segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Em Parte Incerta - Introdução à opinião

Este livro está a confundir-me imenso. Estou num ponto em que nem sei dizer se estou a gostar ou não. Lê-se com grande facilidade, mas não é bem uma degustação, nem um sorver de páginas. É mais “eh, é tão levezinho que desce bem”. É estranho, como se estivesse perante algo que não é muito coeso. Pressinto mais mudanças ainda. Vou tentar explicar de modo a não revelar demasiado:
No dia em que o Nick e a Amy comemoram o seu 5º aniversário de casados, ela desaparece de casa. A sinopse afirma-o, é verdade. Em seguida ele parece suspeito pelo seu desaparecimento (até aqui é apenas uma “leve nuvem de suspeita”). A irmã vai ajudá-lo (até à página 157 ainda não parou de fazer piadolas no bar, mal apareceu).
O livro é um bocado inquietante. O enredo parece realista, contudo são as personagens que se apresentam deslocadas. Estamos dentro da cabeça de Nick e ele não parece desesperado por não saber do paradeiro da mulher. Pensa em mil e uma coisas mas não é assombrado por aquilo que me assombra desde que o meu gato desapareceu. Onde está? O que aconteceu? Estará vivo? Estará morto? A autora vai acalmando esta ânsia do leitor - então mas este homem não quer saber da mulher? - dando a entender que o Nick ainda está atordoado. A irmã avisa-o que devia fazer uma cara mais “preocupada”, mais “desolada”, mas ele diz que ainda não interiorizou bem as coisas. Eu acho que este homem não ama esta mulher. É algo que me entedia nos romances contemporâneos. Pelo quer que seja que se esteja a dissertar, há sempre intervalos para se falar do trânsito, das grandes urbes, das manchas de tomate nos cortinados, da má qualidade dos motéis, dos telemóveis desligados em momentos cruciais.
Quanto à Amy, identifico-me com ela. Ela luta por silenciar a mulher que há em si. Tenta não aborrecer o marido, deixá-lo em paz, não o questionar demasiado. Aceita e respeita a maneria de ele ser, perdoa-lhe os silêncios a respeito de assuntos importantes e as noitadas de bebedeira. Diz que não quer ser uma dessas mulheres que fazem barulheira e amestram os maridos. Esforça-se demasiado e acaba por se deixar perder sempre. Mas esta mulher guarda segredos, sim. Há algo nela que grita por libertação. Vejamos o que vem a seguir.
É a linguagem um tanto ou quanto infantil que me aborrece. O modo como o suposto mistério se intercala com a vida de classe média alta que este casal viveu em Nova Iorque, e a vida bem mais recatada que adoptaram no Missouri. Entendo a Amy, que perdeu as rédeas da sua existência. Vê-se arrastada para uma vida que não é bem a que tinha imaginado, e fá-lo por amor. Mais do que por amor, ela guarda a imagem da relação perfeita dos pais na ideia, e até aqui não fez nada que destabilizasse a harmonia do seu casamento. Submete-se ao que for preciso, e isso trá-la amarga e insatisfeita.
Agora é ver a que é que esse estado leva porque, entretanto, só me pergunto o que é que esta mulher linda, rica e inteligente está a fazer com este idiota egoísta que é o Nick.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Aquisições e Leituras para 2014

Porque, em 2014, ainda não nada de jeito e estou a dar em maluca, obrigo-me a estas coisas.

No primeiro trimeste do ano passado, cheguei a comprar 9 livros num mês (não estou certa de estar a falar apenas da Feira do Livro). Como tal, tenho as prateleiras cheias de livros que nunca tive tempo de ler. De vez em quando recordo-me doutro livro que tenho e ignorava a sua existência. Vou prometer que leio os seguintes livros este ano:


A Rapariga que Roubava Livros: vi o filme e fiquei maravilhada. Como resultado, estou só à espera do final do mês para me atirar à leitura desta obra. Estou certa de que será algo de maior.

Sinopse: Esta história decorre num pequeno subúrbio de Munique, em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial. Vive-se um dia a dia difícil, e os bombardeamentos são cada vez mais frequentes. Mesmo assim ainda há quem não tenha perdido a capacidade de sonhar. A Morte, a narradora omnipresente, cansada de recolher almas, observa com compaixão e fascínio a estranha natureza dos humanos. Através do seu olhar intemporal, seguimos a história de Liesel, dos seus pais e de todos os seus amigos e vizinhos, incluindo Max que um dia veio viver na cave da casa da menina que roubava livros. Adquirido.



