Opinião: Maquiavel conquistou o seu
lugar como pensador graças a esta obra, que dedicou a Lorenzo di Médici, o
reputado mecenas que instigou a carreira artística de Leonardo da Vinci. Apesar
de impregnado do espírito da época – Idade
Moderna, combates religiosos, à beira da Contra-Reforma, Itália dividida em vários
Estados (com destaque para a Nápoles de Ferrara, a Roma do papa Leão X, a
Florença dos Médici e a Milão de Sforza -, várias alianças
político-militares, a obra mantém-se, em certa medida intemporal, pois que
aborda condições intrínsecas à natureza humana. Falo da ganância, da ambição,
do calculismo, da crueldade e dos jogos de poder. Maquiavel é aficionado do
pessimismo antropomórfico, pelo que considera a natureza dos homens algo de
mau, a ser refreado e libertado conforme melhor cumprir os intentos de um
Estado e do seu chefe.
Nesta obra, Nicolau
procura orientar Lorenzo para o sucesso, para bem dos florentinos. Pegando em
exemplos que lhe são contemporâneos e, noutros dos grandes vultos do outrora
Império Romano e da Grécia Antiga, ilustra os erros e as virtudes pelas quais incorrem
os grandes chefes.
Não posso dizer que tirei
grande prazer do livro, nem que partilho esta visão do autor, segundo a qual a
natureza do Homem é ignóbil e falível, não creio que o seja sempre com
tendência ao mal. Para mim o Homem, enquanto animal, vê a sua natureza
modificada pelas circunstâncias. Um gato selvagem tem de caçar para viver, cria
inimigos, mete-se em escaramuças. Um gato doméstico, por ter todos estes
recursos à disposição, é dócil e fiel. Não digo que o gato pode ser corrompido
por desejos de superioridade ou competitividade só por despeito, como os Homens
são frequentemente tomados, mas ainda assim há um termo de comparação.
Entendo que seja uma obra
singular nas Ciências Sociais e Políticas, mas não é Literatura, não é um
romance, não me entreteve. Informou-me, sim, sobre temas que não me dizem muito, mas me enriquecem a nível
cultural.
Porém, reconheço a
assertividade e a ousadia do autor, sem dizer que o seu espírito está bem
impresso nestas páginas.
“Os homens têm menos receio de ofender alguém que se faça amar do que
alguém que se faça temer; porque o amor mantém-se por um laço de obrigação que
os homens, por serem maus, rompem sempre que surge ocasião mais proveitosa”.
“Acima
de tudo [o príncipe], deve abster-se de tocar nos bens alheios; porque os
homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do património”.
Classificação: 3***/**