quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

#1 Catedral Metropolitana N. Senhora da Aparecida | Brasília, Brasil


Informação: Trabalho de Oscar Niemeyer, um dos nomes-chave na construção da cidade 100% projectada de Brasília. A primeira pedra foi colocada a 12 de setembro de 1958, sendo que em ’60 terminavam os trabalhos. Foi necessário o apoio do engenheiro Joaquim Cardozo para conseguir reerguer este templo fiel ao imaginário do arquitecto. É algo de único, de controverso e de inesquecível. A sua inauguração deu-se apenas em 1970.

O acesso ao interior, que parece mergulhado num subterrâneo, é ladeado por quatro estátuas de bronze, monumentais posto que ascendem a 3 metros de altura. As mesmas representam os quatro evangelistas (S. Lucas, S. Mateus, S. Paulo e S. João), e são uma colaboração entre Alfredo Ceschiatti, que as idealizou, e Dante Croce.

No interior o olhar é, de imediato, cativado para uma escultura pendente de três anjos suspensos por cabos de aço. A menor pesa 100 kg, sendo que a maior pesa o triplo.

De salientar a representação da Pietà, de Michelangelo, uma doação do Vaticano em 1989 para a capital federal de um país largamente católico e devoto.

A minha opinião: Trivago
Vista de fora, tem muito pouco da espiritualidade requerida aos templos religiosos. Por dentro, contudo, tem tudo o que uma igreja deve ter. É perturbadora, intimista, uma obra de arte que convida à reflexão. E que dizer das figuras fantasmagóricas dos quatro evangelistas, erguidas da terra alaranjada de Brasília, que conduzem o visitante ao longo do caminho que conduz à sua entrada subterrânea? É única e pôs-me em sintonia com a essência da cultura sul-americana, sobretudo porque, ladeando os evangelistas, temos vendedores de água fresca, água de coco e outras maravilhas brasileiras.
 (acesso, catedral vista de frente - desaparece no subterrâneo)
(os anjos pendentes)
(estátua de um dos quatro envagelistas)
(réplica da Pietà)

@Fotografias da minha autoria | Célia Loureiro
Brasília, Setembro 2014

domingo, 22 de fevereiro de 2015

#18 & #19 Still Alice & We Need to Talk About Kevin

Título oficial: Still Alice @ 2014
Realizador: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Actores principais: Julianne Moore, Alec Baldwick, Kristen Stewart
Premiações: Óscar de Melhor Actriz para Julienne Moore
Classificação IMDb: 7,5
 Minha classificação: 7


Baseado no romance homónimo de Lisa Genova, "Still Alice", ou "O Meu Nome é Alice", em Português, é uma ficção que me encontrou por ter o Alzheimer como tema central. A minha bisavó padeceu dessa doença, o meu primeiro romance publicado girou em torno dela, e por fim uma Julianne Moore lindíssima e super competente dá vida a esta Alice. Devo dizer que o filme foi mais uma espécie de close-up do que é a vida de alguém que sofre dessa doença, que implica a degeneração das células da memória funcional, do que um grande apanhado do assunto. Não se perde em questões médicas, apesar de tanto o marido quanto um dos filhos de Alice praticarem essa profissão. 
O filme apresenta-nos uma mulher de grande tino e elegância, uma Professora universitária de mérito e presença, a definhar aos 50 anos quando começa a sentir-se desorientada e meio "esquecida das coisas"...
Na sua fase mais avançada, o Alzheimer leva a pessoa a esquecer-se de si própria, de quem o rodeia. Faz-se a mesma pergunta inúmeras vezes, é exasperante para quem está ao redor de alguém assim. Além dos queixumes constantes (eu que o dia, além da minha falecida bisavó, também o vizinho do lado passa o dia em "ais"), faltou ao filme mostrar a agressividade que toma os doentes de Alzheimer quando se sentem perdidos e expostos. A determinado momento, tudo se perde: a orientação das ruas, os nomes dos familiares e amigos, a capacidade de executar, até, as tarefas mais simples...
O filme é tocante, não haja dúvida. Até Kristen Stewart, que mantém sempre a mesma expressão impávida, pareceu ter dado mais de si neste drama. A verdade é que o Alzheimer é um teste maior ao amor e à paciência de quem nos rodeia. Do marido que começa por colaborar e depois perde as forças, à filha distante que recusava os conselhos maternais e que se dispõe, em último caso, a cuidar da mãe pessoalmente.
Vale a pena ver, e por isso fiz questão de lhe dedicar algumas palavrinhas aqui.
Título oficial: We Need to Talk about Kevin @ 2011
Realizador: Lynne Ramsay
Actores principais: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller
Classificação IMDb: 7,5
 Minha classificação: 8,5