Doutor Jivago: Ora vá lá, Célia. Lembra-te que o adquiriste de lágrimas nos olhos na happy hour da Feira do Livro de 2013, que o PVP é de 29,90€ e que te custou metade desse valor. Já que o querias tanto, o mínimo que podes fazer é abri-lo e lê-lo!
Sinopse: A grande saga épica e maravilhosa da Rússia da primeira metade do século XX, atra-vés da história de Iuri Jivago, que o cinema também imortalizou. Edição comemorativa do cinquentenário da obra-prima de Boris Pasternak e da atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao seu autor. Pela primeira vez traduzido directamente do russo por António Pescada. Adquirido




Tatiana and Alexander: O que se diz é que o livro sai em Abril. Anteriormente estava previsto sair em Setembro de 2013. Concluo que as editoras não gostam de ganhar dinheiro. Esta trilogia, enorme e não propriamente barata, poderia morrer na praia com tanto adiamento. Estive tentada a comprar o livro no bookdepository umas quantas vezes. Por muito tentador que seja, tendo adquirido o primeiro, vou aguardar pelos próximos. Também disseram que haveria um filme a sair sobre esta trilogia. Espero bem que sim, porque foi a melhor história de amor que li desde E Tudo o Vento Levou e O Monte dos Vendavais. A adquirir.



Drácula: Agora veremos em que edição. Esta obra de Bram Stoker pode ser adquirida numa edição da Europa-América (normal e de bolso), e é isso. Pronto. Centenas de livros com vampiragem na capa, de autores nacionais e internacionais, séries, filmes e sagas, e é isto. Do autêntico, só duas edições que nem devem muito à estética. Rezava para que saísse uma nova, tenebrosa q.b., para que eu pudesse finalmente ser tentada a lê-lo. Vá lá, editoras... Deixem-se de décimas edições da Anna Karenina e invistam neste. Tenho a edição em inglês da Penguin, mas não me aventuro. A adquirir



Maria Antonieta: Há muitos autores a narrar a história da controversa rainha que perdeu o pescoço na guilhotina. Há até aquele filme da Sofia Coppola igualmente controverso. Parece que ainda não existe uma versão ideal sobre a vida desta rainha, visto que continuam a surgir novas. Peguei por este trabalho do século XX, da autoria do meu querido Stefan Zweig. Vou na página 233 de 416. O Zweig é tão minucioso e tão preciso que a leitura não é fluída, é sim carregada de informações históricas que obrigam a um processamento constante. É por isso que adio a conclusão desta leitura, que no final terá um balanço decerto prazeroso. Adquirido



O Menino de Cabul: Tenho prestado atenção aos trabalhos que vão saindo da autoria de Khaled Hosseini, e pretendo estrear-me com este livro (no Goodreads está classificado com 4,20 em 1,058,186 leitores). Há também o filme, do mesmo realizador de À Procura da Terra do Nunca, mas ainda não vi. Lamento apenas a capa, porque transparece um pouco a ideia de livro de auto-ajuda. Se não fosse pelos leitores do Goodreads, nunca teria prestado atenção a esta obra que promete ser um conto moderno de amizade e resistência. A adquirir



Se me for recordando de outros vou acrescentando.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sobre as personagens d'A Filha do Barão

Uma vez que já vos falei das premissas gerais do livro, falo agora das personagens, que são tantas e tão desafiantes. Sem revelar demasiado, apresento-vos:

Mariana (14 anos no início do livro): não se dá com facilidade, confia no pai e no pai somente. Não entende a frieza da mãe e não consegue esforçar-se para ser o que D. Sofia espera de si. Encontra conforto na maternalidade da velha ama, Nuna. Descobre no Douro um refúgio onde, longe dos olhares de censura da Lisboa aristocrática onde cresceu, pode finalmente correr e viver uma infância desde sempre reprimida.

Daniel: filho de um escriturário da Cornualha, tem um verdadeiro dom no que toca a multiplicar fundos. Despreza a aristocracia e é um homem do povo. Testemunha o modo de ser português com um misto de estranheza e fascínio. Quer investir no vinho do Porto e é nesse contexto que se torna amigo de D. João.

