Realizador: Sam Taylor-Johnson
Actores principais: Dakota Johnson, JamieDorman
Classificação
IMDb: 4,3
Minha
classificação: 2,5
Este é o espaço onde partilho opiniões sobre filmes que gostei/não gostei. Só
posto os que considero dignos de serem mencionados, para o bem e para o mal.
Não faço disto um diário da minha vida filmográfica. Para poder falar por fim
com conhecimento de causa, submeti-me a duas horas de Fifty Shades of
Grey, apenas para concluir que o panorama geral é ainda pior do que eu
imaginava. Senti que, à parte da banda sonora, nada funcionou no filme.
Partindo de um livro tão pobre, a Sam Taylor-Johnson não tinha muito por onde
se virar. Mesmo porque é sabido que a própria E.L. James não deixou de dar
palpites sobre o filme. Isso transparece: a pressão posta em cima do filme,
para que funcionasse, e dos actores, para que tornassem credíveis diálogos
embaraçosos, de tão absurdos, é evidente.Tive pena do Jamie Dornan, que é
acusado de ser mau actor neste filme, por não saber pôr mais afinco nas
chicotadas que dá à princesinha Steele. Também, ao contrário do que já tenho
ouvido dizer, tenho pena da Dakota Johnson. Parece-me uma menina doce e até um
tanto tímida, o que a terá tornado a pessoa ideal para assumir o papel da
cabeça-oca da Anastasia Steele. Porém, a estupidez é tamanha que acaba por
prejudicá-la também. Como ser-se bom actor com uma pobreza de argumento destas?Eu
e a minha irmã assistimos à versão não-explícita do filme juntas. Agora virem a
cara porque vão chover spoilers:a) Foram inúmeros os silêncios
incómodos que nos obrigaram a soltar risos;b) O filme começa muito mal mesmo,
com as incongruências a atropelarem-se umas às outras. Desde os lugares sempre
livres à porta do edifício do Grey, ao lugar livre à porta da loja onde ela
funciona, à química inexistente entre os actores.c) As personagens são
uni-dimensionais, do género que povoavam os meus rascunhos de aspirante a
escritora na tenra adolescência. Nessa altura a melhor amiga só servia
para ser inconveniente e nos lembrar que estávamos apaixonadas por fulano tal, o
irmão do nosso namorado era o par perfeito para a melhor amiga/irmã solteira, a
mãe estava convenientemente afastada para dar uma mobilidade facilitada à jovem
heroína, que com a mãe à perna não se poderia meter em aventuras. O
rapaz principal era sempre muito novo, muito rico, muito perturbado com a
infância e havia sempre um traço físico que fazia com que isso viesse à baila:
uma cicatriz no sobrolho, uma queimadura no braço. E poderia continuar para sempre.
b) Falas
tipo "I don't make love, I fuck hard", ou "I want to fuck you in
the middle of next week", ou "I don't do romance", ou "Like
where you keep your Xbox?" ou "This is my red room of pain" ora
me punham a rir, ora me embaraçavam. Tive genuína pena dos actores e não
entendo como se submeteram a tamanho flop nas suas carreiras.
c) Ele não
é controlador, ele é doente. Há uma
diferença. O Moisés, que assassinou a ex-mulher (Carla Santos) depois de anos a
segui-la e a espiolhar-lhe a vida toda, não era controlador, era doente.
Apanhou 20 anos de prisão.
E tudo deve
ter começado assim...
d) Da segunda
vez que o casal maravilha se vê (se não fosse a óbvia pressão para o Jamie
Dornan olhar a moça e dizer "I am looking [at you] eu não adivinharia que
vinha aí um relacionamento entre duas pessoas, e ficaria à espera da
"faísca", que nunca vem) eu ainda não sentia qualquer conexão entre
os dois protagonistas. Contudo, o Mr. Grey já tinha a mioleira a fervilhar, e
já lhe estava a perguntar quem era o fotógrafo e o patrão, e etc., etc. Eu e a
minha irmã olhámos uma para a outra e gritámos: FOGE!
e) Pouco
depois, na embaraçosa cena em que ela lhe liga, bêbeda, já ele assumiu que é
pai dela (sem beijo, sem qualquer romance a insinuar-se). E não é um pai
qualquer, é um pai com direito a palmadas, então adivinha onde ela está (o
filme não se importa de explicar, assume que todos os que foram assistir tiraram
a quarta classe para poder ler o livro), e vai atrás dela. Numa cena nada
encenada, onde prima a naturalidade com que os acontecimentos se intercalam,
durante a película, o amigo dela (porque não um estranho???) está a tentar
beijá-la. Que conveniente para que ele venha salvá-la! Awwww!
f) O filme é um
cliché pegado, polvilhado do mau gosto aterrador que creio que seja a essência
do livro. Para alguém que não saiba o que está por detrás de tudo isto, e que
veja o filme como coisa independente e tente daí extrair algo, o que vê? Uma
rapariga desastrada, intimidada pelo homem muito rico (ah, ela é virgem!),
que ao longo do filme exibe a sua riqueza com uma garagem cheia de
carros, uma enorme colecção de gravatas, um helicóptero privado, um apartamento
grande onde tudo reluz e não há qualquer marca de personalidade, um paralelo
óbvio com o "vazio" da vida do Grey antes de conhecer a Steele, um
piano que ele toca (composição mais óbvia não há, reconheci-a de imediato),
programas fora do comum. Em 1990 já havia um filme igual: chamava-se
Pretty Woman, mas de algum modo o Richard Gere tratou a prostituta melhor
do que o Mr. Grey, e a Vivian (Julia Roberts) tem mais amor-próprio e dignidade
que a virgem deste filme.
