Sinopse: Lou Clark sabe muitas coisas. Sabe quantos passos deve dar
entre a paragem do autocarro e a sua casa. Sabe que trabalha na casa de chá The
Buttered Bun e sabe que não está apaixonada pelo namorado, Patrick. O que ela
não sabe é que vai perder o emprego e que todas as suas certezas vão ser postas
em causa.
Will Traynor sabe que o acidente de motociclo lhe
tirou o desejo de viver. Sabe que agora tudo lhe parece triste e inútil e sabe
como pôr fim a este sofrimento. O que não sabe é que Lou vai irromper na sua
vida com toda a energia e vontade de viver. E nenhum deles sabe que as suas
vidas vão mudar para sempre.
Em Viver depois de ti, Jojo Moyes aborda um tema difícil e
controverso com sensibilidade e realismo, obrigando-nos a refletir sobre o
direito à liberdade de escolha e as suas consequências.
Opinião: "I
can't be the kind of man who just...accepts."
Na
madrugada a seguir ao anúncio da eleição do José Rodrigues dos Santos como
“melhor” escritor português, eu deito-me às 04:45 da manhã para ler, de uma
enfiada só, o meu primeiro da Jojo Moyes.
Não li o livro
por ter curiosidade na autora, mas sim porque saiu o trailer do “Me Before
You”, inspirado neste romance, com a Emilia Clarke (A Guerra dos Tronos) e Sam
Claflin (Love, Rosie). Isto significa que fui ao livro em busca daquilo que a
sua sinopse e o trailer do filme prometiam: uma jovem alegre e invulgar, cheia
de vida, a cuidar de um tetraplégico pouco mais velho do que ela própria, e que
perdeu a vontade de viver.
Esperei
algumas coisas do livro – não sou daquelas autoras que adoram um twist, digamos
que prefiro jogar pelo seguro. Acho que isso se nota também naquilo que
escrevo… O meu coração não bate mais forte por causa da imprevisibilidade das
coisas. Eu sou mais do género de saber que alguém chegou ao ponto x e fico
louca de curiosidade para saber como foi lá parar.
Então, e
sabendo que saí de uma depressão há pouco tempo, atirei-me de cabeça. Eu, a
manta, o candeeiro e os bichos em cima de mim. Passámos seis horas interruptas
juntos. Sabem o que isso significa, para mim? Que ainda sou capaz. Que, se
gostar mesmo muito, muito, de um livro, ainda consigo entregar-me de alma e
coração ao mesmo. Atenção, eu disse “se gostar muito, muito”, não disse “se um
livro for muito, muito bom”. É importante que se faça essa distinção. E, no meu
peito, este livro ascendeu logo a um sólido 5*****. Não é o 5***** do E Tudo o
Vento Levou, nem do Servidão Humana, mas é o 5***** de alguém que, num dia de
semana, não conseguiu desligar-se destas pessoas nem dos seus dilemas.
O livro
mexeu comigo a vários níveis. Primeiro, claro, o acidente. Eu sou daquelas
pessoas que acham que devemos arriscar sempre que a vontade o exige, porque
pode dar-se que acabamos atropelados por uma Scooter à porta de casa e sem ter
vivido. A Louisa Clark é uma rapariga da minha idade, com um namoro de seis
anos e um emprego que lhe preenche as ambições num café local. Por precisar de
se sentir segura, apesar de ser bastante estouvada, esse emprego mantinha-a
livre de ânsias de maior. Não almejava um salário maior nem sair para conhecer
o mundo. Era feliz sabendo que fazia chás excepcionais e que trocava dois dedos
de alegre cavaqueira com cada cliente. A sua família está a passar por
dificuldades financeiras e, quando perde o emprego, é rapidamente catapultada
para Granta House, onde é paga para cuidar de um homem que ficara tetraplégico
há dois anos, na sequência de um atropelamento.
