Mostrar mensagens com a etiqueta Andreia Ferreira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Andreia Ferreira. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 10 de julho de 2012

#43 FERREIRA, Andreia - Soberba Tentação


Sinopse: Depois de descobrir que o sobrenatural não representa um medo irracional e que as criaturas caminham lado a lado com os humanos, Carla tem de enfrentar as consequências do seu envolvimento com o Caael. Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carla começa a sentir algumas dificuldades em encontrar-se. Entre lacunas na memória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada do avesso com a linha da vida mais ténue do que nunca. Com a ausência do Caael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entre iguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com a rainha a jogar contra ela


Opinião: Acabei agora de ler o “Soberba Tentação”, o segundo volume da Trilogia Soberba da Andreia. E o que poderei dizer sem soar suspeita? Sim, suspeita porque admiro a Andreia, o seu trabalho com estes dois livros e, ainda por cima, partilhamos a mesma editora. Já houve, inclusive, insinuações sobre as nossas opiniões serem influenciadas por esse facto. Bom, sugiro a quem o insinuou que entre no meio e depois se pronuncie. Há-de haver sempre quem não se venda, e também haverá sempre honestidade para não se procurar comprar quem quer que seja. E é livre de todas estas suposições que me expresso em relação ao II volume desta trilogia, com o despreendimento de uma leitora que, por acaso, se apresentou em Braga (infelizmente tarde e a más horas) para o lançamento da obra, e que deu um beijo de duplos parabéns à feliz escritora, que trouxe assim à luz um segundo rebento promissor. 
O “Soberba Escuridão” foi o meu primeiro contacto com este género de livros sobrenaturais. Gostei do facto de ter um pé na realidade e de a Carla ir absorvendo o que acontecia com a estranheza que eu própria, como leitora, também absorvia. Abriu-me o apetite para este mundo e que me deixou com sede de mais. Agora que terminei de ler o Soberba Tentação? Sinto-me tão ansiosa quanto ao próximo volume quanto me sinto em relação a Abril de 2013, para quando está prevista a nova temporada do Game of Thrones. Já viram o muito que tem de se esperar?
Ora bem, o que explicar desta obra a quem não leu o primeiro volume? Em “Soberba Escuridão”, a Carla toma conhecimento da existência de um mundo que subsiste paralelamente à consciência humana – tantas vezes voluntariamente ignorado por ela. Curiosamente, ela não vai à procura desse mundo – é ele que vem ter com ela. Levanta-se um pouco do véu sobre estas coincidências, que o “Soberba Tentação” começa a explicar a um ritmo ainda mais fluido, ainda mais interessante. A autora amadureceu a olhos vistos, foi estonteante essa mudança de uma primeira obra para esta segunda, tão bem consolidada, tão mais sólida, por muito que o talento já fosse transbordante no primeiro volume. As respostas às dúvidas que o primeiro livro suscitou vão surgindo de modo a manter o leitor interessado, vidrado nas páginas, que parecem voar! Quis tanto acabá-lo e agora foi-se-me.. que hei-de eu ler cujo entusiasmo se compare?

As personagens – a Raquel, fragilizada pelos acontecimentos do primeiro volume, a Ana, que “renasceu” para o mundo sob outro prisma, a Carla, que finalmente começa a questionar o chão que pisa, as nuvens por onde caminha… não foram esquecidas. E, para meu deleite, surge, com mais destaque, um vampiro descontraído e sedutor que me pôs de faróis atentos durante toda a leitura.

O que vos posso prometer? Novas explicações sobre este mundo sobrenatural que saiu da cabeça da nossa querida Andreia Ferreira. Romance – um novo, inesperado e arrebatador romance, cujo futuro quero desesperadamente conhecer no III volume da trilogia! Revelações – a maior delas todas, inesperada, que me deixou boquiaberta quando a autora fechou a obra com chave de ouro… Oh, o meu apetite pelo “Soberba Ilusão”, é assim que se chamará, não é? Está tão aguçado…!

A Andreia é tão jovem e, no entanto, vê-se o dedo de uma mulher do Norte aqui! Ela não se coíbe de ser cruel, explícita, maliciosa, irónica, divertida. Aprecio o humor negro de algumas personagens, todas elas tão bem delineadas e distinguidas neste livro que é, quase todo ele, um mergulho a fundo na consciência do que é real e no que é ilusão e, garanto-vos… de facto é soberba esta tentação que lhe empresta o nome…

Fico-me por aqui, com novos parabéns à autora. É maravilhoso que tenha sido a Andreia Ferreira, com um género que estava longe de entrar no meu campo de interesse literário, a reconciliar-me com os autores portugueses?

Recomendo vivamente.
Classificação: 5*****

terça-feira, 8 de maio de 2012

#31 FERREIRA, Andreia - Soberba Escuridão

Sinopse: Quando o relógio pisca as doze horas intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada.A partir daí, todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender.Cega de paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir das profundezas do inferno.

Opinião: Tenho imensa coisa para dizer a respeito desta primeira obra da Andreia Ferreira. Antes de mais, permitam-me clarificar um ponto: eu e a autora partilhamos a mesma editora, mas não temos contrato algum de bajulação mútua. Que isso fique claro, até porque ela é uma mulher do norte sem papas-na-língua e eu também tenho costela do Norte. Enfrentámo-nos ao vivo e a cores na Feira do Livro de Lisboa, no passado dia 6 de Maio, e o compromisso foi de que lhe daria a minha opinião sincera. Ela estava com receio de que não fosse favorável – porque o sobrenatural não é o meu género, nem nunca li nada se não agora A Guerra dos Tronos – e eu estava aterrorizada com a possibilidade de não gostar do livro e não saber como dizer-lho. “Er…, dou-lhe um três e depois digo que está muito bem escrito mas não gosto destas coisas”, era esse o meu plano b), se não tivesse gostado da obra. O que, como vêm pelas cinco estrelinhas a cintilar a vermelho, não foi o caso.

