quinta-feira, 19 de março de 2015

#125 JARDIM, Pedro, O Monstro de Monsanto


Sinopse: Uma rapariga encontrada morta na floresta de Monsanto. Um delicado vestido azul a cobrir o corpo. O cabelo cuidadosamente penteado. Uma máscara de papel branco com um poema de Florbela Espanca sobre o rosto. É este o cenário que Isabel Lage, inspetora da Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, encontra no local do crime. A primeira vítima de um serial killer que não deixa pistas, que habilmente se move pela floresta e que parece conhecer todos os passos da polícia. Isabel está apostada em resolver este mistério e fazer justiça em nome das mulheres que morrem às mãos de um assassino frio e calculista. Mas todas as pistas levam a João, o seu antigo companheiro de patrulha, e com quem partilhou mais do que aventuras profissionais. Pedro Jardim, chefe de polícia com experiência em investigação criminal, traz-nos no seu romance de estreia um thriller empolgante e arrebatador que nos prende até à última página. Pode haver um monstro em qualquer um de nós...

Opinião:   Interessei-me pelo livro sobretudo pelo trabalho gráfico da capa e pelo título português. Imaginar um monstro no nosso Monsanto, um mistério a ser resolvido à maneira portuguesa, foram isco suficiente para decidir que queria este livro. Já o tinha na mão quando começaram as polémicas. Confesso que só depois de “encomendar” o livro me dispus a ler as reviews, e fiquei de pé atrás. Os leitores do Goodreads ajudam-me, através das suas opiniões, a escolher onde investir o meu dinheiro e o meu tempo. Pus-me a ler o livro de imediato assim que me chegou, e de facto entendi a que se referem as pessoas a quem esta obra não cativou.
Os meus apontamentos aquando da leitura incluem:
- Incongruências a nível da escrita, ora brejeiro, ora numa tentativa esforçada de ascender a um nível literário superior. Esta dicotomia não funciona;
- O personagem masculino principal soa a bronco, ora utiliza terminologia lisboeta ora se sai com expressões alentejanas que não caem nada bem naquele linguajar, de rolas a mitras, parece-me tudo pouco homogéneo e pouco natural;
- No centro da acção, surgem pensamentos filosóficos que em nada se enquadram no momento, além das gralhas e dos tempos verbais desfasados;
- Às vezes parece que a personagem principal se mescla com o autor e tenta explicar, de um modo um tanto atabalhoado, o mundo da polícia, explicados por floreados;
- As frases, por vezes, surgem mal articuladas, o que me sugere que a editora deveria ter tido mais cuidado com a correcção do livro, não foi cuidada o suficiente;
- Clichés como “bons da fita” e “maus da fita” sucedem-se sobretudo na primeira parte da narrativa;
- Estereótipos surgem e enfraquecem a narrativa, sejam de cariz sexual, “homens”, “mulheres”, e também ter uma Psiquiatra e um paciente a referirem-se aos utentes dessa especialidade como “malucos” soa-me redutor e ofensivo;
- A dado momento, posto que o livro é narrado na primeira pessoa, as incoesões atropelam-se. Que uma pessoa se considere um monstro, ou uma feiticeira, muito bem. Que não o confesse a ninguém, okay. Mas que os outros, sem ouvirem essa confissão, também se lhes dirijam como “monstro” e “feiticeira”, é impensável.
- Três das personagens têm personalidades duplas, o que é altamente improvável e demonstra pouca versatilidade por parte do personagem. O livro torna-se repetitivo.
A escrita não é má, o autor tem bons rasgos de expressão. Mas o problema e sobretudo no modo como conduz o romance, não nos dando a chance de tentar adivinhar quem é o suspeito, reduzindo as personagens a loucos e vítimas de transtornos complicados de se lerem à luz da realidade.
Faltou realismo, suspense, mistério a este livro. Um terço dele foi desperdiçado na vida privada de dois polícias e sem grande crime a ser desenvolvido. As mortes que a sinopse enaltece surgem na página 115, quase a meio do livro, e sucedem-se apressadamente. Fala-se da primeira, da segunda, da terceira, etc. Explica-se um pouco dos procedimentos e entende-se que o autor é exímio nesses conhecimentos, mas precisa de trabalhar melhor o planeamento do livro, de modo a captar o leitor.
Este não me cativou, infelizmente.
  
Classificação: 2**/*****

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