D. João: Detém o título de Barão devido a um favor secreto que o seu avô terá prestado a Sua Majestade Fidelíssima. Com o declínio da nobreza, obrigou-se a prestar atenção aos tempos. Investiu no negócio de mobiliário e viajou várias vezes até à Índia. Dando-se conta de que a peste cinzenta lhe corrói os pulmões, pede ao seu melhor amigo que cuide da sua única filha, Mariana, e da sua esposa, D. Sofia.

D. Sofia: Deixa Lisboa contrariada. Perdeu o afecto do marido para uma criança que considera mimada e desadequada. Está determinada em tomar as rédeas do novo lar, vingando-se da sua má sorte nas criadas e em Mariana, sempre que pode.

Além deste núcleo principal, ainda temos:

Nuna: Velha ama de D. Sofia, cuida de Mariana com carinho mas não poupa nas reprimendas.

Artur: Velho caseiro do Lodeiro, no Douro. Tem um jeito engraçado (indecifrável) de falar e é inoportuno. Tudo o que lhe vem à cabeça é dito.

Isabel: Portuense, viúva, foi amante de Daniel e gozou da sua protecção contra o tio abusivo. Vê-lo partir para cumprir a sua promessa a D. João significa perder o seu grande amor e voltar para o domínio doentio do tio.

Gustave: Francês, foi posto a combater por Napoleão. Desdenha do exército francês e das suas tiranias. Marcha com Aleksander (Olek), um polaco que é obrigado a arriscar a vida pelas ambições Napoleónicas. É ao decidirem desertar que as suas vidas entram em rota de colisão com as dos habitantes do Lodeiro.

E ainda, entre os serventes:
Zé, Jaime, José, Moisés, Tristão, Joaquim, Aida, Gracinda, Maria e Miriam. 
Os familiares:  
Manuel e Eugénia, Ada e Elizabeth. 
Os amigos/conhecidos: 
O Governador do Porto, o irmão do Governador (Henrique), Duarte,  Conde de Peniche, Condessa de Peniche e o seu séquito de filhos, o Professor Jardim, a prostituta Emília, os monges de Arraiais e o Bispo do Porto, Anthony St. Clair e outros membros da Feitoria Inglesa no Porto.

Não esquecer algumas figuras históricas que fazem pequenas aparições:
Junot, Domingos Sequeira, Napoleão, Vieira Portuense, Wellesley, Cradock, Soult.



Por isso, se calhar, manter um bloquinho conforme se for lendo. Especialmente entre os criados é difícil seguir o rasto a tantas intervenções. Bem me custou criá-los, moldá-los, dar-lhes alma própria.

Espero que os amem/odeiem.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

9# A Rapariga que Roubava Livros



Título oficial: The Book Thief @ 2013

Realizador: Brian Percival
Banda Sonora:  John Williams
Actores principais: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson
Classificação IMDb: 7,7
Minha classificação: 9


