sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

#1 LINCOLN


Título oficial: Lincoln @ 2012
Realizador: Steven Spielberg
Banda sonora: John Williams
Actores principais: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Joseph Gordon-Levitt, Tommy Lee Jones
Classificação IMDb: 7,9
Minha classificação: 6

Sinopse: Conforme a Guerra de Secessão decorre, o Presidente da América luta continuamente, inclusive contra os homens da sua própria facção, a respeito da 13ª Emenda que conferiria a liberdade aos escravos.


Opinião: Meus queridos eu sou absolutamente doida pela Guerra da Secessão. Na minha opinião é o período mais importante da História Americana e carrega muitas repercussões consigo. Para quem não sabe, trata-se de um conflito de cariz civil decorrido entre 1861 e 1865 entre os Estados da América mais a Norte, a "União", e os Estados Confederados a Sul, a "Confederação". A guerra despoletou porque o Sul, ruralizado, cujo sistema económico assentava totalmente na produção de algodão suportada pelo trabalho escravo, pretendia desligar-se do Norte industrializado, baseado no proteccionismo económico e anti esclavagista (este ponto é controverso). Criando uma Confederação independente dos Estados a Norte, causou uma fricção que, já com Abraham Lincoln no poder, se estendeu em combates sangrentos durante quatro longos anos.
O meu filme favorito de sempre é o E Tudo o Vento Levou. Para quem pensa que é a história de amor de uma rapariga bonita e de mau feitio e um cretino arrogante, fique a saber que é a História do Sul, onde os valores aristocratas e o liberalismo económico imperava. A arrogância do Sul elevada a um poema, apesar de todos os erros humanitários... A Margaret Mitchell, com o seu maravilhoso romance, criticou e exaltou uma "nação" à parte da restante América. Os negros são bem tratados, mas não são livres. A economia do Sul, embora liberalista, irá colapsar porque está dependente do preço do algodão. O que se vê no maravilhoso filme do David O. Selznick e do Victor Fleming de  1939 é a queda de um modo de vida, impulsionada pela guerra. O Norte pretende absorvê-los, por muito que não os compreenda nem os valorize, e o Sul, orgulhoso, rebela-se. Durante a guerra ambas as facções sobrem atrozmente as baixas e os horrores do conflito. Muito sangue é derramado e, na perspectiva do Sul, a estratégia do Norte para angariar mais braços para a sua causa e sufocar de vez a sua economia é libertar os escravos. Deste modo perderiam os braços dos negros que combatiam (obrigados) pelo Sul e, quando a guerra terminasse, não teriam mão de obra para levar a produção algodoeira  a bom porto. De facto, há uma reflexão sobre o facto de os negros não estarem, sequer, preparados para a alforria. Não têm outra estrutura social que não pertencer a uma casa, trabalhar a sua terra, dormir nas camas providenciadas pelos amos e cuidar dos seus filhos. Livres tornam-se velhacos, vingativos (como é compreensível), causam mortes, abusam de mulheres, estabelecem-se em acampamentos e embebedam-se nos botequins. Eu faria o mesmo depois de três séculos de escravatura, mas torna-se também compreensível a perspectiva do Sul, que não conhece outro modo de sustentabilidade.

Vendo o filme do Spielberg, aliás nomeado para os Óscares, adormeci na primeira parte. I did, pela primeira vez no cinema. O filme começa com diálogos (francamente forçados) que expõem - tell - as estratégias da União e os receios dos civis, das esposas, dos filhos. Lincoln surge com um sorriso benevolente e postura exausta. Penso que o Daniel Day-Lewis conseguiu recriar a aura em torno deste Presidente, até porque é bem mais jovem do que Lincoln era mas, por vezes, a caracterização pareceu-me um pouco caricata. A moda não era muito amiga da estética à época e surgem um pouco exageradas aquelas patilhas, difícil é fazer a personagem parecer credível. Creio que a representação do Day-Lewis é irrepreensível, mas o envolvimento tornou o filme, para mim, um bocado teatral. Bom bocado dessa primeira parte (antes de adormecer) foram sequências de homens a disparar leis e a discutir o papel estratégico da 13ª Emenda (a que libertaria os escravos) para o fim da guerra, que é tudo o que se ambiciona.
Pareceu-me, a dado momento, que a 13ª Emenda era algo de abstracto, uma ferramenta mais política do que humanitária. Aliás, isto resume o livro. É bem mais político do que humanitário, e era o lado humanitário que eu procurava no filme - se tivesse alguma expectativa no filme, que aliás não tinha.
Todo o filme é muito sóbrio, muito formal, tirando uma piadinha ou outra, bem como a personagem do Tommy Lee Jones, que quando actua rouba a cena, teria dormido ao longo de toda a segunda parte também.
Os cortes de cenas causam quase anticlímaxes, eu procurava, sendo o Spielberg, alguma arte intrínseca, mas pareceu tudo muito técnico, muito sóbrio, muito frio.


A banda sonora, que poderia ter ajudado a salvar o filme - John Williams! Por amor de Deus (Memoirs of a Geisha) - é monótona, ajudou a embalar-me. Não há um clímax, uma composição que fique na memória... e logo eu, sempre tão atenta à soundtrack.

Enfim... 6*/10* e porque é a Guerra de Secessão.

Quase oiço a Scarlett O'Hara a dizer "Tonight I wouldn't mind dancing with Abe Lincoln himself!".


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