segunda-feira, 18 de novembro de 2019

#234 LEVIN, Ira, Rosemary's Baby

Mia Farrow (Rosemary), no filme de Roman Polanski

Ouvi o audiobook abaixo:



Opinião: Rosemary's Baby é o primeiro livro do género "terror" que me atrevi a tocar. Ouvi o audiobook completo, disponível no Youtube.

Trata-se do segundo livro publicado por Ira Levin em 1966, e vendeu milhões de cópias, despertando o mercado da época para o potencial lucrativo do género. Creio que a adaptação para o cinema, em 1968 por Roman Polanski, tenha ajudado a imortalizar esta dona de casa dos anos 60, bem como a realidade dos nova iorquinos nessa década.

Segundo o livro nos leva a crer, não é fácil encontrar um lugar decente para viver no centro de Nova Iorque nos anos 60. O casal Woodhouse acabou de alugar um apartamento a custo, mas são surpreendidos pela notícia de que está um outro disponível, com 4 quartos, construção pré-II guerra e vista para Oeste do Central Park. É um sonho tornado realidade para o casal Woodhouse, sendo que Rosemary, de 24 anos, se mostra muito insistente para que agarrem a oportunidade de se mudar para o Bramford. Em conversa com um amigo, Hutch, os dois anunciam a boa nova sobre a mudança, e Hutch tem algumas histórias macabras para lhes contar acerca do local e dos seus antigos rendeiros. Desde mortes misteriosas a cultos satânicos, Hutch aconselha-os a ficarem longe daquele edifício porque, apesar de bem localizado, as coisas más tendem a acontecer com maior frequência nele do que em outros prédios da Big Apple.

O casal Woodhouse decide ignorar o aviso e afastar as crendices do amigo mais velho, pelo que selam o negócio e em breve se vêem no 7º Piso do Bramford. Guy é um ambicioso aspirante a ator e Rosemary é um tanto simplória e ingénua - talvez devido à juventude -, e também me parece muito submissa, de tal modo que permite que todos ao seu redor tomem disposições a seu respeito por ela. Creio que Rosemary é uma vítima da prisão domiciliária que era tantas vezes o casamento no século XX, em que o marido é o sustento da casa e a mulher lhe deve gratidão e obediência. É também vítima absoluta das circunstâncias que a rodeiam - do desejo de ascensão social do marido, das convenções sociais que a impedem de recusar a atenção desmesurada dos vizinhos, etc. A sua liberdade - inclusive ao nível do corte de cabelo - é constantemente castrada pelas exigências e palpites de quem com ela priva.

Julguei que a história tivesse a casa - e os seus ruídos e antigos ocupantes - como fonte dos horrores, mas o Mal nesta obra tem outra origem. Em breve, Rosemary vê-se prisioneira da vontade do marido, dos vizinhos Minnie e Roman, do seu obstetra aconselhado por estes últimos, e dá por si isolada, assustada, desconfortável na sua condição de grávida e enclausurada. É como se a sua gravidez fosse propriedade de todos, e todos tivessem algum interesse macabro a seu respeito.

Creio que o grande feito de Levin, nesta obra, é a de transformar uma cidade tão ampla e cheia de vitalidade, como Nova Iorque, num retiro lúgubre, claustrofóbico, onde Rosemary se sente sufocada de atenções e envolvida numa conspiração que, quando revelada, é demasiado cruel - e horripilante - para que possa acreditar!

Aconselho e estou louca por embarcar em outros enredos do género.

Classificação: 4/5*****

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