Et voilà! Talvez seja este o segredo para se gostar realmente de um filme. Nada de expectativas. Já ouvi falar imenso do livro, está inserido no PNL e já o folheei algumas vezes na livraria, contudo o preço (PVP 22,21€) desmotivou-me. Além disso, por muito que a estética da Segunda Guerra Mundial (e a temática, e os pormenores sórdidos) me interessem, como boa amante de História, dou-me agora conta de que fujo de livros a esse respeito. Se pensar nisso, li um “Noivas de Guerra”, numa Itália que desistiu da aliança com os Alemães e se vê ocupada pelos Britânicos num clima de “light romance”, e “O Grande Amor da Minha Vida” (que tristeza de título, sobretudo se comparado à grandiosidade da história que encerra e ao título original, “The Bronze Horseman”, passado numa Leninegrado cercada pelos Alemães. Fugi da Anne Frank e doutros clássicos em torno dos horrores desse conflito. E fugi também deste livro, mesmo porque a capa não me parecia apelativa.
Sendo a actriz principal deste filme (12 anos) lindíssima, não consigo tirar os olhos desta nova capa, e certamente que vou adquirir o livro. Estou ansiosa por lê-lo. Para começar, a Morte é o narrador da história. Imaginem as atrocidades deliciosas – tocantes, angustiantes – que esta morte complacente diz. Por muito que a banda sonora do John Williams tenha ajudado, foi óbvio, desde a primeira cena do filme, que vinha aí um filme com uma narrativa fortíssima. Daquelas que recordam os livros que tanto nos impressionaram por terem sido os primeiros, ou por terem sido lidos quando éramos demasiado pequenos para os compreender. E, conforme a história avançava, e a humanidade se expandia, a beleza se adensava, por diversas vezes senti que estava perante algo de maior. Algo de grandioso e de inesquecível. Há muito tempo que não me via perante uma história assim. A II Grande Guerra é sempre um tópico que, decerto, mexe com o imaginário e a sensibilidade de qualquer criador de arte. Escritores e cinematógrafos entre estes, e é por demais tentador criar algo novo – sem que seja realmente novo – a seu respeito. Mas este livro é novo. Esta Liesel (Sophie), adoptada devido às simpatias comunistas da sua mãe, num contexto em que o cerco doentio dos nazis se fecha, é inesquecível. Este Hans (Geoffrey), cujo coração “é mais leve do que o de uma criança”, a sua relação com esta esposa, Rosa (Emily), que de viver uma existência tão dura parece tão amarga e depois, mesmo perante situações dolorosas, desabrocha para uma bondade inesperada, são inesquecíveis. O Rudy, cujo “cabelo ficará para sempre da cor dos limões”, é o melhor amigo que qualquer menina arisca gostaria de ter, e o Max é aquela pessoa que surge na nossa vida para que nos desafiemos, a cada dia. Para que nos obriguemos a ser mais e a nos posicionarmos, mesmo em tempos em que uma palavra ou um silêncio determinam a diferença entre o sobreviver ou o estar-se condenado.

A ternura que se desprende destas pessoas, que pouco mais têm do que umas às outras e às promessas que têm de cumprir, recorda-nos da força do amor como verdadeira pólvora numa guerra, actuando como matéria de união, coragem e sacrifício. O certo e o errado vistos por outro prisma, os pequenos gestos como algo de decisivo e perpétuo, capaz de mudar vidas, de findar existências. E não esquecer o papel, a doçura, dos livros como cura para os corações quebrados e as almas inquietas.
Em Fevereiro vou adquirir o livro para voltar a Heaven’s Street. Já começo a sentir saudades destas pessoas tão tridimensionais.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Coisas que um autor gosta de ouvir

Porque também há coisas que um autor não gosta de ouvir.
Mas hoje é dia de partilhar qualquer coisa de bom.

Com A Filha do Barão nas livrarias de amanhã a uma semana, está na hora de analisar o lado bom de nos expormos ao lançar livros. Um livro é algo de muito íntimo, de muito nosso (do autor). Por isso aqui vai o que é bom de ouvir...

DEMÊNCIA (2011)

«Este livro fez-me chorar, rir, dizer palavrões e querer abraçar aquela mulher»

 Lia Correia

«Quase que me parece impossível um livro assim ter sido escrito por alguém com 20/22 anos»

 Maria Nunes

«Não sei o que esperava. Só sei que não esperava isto, nem esperava sentir-me impelida de forma tão definitiva para esta obra. O título é forte, com uma inegável conotação para aquilo que é frágil, limitado, falível - a mente humana.»

Filipa Moreno


«Muito de mim se debateu a ler estas páginas. Estão repletas de dor e alegria, de revolta e piedade, de abismo e milagre. Sentimentos esses que passam para o leitor.»

Phylippa Nights B. (nome no goodreads)

«Foi a primeira obra que li da sua autoria e achei-a deliciosamente apelativa, doce, aconchegante e avassaladora mas, acima de tudo, real e portuguesa!»

Sara Oliveira

«(Ai, quem me dera ter um amigo como Sebastião...)»

Teresa (nome no goodreads)

«é de pressupor que irá ainda evoluir nas suas próximas obras e, se conseguir melhorar, como acredito que consiga, o que já é tão bom, nem quero pensar na maravilha que serão os seus próximos livros»

Joana (nome no goodreads)

«outro tema que me chamou a atenção foram as falsas aparências»

Cata (nome no goodreads)

«A verdade é que li avidamente até ao fim e agora tenho saudades daquelas personagens que conheci, ricas, profundas, com defeitos e virtudes... reais.»