g) A tal
ideia da BDSM só é absurda (e nunca revolucionária, e muito menos o sexo é
revolucionário neste filme, se quiserem dou-vos uma lista de bons filmes que
metem cenas de sexo, ou mesmo livros) na medida em que ela é uma ignorante que
não faz ideia de onde se está a meter. Não basta ele querer decidir tudo a
respeito da sua vida, o que lhe anula o livre arbítrio e a torna uma sombra
doutrem, ainda quer agredi-la e magoá-la fisicamente. Preferia não
ter sabido de nada disto. Só consigo imaginar as mamãs a mascararem-se e a
porem-se a jeito para os maridos lhes darem umas palmadas nas nádegas. Que
elas pediram (ok, ao menos isso, ao contrário do filme). Acho muito
bem que as pessoas sejam abertas quanto à sua sexualidade, dialoguem e até
levem palmadas ou lhes façam chichi em cima, se é a cena delas. Mas de repente
meterem palas nos olhos por causa dum livro miseralmente escrito, equipararem a
situação a uma revolução sexual e esgotarem as prateleiras de tampões anais das
sex shops internacionais já me assusta um bocado... Então foi preciso que
viesse esta cegueira para descobrirem que tinham rabo? Foi preciso o Fifty
Shades para que se dessem conta que há gente que gosta de pôr trela e
levar açoites? E de repente já está tudo bem, porque é disso que fala o único
livro que leram na vida? Absurdo. Hipocrisia total.
h) Na
parte em que ela se inclina e ele lhe aplica seis valentes açoites com um cinto
de couro no rabo, experimentei uma estranha satisfação. Uma parte de mim dizia
"Vêm? Vêm como a mulher fica numa posição que a rebaixa e, quer queira
quer não, há pouca igualdade nesta situação? Vêm que dói e que até a atrasada
mental da Steele entendeu que ele é doente mental por procurar arrastar uma
pessoa como ela para um mundo que só ele domina (e é dominador, foi sem querer,
este twist)?" E pensei: OK, ela aprendeu. Mas não, ela não
aprendeu, porque vêm aí mais dois filmes. Suponho que, a dado momento, ela
volte a agachar-se para ele a sovar.
i) Sabem em que
pensei, enquanto o Jamie Dorman expelia o ar dos pulmões para transmitir a
sensação de alívio que esta personagem mal enjorcada da E.L. James conforme
descia o cinto nas nádegas da pobre burrinha? Que há tanta beleza num homem que
cuida, que se preocupa, que seria incapaz de nos magoar, fosse como fosse, e
que se odiaria se nos causasse qualquer espécie de dissabor...
Este Grey é
o oposto daquilo que um homem deve ser, na minha opinião de jovem de 25 anos,
solteira, que se calhar vai passar a vida toda à espera que um grande amor me
arrebate. E isto é o oposto da história da Cinderela. É-me chocante que sejam as mulheres as principais consumidoras
deste produto de caca. É-me chocante que uma mulher absolutamente medíocre como
a E.L.James tenha o nome sabido em todas as tascas por causa de um livro que
começou doutro tão mau ou pior, e que evoluiu para este histerismo colectivo e
infundado. Uma britânica que escreve sobre americanos com expressões
britânicas. Uma mulher que não sabe escrever, nem tem imaginação, nem sabe do
que fala.
Enfim, é o mundo que temos.
E outras E.L. James virão, porque o povão está aí para papar
e adorar.
Que fique claro que não lhe dei 1€ seja com os livros, seja com o
filme.
Querida Célia, já viste "A Secretária" (2002) com o fabuloso James Spader e a Maggie Gyllenhaal? Eu por acaso só vi depois de ver 50 shades (uma versão parecida à tua xD) e vi imensas semelhanças. Quando ouvi comparações com Twilight, salvo raras situações não via nada de crepuscular em 50 sombras... mas ao ver o filme de 2002 que te falo, vi: 1) o nome Grey, 2) BDSM (ou tentativa de, no caso da James), 3) ela é uma secretária - ao início é atadinha (como a Steele) e depois floresce e é ela quem pede para ele a açoitar - tudo com muito controlo porque ele sente repugnância pelo prazer que deriva das palmadas que lhe dá... Se não viste, experimenta ver, porque ainda me ri com o que vi. Não há sexo, há sim as lutas interiores das personagens face ao BDSM (ele como dominador, que odeia, e ela submissa, que adora!).
ResponderEliminarPara romance, que foi o que eles tentaram fazer com 50 shades, falaste bem: existe um clássico dos anos 90, Pretty Woman, e não mexe mais :)
Em todo o caso, a fama e o dinheiro já não tiram ao filme e aos que nele actuaram.
nos últimos anos as editoras estão a apostar cada vez mais em livros que são leves e fáceis de ler. Cada vez mais eles aproveitam o facto de muitas pessoas terem fracos hábitos de leitura. Por isso o sucesso do 50 shades não surpreende e se a isso juntarmos falar de sexo que é algo que vende então percebemos o porquê desta loucura.
ResponderEliminarEu só consegui chegar a meio do segundo livro, estava farta pois nada no livro era razoável, eu já nem digo bom. Quanto ao filme também o vi e lamento as duas horas que perdi e jamais recuperarei. Eu já ia à espera de algo mau, mas o filme foi bem pior do que aquilo que imaginara. Gosto do Jamie Dorman e doeu ver que o seu desempenho era muito fraquinho. Achei a Dakota melhor do que ele.