Temos de falar sobre Kevin é um dos filmes mais perturbadores a que assisti nos últimos tempos. No final fiquei em silêncio por um bocado, e quem me conhece sabe que não sou de ficar calada. E isto é um filme sobre quê? Na minha opinião, há várias respostas, sendo que a que mais me satisfaz é: o amor materno. O amor materno em todo o seu poder de superação, perdão, regeneração, sacrifício e incondicionalidade. Foi a primeira vez que vi a Tilda Swinton a representar, embora tenha traços que lhe tornam o rosto inesquecível. Fez uma Eva credível, tanto na expressão de insegurança, como de fragilidade emocional (e até psiquiátrica) e de amor. Mas é a intriga e as coisas inconfessáveis que dominam o filme.
O trailer não é muito esclarecedor, pelo que me perguntava se seria um filme de terror. Infelizmente, penso que seja o filme de terror de algumas famílias, pois que casos assim ocorrem, lá isso ocorrem...
O filme fez-me reflectir: 
Em que falha uma mãe?
O que leva alguém a levar sentimentos como raiva contida e ciúme a transformarem-se em algo de maior, algo de letal?
Quanto horror e infelicidade pode um coração materno testemunhar sem colapsar?
O que tem um filho de fazer para que a mãe lhe vire as costas?
Não há modo de me alongar sem referir factos. Contudo, as analepses, os diversos momentos em que Eva nos é apresentada, livre a viajar pelo mundo, apaixonada, como mãe e, mais tarde, aparentemente sozinha no mundo e ostracizada, foram muito bem pensadas. Considerei o filme um trabalho artístico difícil de ultrapassar e de esquecer, de uma beleza trágica que contém tudo o que aprecio num bom filme. Permanece em nós após terminado, como que se nos assombrasse, alertando-nos para questões de difícil resolução e sem qualquer explicação.
Aconselho a todos os que perscrutam a natureza humana sem encontrarem respostas.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

