Sinopse: Tom Sherbourne é um
homem que, regressado dos horrores da Primeira Guerra Mundial, aceita ocupar o
posto de faroleiro numa remota ilha ao largo da costa oeste australiana. A ilha
proporciona refúgio e consolo para os fantasmas do passado, e Tom e a mulher,
Isabel, estão satisfeitos com a sua vida, exceto com o facto de não conseguirem
ter filhos. Um dia, numa manhã de abril, um barco dá à costa. Nele encontram-se
um homem sem vida e um bebé a chorar. Isolados como estão do mundo real, Tom e
Isabel decidem quebrar as regras e seguir o que o coração lhes diz. Mas a sua
decisão terá consequências devastadoras...
A Luz Entre Oceanos é uma história
sobre o bem e o mal, e de como por vezes se confundem.
- Melhor Livro do Mês na Amazon.com.
- Melhor Livro do Mês na Apple IBookstore.
- Melhor Livro do Mês nas livrarias Indie dos EUA.
- National Blue Ribbon pelo Book of the Month Club.
Opinião:
“Só tens de perdoar uma vez. Se
preferires sentir rancor tens de fazê-lo todos os dias, a toda a hora.”
“A Luz entre oceanos” é um livro
que já devia constar da minha estante há pelo menos ano e meio. Foi vítima do
meu interesse generalizado e negligência em particular. Tendo a ter alguma
aversão a livros que estiveram durante muito tempo no top - agradar às massas
costuma significar défice de complexidade. De facto não é um livro complexo,
nem um livro difícil de acompanhar, mas sim uma obra bem articulada. Por uma
vez o marketing foi certeiro (falhou na capa, apenas, posto
que a original é bem mais apelativa), quando anunciou uma história em que o bem
e o mal se esbatem e em que ninguém é a pior coisa que jamais fez. Pelo que
entendi, não caiu nas boas graças da comunidade portuguesa no Goodreads,
fora poucas excepções, todos pareceram considerá-lo algo ameno, ou houve quem o
odiasse por o considerar “um chorrilho de lamechices”. Cada opinião é válida e
é verdade que todo o livro transmite a sensação de angústia, de desgraça
eminente; mas é esse o sentimento que corrói as personagens principais, e é por
isso que me senti tão próxima dele: o medo, a culpa, o arrependimento. São
coisas que devoram uma pessoa aos poucos, mas ainda assim houve momentos de doçura.
Há um casal a viver sozinho numa ilha ao largo de Port Partageuse, Janus Rock (ambas as referências são invenções do autor, mas tão sólidas na sua descrição que fiquei um tanto desconcertada ao descobrir). Tom e Isabel anseiam por ser pais, e o sonho é-lhes arrancado uma e outra vez, com violência. (view spoiler). E há uma criança que chega num barco, anunciada por um choro desesperado que ecoa nos dois oceanos. A mãe que acaba de perder o seu bebé trá-la para junto de si e a escolhe pensar que a criaturinha está sozinha no mundo e precisa do seu leite e do seu afecto. Porém, do outro lado do estreito, uma mulher está dilacerada pelo desgosto de ter perdido a filha no mar…
Quando as duas realidades
colidem, a voz de Tom Sherbourne, o faroleiro de Janus Rock, ergue-se acima do
sofrimento de uma e de outra, e ainda da criança atirada para a disputa, como
um pai vigilante e também como um homem íntegro, ainda que as duas coisas já
não se possam conciliar.
Um livro onde todas as personagens têm um propósito,
todas têm um passado e são multidimensionais . Em
objectivo, é a dimensão das personagens que enriquece em muito este trabalho.
Tom está particularmente bem caracterizado, emana uma essência muito masculina,
pelo que fiquei surpreendida quando descobri que a escritora é uma mulher. Só
posso concluir que tem um dom, porque não me recordo de um retrato tão nítido
de um homem num livro, sobretudo quando intercalado com as vozes viscerais de
duas mães a quem lhes é arrancada a cria. Também Isabel, uma mulher em ruínas,
está bem caracterizada, e ainda Hannah, cuja educação e gentileza a tornam numa
espécie de marioneta, a todo o instante submetida às opiniões alheias.
Estas páginas levaram-me a um
sítio tão belo quanto fatal: a Austrália, e recordaram-me os Pássaros Feridos,
no mesmo cenário, no qual a morte podia vir de qualquer canto (desabar do céu
em tempestade e trovões, investir contra nós sob a forma das presas de um
javali, personificar longos meses de seca ou jorrar do veneno da
serpente). A esta beleza colossal junta-se a profundidade de dois
oceanos, o Índico e o Antárctico, e é na junção dos dois que se ergue o farol
de Janus Rock, e com ele a ilusão de estarmos sozinhos no mundo e de que os
nossos actos não acarretam consequências.
Classificação: 5/5*****