quinta-feira, 9 de agosto de 2012

#50 ENRIGHT, Anne - A Valsa Esquecida


Sinopse: Gina recorda a senda de desejo e de acaso que a levou a apaixonar-se por Seán, «o amor da sua vida». Enquanto a cidade lá fora fica paralisada pela neve, Gina recorda os tempos que passaram em diversos quartos de hotel: longas tardes que a felicidade e a negação tornaram indistintas. Agora, enquanto as ruas silenciosas e a quietude e a vertigem da neve que cai tornam o dia luminoso e pleno de possibilidades, Gina enfrenta a intempérie para se ir encontrar com uma rapariga a quem chama o «belo erro» de Seán: Evie, a sua frágil filha de doze anos. Neste romance extraordinário, uma espécie de caixa de segredos, deparamo-nos com o relato de acontecimentos súbitos e decisivos da vida quotidiana, com as relações voláteis entre as pessoas, com a frescura do olhar para cada estremecimento e gesto, com a captação irónica e exata das famílias, do casamento e da fragilidade da meia idade. São evidentes toda a verve, o humor e o extraordinário controlo característicos da autora, bem como a capacidade de fundir o banal e o miraculoso. Em Valsa Esquecida, toda a atenção é voltada para o amor e acompanhamos a viagem sentimental de uma heroína prevaricadora e inesquecível. Uma obra-prima de inteligência, paixão e originalidade.

Opinião: Sou um bocadinho snobe no que diz respeito a literatura. Bom, é verdade, admito. Eu própria me envergonho disso por dois motivos que considero válidos; primeiro porque a leitura é extraída da escrita, e a escrita, como arte que é, é subjectiva. Toca uns e passa ao lado de outros. Que direito tenho de torcer o nariz a quem lê livros que considero de qualidade inferior? Depende do quanto descermos... humpf. Depois, porque nem eu li jamais Tolstoi, ou Dostoievsky, ou mesmo Shakespeare, e isso é que seria a boa literatura, não?

Mas este "A Valsa Esquecida" intrigou-me. Ganhou um Orange Prize, tem uma capa que apela à melancolia, à reflexão e aos valores morais e enraizados... não? A mim foi essa ideia que passou. Agora adivinhem? Eu não entendo porque é que o livro tem este título - nem valsas, nem convenções, nem um passado para esquecer, nada que se lhe associe. E a capa? Bom a ideia que tenho da protagonista é uma trintona de ganga e cabedal, cabelos curtos, álcool e maquilhagem a mais. Onde é que isto combina com a saia plissada e os sapatinhos clássicos da senhora na capa?

Ponto positivo: a escritora e o cenário são irlandeses e vou à Irlanda em Setembro, teve, para mim, um interesse particular
Ponto negativo: fiquei na mesma quanto à Irlanda, a escritora não aproveitou a visibilidade para falar de nada que não da crise e do sector imobiliário

Personagens: mas que azar é este que tenho com as personagens? Perguntei-me, ao terminar o livro, se sou eu que embirro. Senti-me ligeiramente decepcionada por ter a certeza de que ia gostar do 2º livro da Balogh publicado em Portugal. Perguntei-me se seria o género: será por amar tanto os romances históricos que me aborreci de morte com este da Enright? Mas tive a minha resposta: na segunda página do "Um Verão Inesquecível", já eu estava a rir. Já o personagem masculino foi apresentado, com toda a margem que há-de haver para as suas inconstâncias e imprevisibilidades. Já os homens na multidão tinham mais alma, mais profundidade, mais dimensões, do que a cabecinha oca da Gina e o canalha do Seán d"A Valsa Esquecida".

A dado momento o romance resvalou do foco do romance extraconjugal para a filha do adúltero, que tem epilepsia. Ora bem... quando o casal morreu - alguma vez houve chama? Aí pela página 160 de 225 (aprox.) a autora lembrou-se de remexer na filha. De "inventar" uma relação entre a adúltera e a filha do adúltero. Relação cliché, mal explorada, vazia, até porque a Gina não tem nada de terno, vulnerável ou maternal. A cabeça do Seán? Nunca entendemos. O porquê daquela atracção mútua? Idem.

O que salva [escapa n]o romance - muito repetitivo em cenários, muitos quartos de hotel, muitas festas com os mesmos convidados, álcool, pseudo-dramas e rotina doméstica aborrecida - são os trechos, as associações espirituosas ocasionais que sugerem que a Anne, de facto, tem talento. Este só não é um livro que eleve o seu potencial.
PS - Voei sobre as últimas cinquenta páginas. Precious time, this one of mine...
Classificação: 2**

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