Sinopse: Neste envolvente drama, Anita Shreve tece uma
apaixonante história acerca do amor e da memória, tendo como pano de fundo uma
guerra que devastou milhões de civis e deixou sequelas em todos aqueles que
testemunharam os seus horrores. Um romance histórico inesquecível, sério e
surpreendente. França, 1916. Uma mulher acorda na cama de um hospital de
campanha em Marne, sem qualquer recordação do seu passado ou de como ali
chegara. Identificou-se como Stella, mas sente que esse não é o seu verdadeiro
nome. De repente, uma palavra incita-a a agir e Stella parte para Londres, onde
espera encontrar algumas respostas e abrir as portas para o seu passado. «A
viagem interior de Stella permite-nos vislumbrar os horrores da Grande Guerra,
o dealbar da psicoterapia e a primeira vaga do movimento feminista... A
história de uma mulher improvável e misteriosa.» Los Angeles Times «Contido e
elegante, este romance de Anita Shreve revela um conhecimento profundo das
dificuldades que as mulheres sentem quando tentam viver a vida segundo os seus
próprios desejos.» People «Fascinante... Um romance afetuoso com um tema sério
e complexo.» Washington Post «Um livro terno e desapiedado.» Publishers Weekly
«Comovente, enternecedor, por vezes tão intenso e vivo que quase conseguimos
sentir o medo.» Boston Globe «Um livro que vale mesmo a pena ler!»
Opinião: Não há um livro da Anita Shreve que não me
cative. Tudo porque a escritora tem um jeito despretensioso de apresentar as
situações, e é exímia em descrever as cicatrizes que ficam na alma após um
trauma.
No início do livro estava intrigada quanto a Stella Bain, a
desmemoriada. Mas a autora, que é do género que permite ao leitor formar a sua
própria ideia das personagens, não a descreveu fisicamente, nem sequer a pôs a
ponderar sobre a sua idade. Na verdade, a primeira parte do livro é um pouco
superficial e apressada, sobretudo tendo em conta que a segunda parte, a partir
da “revelação”, é tão mais detalhada. Talvez esse vazio seja um relance do
interior da mente de Stella, desprovida de quaisquer recordações.
A autora, contudo, não quis focar-se demasiado na situação da enfermeira
de guerra sem memória, que acaba por ser o chamariz para o livro se nos
basearmos apenas na sinopse. Neste âmbito é abordada a terapêutica de Freud, em
voga tanto em Inglaterra como na América, e a doente é temporariamente tratada
por psicoterapia. O Doutor August Bridge surge nesse contexto, como estudioso
de Freud e interessado nos mistérios da Psiquiatria. O mundo ultrapassava
horrores jamais vistos e, regressados das trincheiras e da frente, as capitais
europeias estavam assoladas de soldados amputados, desfigurados, desmembrados.
Acabei por entender esta opção de criar uma primeira parte para o livro
mais leve, posto que esse estado é apenas um reflexo do papel de Stella no
cenário de guerra que a Europa atravessa, e um eco da sua própria mente confusa
e amnésica. É um aparte entre o livro anterior, “Tudo o que Ele Sempre Quis”,
que devo ter lido há mais de cinco anos, e o desenrolar da história de Etna
Bliss. Só entendi a ligação entre os dois livros quando Stella recupera a memória.
A segunda parte do livro, que parece ter aborrecido outros leitores, é a
que mais me prendeu. A ligação à sua vida passada, que eu conhecia doutro
livro, os seus antigos amores, erros por corrigir e culpas formadas… Há,
contudo, fortes ligações a outros livros da autora. É normal, já li várias
obras suas e começo a detectar aquilo que a move e intriga. O mundo académico e
a Medicina estão sempre muito presentes, bem como a forte amizade entre
mulheres e homens, mesmo em épocas em que isso não era bem visto. Por fim, as
sequências sobre um julgamento em tribunal pela guarda de um menor recordou-me
muito o “A Praia do Destino”, que é o meu livro favorito dela.
Acho a Anita Shreve uma criativa de grande humanidade, sensível e
detentora de uma classe que eu jamais terei. Em parte porque a admiro nela,
é-lhe natural e intrínseca. Em parte porque a sua crueza elegante foge um
bocadinho ao caos que eu gosto de explorar.
Ainda assim, cada nova obra sua é, para mim, um grande momento de
leitura.
Classificação: 4****/*
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