A referência a Tolkien salvou-o... esperava originalidade e encontrei apenas uma receita com smiles pelo meio :(
Biscoitos da Vida Eterna - Carina Portugal - 5
É isto que um conto deve ter: o poder de nos causar emoção! Ri-me com diversas partes e fiquei siderada com a imaginação da autora, que vai do grotesco ao humor adorável (ainda assim negro) com uma mestria invejável. Adorei.
Estufado de Miolos - Ana Ferreira - 4
Embora não tão elaborado quanto "Biscoitos da Vida", gostei muito, sobretudo da conclusão, e ri-me bastante. O facto de ser uma receita para zombies pareceu-me bem original.
Túbaros de Troll Estufados - Sara Farinha - 4,5
Igualmente divertida, gostei muito da receita e do elemento fantástico envolvido. Também foi engraçado ler a respeito das propriedades nutricionais da iguaria.
Bolo de Chocolate - Carlos Silva - 4,5
Adorei a ideia de se subscrever uma máquina que faz tudo por nós, que têm aplicações infindáveis, um serviço Premium para panelas! Foi muito divertido, como toda a antologia
Como li há pouco o "Gula", pareceu-me que de certo modo os dois se relacionam. O que acho mais rico na Carina é o vocabulário, que é a grande jóia da narrativa, e o imaginário, que apesar de narrar o mesmo tipo de auto-consumo do outro conto, contém laivos de originalidade e beleza.
O Que Não Cura, Satisfaz - Ana Ferreira - 3
Faltou uma revisão. Mais parágrafos seria bom, sobretudo na primeira parte. Gostei do conceito, embora não tenha entendido se o contexto (véu, jejum, preceitos) é inventado. O mais aproximado que cheguei em termos culturais foi ao islamismo... O modo como termina parece-me um tanto abrupto. Penso que seria melhor fechar o conto atrás da paciente ao deixar o consultório.
O Paciente é o Mais Forte - Pedro Pereira - 3,5
Pequenos desacordos de número, alguma influência do Senhor dos Anéis, ou talvez de GOT. Excesso de advérbios de modo. Final um tanto abrupto, gostei da ideia mas achei-a simplista (o que, de certo modo, joga com a essência do conto).
Castidade - Sara Farinha - 3,5
Conto pequeno, com pontuação por vezes em falta, onde "decadência" surge demasiadas vezes. Luxo e opulência marcam a 2ª parte do setting, que considerei exagerada em termos descritivos. A primeira parte é muito interessante, bem como o contexto do voto. Terminou de forma abrupta, reli várias vezes as frases sem entender. No geral dava um bom livro de fantasia.
Diligência - Carlos Silva - 4,5
Má articulação de algumas frases, mas um vocabulário interessante. Gostei muito do modo como o autor conduziu a mensagem. "Último folgo" será fôlego? Adorei o nome, Semião e, apesar de não chegar a ser descrito, o setting que o mesmo sugere cativou-me. Gostei.
O Documento - Ana Ferreira - 3,8
Desacordo de género e falta de parágrafos. Ai ai, Ana! Bons diálogos, gostei do antagonismo escritor/editora e da relação de ambos. Não estou certa de ter visto "fantasia" no conto, mas não me importo. A autora poderia ter continuado para uma história maior... só tem de se preocupar menos com o chocolate quente e os chás!
O Protótipo - Pedro Cipriano - 4
A ideia (e a própria conclusão) é tão semelhante à de "Nada e Tudo" que me recordei de imediato do autor. Acabei por apreciar os trejeitos técnicos, significa que sabe do que fala. E gosto do modo como conduz a alma humana, que acaba por deixar ir... Se tiver algum livro publicado, penso que gostaria de lê-lo em busca deste espírito com o qual, de certo modo, me identifico.
Nunca tinha lido nada da Carina, foi a primeira vez. Gostei muito da linguagem, limpa e não demasiado floreada. Achei o imaginário admirável, um simples "capítulo" que faz sentido por si só e que, ainda assim, poderia fazer parte de algo maior.
Um Conto Acerca do Orgulho - Liliana Novais - 1,5
A pontuação surge mal colocada (vírgulas onde deveria estar dois pontos; sujeito e acção apartados), sucede o típico erro em que o condicional "poderia" surge como imperfeito "podia". "Planos do palácio" suspeito que seja "planta do palácio". Os diálogos pecam por construções como "Eu vim roubar" quando bastaria "Vim roubar". Muitos lugares-comuns, pouco original.
Ira - Pedro Pereira - 1,5
"Altos arranha-céus"/"Alguns dias atrás". Tempo verbal oscila do presente para o pretérito perfeito, deixando o leitor deslocado. Má colocação de vírgulas. "Alienígena" é a palavra de ordem. Pouco original e mal executado.
Luxúria - Sara Farinha - 2,5
Achei original na medida em que o final foi imprevisto. Porém, todo o resto são lugares-comuns, decotes generosos, sapatos de salto agulha, lábios vermelhos, homem musculoso e carro desportivo. O próprio cenário é do mais banal: um clube nocturno e uma dança sensual. Este "pecado" poderia ter rendido muito mais...
