Classificação: 4****
Uma perspectiva única da
Europa pelos olhos de um Professor Universitário de Melbourne. A História é,
tantas vezes, uma questão de prisma. Com isto em mente, deixei-me maravilhas
pelo modo singular como um cidadão de outro continente analisou o percurso
histórico da Europa, um continente que tanto contribuiu (tantas vezes através
dos meios errados) para o pé em que o mundo se encontra actualmente.
Este pequeno “resumo” da nossa
história conjunta foca-se no raiar de uma civilização, evidenciando a importância
da sabedoria grega e da organização romana para a construção da nossa
identidade civilizacional. Da democracia grega ao Direito romano, acompanhamos
o modo como estes elementos chave foram tendo mais e menos destaque no
desenvolvimento da Europa, que, segundo John Hirst assenta sobre três pedras
fundadoras: a Cristandade, a Cultura Greco-Romana e os Guerreiros Germânicos. A intersecção
destes três elementos permitiu que o Velho Continente nascesse sob o signo em
que se tem aperfeiçoado nos últimos milénios.
[A Igreja teve um papel significativo neste nascimento. Eu confesso que o meu grande inimigo ideológico é, mais do que o Hitler, a Igreja Católica. Se me falarem das obras de caridade e do ensino, etc., eu sou obrigada a dizer que o próprio Hitler (porquê ir tão longe?) Salazar, também terá certamente dado alguns contributos à sociedade, ou teria sido imediatamente desprovido da sua influência. Mas a Igreja agiu sempre com o intuito de explorar a ignorância do povo a fim de sobreviver a todos os tempos, posicionando-se do lado dos fortes, incitando-os a guerras religiosas, pilhagens, massacres, juramentos infames, queimando quem se atrevia a tentar lançar luz sobre o seu oportunismo – religion is darkness – e torturando os hereges. A interpretação que a Igreja fez da bíblia tem invenções de autoria desconhecida, que durante séculos se manteve no silêncio do desconhecimento. Foi preciso que viesse Lutero traduzir a bíblia para uma língua acessível aos europeus para que esta interpretação se revelasse manipulada, enganosa, durante pelo menos quinze séculos. Vendia salvações, funcionava como uma multinacional onde haveria sempre oportunidades para os ambiciosos rejeitados pela restante organização social. O paraíso dos segundos filhos, de homens corrompidos e hipócritas, com sede de poder e sem lugar noutro lado. Jesus era Judeu. Os Judeus traíram Jesus, conluiados com os Romanos. A Cristandade vira as costas à religião de Jesus. Abre guerras abertas contra eles (ama o próximo) e estende-se a todo o território Europeu. Para sobreviver, vale-se da conversão do Imperador Constantino (313 A.D.) para galvanizar simpatizantes e, pouco depois, torna-se Igreja Católica Romana. Posiciona-se assim do lado dos traidores de Cristo. Em seguida, para sobreviver à queda do Império Romano do Ocidente, à mão dos germânicos invasores, convence-os a dirigirem a sua ânsia por conflitos aos inimigos da Igreja, os infiéis. Isto é, a Igreja administra o que os germânicos não querem administrar, porque só o saque e a violência os tenta. E estes lutam as suas guerras num pacto duplamente vantajoso. Já em 325, no Concílio de Niceia, a Igreja votara a natureza divina de Cristo a seu favor, escolhendo a “abordagem” a tomar daí por diante. Posteriormente é-lhe descoberta a carapuça quando, no Renascimento, a sabedoria grega (mencionei que as escolas cristãs se baseiam nos ensinamentos pagãos para exercer influência sobre o povo?) começa a ser questionada e, nalgumas ocasiões, é desacreditada. A Reforma revela várias incongruências desta entidade tão poderosa – à custa de algum sangue. Mais tarde surge a Inquisição no âmbito de uma campanha de marketing agressiva apelidada de Contra Reforma. Compras o meu peixe? Não? Vou-te queimar.]
Enfim, vou pular o capítulo da
Igreja, é para mim um mistério saber como sobreviveu este monstro durante
tantos séculos, à custa de mentiras.
A Europa vale-se do facto de
dividirem o espaço com outros países tantas vezes rivais, o que a mantém alerta
e em constante competição por progresso e desenvolvimento – social, militar,
económico. É para mim um prazer pertencer a este cantinho civilizacional, e
sobretudo a Portugal, a partir de onde se deu a Expansão Marítima Europeia, que
aproximou o mundo e desbloqueou os seus limites, aumentando assim o nosso
conhecimento do planeta e do universo.
Lamento que o autor não tenha mencionado o Humanismo um pouco mais a fundo, mencionado Montesquieu, Jean-Jaques Rousseau ou mesmo o advento da imprensa um pouco mais aprogundado. Também termina abruptamente no alvor da Revolução Agrícola e Industrial, não se aventurando a partir de 1800. É uma pena porque as próprias campanhas de Napoleão e as reacções dos diferentes Estados a esta tentativa de unificação - ou a levada a cabo pela União Europeia - seria interessante de analisar. Também não foram abordadas as disputas de territórios estrangeiros, levando aos conflitos internacionais do séc. XX. A escravatura teria sido outro ponto a abordar, porque fomos, durante séculos, originários de sistemas esclavagistas cruéis. A luta contra esta brutalidade é um ponto social demasiado importante para ser assim ignorado em prol dos adventos agrícolas do séc. XVIII.
A conclusão não foi satisfatória. A "colonização" do restante mundo teria sido pertinente. Se tudo isto fosse incluído, contudo, não estariamos a ler o "Breve História da Europa". Gabo-lhe, assim, o carácter de "História da Europa explicada a quem não a estuda há anos, mas se interessa e ainda se recorda de qualquer coisa". Abriu-me o apetite para leituras sobre o Classicismo e outras, como a Divina Comédia (Dante), A República (Platão), o Príncipe (Maquiavel).
O livro tem também bastantes gralhas o que, num livrinho de um académico de 200 páginas, de uma editora como a D. Quixote (grupo Leya) me reafirma a certeza de que é tudo publicado sobre o joelho e às pressas, ao sabor do interesse do mercado.
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