Sinopse: Gina recorda a senda de desejo e de acaso que a levou
a apaixonar-se por Seán, «o amor da sua vida». Enquanto a cidade lá fora fica
paralisada pela neve, Gina recorda os tempos que passaram em diversos quartos
de hotel: longas tardes que a felicidade e a negação tornaram indistintas.
Agora, enquanto as ruas silenciosas e a quietude e a vertigem da neve que cai
tornam o dia luminoso e pleno de possibilidades, Gina enfrenta a intempérie
para se ir encontrar com uma rapariga a quem chama o «belo erro» de Seán: Evie,
a sua frágil filha de doze anos. Neste romance extraordinário, uma espécie de
caixa de segredos, deparamo-nos com o relato de acontecimentos súbitos e
decisivos da vida quotidiana, com as relações voláteis entre as pessoas, com a
frescura do olhar para cada estremecimento e gesto, com a captação irónica e
exata das famílias, do casamento e da fragilidade da meia idade. São evidentes
toda a verve, o humor e o extraordinário controlo característicos da autora,
bem como a capacidade de fundir o banal e o miraculoso. Em Valsa
Esquecida, toda a atenção é voltada para o amor e acompanhamos a viagem
sentimental de uma heroína prevaricadora e inesquecível. Uma obra-prima de
inteligência, paixão e originalidade.
Opinião: Sou um
bocadinho snobe no que diz respeito a literatura. Bom, é verdade, admito. Eu
própria me envergonho disso por dois motivos que considero válidos; primeiro
porque a leitura é extraída da escrita, e a escrita, como arte que é, é
subjectiva. Toca uns e passa ao lado de outros. Que direito tenho de torcer o
nariz a quem lê livros que considero de qualidade inferior? Depende do quanto
descermos... humpf. Depois, porque nem eu li jamais Tolstoi, ou Dostoievsky, ou
mesmo Shakespeare, e isso é que seria a boa literatura, não?
Mas este "A Valsa
Esquecida" intrigou-me. Ganhou um Orange Prize, tem uma capa que apela à
melancolia, à reflexão e aos valores morais e enraizados... não? A mim foi essa
ideia que passou. Agora adivinhem? Eu não entendo porque é que
o livro tem este título - nem valsas, nem convenções, nem um passado para
esquecer, nada que se lhe associe. E a capa? Bom a ideia que tenho da
protagonista é uma trintona de ganga e cabedal, cabelos curtos, álcool e
maquilhagem a mais. Onde é que isto combina com a saia plissada e os sapatinhos clássicos
da senhora na capa?
Ponto positivo: a
escritora e o cenário são irlandeses e vou à Irlanda em Setembro, teve, para
mim, um interesse particular
Ponto negativo: fiquei
na mesma quanto à Irlanda, a escritora não aproveitou a visibilidade para falar
de nada que não da crise e do sector imobiliário
Personagens: mas que
azar é este que tenho com as personagens? Perguntei-me, ao terminar o livro, se
sou eu que embirro. Senti-me ligeiramente decepcionada por ter a certeza de
que ia gostar do 2º livro da Balogh publicado em Portugal. Perguntei-me se
seria o género: será por amar tanto os romances históricos que me aborreci de
morte com este da Enright? Mas tive a minha resposta: na segunda página do
"Um Verão Inesquecível", já eu estava a rir. Já o personagem
masculino foi apresentado, com toda a margem que há-de haver para as suas
inconstâncias e imprevisibilidades. Já os homens na multidão tinham mais alma,
mais profundidade, mais dimensões, do que a cabecinha oca da Gina e o canalha
do Seán d"A Valsa Esquecida".
A dado momento o romance
resvalou do foco do romance extraconjugal para a filha do adúltero, que tem
epilepsia. Ora bem... quando o casal morreu - alguma vez houve chama? Aí pela
página 160 de 225 (aprox.) a autora lembrou-se de remexer na filha. De
"inventar" uma relação entre a adúltera e a filha do adúltero.
Relação cliché, mal explorada, vazia, até porque a Gina não tem nada de terno,
vulnerável ou maternal. A cabeça do Seán? Nunca entendemos. O porquê daquela
atracção mútua? Idem.
O que salva [escapa n]o romance -
muito repetitivo em cenários, muitos quartos de hotel, muitas festas com os mesmos convidados, álcool,
pseudo-dramas e rotina doméstica aborrecida - são os trechos, as associações
espirituosas ocasionais que sugerem que a Anne, de facto, tem talento. Este só
não é um livro que eleve o seu potencial.
PS - Voei sobre as
últimas cinquenta páginas. Precious time, this one of mine...
Classificação: 2**
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