Nada e Tudo - Pedro Cipriano - 3,8
Tinha-me esquecido de cotar este conto, mas depois de ler "Generosidade", noutra antologia, recordei-me de imediato do estilo (e imaginário) do autor. Achei muito técnico, não é fácil seguir números. Achei o conceito interessante: o de alguém se apoderar de um bem na totalidade, causando o seu desgaste e fazendo com que deixe de ter qualquer importância para os outros, que aprendem a virar-se sem ele.
Preguiça - Carlos Silva - 4
Ainda estou a tentar entender quem é que, no discurso directo, diz "eu fui ter com Maria". Não falta ali um "a"? A meio do texto passou a haver artigo antes de Roberto. Porém gostei da inspiração, achei as descrições gráficas e muito interessantes. Com uma pequena correcção da construção frásica e seria muito bom. Acabou cedo demais!(Deve cortar nos advérbios de modo).
Desejos - Vítor Frazão - 3
Vírgulas sistematicamente mal aplicadas. Acho que a última frase encerra mal o pequeno conto. Senti que já tinha visto aquele final, mas o início poderia dar azo a um conto popular, fez-me sorrir e lembrar-me das historietas da terra da avó.
Opinião: Classificado de romance “erótico”
pontuado de humor, obscenidade e até erudição, é referenciado como “uma
obra-prima”, por Pablo Picasso. De referir que Apollinaire e Picasso deveriam
ser grandes amigos, posto que juntos levaram a cabo o roubo da Mona Lisa, em
1911. Apollinaire foi preso pelo suposto roubo. Estes pormenores da vida do
autor são interessantes, mas nada nos prepara para o livro que intitulou de “As
onze mil vergas”.
Por
muito dúbio que o título seja, diria com grande segurança que estas “vergas”
não são as óbvias, mas sim as que aplicam “vergastadas”.
O
livro, de 1907, narra a história do príncipe romeno Mony Vibescu que, por
questões pessoais, deixa Bucareste e viaja para Paris. A carta de despedida que
dirige ao vice-cônsul com quem se encontrava amiúde ajuda a explicar esse
ensejo por sair da Roménia:
“Meu
caro Bandi:
Estou
farto de ser enrabado por ti. Estou farto das mulheres de Bucareste (…)”
Por
esta altura estamos na página 13 do livro e já nos deparámos com duas orgias. É
assim que se desenrola o livro, todos os acontecimentos entre uma orgia e outra
são meros preparativos para a próxima. Sexo em grupo é o que mais vemos no
livro. As personagens só servem para se enrolar e trazer um amigo para o
próximo encontro amoroso. Temos Cuculina e Alexina Come-Tudo, parisienses que
se hão-de cruzar com as personagens noutras paragens. As duas amantes admitem o
príncipe e o seu fiel escudeiro, Corno de Boi, na sua alcova. Há a prostituta
japonesa, a polaca esposa de um general, a pobre alemã que está a amamentar, o
cossaco, e tantos outros personagens que surgem em rol para se envolverem
sexualmente com Mony e Corno de Boi, alguns deles vendo-se assassinados no
final do interlúdio amoroso.
A
sinopse do livro avisa os mais púdicos e os de estômago sensível: há orgias,
masoquismo, sadismo, escatofilia (fui ver ao google o que era) e necrofilia. Esqueceram-se de mencionar
zoofilia e pedofilia, mas num livro destes, em que as chibatadas se seguem na
alvura das nádegas das francesas, e em que se continua a investir sobre o corpo
da mulher já expirada, não era necessário mencionar-se que todos os limites
seriam ultrapassados.
Duvido
que, em toda a minha vida, venha a ler algo mais nojento do que isto. Mas a verdade
é que, depois de tanta perversão e envolvimento doentio, por se tornar
repetitivo, o livro deixa de chocar. Nem quando um pai viola o filho, ou outro
pai viola a filha de quatro meses, nem quando a mãe amamenta o príncipe em vez
da filha… Já tudo esperamos e já nada nos contorce o estômago, após as
reviravoltas iniciais. Não fui ter com o livro, não é de todo o meu género. Caiu-me no colo e dei-lhe uma oportunidade, mesmo porque era pequeno e tão deslocado de tudo que tive de lê-lo.
Por
vezes me perguntei se o livro era uma obra humorística, porque tanto absurdo só
poderia resvalar para uma de duas coisas: humor ou tremenda incapacidade de
expressão. Sucede que, nas últimas trinta páginas, o autor me surpreendeu um
pouco. Não devido a mais cenas de promiscuidade, mas sim devido ao modo como a
história (atenção: só é "história" no contexto deste livro, tão estéril) se alinha. As onze mil vergas abatem-se sobre o lombo do príncipe, que
não cumpriu a promessa de fornicar vinte vezes seguidas. Depois de tanta
crueldade, é Vibescu a vítima do sadismo de outrem, e o exército Japonês, em
plena guerra com os Russos, põe assim fim a um livro que, de tão nojento e
agoniante, me soltou francas risadas.
Não
é para qualquer um, e não é livro em que jamais volte a pegar. Porém, nunca me
conseguirei esquecer deste pedaço de loucura literária.
