Sinopse: Em apreciação crítica à
obra de Tolkien cuja edição portuguesa apresentamos, o Sunday Times escrevia
que o mundo da língua inglesa se encontra dividido em duas partes: a daqueles
que já leram O Senhor dos
Anéis e a daqueles que o vão ler. Não se enganava o
crítico ao indicar assim que estamos perante uma obra de leitura obrigatória,
que, sem qualquer sombra de exagero, se insere entre as mais notáveis criações
literárias do nosso século. Situando-se na linha da criação fantástica em que a
literatura inglesa é fértil (lembremos Lewis carrol com a sua Alice no País
das Maravilhas), Tolkien
oferece-nos uma obra verdadeiramente monumental, onde todo o mundo é criado de
raíz, uma nova cosmogonia arquitectada por inteiro, uma irrupção de maravilhoso
que é admirável jogo de criação pura. O sopro genial que perpassa na elaboração
deste maravilhoso, traduzido sobretudo no realismo da narração, deixa no leitor
o desejo irresistível de conhecer «esse» mundo que, como crianças, chegamos a
acreditar que existe. A Irmandade do Anel é o primeiro volume da trilogia O Senhor dos
Anéis, em que se
integram também As Duas Torres e O Regresso do
rei.
Opinião: Isto é um fenómeno que acontece com os grandes escritores. Quando
menciono o que ando a ler, não digo que estou a ler O Senhor dos Anéis.
Digo que estou a ler Tolkien e vejo-o suceder com quem acompanha esta saga em
simultâneo. E justifica-se: trata-se de um mundo à parte, criado totalmente de
raiz pelo escritor britânico. À excepção da Lua e do Sol, nada parece estar no
mesmo sítio. Há criaturas místicas, cenários inventados, lendas imaginadas,
cantigas sobre heróis projectados pelo autor. Vão ouvir falar de um mundo de uma complexidade admirável que tem inspirado tantos autores desde então: elfos, orcs, anões, hobbits, feiticeiros, homens e espíritos. Tudo de modo tão credível que as sombras que os ameaçam e os movem pairam também sobre nós. Há uma viagem interminável neste
primeiro livro, tão realista quanto as descrições do autor a tornam. Há um
mapa deste mundo que foi, por inteiro, imaginado pelo Tolkien. Cinco minutos de
narração deste épico à minha irmãzinha de seis anos foi suficiente para a
manter entretida durante uma trilogia de quase quatro horas cada filme, antes
de se deitar, a vivenciar realmente os receios, as fugas, as urgências das
personagens. E talvez ainda tomada pela emoção do culminar de mais de nove
horas de filme e de uma banda sonora brilhante, em tudo adequada a esta
epopeia, proponho-me a terminar a review do livro.
Quase todo o livro é uma viagem, uma campanha perigosa e fatal para alguns em direcção a Mordor, onde o malfadado anel deve ser destruído. Da minha parte, cheguei a ¾ do livro convencida que lhe atribuiria um 4. À semelhança dos filmes, em que achei o segundo e o terceiro muito mais emocionantes... Acontece que a excelência da Irmandade do Anel é indiscutível, pelo que não me é justo penalizar o autor se os seus três livros são nota 5, visto pessoalmente goste mais duns do que de outros... Muitos alicerces são estabelecidos neste livro em relação à solidez do rumo da trilogia. As personagens são apresentadas: e arrisco dizer que nenhuma se modifica muito ao longo dos três livros. Sam, talvez - e como minha personagem favorita - passa de jardineiro tímido a melhor amigo empenhado, apostado em impedir Frodo de fraquejar. Os hobbits são um pouco caricatos, mas a seu tempo, e já neste volume, vão dando mostras de grande fibra e coragem. Aragorn desdenha um pouco do poder, parece-me, mas não consegue desassociar-se do bem-estar do mundo dos homens, aonde poderia figurar como rei se o reclamasse. Gosto bastante do facto de o Gandalf evoluir em termos de poder, não começa como um feiticeiro poderosíssimo nem é invencível. Nem costuma recorrer, tão pouco, a grandes truques para se livrar de problemas. É interessante o facto de ser um feiticeiro resmungão e não o típico velho sabichão que tudo safa. O Gandalf tem dúvidas, fraquezas – de feiticeiro e de humano – e tantas vezes questiona e duvida do seu próprio juízo. Pede conselho e tem pouco da arrogância e inacessibilidade de outras personagens semelhantes no universo literário e cinematográfico.
Lamento que o Tolkien não tenha feito mais
pelo Sam, creio que tem um papel muito mais importante do que o Frodo na
trilogia. O Frodo segue o caminho que lhe apontam e que é obrigado a abraçar.
Tirando no final deste primeiro livro, creio que não voltará a agir com
sabedoria perante uma encruzilhada. Quanto ao Sam, este escolhe estar com o Frodo até ao fim; não tanto porque se
identifique com a missão que foi atribuída ao amigo (e que lhe destruiria
igualmente o Shire que tanto amam e partilham) mas porque toma aos ombros o
fardo que é totalmente do patrão. Amizades destas, num livro - e sobretudo na
vida real – são raras. Por isso reconheço-a e valorizo-a tanto como eixo chave
sem o qual nem este primeiro volume nem os restantes enveredariam pelos trilhos
em que caminham.
Classificação: 5*****
Ainda não leste os três livros, espera pelo terceiro e depois conversamos sobre o Sam. O papel dele no terceiro filme (valeu um óscar ao actor, acho) dá-te um cheirinho do que ele representa.
ResponderEliminarAtira-te ao segundo.
Caramba, e agora apetece-me reler... outra vez!
Não sei se me vou já meter no segundo, isto dá um trabalhão!
EliminarDá, mas também dá gozo!
EliminarO Sam é uma personagem que cresce muito. No fim é comovente...