quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

9# A Rapariga que Roubava Livros



Título oficial: The Book Thief @ 2013

Realizador: Brian Percival
Banda Sonora:  John Williams
Actores principais: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson
Classificação IMDb: 7,7
Minha classificação: 9


Et voilà! Talvez seja este o segredo para se gostar realmente de um filme. Nada de expectativas. Já ouvi falar imenso do livro, está inserido no PNL e já o folheei algumas vezes na livraria, contudo o preço (PVP 22,21€) desmotivou-me. Além disso, por muito que a estética da Segunda Guerra Mundial (e a temática, e os pormenores sórdidos) me interessem, como boa amante de História, dou-me agora conta de que fujo de livros a esse respeito. Se pensar nisso, li um “Noivas de Guerra”, numa Itália que desistiu da aliança com os Alemães e se vê ocupada pelos Britânicos num clima de “light romance”, e “O Grande Amor da Minha Vida” (que tristeza de título, sobretudo se comparado à grandiosidade da história que encerra e ao título original, “The Bronze Horseman”, passado numa Leninegrado cercada pelos Alemães. Fugi da Anne Frank e doutros clássicos em torno dos horrores desse conflito. E fugi também deste livro, mesmo porque a capa não me parecia apelativa.
Sendo a actriz principal deste filme (12 anos) lindíssima, não consigo tirar os olhos desta nova capa, e certamente que vou adquirir o livro. Estou ansiosa por lê-lo. Para começar, a Morte é o narrador da história. Imaginem as atrocidades deliciosas – tocantes, angustiantes – que esta morte complacente diz. Por muito que a banda sonora do John Williams tenha ajudado, foi óbvio, desde a primeira cena do filme, que vinha aí um filme com uma narrativa fortíssima. Daquelas que recordam os livros que tanto nos impressionaram por terem sido os primeiros, ou por terem sido lidos quando éramos demasiado pequenos para os compreender. E, conforme a história avançava, e a humanidade se expandia, a beleza se adensava, por diversas vezes senti que estava perante algo de maior. Algo de grandioso e de inesquecível. Há muito tempo que não me via perante uma história assim. A II Grande Guerra é sempre um tópico que, decerto, mexe com o imaginário e a sensibilidade de qualquer criador de arte. Escritores e cinematógrafos entre estes, e é por demais tentador criar algo novo – sem que seja realmente novo – a seu respeito. Mas este livro é novo. Esta Liesel (Sophie), adoptada devido às simpatias comunistas da sua mãe, num contexto em que o cerco doentio dos nazis se fecha, é inesquecível. Este Hans (Geoffrey), cujo coração “é mais leve do que o de uma criança”, a sua relação com esta esposa, Rosa (Emily), que de viver uma existência tão dura parece tão amarga e depois, mesmo perante situações dolorosas, desabrocha para uma bondade inesperada, são inesquecíveis. O Rudy, cujo “cabelo ficará para sempre da cor dos limões”, é o melhor amigo que qualquer menina arisca gostaria de ter, e o Max é aquela pessoa que surge na nossa vida para que nos desafiemos, a cada dia. Para que nos obriguemos a ser mais e a nos posicionarmos, mesmo em tempos em que uma palavra ou um silêncio determinam a diferença entre o sobreviver ou o estar-se condenado.

A ternura que se desprende destas pessoas, que pouco mais têm do que umas às outras e às promessas que têm de cumprir, recorda-nos da força do amor como verdadeira pólvora numa guerra, actuando como matéria de união, coragem e sacrifício. O certo e o errado vistos por outro prisma, os pequenos gestos como algo de decisivo e perpétuo, capaz de mudar vidas, de findar existências. E não esquecer o papel, a doçura, dos livros como cura para os corações quebrados e as almas inquietas.
Em Fevereiro vou adquirir o livro para voltar a Heaven’s Street. Já começo a sentir saudades destas pessoas tão tridimensionais.

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