Sinopse: Guillaume Apollinaire foi um dos maiores poetas
modernos de língua francesa, um homem erudito e culto, presente em todos os
movimentos de vanguarda até à morte, em Paris, no ano de 1918. O presente livro
circulou durante muitos anos em edições clandestinas, mas acabou por encontrar
um lugar, de corpo inteiro, na obra de Apollinaire. Ninguém deixará de
reconhecer o seu espírito num livro tão monstruoso como ternamente erótico.
As Onze Mil Vergas conta a história de um príncipe romeno, Mony Vibescu, no
seu périplo de depravação em busca de excitação e aventura que o leva de
Bucareste a Paris, passando por vários países da Europa e culminando na China.
As suas peregrinações são pontuadas por cenas notavelmente cruas, em que
Apollinaire explora, com um humor invulgar, as facetas mais obscenas da
sexualidade, do sadismo ao masoquismo, do vampirismo ao safismo, da
gerontofilia à pederastia, do onanismo à sexualidade em grupo. Leitor de Sade,
Restif de la Bretonne e Andrea de Nerciat, Apollinaire constrói com as suas
Onze Mil Vergas a resposta do modernismo aos velhos mestres do erotismo,
expandindo e detonando os limites da obscenidade muito para além do imaginável.
Naquele
tempo, a única coisa que as distraía dos viajantes que não cessavam de chegar
eram os jantares multilinguísticos. Durante a tarde, vestiam-se com esmero,
lavavam-se juntas e tacteavam ao longo das janelas sobre a baía sempre que
ouviam a buzina de um carro. Através dos vidros viam o porteiro a precipitar-se
para o veículo e a recolher as malas que o motorista lhe passava com um aceno
de bom dia e uma cordialidade tácitos. Depois as senhoras surgiam: eram os
maridos quem lhes abria a porta e lhes estendiam a mão para que pisassem o
Estoril. Estudavam o ambiente em redor, açambarcando nos olhos celestes o
casino, a praia, os veraneantes. Levantavam os queixos delicados, afastavam os
cabelos claros e abraçavam o hotel com o olhar. O Plaza Estoril, cuja fachada
conheciam de tanto manusear os postais.
Da janela, Carlota e
Mercedes acenavam-lhes sem serem vistas. Depois, ao aviso da mamã, desapareciam
para o andar térreo e iam posicionar-se no átrio de pavimento marmóreo, logo
atrás do recepcionista, a fim de lhes aspirarem o perfume de estrangeiras.
Não
demorou muito para que as duas irmãs aprendessem a cumprimentar os hóspedes nas
suas línguas maternas. Eram fluentes em português e castelhano, filhas de pai
madrileno e mãe guardense. O irmão mais velho estudara alemão no liceu e
ensinara-lhes a lógica matemática da gramática germânica. Quanto às restantes
línguas, conseguiam sempre desviar Annie Abbot das revistas de moda que
subscrevia, ou o velho Étienne Claudel dos seus periódicos e das cartas que
tanto manejava.
Os
jantares que a mãe dava na sua suite pessoal eram o ex-libris de uma fiada de
dias sempre iguais, que começavam por acompanhar Sebastiana à lota de Cascais,
pelo paredão, e que terminavam com os coquetéis no terraço do hotel, com o sol
a tingir-lhes os rostos de dourado. Carlota já fizera dezanove anos, pelo que
fora autorizada pelo pai a beber um cálice de xerez, diluído numa pedra de
gelo, a fim de acompanhar os convivas nesses saraus. Mercedes bebia limonada, fingindo,
apenas para si, que se atordoava de champanhe.
Quando
o pai dava o dia por encerrado e se juntava aos comensais, por norma o sol já
se pusera. As filhas eram instigadas pela mãe a ir cumprimentá-lo com um beijo
no rosto. Carlota ria-se do seu bigode aguçado, mas Mercedes, que se sentia
intimidada por aquela presença severa, não se atrevia a rir. Emílio, o irmão,
acenava ao pai, como se do encontro de dois diplomatas se tratasse. Aquela
formalidade entre os dois homens da família Muñoz enternecia a mãe, que continha
o riso, quase perdendo os ares de senhora distinta.
Foi
assim que, ao longo do verão de 1940, as recepções se foram sucedendo sob a supervisão
cada vez mais exigente da mamã e a carranca do papá, que a cada novo hóspede aferrolhava
mais o cenho, como se a prosperidade do hotel fosse um percalço no panorama dos
seus investimentos.
Sinopse:Uma
rapariga encontrada morta na floresta de Monsanto. Um delicado vestido azul a
cobrir o corpo. O cabelo cuidadosamente penteado. Uma máscara de papel branco
com um poema de Florbela Espanca sobre o rosto. É este o cenário que Isabel
Lage, inspetora da Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, encontra no
local do crime. A primeira vítima de um serial killer que não deixa pistas, que
habilmente se move pela floresta e que parece conhecer todos os passos da
polícia. Isabel está apostada em resolver este mistério e fazer justiça em nome
das mulheres que morrem às mãos de um assassino frio e calculista. Mas todas as
pistas levam a João, o seu antigo companheiro de patrulha, e com quem partilhou
mais do que aventuras profissionais. Pedro Jardim, chefe de polícia com
experiência em investigação criminal, traz-nos no seu romance de estreia um
thriller empolgante e arrebatador que nos prende até à última página. Pode
haver um monstro em qualquer um de nós...
