Sinopse: Saigão, anos 30. Uma bela jovem francesa conhece o elegante filho de um negociante chinês. Deste encontro nasce uma paixão. Ela tem quinze anos e é pobre. Ele tem vinte e sete e é rico. Os amantes, isolados num mundo privado de erotismo e auto-descoberta desafiam as convenções da sociedade.
Enquanto ela desperta para a possibilidade de traçar o seu próprio caminho no mundo, para o seu amante não há fuga possível. A separação é inevitável e tragicamente cadenciada pelos últimos acordes da presença colonial francesa a Oriente.
A jovem é a própria autora e este é o relato exacerbado de uma paixão inquieta e dilacerante. De tão etérea, a sua realidade gravar-lhe-ia no rosto marcas implacáveis de maturidade. Para o mundo, fica uma obra que contém toda a vida.
Obra intemporal, relato de um mundo perdido, O Amante foi vencedor do prestigiado Prémio Goncourt, em 1984, e confirmou o génio literário de Marguerite Duras, nome cimeiro da literatura mundial.
«Muito cedo na minha vida foi tarde demais»
Opinião: (Demorei dois dias a reunir 'material' para fazer esta review) Raramente me acontece estar perante uma situação/livro/discurso que não suscite nada em mim. Isto é, que não me indigne, nem fascine, nem horrorize, nem apaixone. Este livro, infelizmente, foi assim. Reconheço que está maravilhosamente escrito e que as reviravoltas textuais da cabeça da narradora, a própria rapariga branca, nos levam por labirintos existentes em nós próprios. Mas importar-me com ela? Não me importei. Nem com ela nem com a família dela. O irmão mais velho é um bandido. Conheço alguns assim; roubam à família para sustentar vícios, destroem-se e à família com o dito. O "irmãozinho" é um doce, demasiado fraco para erguer sequer a voz, sendo por isso o receptáculo de toda a ternura da irmã. A mãe destes três irmãos é um ser alheado, inconsistente por natureza, que não esconde que apenas ao filho mais velho tudo tolera. É uma mulher marcada pela perda do marido e pela malícia do filho mais velho. Esconde os seus bens nos lençóis de casa. A menina branca é ávida de viver e de aprender. Tirando este escandaloso caso com um chinês (que, apesar de milionário), objecto de grande preconceito e desdém por parte da sua família, não tem mais nada de transgressor na sua existência. Tem momentos de vulnerabilidade, mas nunca tive pena dela. Quanto ao chinês, ama-a e é por ela desprezado e humilhado ao sabor do humor oscilante da jovem de 15 anos. A história é compreensível, porque penso que nem a própria narradora sabe se o amava ou não. Começa o livro ao dizer que aos 18 anos já era tarde demais para si, o que me faz crer que já tinha deixado fugir-lhe a felicidade por entre os dedos. Também pode referir-se à velhice que diz que lhe tomara já o rosto, devido a todos os desgostos e angústias que a família lhe traz.
De momento fiquei sem o bichinho de ler mais Marguerite Duras. Vejamos no futuro.
O livro é bonito em termos literários, por vezes entrei em comunhão com os sentimentos das personagens. Mas não voltei a pensar neles. Se calhar porque não há um fio condutor, o livro vale-se do ritmo dos pensamentos, como se ondulasse a um vento que avança e regressa onde ficou. Não há tell, o que é óptimo, mas o show nem sempre é simples. Cheguei à conclusão que não entendo nada desta branca, e que nem ela própria se entende.
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