domingo, 23 de setembro de 2012

#54 BUARQUE, Chico - Budapeste


Sinopse: José Costa é um escritor anónimo pago para produzir artigos de jornal, discursos políticos, cartas de amor, monografias e autobiografias romanceadas que outros assinam. Um dia, regressando de um congresso de escritores anónimos em Istambul, é obrigado a fazer uma escala forçada em Budapeste. Fascinado pela língua magiar, «segundo as más-línguas, a única língua que o Diabo respeita», José Costa retorna à capital húngara, passando a ser Zsoze Costa, e tornando-se amante de Kriska, a sua professora. A obsessão de dominar completamente o novo idioma leva-o a viver num tresloucado vaivém entre o Rio de Janeiro, onde vive com a sua mulher Vanda, e Budapeste, onde passa a viver com Kriska. Budapeste é a história de um escritor dividido entre duas cidades, duas mulheres, dois livros e duas línguas, uma intrigante e por vezes divertida especulação sobre identidade e autoria.

Opinião: «Budapeste: no exacto momento em que termina, transforma-se em poesia». Foi isto que li na badana do «Leite Derramado» a propósito do Budapeste e que me deixou de expectativas tão altas. Em consequência de ter lido um livro de autor brasileiro, estou novamente escrevendo a crítica nessa língua transatlântica. Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira. Como eu adoro aventuras por língua estrangeira, e conheço bem os seus triunfos e embaraços, achei sublime esta primeira frase. Tendo gostado bastante do livro anterior, esperei apaixonar-me também por este outro, sobretudo debruçado sobre uma capital europeia na qual deposito bastante curiosidade. No entanto, o estilo corrido do livro, por vezes a desconexão dos acontecimentos, fez-me sentir meio perdida no meio do livro. Reconheci-lhe bastante mérito, porque quebrar com a lógica dos eventos é algo que eu não teria ainda coragem de fazer. Por enquanto vou explicando as cabeças daqueles sobre quem escrevo. Mas a qualidade da escrita do Chico Buarque é inegável. Tem reviravoltas que apreciei bastante, como um rosto reflectido numa lente de câmara fotográfica, ou mesmo um «jacaré com controle remoto» que me pôs a rir no voo. Não perdi a fé no talento deste autor por ter gostado um pouco menos deste segundo livro seu que li. Hei de ler o «Estorvo» também. Felizmente o livro é pequeno e, apesar dos parágrafos de três páginas, li-o em três fôlegos.

Classificação: 3***

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