Opinião: Interessei-me pelo livro
sobretudo pelo trabalho gráfico da capa e pelo título português. Imaginar um
monstro no nosso Monsanto, um mistério a ser resolvido à maneira portuguesa,
foram isco suficiente para decidir que queria este livro. Já o tinha na mão
quando começaram as polémicas. Confesso que só depois de “encomendar” o livro
me dispus a ler asreviews, e fiquei de pé atrás. Os
leitores do Goodreads ajudam-me, através das suas opiniões, a escolher onde
investir o meu dinheiro e o meu tempo. Pus-me a ler o livro de imediato assim
que me chegou, e de facto entendi a que se referem as pessoas a quem esta obra
não cativou.
Os meus apontamentos aquando da leitura incluem:
- Incongruências a nível da escrita, ora brejeiro,
ora numa tentativa esforçada de ascender a um nível literário superior. Esta
dicotomia não funciona;
- O personagem masculino principal soa a bronco, ora
utiliza terminologia lisboeta ora se sai com expressões alentejanas que não
caem nada bem naquele linguajar, de rolas a mitras, parece-me tudo pouco
homogéneo e pouco natural;
- No centro da acção, surgem pensamentos filosóficos
que em nada se enquadram no momento, além das gralhas e dos tempos verbais
desfasados;
- Às vezes parece que a personagem principal se
mescla com o autor e tenta explicar, de um modo um tanto atabalhoado, o mundo
da polícia, explicados por floreados;
- As frases, por vezes, surgem mal articuladas, o que
me sugere que a editora deveria ter tido mais cuidado com a correcção do livro,
não foi cuidada o suficiente;
- Clichés como “bons da fita” e “maus da fita”
sucedem-se sobretudo na primeira parte da narrativa;
- Estereótipos surgem e enfraquecem a narrativa,
sejam de cariz sexual, “homens”, “mulheres”, e também ter uma Psiquiatra e um
paciente a referirem-se aos utentes dessa especialidade como “malucos” soa-me
redutor e ofensivo;
- A dado momento, posto que o livro é narrado na
primeira pessoa, as incoesões atropelam-se. Que uma pessoa se considere um
monstro, ou uma feiticeira, muito bem. Que não o confesse a ninguém, okay. Mas
que os outros, sem ouvirem essa confissão, também se lhes dirijam como
“monstro” e “feiticeira”, é impensável.
- Três das personagens têm personalidades duplas, o
que é altamente improvável e demonstra pouca versatilidade por parte do personagem.
O livro torna-se repetitivo.
A escrita não é má, o autor tem bons rasgos de
expressão. Mas o problema e sobretudo no modo como conduz o romance, não nos
dando a chance de tentar adivinhar quem é o suspeito, reduzindo as personagens
a loucos e vítimas de transtornos complicados de se lerem à luz da realidade.
Faltou realismo, suspense, mistério a este livro. Um
terço dele foi desperdiçado na vida privada de dois polícias e sem grande crime
a ser desenvolvido. As mortes que a sinopse enaltece surgem na página 115,
quase a meio do livro, e sucedem-se apressadamente. Fala-se da primeira, da
segunda, da terceira, etc. Explica-se um pouco dos procedimentos e entende-se
que o autor é exímio nesses conhecimentos, mas precisa de trabalhar melhor o
planeamento do livro, de modo a captar o leitor.
Sinopse:Reckless and wild, beautiful Lily Lawson delights in shocking proper London society and in breaking any rule to flaunt her independence. Now she′s determined to rescue her sister from an undesirable marriage to the ruthless Alex Raiford, the arrogant Earl of Wolverton. She succeeds in rescuing her sister, but in the meantime Alex decides that Lily must be his. He has resolved to make her pay dearly for her interference—with her body, her soul... and her heart.
Opinião: Gostei muito do livro, sobretudo porque foi muito diferente de todos os outros do género. Para começar, a Lily já teve um affair e tem uma filha. Passa todo o livro a tentar recuperá-la. O facto de se apaixonar pelo Raiford é só um contratempo que acaba por ser útil. Mas claro que há incongruências: a família rejeitou-a pela sua conduta escandalosa e, no entanto, quando ela os procura para acabar com o noivado combinado da irmã, todos reagem com a maior naturalidade. São personagens secundárias sem grande alma. O desenvolvimento do romance é muito interessante, sobretudo porque no início eles odeiam-se de facto. Não é aquela tensão sexual preparatória de uma história de amor atribulada. Era realmente um confronto aberto e bem fundamentado. Claro que o Raiford é maravilhoso, protector, ciumento, cheio de método, charme e influência. Em dez páginas resolve tudo o que ela enrolou durante quatro anos. Nalguns momentos, a independência atabalhoada da Lily levou-me a sentir que a Kleypas está a diminuir as mulheres, posto que o Raiford é peça chave para salvar o dia. Ele é o típico estereótipo do perfeito homem do século XIX, e ela é o exemplo de tudo aquilo que uma mulher não deveria ser. Mas gostei do livro. Gostei do modo como o amor deles nasce devagar, sem se anunciar, e quando dão por isso, já não conseguem desligar-se daquela outra pessoa.