Este
homem é William Traynor, um homem que escalara o Kilimanjaro, mergulhara em
recifes de coral e fizera bungee jumping. Tudo isso antes de ter ficado preso a
uma cadeira de rodas. Lembrei-me, de imediato, das referências artísticas que
tenho em assuntos do género: O Escafandro e a Borboleta, Million Dolar Baby, Os
Intocáveis e Mar Adentro. Cada um é triste e revelador ao mesmo tempo. Põe-nos
a pensar onde reside, realmente, a força de uma pessoa. Como é espantoso que
alguém que apenas mexa a boca possa pintar ou escrever, enquanto outros, em
plena posse das suas faculdades, se afastam das coisas mais simples por se
considerarem incapacitados para isso à partida.
A jóia do
livro são, claro, as relações humanas. As emoções que nos tomam (não ofereci
grande resistência, confesso) quando nos deparamos com os dilemas destas
pessoas. Ficar ou não ficar? Deixar ir ou tentar manter? A definição de amor
nunca nos é atirada para a cara, tipo “amar é deixar o outro ir quando lhe é
impossível ficar”, mas está intrínseca em cada gesto.
Lembro-me
de, aqui há uns anos, andar muito angustiada a perguntar-me isto mesmo: será
que existe no mundo alguém que me ame tanto que me ajudasse a morrer, se eu
estivesse lúcida e viver me fosse já insuportavelmente doloroso?
A minha
avó disse que nunca me ajudaria nesse sentido, porque Deus Nosso Senhor não ia
aprovar. Nunca me esqueci dessa justificação fácil para se sacudir a água do
capote. Já anteriormente o disse: para mim, amar é estarmos dispostos a acabar
como sofrimento do outro.
E este
livro testa estas ideias ao limite. É tão diferente do esboço tosco do Nicholas
Sparks, o “Uma Escolha por Amor”, que só me resta deitar a língua de fora quando
penso nos disparates que li no livreco do Nicholas.
Vida e
morte. E, claro, amor. O amor aqui explorado no pináculo do desespero.
Quando a
vida de Lou e Will colide, também o leitor é arrastado para os diversos prismas
desta circunstância infeliz. Se Will ama Lou, deve deixá-la livre para ser
feliz com alguém em plena posse das suas capacidades, ou dispor-se a alegrá-la
com o que lhe pode oferecer? Se Lou ama Will, está disposta a limpar-lhe o rabo
e a mudar-lhe o cateter para o resto da vida? Ou, se o ama mais ainda do que
isso, poderá deixá-lo ir-se embora? Quem sabe até lho perdoar? Se a mãe de Will
ama o filho, deve desistir de lutar por fazê-lo querer viver ou deve acatar e
respeitar o seu desejo de alívio?
Ri muito.
Às duas da manhã ria-me que nem uma maluca. Há momentos tão bons, tão bonitos
neste livro… E depois a eminência de um futuro sem floreados a pairar sobre o
leitor, a cingir-lhe o peito num punho cerrado…
Depois
chorei. Muito. Chorei porque a autora conseguiu meter-me, em simultâneo, na
pele da Lou e na do Will. E não queria ser um nem outro. Só de pensar sinto uma
angústia, uma falta de ar, como se tivesse verdadeiramente vivido aquelas seis
horas a partir de uma cadeira de rodas eléctrica.
Não é um
livro fácil. Acho impossível que alguém o leia e fique de coração leve.
Resta-me
repensar a minha vida, entender que também eu tenho 26 anos e que estou cheia
de vida e de opções. O que quero mesmo fazer com ela?
Prometo a
estas personagens, que tanto o merecem, que vou pensar.
Bem sei
que a autora não é o Stefan Zweig, que o livro tem laivos de clichés, mas é tão
adulto e tão ponderado que me deixar embalar pelos seus ensinamentos, pelos
seus cenários, pelos seus humanos inventados, e aqui estou… a suspirar.
É bem
possível que volte a lê-lo um dia. Vai para a estante dos favoritos. Não quero
ler a continuação. Para mim acaba assim mesmo. Matou-me e vou deixar-me ficar
deitada a escutar os ruídos do universo enquanto as energias e a vontade se
realinham em mim.
Quando o
filme sair, vou com uma caixa de Kleenex para o cinema.
Um
horror, devia ser proibido fazerem isto às pessoas.
Classificação: 5/5*****
Classificação: 5/5*****
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