«- A pintura é outra
coisa, não é um produto visual – disse Etienne. – Eu pinto com todo o meu
corpo, e nesse sentido não sou assim tão diferente do teu Cervantes ou do teu
Tirso de não sei quantos. O que dá cabo de mim é a mania das explicações, o
Logos entendido exclusivamente como verbo.
- Etcétera, disse
Oliveira, mal-humorado. – Por falar em sentido, a vossa conversa parece um
diálogo de surdos.
A Maga cingiu-se ainda
mais contra ele. «Agora esta vai dizer alguma das suas asneiradas», pensou
Oliveira. «Primeiro precisa de esfregar-se, de decidir-se epidermicamente.».
Sentiu uma espécie de ternura rancorosa, algo tão contraditório que devia ser a
pura verdade. «Seria necessário inventar-se a bofetada doce, o pontapé de
abelhas. Mas neste mundo as últimas sínteses continuam por descobrir. Perico
tem razão, o grande Logos vela. Que pena, fazia falta o amoricídio, por
exemplo, a verdadeira luz negra, a antimatéria que tanto dá que pensar a
Gregorovius.»
cap. 9
cap. 9
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