Miguel (nome no goodreads)
 
O FUNERAL DA NOSSA MÃE (2012) 

«Para mim, os dois grandes trunfos deste livro são, sem dúvida, as suas personagens e a capacidade de nos surpreender, mesmo até às últimas páginas.»

Ana (nome no goodreads)


«A meu ver, é no diálogo que jaz a força da escritora em termos de escrita, o que sinceramente não estava à espera visto ser contrário à maioria da minha diminuta experiência com autores portugueses.»

Teresa (nome no goodreads)

«Não quero ser redutor. É um romance maravilhoso e pleno de intensidade. Fala por si.»

Tiago Diogo

«É ao ler obras destas, e ao fechar livros como este que me apercebo que temos realmente autores portugueses fantásticos e que apostamos tão pouco neles em vez de os enaltecermos por aquilo que tão bem fazem.»


Margarida (nome no goodreads)

«O que me deu vontade a certa altura, durante a leitura, foi enfiar-me numa aldeia recôndita deste nosso Portugal e começar a deslindar histórias escondidas, segredos por revelar, enredos ocultos por entre todas aquelas vivências. É um livro que nos faz isso: pensar. Pensar em nós, nas nossas atitudes e, sobretudo, nos nossos erros. Erros que todos, sem excepção cometemos.»

Andreia Silva

«Voltando às personagens – são possivelmente os ovos de ouro do livro. Diversas, com histórias, sentimentos e personalidades que lhes conferem palpabilidade, são de um grande realismo, desde as principais até às mais secundárias. A autora teve sucesso em apresenta-las como aquilo que são: seres humanos; e se por vezes eu sentia desprezo ou vontade de esbofetear alguma, no final acabei por não as conseguir odiar, nem nos seus piores momentos. Interessei-me por elas, quis conhece-las, saber o seu passado e adivinhar o seu futuro – observar o seu crescimento. Algo com o qual não estava propriamente a contar.»

Inês Montenegro

«A autora trouxe-nos um livro cheio de acções humanas, de incidentes que podem acontecer a qualquer um nós e que muitas vezes calamos por orgulho ou vergonha.»

Ana Neves

Com estes comentários, e muitos outros, aprendi que:
- O "show" é sempre preferível ao "tell";
- Criar um elo com a cultura do meu país e do meu povo aproxima o leitor do autor;
- Defeitos, falhas e humanidade são os ingredientes principais para boas personagens;
- Anti-heróis são a minha praia;
- Segundo os leitores, os meus pontos altos são a primeira pessoa (em epístolas, sobretudo) e o diálogo (depreendo que me saia com naturalidade);
- Introduzir parágrafos onde se justifiquem, para facilitar a leitura;
- Pequenos capítulos;
- Evitar cenas sem conteúdo essencial para o desenrolar do enredo;
- Ser ainda mais exaustiva na veracidade das informações passadas, porque um livro tem também um papel informativo e não quero induzir ninguém em erro; 
- Se cada livro que escrever for um bocadinho melhor do que o anterior, dou-me por feliz.

domingo, 12 de janeiro de 2014

#106 CARVALHO, Diana, Memórias de Chocolate

Sinopse: Míriam é uma jovem licenciada em Biologia que encontra o amor a leccionar numa Universidade em Leiria. Após anos de plena felicidade, o casamento com Tiago desmorona-se ao descobrir uma traição num dos melhores momentos das suas vidas. Esta é a história da vida de uma mulher que ultrapassa todos os obstáculos em prol dos que mais ama, deixando-se para último lugar. Uma história que poderia ser a história de várias mulheres amantes da vida.


