Nº 5 - Baunilha e Chocolate
Porquê? Não se deve certamente à qualidade inegável do livro, mesmo porque se coloca no mesmo patamar de tantos outros mas... eu tinha treze ou catorze anos quando o li pela primeira vez. Pareceu-me tudo sofisticado e soberbamente interessante. A avó a ouvir recitais de piano e a declarar que ia fumar até morrer, por muito que isso lhe acelerasse a morte, as cadeiras Chippendale, um professor com uma tartaruga, o universo e a História italianos, nomes quase exóticos - Andrea, Penelope - uma mulher bonita, com a aura das italianas, desrespeitada por um marido infantil e atraente... Mulheres fortes, sedutoras e seguras de si e, ainda assim, sofredoras. A Itália das villas e dos verões, a itália da indústria e da moda... e eu a lê-lo outra vez, e outra, e outra... só pelo prazer de absorver de novo a aura a frescura e doçura da baunilha e do chocolate.
Nº 4 - Chocolate
Li o livro muito antes de ver o filme e - embora com desfechos e enredos ligeiramente diferentes - sou apaixonada por ambos. A Joanne Harris estava num transe inspirador quando o escreveu, certamente. O aroma do chocolate quente, o balcão para onde os aldeões de Lansquenet-sûr-Tannes (numa França até então desconhecida para mim) são misticamente atraídos para os chocolates e os pratinhos e apetrechos Maias da Vianne. E há a sua pequena filha, Anouk, e o seu canguru imaginário. Há os sapatos vermelhos da Vianne no empedrado da aldeia, o desafio que lança a todos ao abrir a La Céleste Praliné - a chocolataria mais badalada de todos os tempos - em plena Quaresma e sob as barbas do Padre Reynaud que, além de velar pelas almas, vela também pelos caminhos e condutas pessoais de cada membro desta pequena comunidade...
Nº 3 - O Monte dos Vendavais
Li-o pela primeira vez este ano e foi um choque literário e emocional. Foi a primeira vez que vi o amor - um amor mútuo e correspondido - ser explorado nesta perspectiva. Por muito que esta obra-prima da Emily Brontë tenha sido publicada em 1847, esta leitora só pousou nele os olhos em 2012. E foi assim que fui absorvida a duzentos por cento pelo amor conturbado - quase doentio, enlouquecedor - da Cathy e do Heathcliff. Tocam-se almas, ultrapassa-se a vida e a morte neste romance arrebatador. O contraste entre o negrume destes actos e a luz dos seus sentimentos, guardados como relíquias e tantas vez silenciado, os diálogos são desconcertantes: Que direito tem uma pessoa que ama outra de a privar do seu amor? De os privar a ambos da luz desse amor? Foi esta a reflexão mais profunda a que este livro me conduziu. Não é a história de um pai enraivecido que separa dois apaixonados: é a história de uma apaixonada demasiado ambiciosa, arrogante e estranha a si mesma para compreender que dele depende toda a sua felicidade, e assim os condena a ambos a penar pelo outro numa separação imposta por si mesma.
Nº 2 - A Praia do Destino
Tinha dezasseis anos quando o comprei. Como nunca nadei em dinheiro, foi a primeira vez que me permiti a extravagância de comprar um livro de um autor que me era estranho. Que é como quem diz: poderia vir a odiar o livro, mas a sinopse venceu-me. Era sobre uma menina de quinze anos envolvida num caso amoroso com um médico casado de quarenta e um. Somem a isto o facto de estarmos em 1889 e compreenderão a amplitude do escândalo. Os cenários criados pela Shreve são únicos: a Olympia é quase palpável, o Haskell é-nos um homem de carne e osso - com cheiro, sólido, real. A praia de Fortune's Rocks estende-se aos nossos pés. O fulgurante círculo de intelectuais que rodeia o pai da Olympia - e do qual John Haskell faz parte - cativa-nos e entretém-nos em igual medida. A tuberculose ataca as fiações desta pequena povoação. Boston é rígida no julgamento. A Olympia ainda está sentada no alpendre de casa e ainda há um convidado que adquiriu a recente modernice que é a máquina fotográfica. A mulher do Haskell ainda tem hálito a hortelã e ele e a Olympia continuam ambos continuam estáticos, congelados e presos na eterna vergonha do momento que dita a dimensão da sua futura desgraça...
Nº 1 - E Tudo o Vento Levou
Creio que a Scarlett O'Hara é, literariamente
falando, tida como uma "anti-heroína". Na compreensão que tenho desse
termo concluo que tal se deve aos muitos erros de carácter que a compõem.
Aliás, à falta de carácter que tantas vezes a assiste. Na realidade, são
precisamente esses erros que fazem dela a minha heroína favorita da
literatura, ou não fosse ela uma mulher de armas como não há outra!
Casa-se com homens que despreza primeiro para curar um amor não-correspondido e
depois para salvar a família da miséria. Tem uma mente lógica e matemática, é
vulnerável nos momentos menos prováveis e surpreendentemente forte quando todos
se deixam ir abaixo. É tão teimosa que passa metade da vida iludida a respeito
de um homem que, vai na volta, seria sempre indigno da sua força. E acorda
tarde demais - como tantos acordamos - para o que parecia estar-lhe
destinado... Diálogos inteligentes, uma complexidade temporal, caracterizadora
e descritiva (sobretudo das emoções e do coração humano) sem igual e uma
sensibilidade e crueza raras em autoras femininas. Uma mulher que escreveu
sobre guerra e amor na mesma medida, e que os elevou a ambos à excelência. A
ser relido centenas de vezes... sem dúvida o livro da minha vida!
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