sobre aceitar-se a si próprio, aceitar os outros como iguais, lutar
pelos nossos direitos e abraçar causas, ainda que pareçam não nos tocar
directamente. É também um trabalho sobre frustração e esforço caído no vazio,
porque nem sempre as coisas recebem a importância que merecem nem na altura devida.
“Até
ao final de 1986 houve 24 559 mortes relatadas” devido ao HIV. Só aí Ronald
Reagan finalmente se pronunciou acerca dessa epidemia. Desde aquilo que se
pensa ter sido o surgimento da doença, em 1981, morreram, até hoje e em
estimativa, cerca de 36 milhões de pessoas com SIDA. Isto equivale a cerca de
seis vezes o holocausto.
Alerta
também para que não devemos eludir-nos: o vírus não está extinto, a cura não
foi encontrada, e lá porque há controlo e mesmo um certo abafo da circunstância,
ninguém está livre de vê-lo bater-lhe à porta.
Comovi-me
e chorei com o filme. Compadeci-me da causa. Aprendi dados que considero
importantes para melhor compreender a sociedade actual e o mundo em geral. É
tudo o que peço da sétima arte.
«It’s because you are too good to be true, because I’ve been waiting for a lover like you for my whole life and you haven’t showed up until now, and I am scared as shit that I might do something to fuck it up. Am I crazy?»