Esta classificação espelha a minha redenção face ao cepticismo e também a minha estupefacção quando fechei o livro, há minutos. É uma lição de humildade e de mente aberta. Quando, por volta de Junho do ano passado, tomei conhecimento da existência deste livro no catálogo de obras da Alfarroba pensei: que péssimo, a febre dos vampiros chegou a Portugal. E que sabia eu dos vampiros ou deste género literário? Exactamente, nada. Fiz logo o quadro todo em mente: a autora devia ser uma adolescente que vivia na lua (e, se vive na lua agora sei que é no bom sentido!) e que era maluca pelo Crepúsculo e tinha copiado a história, mais coisa menos coisa. Os preconceitos - pré-conceito - surgem em relação aos assuntos mais inesperados, e assim me apercebi de como estava a julgar erradamente alguém pelo seu gosto de leitura/escrita. Mas isso passou-se há um ano atrás, e entretanto a Andreia tem-me vindo a dobrar. Primeiro com a sua simpatia e prontidão, depois e definitivamente com a sua obra.

Qual foi o meu banho de cair no real quando comecei a falar com a Andreia e descobri que é uma adulta responsável – jovial, divertida e tagarela – que, de facto, vive na lua e sorve daí a sua inspiração e daí lhe advém o talento. Vou roubar as palavras da própria em relação a mim: Quando há talento, há! E encontrei-o logo desde o princípio do livro. Às primeiras palavras tornou-se óbvio que ela não tem necessidade de se esforçar – é-lhe inato, vêm-se trechos que só podem advir de uma espontaneidade fluída que é o que consolida os bons escritores, os escritores de gema. A primeira parte do livro (aí até à página cem) é, de facto, um pouco difícil de desbastar. Isto porque a narração é fluída, com laivos de bom humor, e espelha muito bem – melhor do que bem, através de expressões idiomáticas – a essência do povo português. Da família portuguesa – sobretudo da mãe portuguesa, que quase “aterroriza” esta adolescente, a Carla, como as nossas mães e avós nos aterrorizam a nós com a hora do deitar e a pressa do levantar e os “ó filha isto” e “ó filha aquilo”. Foi muito português de Portugal, e adorei essa faceta da história. Li, nalguns comentários, que as referências da Andreia lhe eram demasiado familiares. Bom, para mim foi tudo um terreno novo. Exceptuando o Harry Potter, os meus livros favoritos retratam realidades invulgares e enriquecedoras – mas realidades. Ia convencida de que ia ler um “monte de clichés” sobre vampiros, mas levei outra bofetada quando me dei conta de que o livro aborda toda esta temática de um modo muito mais original. Embora se saiba que o livro é do género sobrenatural, houve ali algumas explicações, em certas alturas, sobre a existência e realidades paralelas, que fizeram um sentido estrondoso. Não digo que rocem uma possibilidade real, mas são extensões complexas demasiado amplas, raciocínios bem estruturados. Não sei se toda aquela arrumação das criaturas e dos seus mundos/realidades, misticismos e etc., encontra par em outras obras do género, mas se for esse o caso foram bem aplicadas. Se não for, muitos parabéns, Andreia, por teres inventado um mundo com contornos palpáveis.
Apesar de já conhecer a autora, consegui desligar-me dela ao ler o livro, o que espelha o quão bom ele é, o quão bem ele flui nas minhas mãos. Quando conheço o autor e leio a sua obra é como se bebesse as palavras dos seus lábios, como se o visse sentado a criar a história. Mas a Andreia não – não estava em lado nenhum. A Carla é a Carla e o livro é o livro, e ela é somente a criadora. Conseguiu criar algo de que gosta tanto completamente desprendido de si. As palavras são acessíveis, há momentos que me puseram de nervos em franja, outros que me enterneceram (o romance está super bem explorado embora a Carla o viva com alguma imaturidade, gostaria de tê-la visto resistir ao jeitosão com mais afinco, de início, talvez ser um pouco mais desconfiada), e houve momentos em que me segurei para não me pôr às gargalhadas. A Ana é, sem dúvida, a minha favorita. Gostei muito da panóplia geral de personagens e, sobretudo, da coesão que lhes deste.
Como digo, um livro é um exercício de arquitectura e a Andreia soltou pontas ali e uniu-as aqui e ainda deixou margem para muito andamento no “Soberba Tentação”, que sai para Julho. Vou ter que penar muito até ler o segundo e, mais ainda, até ler o terceiro!
Para terminar gostava de dizer algo que acho que também já li algures em relação a esta autora e à sua obra, e que não pensei vir a concordar mas que de facto concordo com sinceridade: se fosse no estrangeiro teria inúmeras portas abertas e seria um sucesso enorme instantâneo. Criar-se-iam clubes de fãs com números enormes e, quem sabe, far-se-iam filmes e franchisings. Além de um bom enredo tens boas palavras, bem escolhidas, e às vezes isso é o mais difícil. Dar substância a uma história sem se ser pretensioso, nem aborrecido, nem maçador.
Cá fico, entristecida, com dois meses pela frente à espera da continuação…!
Classificação: 5*****