Li em inglês, pelo que pude focar-me na escrita pura da autora, nomeadamente no número de vezes que "wryly" surge. Ainda tenho de ir ao dicionário ver o que é isto...
Se o publicarem em Português, lá vou eu comprá-lo e lê-lo. A fórmula nunca falha...
Uma magnífica estreia
literária baseada e inspirada numa história real: os últimos dias de uma
jovem acusada de homicídio na Islândia em 1829. Na agreste paisagem
islandesa, Hannah Kent traz à luz dos nossos dias a história de Agnes
que, acusada do brutal assassínio do seu anterior amo, é enviada para
uma quinta isolada enquanto aguarda a sua hora final. Apavorados com a
perspetiva de virem a albergar uma assassina, a família que a acolhe
evita Agnes nas primeiras abordagens. Apenas Tóti, um padre designado
para acompanhar Agnes nesta última caminhada e ser o seu guardião
espiritual, procura compreendê-la. Mas assim que a data da morte de
Agnes se avizinha, a mulher e filhas do lavrador descobrem que há uma
segunda versão para a história brutal que ouviram. Fascinante e
lírica, Últimos Ritos evoca uma existência dramática num tempo e espaço
distantes, dirigindo-nos a enigmática pergunta: como pode uma mulher
suportar a mágoa e a injustiça quando a sua vida depende das histórias
contadas pelos outros?
A Estrada do Tabaco, Erskine Gardwell
Durante a Grande Depressão americana, a família Lester não sabe como
sobreviver à miséria que se avizinha. Residem e gerem os territórios
rurais da Geórgia, cultivados com tabaco e algodão, mas já nem isso os
salva. Debilitados pela pobreza ao ponto de atingirem um estado de
ignorância e egoísmo cruel, os Lesters preocupam-se com a fome, os
apetites sexuais que os devoram e o medo de que a hierarquia social os
empurre para uma camada ainda mais desfavorecida.
A pobreza, o racismo e a bestialidade dos homens são aqui postas a nu,
despindo a sociedade americana dos anos 20 com crueza e violência, numa
tragicomédia de mestre. A Estrada do Tabaco é um dos grandes clássicos
americanos de Erskine Caldwell.
O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick
Estamos em 1962. A Segunda Guerra Mundial terminou há dezassete anos e a
população já teve tempo de se adaptar à nova ordem mundial. Mas não tem
sido fácil: o Mediterrâneo foi drenado, a população de África foi
eliminada e os Estados Unidos da América divididos entre nazis e
japoneses. Na zona neutra que divide as duas superpotências vive o homem do
castelo alto, autor de um bestseller de culto, uma obra de ficção que
oferece uma teoria alternativa da história mundial em que o Eixo perdeu a
guerra. O romance é um grito de revolta para todos aqueles que sonham
derrubar os invasores. Mas poderá ser mais do que isso? Subtil e complexo, O Homem do Castelo Alto permanece como o melhor romance de história alternativa jamais escrito. O Monstro de Monsanto, Pedro Jardim Uma rapariga encontrada morta na floresta de Monsanto. Um delicado
vestido azul a cobrir o corpo. O cabelo cuidadosamente penteado. Uma
máscara de papel branco com um poema de Florbela Espanca sobre o rosto. É
este o cenário que Isabel Lage, inspetora da Brigada de Homicídios da
Polícia Judiciária, encontra no local do crime. A primeira vítima de um
serial killer que não deixa pistas, que habilmente se move pela floresta
e que parece conhecer todos os passos da polícia. Isabel está apostada
em resolver este mistério e fazer justiça em nome das mulheres que
morrem às mãos de um assassino frio e calculista. Mas todas as pistas
levam a João, o seu antigo companheiro de patrulha, e com quem partilhou
mais do que aventuras profissionais. Pedro Jardim, chefe de polícia com
experiência em investigação criminal, traz-nos no seu romance de
estreia um thriller empolgante e arrebatador que nos prende até à última
página. Pode haver um monstro em qualquer um de nós... PS: Já me arrependi de ter comprado este livro. Na realidade foi-me oferecido, a meu pedido. Decidi apostar em autores portugueses, para eu própria não discriminar. Contudo, a arrogância do autor, a fraca qualidade da narrativa (segundo o Goodreads) e as inúmeras contas falsas que amigos seus criaram para lhe atribuir 5*). Não acho que seja uma boa apresentação no mundo literário... Viagem ao Coração dos Pássaros, Possidónio Cachapa Viagem ao Coração dos Pássaros remete-nos para um universo único mas que se repete sempre no tempo dos seres humanos. Fala-nos das contradições e dialética do mundo,
do amor, da vida, mas também dos seus opostos. É um livro que se lê num
sopro, como se fosse um instante, numa viagem que o leitor faz ao
coração, o seu próprio, e o dos protagonistas da história, realista,
autêntica e bela.
