Sinopse: Num chuvoso dia de outono, Susan
Wright entrou numa clínica, matou duas pessoas a sangue-frio e aguardou que a
polícia chegasse. Terá sido um ato de loucura? Uma vingança planeada? Susan não
parece interessada em defender-se e recusa falar. O seu silêncio estende-se a
Beth Powell, a advogada a quem é atribuído o caso. Beth é uma mulher de sucesso
com uma carreira brilhante mas nada a preparara para o momento em que identifica
a autora daquele crime tão bárbaro. Quando eram crianças, Beth e Susan juraram
ser amigas para sempre. Vinte e nove anos depois, mal se reconhecem. Mas as
memórias dos verões felizes das suas infâncias são suficientemente poderosas
para as unir de novo. Enquanto as provas contra Susan se acumulam, elas
partilham recordações e revelam os segredos que ditaram o rumo das suas
vidas.
A
amizade entre as duas mulheres torna-se cada vez mais forte mas sobre uma delas
pende a implacável mão do destino…
Opinião: É
o segundo livro que li da Lesley Pearse, tendo o primeiro sido o “Nunca me
Esqueças”, e a impressão com que fiquei foi a mesma. Desta vez o enredo revolve
em torno de Susan Wright, que matou duas pessoas a sangue frio numa clínica
médica e se deixou capturar, e de Beth Powell, uma advogada que lhe calha na
rifa para a defender. O livro foi realista neste ponto, estes detalhes legais
foram bem geridos, pareceu-me. Felizmente a autora não optou pelo cliché de
manter a Beth como advogada de defesa da Susan, e agora vou mudar o meu
discurso para não revelar demasiado.
A sinopse é um pouco enganadora – elas não
juraram ser amigas para sempre, isso remete ao lugar-comum de juramentos de
sangue, etc. Elas simplesmente tiveram-se apenas uma à outra, em pequenas.
Depois os seus caminhos seguem direcções opostas.
Quanto à minha opinião do livro… acho que
se mistura com a opinião que tenho da autora. É-me compreensível que tanta
gente adore os livros dela, porque de facto ela tem imaginação e um bom enredo.
Na minha opinião, o que me impede que lhe dar mais do que um três pela segunda
vez, é a extensão de quatrocentas e trinta páginas para uma história que seria
sublimemente contada em duzentas e cinquenta. A acção arrasta-se, lenta e,
pior, repetitiva! Dei por mim a revirar os olhos. A Susan pensava em a).
Contava à Beth/Steven, etc… reflectiam sobre isso. Depois era novamente
repensado pela Susan que, por último, o apresenta em tribunal. Bagh!
Outra coisa que detesto nos livros da
Lesley é que tudo gira em torno destes termos – injustiça, maldade, piedade,
misericórdia, autocomiseração, pena, admiração. É a segunda vez que leio sobre
uma coitadinha que até é esperta e se safa bem de quem toda a gente tem pena e
com quem toda a gente – do momento, porque o passado é que foi triste,
simpatiza. Toda a gente tem pena delas, toda a gente as acham amorosas, toda a
gente compreende. Bom eu achei que a Susan merecia, de facto, ser bastante bem
castigada. A Lesley pôs-me a pensar sobre o poder de influência que os livros têm
sobre as pessoas. Com este pareceu passar a seguinte mensagem: se tiverem uma
vida triste, se vos humilharem e maltratarem, se gozarem convosco, podem bem
matá-los que os vossos amigos verdadeiros perdoam-vos e continuam a chorar
lágrimas amargas por vocês. (PS – A Beth não era assim tão amiga da Susan,
geralmente fala com ela retorcida e com azedume, meio seca e céptica e até
invejosa por a outra ter tido mais sorte/à-vontade nos relacionamentos
carnais). É que também já me aconteceu. Também já me maltrataram e já me
humilharam. Pessoas trocadas e depois gozadas – com demonstrações de afecto que
vão não se sabe bem onde debaixo das nossas próprias barbas – é um
acontecimento habitual na vida de qualquer pessoa. Há egoístas e imorais e
gozões e pessoas sem um pingo de decência ou decoro nas vidas de todos. E isso
seria, então, razão suficiente para os abatermos a tiro?
Bom,
não revelei demasiado porque começam a haver enredos secundários dentro do
romance, isto não se prende necessariamente com a linha principal. O que quero
dizer é que a Lesley foi demasiado branda com a Susan. Os homens são demasiado
ternos – choram x vezes durante o romance, porque se comovem com tudo. Não digo
que não suceda, mas quais as probabilidades? Mal sei distinguir as duas principais
personagens masculinas, o Steve e o Roy, porque são ambos tolos “ternos” que
choram aqui ou ali. E elas? A Beth e a Susan? Foi-me óbvio que a Lesley lhes
despejou uma boa dose de desgraças de vida para cima (de ambas) para apelar à
nossa pena – do leitor. Mas eu não acho a pena nada de nobre, como me deu a
entender a autora, nem tão pouco digno de admiração. Ultrapassar os motivos que
fazem os outros terem pena de nós sim, é nobre e admirável. Agora admirar
alguém porque cuidou da mãe obrigado, coitado, desgraçadinho… onde é que isto é
digno de alguma admiração? Onde é que o ter-se sido vítimas de desgraças nos
concede o direito de também sermos cruéis?
Enfim,
atribuo três a este livro apenas porque o enredo foi bem pensado e estruturado.
Com cento e cinquenta páginas (e lágrimas) a menos, com os cortes dos momentos
de reflexão/acção (muito pouca) repetidos, teria funcionado bem. Inclusive
emocionei-me quase no final, ri-me um pouco. Mas esperar quatrocentas páginas
para me emocionar… haja paciência!
PS - Ainda assim melhor do que muitos romances da treta que por aí andam, com histórias de caracacá, capas e sinopses (enganadoras) muito apelativas...
Classificação: 3***
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