Opinião: Tive o prazer de ir beber um café com a Diana quando o livro saiu. O título chamou-me à atenção porque me recordou o “Baunilha e Chocolate”, da Sveva Casati Modignani. E, de facto, teve muitas influências dele.
É um pequeno ensaio, mais do que um romance, em torno de uma vida bastante comum. Não há nada de extraordinário no livro, nada de inventivo, embora se denotem os sonhos de uma menina boa. A autora tem uma doçura natural que transborda para as páginas do livro. Este livro são os pensamentos de uma sonhadora. Relata, com um timing que deve ainda ser bem aperfeiçoado, a vida de Miriam e Tiago. Conhecem-se, partilham chávenas de chocolate quente e casam-se. Na página 24 surge a notícia de uma segunda gravidez. Isto para dar a entender que a acção voa. A centena de páginas do livro resume cerca de vinte anos de vida da personagem principal. Recorre-se sobretudo, se não exclusivamente, ao “tell” para fazer avanção a acção. Gosto, sobretudo, da autora ter colocado as circunstâncias da vida como vilão, e não um qualquer personagem ressabiado como surge nas novelas da TVI e nos livros menos realistas.
Esta pequena obra é uma série de lições de vida sobre como aguentar as provações sem nos irmos abaixo nem deixarmos azedar o caldo da nossa essência, não ficarmos maus nem desistirmos de lutar. É um livro muito “certinho”, com muita leveza. Não nos oferece grandes emoções e é apenas um começo. Espero que a escritora, que é uma pessoa super atenciosa, se aventure por voos maiores. Tem algumas deixas (e algumas personagens, como Giovanni, têm até um certo espírito) que deixam antever certo talento. Agora é preciso partir desta pequena introdução ao romance para obras maiores.
Cá te espero, Diana.

Classificação: 2,5**/***

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Filha do Barão


Há muito que queria escrever um romance histórico. A História é a minha grande paixão e a escrita é o meu modo de crescer e de me expressar. Há cerca de cinco anos que investigo o Terramoto de 1755 e, antes de começar a escrever o “1809”, agora apenas “A Filha do Barão”, fiz várias tentativas goradas de começar a escrevê-lo. O terramoto de 1755 é um poço sem fundo de informação. A cada passo que dava, descobria outro estudioso, outro contemporâneo, outro documentário português, europeu, brasileiro, etc., a seu respeito. No entanto, não me sentia com forças de começar esse romance.
Quando comecei a escrever “A Filha do Barão”, tudo o que sabia era que tinha alguns elementos díspares que iria tentar combinar; um inglês empreendedor, o vinho do porto nas mãos dos britânicos, uma jovem teimosa, um casamento arranjado. E era tudo. Sabendo que estava bloqueada quanto ao “1755”, decidi que este livro seria uma experiência. Seria eu capaz de criar algo que me satisfizesse no campo da ficção histórica? Perguntava-me quantas vezes tropeçaria na mesma cena. Enquanto estivessem sentados, de onde era a cerâmica?     Que motivos exibia? Como se dirigiam uns aos outros? De quantos serventes dispunham? Quais as tarefas diárias de um lar? As obrigações religiosas? O traje? As jóias? O esperado de cada estrato social? Adivinhava-se demasiado difícil. Se calhar é por isso que tanta gente opta por pegar numa rainha de vestes opulentas e investigar-lhe a vida ao pormenor. É bem mais fácil dissertar sobre alguém famoso, sobre o qual há tantos rumores e referências, do que criar alguém de raiz e implantá-lo no início do séc. XIX. Contudo, após ler vários capítulos da Gazeta de Lisboa, comecei a mergulhar na mentalidade da época. Uma notícia em especial deu-me alento para continuar: um tal de senhor Manuel morria, aos 104 anos, e conservara todos os dentes. Trabalhara até ao fim. E, com isso, estava o pontapé de saída dado. Acostumei-me aos ofícios, aos dinheiros, à forma de tratamento. Dei alma às personagens e vali-me de inúmeras notas, bem como dos diários da Clarissa Trant, para avançar na trama. Um dos pontos cruciais seria estabelecer um prisma através do qual os britâncios vislumbrassem os portugueses. Foquei-me nas diferenças, nos passados, nas alianças, nas centenas de romances de época que li passados na Inglaterra. Debrucei-me ainda na moda, no progresso, nas ligações políticas entre os dois países, na cozinha, na bebida, nos serões de cavalheiros de um e doutro país. E apaixonei-me; pela época, pelos ideais e por estas pessoas.
De todos os livros que escrevi até agora, é ao reler “A Filha do Barão” que menos me reconheço. Porque este livro foi, mais do que qualquer outro, uma criação minha para mim. Para que eu possa ler aquilo que gostaria que existisse no mercado da literatura portuguesa. Há alguns romancistas históricos no panorama nacional que me afastaram dessas leituras, alguns deles têm vários livros em séries de rainhas, personagens icónicas da nossa História, mas achei-os tão insípidos… As rainhas como mártires, como receptáculos de desgraças e profecias de catástrofes, a estrutura muito habitual, as melancolias da infância e as projecções goradas de futuros. Não me surpreenderam nem me prenderam de modo algum. Noutros casos, a pesquisa histórica estava tão atabalhoadamente incrustrada no livro que se separa, sem dificuldade, a ficção da informação que o autor insiste em despejar naquelas páginas. Confesso que nunca li a Maria Teresa Horta nem a Maria João Lopo de Carvalho, mas os traumas anteriores fazem com que a vontade seja pouca.
Precisava de ir à livraria e encontrar algo que combinasse História - do meu país, de preferência -, erotismo com nível, personagens com conteúdo e um enredo que me prendesse. Não encontrando, sentei-me a escrever sobre este amor construído. Sobre estas pessoas imperfeitas que se esforçam por se aperfeiçoar, por crescer e por fazer face aos obstáculos de uma época conturbada.
No livro abordo não apenas as invasões napoleónicas, mas também a queda da Ponte das Barcas e a partida da família real para o Brasil. São três acontecimentos de grande importância para a nação portuguesa, entrelaçados com a história de Inglaterra, da França, da Espanha e do próprio Brasil. Não foi um momento fácil para me estrear nestas andanças, mas se não encontrasse algo que me cativasse teria sido incapaz de levar este romance a bom porto.
Escrito na íntegra entre Abril de Novembro de 2012, sofreu várias revisões e ajustes. Agradeço à Ana Ferreira e à Inês Montenegro pelos conselhos a seu respeito. Houve muito a desbastar.