Possidónio Cachapa conduz-nos através da sua escrita profunda,
revelando-nos os dons que todos temos e as nossas virtudes mas também as
nossas debilidades e fraquezas, numa simplicidade narrativa que nos
prende da primeira à última página.
A Nossa Casa é Onde Está o Coração, Toni Morrison
Frank Money regressa da
guerra da Coreia em luta com os seus fantasmas. É um homem perturbado
por um profundo sentimento de culpa pelas atrocidades que se viu
obrigado a cometer e pela relutância em voltar à sua cidade natal na
Georgia, onde deixou dolorosas memórias de infância e a pessoa que lhe é
mais querida, a irmã. Mas quando recebe uma carta avisando-o de que Cee
corre risco de vida, Frank regressa, atravessando uma América dividida
pela segregação. Através desta viagem, e da viagem interior que o
protagonista vai fazendo, a autora dá-nos a definição do que é o lar, o
lugar onde estão os nossos afetos, numa combinação entre a realidade
física e social e a subtileza psicológica e emocional. Considerado um dos Melhores Livros do Ano pelo The New York Times e The Washington Post
A Dádiva, Toni Morrison
Da autoria da primeira
mulher negra a ser distinguida com o Prémio Nobel da Literatura (1993), A
Dádiva é um romance extraordinário que se passa na América do Norte de
finais do século XVII. Profundas divisões sociais e religiosas,
opressões e preconceitos exacerbados propiciam o cenário ideal para a
implantação da escravatura e do ódio racial. Jacob Vaark é um
comerciante anglo-holandês que apesar de se manter à parte do negócio
dos escravos, que então dá os primeiros passos, acaba por aceitar uma
menina negra, Florens, como pagamento de uma dívida de um fazendeiro de
Maryland. Nesta parábola do nascimento traumático dos Estados Unidos,
Morrison revela-nos o que se esconde sob a superfície de qualquer tipo
de sujeição, incluindo a da paixão, e o quanto essa falta de liberdade é
nociva para a alma.
Quando o Sol Brilha, Rui Conceição
Haverá um dia em que tu
perceberás. Que verás claramente a estrela que agora não vês. Que
distinguirás o seu brilho na noite de penumbra. Porque só então, quando
todas as outras se apagarem, essa pequenina estrela brilhará no céu. «Acho que vi cavalos no horizonte», disse o meu pai com olhos de luz, naquele sábado tão longe dos sonhos. E era um sábado fácil de descrever: eu lia um livro na varanda e o meu pai esperava pelos cavalos. Era assim ultimamente. O
sorriso do meu pai pacificou-me, sossegando pensamentos tristes que me
invadiam, quase sempre àquela hora, quando a tarde se despedia e eu
ficava a falar com o pôr do Sol sobre os meus silêncios, contando-lhe
toda a verdade, todos os sentimentos que me asfixiavam. Dizia-lhe tudo o
que sentia, que acreditava que os dias felizes apenas existiam nas
lendas.
Um Avião sem Ela, Michel Bussi
1980. Na sequência de um
trágico acidente de avião nas montanhas, as equipas de salvamento
encontram apenas um sobrevivente: um bebé de três meses. Mas iam dois
bebés de três meses no avião, duas meninas, ambas louras, de olhos
azuis. Qual delas é a sobrevivente? As duas famílias, de meios
completamente distintos, disputam violentamente a custódia da menina e
cabe a um juiz determinar se ela é Emilie ou Lyse-Rose. Para que se
declare uma das meninas viva, a outra tem de ser declarada morta. Numa
época anterior aos testes de ADN, ninguém sabe se a decisão tomada está
correta. Dezoito anos mais tarde, um detetive privado alega ter
chegado ao fundo da questão, mas depois é assassinado. Toda a sua
pesquisa está registada num caderno que deixa. Um Avião sem Ela é a
história de uma investigação para descobrir a verdadeira identidade do
bebé sobrevivente e o efeito que esta história trágica teve nos membros
da família que continuam a disputá-lo.
Os Sonhos que Tecemos, Kate Alcott
Alice
Barrow desafia todas as convenções ao abandonar o mundo rural e tacanho
onde nasceu. Numa época em que as mulheres são cidadãs de segunda
categoria, o seu emprego na fiação da família Fiske é um passo
importante rumo à emancipação. As “meninas da fiação” trabalham longas
horas em condições precárias mas a alegria que as une é completamente
nova para ela. Um dia, até dá por si a cometer a “extravagância” de
celebrar o seu primeiro salário com a compra de um chapéu. É apenas um
objeto mas vai ganhar a força de um talismã. Inadvertidamente,
Alice capta a atenção de Samuel Fiske, filho do dono da fábrica. Samuel
é um enigma. Frio e impenetrável, tem o condão de contrariar
frequentemente a própria família. O seu fascínio por Alice é a
derradeira afronta aos pais e à ordem social. Será amor ou mero
capricho? O
teste aos seus sentimentos será abrupto. Quando uma jovem muito
especial aparece morta, toda a hierarquia de poder é posta em causa. O
que se segue é um eco da luta ancestral entre ricos e pobres, poderosos e
oprimidos. Apenas os mais determinados conseguirão vingar. Apenas um
amor verdadeiro poderá sobreviver. Baseado
numa história verídica de 1833, OS SONHOS QUE TECEMOS retrata um
momento de viragem na História dos Estados Unidos e é uma ode à natureza
complexa do amor e da amizade.