#50 Sombras de Imbecilidade Colectiva

Eu gostava de poder ignorar as histerias colectivas, mesmo porque não me é muito habitual fazer parte delas, mas adiante… É difícil.
Desconfio sempre do filme muito aclamado, do músico muito premiado, do livro muito vendido. Isto porque, e perdoem-me o snobismo, tudo o que é consumido à escala de fast food é porque tem características pouco complexas, estandardizadas, que vão ao encontro das massas e que, portanto, cumprem requisitos “mínimos”. As massas, na minha opinião, são ignorantes. Encaixo-me nelas em muitos estádios de ignorância, cada um tem aquilo onde fica às aranhas e aquilo que é a sua praia. A minha praia são as artes. A literatura, sobretudo. Não significa que não me perca se se falar de steampunk. Vamos lá ver a espécie de coisas que andou nas bocas do mundo ultimamente:
Gangnan Style e as pessoas que tatuaram os seus afins na pele.
As Cinquenta Sombras de Grey (já aqui escrevi que até a minha avó, que sabe que adoro ler, me veio perguntar se tinha ficado para trás das suas amigas reformadas que andavam a ler “As Cinquenta Cores”).
A Piradinha.
Avatar.
O Show das Poderosas.
Hannah Montanah.
O Código da Vinci.
As Cinquenta Sombras de Grey.
Crepúsculo.
O Segredo, da Rhonda Byrne.
Casa dos Segredos.
Harlem Shake.
One Direction.
As Cinquenta Sombras de Grey.
Frozen.
Lady Gaga.
Pulseirinhas de elásticos.
Violetta.
As Cinquenta Sombras de Grey, já mencionei?
Em que consiste tudo isto? Além da palavra óbvia que ocorre? Diria que consiste numa linguagem universal, básica, simplista, que unifica todos sem excluir ninguém e que é acessível, pelo seu baixo grau de complexidade, a todos. Trata-se de levar as massas no bico e enriquecer com a falta de selectividade e refinamento e fraco nível de exigência do público.
Gangnan Style nunca ninguém entendeu que raio é que o homem dizia, Harlem shake idem. Avatar? Uma espécie de Atlântida da Disney mas com recurso à nova tecnologia e a óculos 3D, vamos lá pôr-nos na vanguarda da tecnologia. Crepúsculo? Ai, que inovador, transformar o mau no galã da fita. Dá comichões na passarinha das teenagers, mas o pior é que muitas adultas também se deixaram abalar.
Por que venho eu com este discurso arrogante e pretensioso, afinal? Quem sou eu para achar que os gostos se discutem? Passando adiante da certeza de que gostos são gostos, na minha modesta opinião, os gostos sempre se discutiram, e isto preocupa-me.
Preocupa-me porque a literatura foi inundada por livros eróticos, livros não mais elaborados do que os da Harlequin da caixinha de sapatos da minha avó, que eu ia quando era pequena apenas porque tinha curiosidades que não podia discutir (o Google não existia, arrisco-me a dizer!).
Assusta-me que as pessoas gastem rios de dinheiro para levar os filhos ao concerto de Tokyo Hotel e que acampem à porta do Pavilhão Atlântico (agora Meo Arena, para quem veio há umas semanas do concerto da Violetta). Assusta-me que o franchising do Frozen não cesse de render dinheiro à Disney, quando se trata de um filme perfeitamente vazio. “Ah e tal sou muito moderna e independente e o filme não fala sobre um casal, é inovador e fala do amor entre irmãos”. Uma coisa cheia de lacunas, apressada, em que os grandes protagonistas são as paisagens de neve, um boneco de neve e o vestido da “rainha da neve”. Um filme sem diálogos, sem profundida, caído em clichés e lugares-comuns, mas com uma música que fica no ouvido e que é repetida até à exaustão.
E agora As Cinquenta Cores (prefiro a versão da minha avó), essa bosta de livro. Uma coisinha insonsa em que a autora (sou só eu que acho a protagonista do filme, a Dakota Johnson, uma versão mais jovem da E. L. James?) celebra a sua inovação por ter aberto as portas a mais uma cultura de histerismo? Ah, de repente as pessoas recordaram-se que há uma coisa chamada chicote e algemas. Antes também havia, mas era coisa de malucos que passam demasiado tempo a jogar videojogos e que têm pancada e deviam ir ao médico. De repente a senhora estava aborrecida, pega no Crepúsculo e distorce-o, removendo os dentes ao vampiro e inserindo atilhos e tampões anais no enredo, e a coisa vira um fenómeno viral. De repente, pessoas que nunca liam livros inscreveram-se na rede social para bookaholics (Goodreads, não sei se há mais), atribuíam-lhe a pontuação máxima e diziam que nunca tinham lido um livro melhor. Envolviam-se em discussões intermináveis sobre o quanto os outros eram conservadores e quadrados por não entenderem o quanto a autora é arrojada (e sensual, nossa, que sensualidade!) ao colocar o senhor Grey a remover o tampão à mocinha antes de a *****. De repente, as mamãs compravam baby-grows para os bebés a dizer “Há nove meses atrás a minha mãe leu As Cinquenta Sombras de Grey”, o que até é irónico, tendo em conta a triste qualidade da informação lá passada acerca de contracepção, que poderia levar a uma gravidez indesejada. Tenho pena dos maridos, porque parece que algemas, tampões para orifícios até aí negligenciados, chicotes (e até corda e fita-cola!) começaram a voar das prateleiras. Há alturas em que me ponho no lugar dos homens e tenho compaixão deles. Imagino a cara dos chatos dos conservadores que queriam tratar a mulher com respeito e tal, e ela lhes mete a chibata na mão e pede que lhes aplique umas chicotadas.
A graça maior é que as mulheres são um público – lamento dizer – fácil de convencer. Um bocado como as crianças: os produtos que lhes são direccionados só têm de brilhar um bocadinho que elas correm a comprar.
Acredito que as mulheres ainda tenham muitas fantasias reprimidas, mas não acredito que tenha sido um livro miserável (do ponto vista literário ao do BDSM de acordo com as comunidades de entendidos) a tirá-las do armário. O que o livro abriu, e é pena que tenha sido ele a abrir, foi a porta para o diálogo. Se calhar fez as mulheres sentirem-se mais arrojadas, tomarem a iniciativa. O que até deveria ser contraditório, posto que, segundo consta, a mocinha é completamente abusada física e psicologicamente pelo homem de sonho das 46 mil mulheres que compraram o bilhete para a estreia no cinema (isso é o número de bilhetes, vamos considerar que pelo menos 6 mil são namorados forçados a ir ver o filme, sob a fachada do “mente aberta”, que são eles próprios vítimas de violência psicológica por parte das mulheres). Este Dia dos Namorados de 2015 é outra chaga que os homens terão de carregar…
Mas nem quero mencionar “chagas”, se não aí é que nunca mais me calo.
PS – Li 33 páginas do livro: tão mau, mas tão mau, que fui incapaz de forçar-me a mais. E olhem que gosto de romances picantes (desde que haja alguma complexidade nas personagens ou algum esforço da autora perante a história que constrói). Não vou ao cinema ver o filme, não darei dinheiro para tal causa e recuso-me a fazer parte da histeria colectiva que ficou com a patareca aos saltos para estar lá no dia da estreia.