Em breve convosco, prometo 575 páginas daquilo que, até hoje, escrevi de melhor. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

8# 12 Anos Escravo

Título oficial: 12 Years a Slave @ 2013
Realizador: Steve McQueen
Banda Sonora: Hans Zimmer
Actores principais: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o
Classificação IMDb: 8,6
Minha classificação: 9
Prémios: Nomeação para Globo de Ouro de Melhor Actor Principal (Chiwetel Ejiofor)  Nomeado para Globo de Ouro de Melhor Actriz Secundária (Lupita Nyong'o) Nomeado Para Globo de Ouro de Melhor Actor Secundário (Michael Fassbender), Nomeado para Globo de Ouro de Melhor Realizador (Steve McQueen), Nomeado para Globo de Ouro de Melhor Argumento, Nomeado para Globo de Ouro de Melhor Banda Sonora (Hans Zimmer)


Quando vi o trailer deste filme fiquei ansiosa por poder vê-lo. Isto porque me interesso sobremaneira por tudo o que se relacione com a Guerra Civil americana, o sul esclavagista (E Tudo o Vento Levou) e o norte abolicionista (Lincoln). Por entre esses prismas unilaterais, surge este filme inesquecível de um realizador que me permiti ignorar durante demasiado tempo. Um filme que unifica a maneira de pensar do norte e do sul e que arrasta esta personagem de fibra, Solomon (Chiwetel), até uma nova identidade: Patt. Jamais tendo sido escravo, Solomon tinha a sua vida bem encaminhada em Nova Iorque. Era violinista e sustentava a família. De repente vê-se enganado e arrastado para aquele que identifico como o estado mais esclavagista dos EUA, a Georgia. Uma vez aí, é aconselhado a silenciar-se a respeito da sua instrução e da sua verdadeira identidade. Por entre os canaviais, as plantações de algodão e os múltiplos serviços que lhe são atribuídos, Solomon não esquece a família. Ocasionalmente é-lhe permitido tocar violino e cruza-se com pessoas de graus de humanidade variadíssimos, desde um amo bom (Benedict Cumberbatch), mas esclavagista, a um amo que lê as escrituras e tortura os escravos por mera maldade e ganância (Michael Fassbender). A esposa deste amo (Sarah Paulson) sofre com a sua obsessão por uma escrava específica, Patsey (Lupita), e canaliza os ciúmes e a humilhação por se ver assim preterida em pequenos gestos de maldade mal-contida. E assim se observa o quão expostos os negros estavam aos estados de humor dos brancos. Tratados como animais, avaliados pelo seu potencial de lavoura, chamados de "besta", privados até de um pedaço de sabão para se lavarem. O filme relata o modo como as frustrações, a honra e a virtude de um branco assentavam sobre o poderio que detinha sobre um punhado de negros. A sua riqueza, o seu dia-a-dia, tudo girava em torno daquelas criaturas que trabalhavam de sol a sol e dançavam ao som da sua música. 
De todas as vergonhas da humanidade - e temo-las em larga escala, alturas em que quem ficou imóvel permitiu que catástrofes se dessem -, destacaria a escravatura como a mais desumana. Isto porque teve lugar ao cabo de longos séculos de cega imposição de um tom de pele sobre outro. Longos séculos em que fomos todos desprovidos daquilo que define o Homem como algo de belo: a compaixão, a irmandade, a cooperação.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