Quando Nietzsche Chorou, Irvin D. Yalom Uma história maravilhosa acerca do amor, da redenção e do poder da
amizade.
Friederich Nietzsche, o maior filósofo da Europa, está no limite de um
desespero suicida, incapaz de encontrar cura para as insuportáveis
enxaquecas que o afligem. Josef Breuer, médico distinto e um dos pais da
Psicanálise, aceita tratar o filósofo com uma terapia nova e
revolucionária: conversar com Nietzsche e, assim, tornar-se um detective
na sua cabeça.
Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois
gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente,
conhecer-se a si próprios.E no final não é apenas Nietzsche que exorciza
os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e
descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões
sexuais.
Quando Nietzsche Chorou funde realidade e ficção, ambiente e suspense,
para desvendar uma história superior sobre amor, redenção e o poder da
amizade.
Este é o espaço onde partilho opiniões sobre filmes que gostei/não gostei. Só
posto os que considero dignos de serem mencionados, para o bem e para o mal.
Não faço disto um diário da minha vida filmográfica. Para poder falar por fim
com conhecimento de causa, submeti-me a duas horas de Fifty Shades of
Grey, apenas para concluir que o panorama geral é ainda pior do que eu
imaginava. Senti que, à parte da banda sonora, nada funcionou no filme.
Partindo de um livro tão pobre, a Sam Taylor-Johnson não tinha muito por onde
se virar. Mesmo porque é sabido que a própria E.L. James não deixou de dar
palpites sobre o filme. Isso transparece: a pressão posta em cima do filme,
para que funcionasse, e dos actores, para que tornassem credíveis diálogos
embaraçosos, de tão absurdos, é evidente.Tive pena do Jamie Dornan, que é
acusado de ser mau actor neste filme, por não saber pôr mais afinco nas
chicotadas que dá à princesinha Steele. Também, ao contrário do que já tenho
ouvido dizer, tenho pena da Dakota Johnson. Parece-me uma menina doce e até um
tanto tímida, o que a terá tornado a pessoa ideal para assumir o papel da
cabeça-oca da Anastasia Steele. Porém, a estupidez é tamanha que acaba por
prejudicá-la também. Como ser-se bom actor com uma pobreza de argumento destas?Eu
e a minha irmã assistimos à versão não-explícita do filme juntas. Agora virem a
cara porque vão chover spoilers:a) Foram inúmeros os silêncios
incómodos que nos obrigaram a soltar risos;b) O filme começa muito mal mesmo,
com as incongruências a atropelarem-se umas às outras. Desde os lugares sempre
livres à porta do edifício do Grey, ao lugar livre à porta da loja onde ela
funciona, à química inexistente entre os actores.c) As personagens são
uni-dimensionais, do género que povoavam os meus rascunhos de aspirante a
escritora na tenra adolescência. Nessa altura a melhor amiga só servia
para ser inconveniente e nos lembrar que estávamos apaixonadas por fulano tal, o
irmão do nosso namorado era o par perfeito para a melhor amiga/irmã solteira, a
mãe estava convenientemente afastada para dar uma mobilidade facilitada à jovem
heroína, que com a mãe à perna não se poderia meter em aventuras.O
rapaz principal era sempre muito novo, muito rico, muito perturbado com a
infância e havia sempre um traço físico que fazia com que isso viesse à baila:
uma cicatriz no sobrolho, uma queimadura no braço.E poderia continuar para sempre.
b) Falas
tipo "I don't make love, I fuck hard", ou "I want to fuck you in
the middle of next week", ou "I don't do romance", ou "Like
where you keep your Xbox?" ou "This is my red room of pain" ora
me punham a rir, ora me embaraçavam. Tive genuína pena dos actores e não
entendo como se submeteram a tamanho flop nas suas carreiras.
c) Ele não
é controlador, ele é doente. Há uma
diferença. O Moisés, que assassinou a ex-mulher (Carla Santos) depois de anos a
segui-la e a espiolhar-lhe a vida toda, não era controlador, era doente.
Apanhou 20 anos de prisão.
