sábado, 28 de setembro de 2013

#101 BALOGH, Mary, Ligeiramente Casados

Sinopse: Como todos os Bedwyn, Aidan tem a reputação de ser arrogante. Mas este nobre orgulhoso tem também um coração leal e apaixonado - e é a sua lealdade que o leva a Ringwood Manor, onde pretende honrar o último pedido de um colega de armas. Aidan prometeu confortar e proteger a irmã do soldado falecido, mas nunca pensou deparar com uma mulher como Eve Morris. Ela é teimosa e ferozmente independente e não quer a sua proteção. O que, inesperadamente, desperta nele sentimentos há muito reprimidos. A sua oportunidade de os pôr em prática surge quando um parente cruel ameaça expulsar Eve de sua própria casa. Aidan faz-lhe então uma proposta irrecusável: o casamento, que é a única hipótese de salvar o lar da família. A jovem concorda com o plano. E agora, enquanto toda a alta sociedade londrina observa a nova Lady Aidan Bedwyn, o inesperado acontece: com um toque mais ousado, um abraço mais escaldante, uma troca de olhares mais intensa, o "casamento de conveniência" de Aidan e Eve está prestes a transformar-se em algo ligeiramente diferente…


Opinião: Comprei este livro com alguma relutância. Sempre me pareceu que os casais da Mary Balogh se unem mais por dever e honra do que por afecto. Não falo do momento que despoleta a sua união, mas sim do que os mantém unidos posteriormente. Não se vêem grandes paixões assolapadas, grandes lágrimas de desilusão amorosa nem grandes sacrifícios pelo outro (podem haver sacrifícios, sim, mas geralmente por promessas a moribundos na guerra, por ex.). Este livro não foge ao padrão dos dois livros anteriores: as guerras peninsulares travadas contra Napoleão levam três oficiais ao altar. Nos dois primeiros livros as noivas eram mulheres desadequadas, sem grande noção de etiqueta, e neste não é excepção. Apesar de ter sido educada para ser uma dama, Eve cresceu no Oxfordshire e é por lá que pretende ficar, sem almejar uma vida em Londres ou de aventuras atrás do seu coronel de campanha militar em campanha militar. O que eu mais gosto nos livros da Mary Balogh é, contudo, a honestidade e a honradez das personagens. Não são máquinas sexuais acéfalas, como em muitos outros livros do género, em que o homem é um “libertino” e um “ocioso”. Nos livros da Mary os homens são homens, mas são-no racionalmente. Têm as suas aventuras mas o dever e essa dita honra são a sua força motriz. Por vezes sinto que falta algo nos livros dela - uma certa espontaneidade, que outras autoras conseguem atingir tão bem, entre o casal principal. Neste caso não há grande química, grande “amor à primeira vista”. Nem o coronel Aidan Bedwyn nem Eve Morris se perdem de amores ao ver-se da primeira vez e ambos lutam por combater, na sua mente, aquilo que esperavam do outro e aquilo que ele é. Não há grandes elogios ao físico de um e doutro - Eve é pálida, demasiado magra, o cinzento morre-lhe na pele, o cabelo não é vistoso, é dum castanho comum, os seios são pequenos e ela envergonha-se disso. O coronel é um homem “sombrio”, de nariz adunco, olhos e cabelo escuro, a própria pele é escura em contraste com a dela, o corpo largo do serviço militar mas também de estrutura óssea. Ele próprio receia que ela se sinta repugnada pelo seu aspecto, mas depois percorrem um caminho de aceitação mútua. E é esta humanidade que eu aprecio na Balogh. Bem como a franqueza das personagens quanto às suas intenções e desejos. Não há o jogo do homem a perseguir a mocinha bonita e ela a negar-se-lhe por palavras e depois a atirar-se-lhe para o colo sempre que pode. A Eve é honesta mesmo na intimidade, e esse entendimento mútuo beneficia o livro, que se quer mais sério do que muitos do mesmo género literário. E é por isso que gosto dele, porque me identifico com essas criaturas imperfeitas e com esse amor construído. Porque também eu sou honesta no que tenho de ser e isso é parte de nos conhecermos e de assumirmos as nossas preferências e escolhas, mesmo aquelas que não têm grande explicação lógica.

Por isso foi para mim um prazer - e um livro assim é um conforto nos dias mais difíceis - acompanhar o modo como a Eve e o Aidan se vão tornando indispensáveis para a felicidade um do outro. E como o amor pode nascer do conhecimento das histórias e dos defeitos mútuos. E que bonito foi vê-los interessar-se e dedicar-se àquilo que para o outro há de mais sagrado!
Foi uma boa leitura que me angustiou quando havia frieza entre eles, e que me enterneceu quando se permitiam ser ternos e expôr a alma perante o outro. Um casal muito bom, inesquecível.

Classificação: 4****

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