#105 WILDES, Emma, Lições de Sedução

Sinopse: Uma verdadeira senhora não deveria aceitar lições de uma cortesã - ou deveria? A recente esposa do duque de Rolthven, Brianna Northfield, é distinta, recatada e educada - tudo o que uma jovem noiva deve ser. E que diria a sociedade se a visse com um exemplar de Os Conselhos de Lady Rothburg - um livro de lições de uma cortesã sobre comportamentos de boudoir? O muito respeitável duque, seu marido, não aprovaria, mas encontra-se demasiado ocupado com as suas obrigações ducais para prestar muita atenção à sua jovem esposa. Embora, se Brianna conseguir o que quer, isso esteja prestes a mudar… Quando a sua jovem, bonita e inocente esposa se torna, de súbito, entendida na arte do amor, Colton Northfield é apanhado de surpresa. Se antes a deixava por conta própria agora quer a sua companhia na ópera, na carruagem, e até durante o chá na sua propriedade da província, mas não pode deixar de ficar alarmado com os poderes sedutores. Onde terá ela aprendido tais expedientes? No entanto, a campanha escandalosa de Brianna está a desenvolver-se de formas que ela nunca poderia ter imaginado… Seguir os conselhos de uma cortesã pode ter graves consequências, mas valerá a pena se conseguir o seu desejo mais secreto: conquistar o amor do marido.


Opinião: Segui o conselho da Sandra Sousa e peguei neste primeiro livro da Emma Wildes. Não lia nada desde 16 de Outubro (Testemunho, Anita Shreve), pelo que queria algo que não exigisse demasiado de mim e, ainda assim, me permitisse abstrair-me.
Como estreia, posso dizer que o livro não foi nada de surpreendente, embora tenha sido diferente da típica ficção histórica com um toque de erotismo. Neste livro, ninguém está morto por desposar ninguém. Ao invés, o casal principal leva um casamento recente (3 meses) e aborrecido. O marido, um aristocrata qualquer, é conservador, distante e incapaz de demonstrar sentimentos ou emoções. Casou-se com a Brianna porque ela é "bonita", e essa beleza é várias vezes apregoada no livro. A cada vez que se dirigiram a ela, era a "bonita esposa de", a "bonita mulher de". Quando ele estava perante ela, eram os seus "bonitos cabelos" e a sua "bonita cara". Pronto, entendi. A mulher é linda, tem peito farto, é loira e tem olhos azuis. Ele também é um bonitão. Não me parece difícil que se amem, por isso o livro não me acrescentou grande coisa. Gosto de livros onde duas pessoas imperfeitas se complementam e evoluem juntas. Achei-o um pouco superficial, no sentido em que a Brianna começa a ler o tal livro com dicas de sedução da Madame tal e o marido responde a todos os seus jogos com prontidão. Sendo um homem tão reservado, eu teria gostado mais de ver ali algum debate interior. Também quando à Brianna, uma coisa é ler, outra coisa é parecer que nasceu ensinada, como é o caso no livro. Não tem grande receio de que os ensinamentos custem a pôr em prática, nem parece insegura, tímida ou intrigada com a espécie de intimidades que vai lendo e que, segundo o próprio marido tantas vezes salienta, a sua educação jamais teria lançado luzes sobre esses assuntos.
Gostei da reviravolta em que ele põe a possibilidade de que, para ser tão "sabida", provavelmente tem um amante. OK, isso foi novidade. Gostei do modo como nenhum dos dois se lançou em discussões sem sentido. Mas, no geral, foi um livro sem grande complexidade nem alma. E misturar o casal principal com outro é uma fórmula que, para mim, não resulta. Principalmente porque é dado o mesmo destaque e praticamente o mesmo numero de paginas a ambos. Era dividi-los ao meio e fazer dois livros com substância, na minha opinião.
Não sei se a voltarei a ler.

Classificação: 3***/**