Mas vou vê-lo, ah se vou! Os meus dedinhos tremem só de imaginar as atrocidades que terei a dizer depois. Muahahahahahah!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

#17 Dei-te o Melhor de Mim

Vamos ser honestas, Célia? Não vejo os filmes do Nicholas Sparks (nem leio os livros) em busca de uma boa história. Fi-lo quando, aí entre os doze e os catorze anos, comecei a lê-lo. Depois, comecei a fazê-lo só para me torturar. Só porque não sei que mais faça e às vezes é bom fingir que não cresci e que ainda acredito que existam homens assim, como ele os pinta.
Então, neste fim-de-semana, e para tentar fugir ao milhão de trabalhos que tenho para fazer, meti-me debaixo da manta, chamei a minha irmã (que é dez anos mais nova do que eu mas também dez vezes mais evoluída, e pareceu relutante em ver o filme) e pusemo-lo. Objectivamente, é o seguinte:

o tipo que faz de jovem Dawson (Luke Bracey) é um gatão e entreteve-me até metade do filme.
PS - Começo a achar que Um Refúgio para a Vida deve ter sido produzido por outra pessoa enquanto o Nicholas estava em casa com uma valente constipação...
apesar de não ir com a cara da jovem (não me lembro do nome dela, damn!), acho que havia química entre os dois e ela encarava bem a personalidade que emanava.
na minha óptica, não há qualquer química entre os actores que fazem de Dawson e Amanda (googled it!) mais tarde. A Michelle Monaghan parece, simplesmente, ser mãe do James Marsden.
À luz das histórias do Nicholas Sparks (incluindo das suas produções filmográficas, que tanto fogem aos seus próprios enredos mas são todas elas também iguais entre si):
os ingredientes são os mesmos de sempre: rapariga rica, rapaz pobre, interior da Carolina do Norte, um viúvo, muitos anos de separação, um trabalho perigoso e físico para o moço (bombeiro, trabalhador de petrolífera, soldado no Afeganistão, soldado no Iraque, etc…).
o que varia tem sempre paralelismo com as outras histórias: o outro viúvo era apegado aos quadros da mulher, o outro era apegado às flores da mulher.
os pais dela nunca gostam dele.
ela faz sempre tudo o que quer do tipo, é ela que decide onde e quando. Ele torce-se todo para a convidar para um encontro, depois leva-a a comer comida local no interior. Bebe cerveja e ela bebe cola light. No final do encontro ele não sabe se deve beijá-la, mas beijam-se porque é tradição.
há sempre um momento em que ele “tem de deixá-la ir” para provar que a ama.
há sempre um sacrifício que ele faz por ela.
 não faltou a cena do beijo à chuva, nem o "are you sure of this?" quando ele está prestes a tirar a virgindade à mocinha;
( faltou o passeio de barco, fiquei de queixo caído!)
 coincidências inexplicáveis, mortes desnecessárias to add some drama.
em 50% dos finais ela fica sozinha com as cinzas dele, o ex-marido que já não ama e os filhos que não são dele.  
 as capas são todas iguais.
Gostava de poder dizer que é a última vez que me submeti a tanto cliché, mas a verdade é que noutro domingo frio, sem nada para fazer, pego na manta e lá vou eu, rir-me mais um bocado da desgraça alheia, que é como quem diz: da dificuldade que o homem tem em reinventar-se.