- Muitos diálogos a propósito
de nada com piadas aleatórias.
- Chavalinho porreiro com
covinhas na cara que bebe cerveja
- Chavalinha com mau feitio
que bebe Light Coke
- Encontros comuns – jantares,
barbecues – combinados e sem nada de espontâneo, onde eles discutem a
espontaneidade e decidem que vão dar um mergulho, aprender a andar de mota,
algo do género.
- Beijos conservadores no
final desse primeiro encontro
- Um viúvo
- Alguém estéril
- Um acidente
- Uma doença
- Um cão (ou mais)
- Refeições (com respectiva descrição dos pitéus)
- Alpendres
- Barquinhos (o senhor costuma adorar velejar)
- Refeições (com respectiva descrição dos pitéus)
- Alpendres
- Barquinhos (o senhor costuma adorar velejar)
- Uma ligação inexplicável com
um animal que não lembra a ninguém – como o Noah da Alquimia do Amor com o
cisne, ou agora o Travis com um pombo.
- Um dilema moral complicado,
do género: a) ela está a morrer, vale a pena ficar com ela? b) ela diz que para
ficar com ela tenho que deixar de mandar garrafas com mensagens à minha mulher
que morreu c) ela não pode ter filhos, fico com ela? d) o irmão dela é que
atropelou e matou a minha mulher, fico com ela? e) ela pediu que, caso ficasse
em coma, etc., eu devia desligar as máquinas ao final de doze semanas. Desligo?
Este dilema e) teria dado um
livro excelente. A sério. Gabo-lhe o ter pensado nessa questão, embora não seja
totalmente nova, e teria sofrido e vivido realmente este tema. Tudo porque,
saberei lá eu explicar, fiz o mesmo pedido a uma pessoa próxima. Se por algum
motivo ficar em estado vegetativo, ajudem-me a morrer, já que cá não se pode
escolher esse desligar das máquinas, segundo sei. A pessoa disse que não o
faria. Não o faria porque gosta de mim. Bom eu devo ter uma ideia muito
distorcida do amor, detestei. Não, detestei não chega, DETESTEI, em caps, a
mensagem que o Sparks passa neste livro. Fiquei indignada com a pequenhez deste
amor que ele descreve e que vende, e que muitas mulheres/homens, se é que o
lêem, compram como o ideal. O único, o genuíno. E a dignidade humana? A mulher
teria de ficar meses – anos…! – à espera de acordar numa cama, quem sabe se
aprisionada no próprio corpo mas consciente, a ansiar por ser libertada? Por poder
morrer? Para lhe removerem os tubos que lhe sustêm a vida? Com o corpo a atrofiar-se?
O rabo a ser limpo por terceiros? Amor, para mim, tem de ser mais. Mais do que ele gostar dela
e não imaginar a vida sem ela. Se a
ama respeita-a. Se a respeita cumpre o que ela lhe pediu, em desespero. Mas
não, mais vale arriscar, queimar os papéis legais onde ela estipula esse pedido
e fazer figas para que ainda esteja vivo um dia, se ela acordar. E depois, como
é Nicholas Sparks *spoiler* a senhora claro que acorda. E nem se zanga! É escusado
dizer que, se fosse eu, embora agradecesse a oportunidade para ter regressado,
me separasse quase certamente de um homem em que não podia confiar. É isso o
amor, não? Pedir a alguém que nos dê voz quando ela nos falta, e esperar que
repita as nossas palavras sem egoísmos. E ele foi egoísta, tão egoísta…! Não concebo amores assim.
Passada a fase da indignação
acrescento que isto representa a segunda parte do livro. A primeira deve-se ao
modo como estes dois vizinhos se conhecem e a sinopse só se debruça sobre ela.
Ora a senhora tem namorado – quase noivo – e, ao final de três dias, já anda
enrolada com o vizinho. True love, says Nicholas
Sparks. Devo mencionar que, dias depois quando um colega de trabalho dela tenta
beijá-la o dito vizinho o esmurra e a aconselha a abrir um processo contra ele
de agressão física? Fuck logic. Aonde
está a explicação dela ao namorado quando o larga? O livro sofre um pulo. Ora
estão a passear de mota e conhecem-se há três dias, ora já ela está em coma e
ele a ama perdidamente, anos depois, casados e com filhos. O senhor escreveu o
livro nos joelhos. A Presença, mesmo na 8ª edição, tem o livro cheio de
gralhas. Não admira que seja dos dele de que menos se fala…
Enfim, se eu entrar em coma,
se eu tiver um AVC e não puder falar, se eu partir o pescoço e implorar a
alguém que me ajude a ter paz, façam-no! Como dizia Ramón Sampedro (Mar
Adentro), Aquele que me ama é aquele que
me ajudará a morrer.
PS - O nome do livro devia ser "Uma Escolha por Egoísmo Que Acaba Bem Porque, Afinal, é Nicholas Sparks"
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