E tudo deve
ter começado assim...
d) Da segunda
vez que o casal maravilha se vê (se não fosse a óbvia pressão para o Jamie
Dornan olhar a moça e dizer "I am looking [at you] eu não adivinharia que
vinha aí um relacionamento entre duas pessoas, e ficaria à espera da
"faísca", que nunca vem) eu ainda não sentia qualquer conexão entre
os dois protagonistas. Contudo, o Mr. Grey já tinha a mioleira a fervilhar, e
já lhe estava a perguntar quem era o fotógrafo e o patrão, e etc., etc. Eu e a
minha irmã olhámos uma para a outra e gritámos: FOGE!
e) Pouco
depois, na embaraçosa cena em que ela lhe liga, bêbeda, já ele assumiu que é
pai dela (sem beijo, sem qualquer romance a insinuar-se). E não é um pai
qualquer, é um pai com direito a palmadas, então adivinha onde ela está (o
filme não se importa de explicar, assume que todos os que foram assistir tiraram
a quarta classe para poder ler o livro), e vai atrás dela. Numa cena nada
encenada, onde prima a naturalidade com que os acontecimentos se intercalam,
durante a película, o amigo dela (porque não um estranho???) está a tentar
beijá-la. Que conveniente para que ele venha salvá-la! Awwww!
f) O filme é um
cliché pegado, polvilhado do mau gosto aterrador que creio que seja a essência
do livro. Para alguém que não saiba o que está por detrás de tudo isto, e que
veja o filme como coisa independente e tente daí extrair algo, o que vê? Uma
rapariga desastrada, intimidada pelo homem muito rico (ah, ela é virgem!),
que ao longo do filme exibe a sua riqueza com uma garagem cheia de
carros, uma enorme colecção de gravatas, um helicóptero privado, um apartamento
grande onde tudo reluz e não há qualquer marca de personalidade, um paralelo
óbvio com o "vazio" da vida do Grey antes de conhecer a Steele, um
piano que ele toca (composição mais óbvia não há, reconheci-a de imediato),
programas fora do comum. Em 1990 já havia um filme igual: chamava-se
Pretty Woman, mas de algum modo o Richard Gere tratou a prostituta melhor
do que o Mr. Grey, e a Vivian (Julia Roberts) tem mais amor-próprio e dignidade
que a virgem deste filme.
g) A tal
ideia da BDSM só é absurda (e nunca revolucionária, e muito menos o sexo é
revolucionário neste filme, se quiserem dou-vos uma lista de bons filmes que
metem cenas de sexo, ou mesmo livros) na medida em que ela é uma ignorante que
não faz ideia de onde se está a meter. Não basta ele querer decidir tudo a
respeito da sua vida, o que lhe anula o livre arbítrio e a torna uma sombra
doutrem, ainda quer agredi-la e magoá-la fisicamente. Preferia não
ter sabido de nada disto. Só consigo imaginar as mamãs a mascararem-se e a
porem-se a jeito para os maridos lhes darem umas palmadas nas nádegas. Que
elas pediram (ok, ao menos isso, ao contrário do filme). Acho muito
bem que as pessoas sejam abertas quanto à sua sexualidade, dialoguem e até
levem palmadas ou lhes façam chichi em cima, se é a cena delas. Mas de repente
meterem palas nos olhos por causa dum livro miseralmente escrito, equipararem a
situação a uma revolução sexual e esgotarem as prateleiras de tampões anais das
sex shops internacionais já me assusta um bocado... Então foi preciso que
viesse esta cegueira para descobrirem que tinham rabo? Foi preciso o Fifty
Shades para que se dessem conta que há gente que gosta de pôr trela e
levar açoites? E de repente já está tudo bem, porque é disso que fala o único
livro que leram na vida? Absurdo. Hipocrisia total.
h) Na
parte em que ela se inclina e ele lhe aplica seis valentes açoites com um cinto
de couro no rabo, experimentei uma estranha satisfação. Uma parte de mim dizia
"Vêm? Vêm como a mulher fica numa posição que a rebaixa e, quer queira
quer não, há pouca igualdade nesta situação? Vêm que dói e que até a atrasada
mental da Steele entendeu que ele é doente mental por procurar arrastar uma
pessoa como ela para um mundo que só ele domina (e é dominador, foi sem querer,
este twist)?" E pensei: OK, ela aprendeu. Mas não, ela não
aprendeu, porque vêm aí mais dois filmes. Suponho que, a dado momento, ela
volte a agachar-se para ele a sovar.
i) Sabem em que
pensei, enquanto o Jamie Dorman expelia o ar dos pulmões para transmitir a
sensação de alívio que esta personagem mal enjorcada da E.L. James conforme
descia o cinto nas nádegas da pobre burrinha? Que há tanta beleza num homem que
cuida, que se preocupa, que seria incapaz de nos magoar, fosse como fosse, e
que se odiaria se nos causasse qualquer espécie de dissabor...
Este Grey é
o oposto daquilo que um homem deve ser, na minha opinião de jovem de 25 anos,
solteira, que se calhar vai passar a vida toda à espera que um grande amor me
arrebate. E isto é o oposto da história da Cinderela. É-me chocante que sejam as mulheres as principais consumidoras
deste produto de caca. É-me chocante que uma mulher absolutamente medíocre como
a E.L.James tenha o nome sabido em todas as tascas por causa de um livro que
começou doutro tão mau ou pior, e que evoluiu para este histerismo colectivo e
infundado. Uma britânica que escreve sobre americanos com expressões
britânicas. Uma mulher que não sabe escrever, nem tem imaginação, nem sabe do
que fala.
Enfim, é o mundo que temos.
E outras E.L. James virão, porque o povão está aí para papar
e adorar.
Que fique claro que não lhe dei 1€ seja com os livros, seja com o
filme.