Opinião: Este livro é um achado. Não foi escrito com a cabeça nem com o coração,
mas antes com as vísceras. Cruel, desconcertante, impiedoso: são os
adjectivos que melhor o descrevem. A frustração de um homem que procura
encontrar-se, situar-se num mundo tão vasto, enquanto se esforça por se
fazer valer perante os outros. O seu círculo de amizades, a sua família…
A cada linha uma nova reflexão, o sentimento de solidão, de angústia, de estarmos rodeados mas de sermos apenas um, tantas vezes menos que isso. Cada página uma miríade de sublinhados:
As confissões intimistas do autor a propósito da vida, da morte, dos propósitos de uma e doutra. A mãe, o pai, a guitarra e o irmão, a vida que começa e outra que se finda. Os amigos: o diálogo eterno, os abraços infinitos que trocamos com os amigos. As coisas que não dizemos nem aos amigos e que tardamos a admitir perante nós mesmos. O amor desfeito e o sentimento que perpetua.
Deus, que só “está em todo o lado para não perder o sofrimento de ninguém”. Deus, o tipo que não dá nada a ninguém. Deus, que o autor vê como uma criança, “é mais fácil perdoá-lo”.
E a ideia de que “a maior viagem do homem é aquela que interfere com os seus planos”. A ideia de que somos os únicos culpados da nossa própria velhice. E a verdade incontornável de que “Quase ninguém nos vai buscar ao fundo”.
Um livro com cabeça, tronca e membros. Não consigo considera-lo crónicas, mas antes um romance. Não se dá o caso de a crónica número 1 despeitar o amarelo enquanto a 15ª o idolatra. O autor é coeso no seu pensar, não fabricou um livro: deu-o à luz de parto natural. O livro saiu-lhe, é parte dele e da sua essência, é autêntico em todo o seu linguajar. Romântico, também, na medida em que um homem quebrado consegue sê-lo. E as emoções surgem com uma tangibilidade que me pôs em lágrimas em mais do que uma parte. Mas também me ri bastante noutras, no modo como é retratado o arrumador-de-carros que conhecem num parque de estacionamento e que, simplesmente, está de bem com a vida. Ou finge estar: tão hilariante que nos cega de comoção.
Um livro de uma sensibilidade transcendente, vindo de um punho que não pode parar de escrever. O melhor que já li de um autor português – eu, que nunca terminei um livro de Lobo Antunes e que tropeço nas vírgulas do grande Saramago. O choque absoluto de considerar que um livro assim merece uma visibilidade e uma distribuição muito melhores àquelas que se dispõem a dar-lhe, porque é alguém novo – mas alguém que mais cedo ou mais tarde terá o seu trono no universo literário deste pequeno jardim.
Alguém que venha e descubra esta jóia por entre os castelos de pirite que para aí andam.
Aconselho a quem procure amor, ódio, angústia e desespero (bem como amizade), em estado bruto.
A cada linha uma nova reflexão, o sentimento de solidão, de angústia, de estarmos rodeados mas de sermos apenas um, tantas vezes menos que isso. Cada página uma miríade de sublinhados:
As confissões intimistas do autor a propósito da vida, da morte, dos propósitos de uma e doutra. A mãe, o pai, a guitarra e o irmão, a vida que começa e outra que se finda. Os amigos: o diálogo eterno, os abraços infinitos que trocamos com os amigos. As coisas que não dizemos nem aos amigos e que tardamos a admitir perante nós mesmos. O amor desfeito e o sentimento que perpetua.
Deus, que só “está em todo o lado para não perder o sofrimento de ninguém”. Deus, o tipo que não dá nada a ninguém. Deus, que o autor vê como uma criança, “é mais fácil perdoá-lo”.
E a ideia de que “a maior viagem do homem é aquela que interfere com os seus planos”. A ideia de que somos os únicos culpados da nossa própria velhice. E a verdade incontornável de que “Quase ninguém nos vai buscar ao fundo”.
Um livro com cabeça, tronca e membros. Não consigo considera-lo crónicas, mas antes um romance. Não se dá o caso de a crónica número 1 despeitar o amarelo enquanto a 15ª o idolatra. O autor é coeso no seu pensar, não fabricou um livro: deu-o à luz de parto natural. O livro saiu-lhe, é parte dele e da sua essência, é autêntico em todo o seu linguajar. Romântico, também, na medida em que um homem quebrado consegue sê-lo. E as emoções surgem com uma tangibilidade que me pôs em lágrimas em mais do que uma parte. Mas também me ri bastante noutras, no modo como é retratado o arrumador-de-carros que conhecem num parque de estacionamento e que, simplesmente, está de bem com a vida. Ou finge estar: tão hilariante que nos cega de comoção.
Um livro de uma sensibilidade transcendente, vindo de um punho que não pode parar de escrever. O melhor que já li de um autor português – eu, que nunca terminei um livro de Lobo Antunes e que tropeço nas vírgulas do grande Saramago. O choque absoluto de considerar que um livro assim merece uma visibilidade e uma distribuição muito melhores àquelas que se dispõem a dar-lhe, porque é alguém novo – mas alguém que mais cedo ou mais tarde terá o seu trono no universo literário deste pequeno jardim.
Alguém que venha e descubra esta jóia por entre os castelos de pirite que para aí andam.
Aconselho a quem procure amor, ódio, angústia e desespero (bem como amizade), em estado bruto.
Sinopse: Uma viagem desassossegada pela angústia das relações humanas, uma reflexão acerca da morte sempre iminente e uma introspecção
pelo amor ao eu que passa sempre pelo amor ao outro. A história de uma
consciência profundamente sensível e lúcida. Um livro terrível, de
frases e situações impactantes.
Classificação: 5/5*****
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