Realizador: Oliver Hirschbiegel
Banda Sonora: Blutrote Rosen
Actores principais: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara
Classificação IMDb: 8,3
Minha classificação: 6,5
Prémios:
Nomeado para Melhor Filme de Língua Estrangeira (USA),
Nomeado para Melhor Filme de Língua Não Espanhola (Argentina),
Nomeado para Melhor Actor Bruno Ganz (European Film Awards), etc.
Melhor Filme Estrangeiro (Amanda Awards, Noruega),
Melhor Filme Nacional (Bambi Awards, Alemanha)
Melhor Filme Estrangeiro Independente (British Independent Films Awards)
Etc.
Nomeado para Melhor Filme de Língua Estrangeira (USA),
Nomeado para Melhor Filme de Língua Não Espanhola (Argentina),
Nomeado para Melhor Actor Bruno Ganz (European Film Awards), etc.
Melhor Filme Estrangeiro (Amanda Awards, Noruega),
Melhor Filme Nacional (Bambi Awards, Alemanha)
Melhor Filme Estrangeiro Independente (British Independent Films Awards)
Etc.
Estive
o dia todo de cama, possivelmente com outra das minhas infecções respiratórias e
apeteceu-me ver um filme. Die Untergang,
ou Downfall, “A Queda”, de 2004, é de
realizador alemão, natural de Hamburgo. Eu não sabia muito a respeito da
Alemanha ou dos alemães até à minha curta estadia de uma semana em Richtweg,
mas uma coisa soube ler nos seus rostos: desolação. Não entendia o porquê do
peso que Hamburgo transportava em cada esquina. Toda a cidade parecia nova e
cuidada, mas havia qualquer coisa que me mantinha de pêlos eriçados quando
caminhava sozinha por aquelas ruas. E então descobri a Igreja e Torre de São
Nicolau, o único edifício que parece velho em Hamburgo. Agregado à torre,
existe um museu que é, na realidade, uma lembrança viva do que foi o suplício
da II Guerra Mundial para os alemães. Em Hamburgo, ofereciam-se jogos de
tabuleiro às crianças onde os ensinavam a como se proteger de um raid aéreo. Em
Julho de 1943, grande parte da cidade foi arrasada por um raid aéreo – a Operação
Gomorrah -, levada a cabo sobretudo por britânicos. Para a Alemanha nazi, desviar
a atenção da capital para outro ponto de interesse estratégico como Hamburgo
era essencial. Para as pessoas que lá viviam, foi um horror que, mesmo setenta
anos depois, continua impresso nos olhares de toda a gente.
É
impensável que num mundo esclarecido, num século XX tão prometedor, algumas
mentes tenham sido capazes de se sobrepor a outras de modo tão efectivo que
causaram a miséria de todo um continente e quase o colapso de uma civilização.
Em
“A Queda”, Hitler surge como um velhinho trémulo e orgulhoso, que deixou de
fazer sentido e, portanto, de ser obedecido. É educado e cortês, mas sofre
assomos de fúria. Recusa-se a acreditar que o seu sonho de uma Europa unida se
desfaça assim, com os Russos a sobrevoarem Berlim e a bombardearem o coração do
III Reich. Mesmo nos seus últimos dias, o Führer não acredita que vá fracassar.
Movimenta esquadrões militares que já pereceram a esquematiza ataques que estão
fora de questão. A Alemanha já não se pode defender e os últimos crentes
rodeiam-no nas suas horas finais, demonstrando fé na sua pessoa e no ideal de
Nacional Socialismo.
Segundo o filme, criação alemã sobre um momento tão significativo para a história
alemã, o Füher demonstra um total desrespeito para com os civis e para com a vida
humana. Oficiais são executados sumariamente, civis são enforcados, hospitais
são encerrados com dezenas de idosos apinhados na cave à espera que os Russos
cheguem e decidam sobre os seus destinos. Toda a gente parece pronta a
suicidar-se por este ideal e por este homem que lhes pede que o façam, se tudo se resumir a isso ou ao cárcere às mãos dos russos, e mesmo uma mãe é retratada a levar todas as suas
crianças a engolir pílulas suicidas. A pastora alemã de Hitler e Eva Braun não se
salva ao capitular do Império, sendo mais uma das vítimas inocentes que narram o absurdo desses últimos dias. Os oficiais de patentes superiores suicidam-se
das mais diversas formas, sobretudo os membros da SS, que se recusam a cair nas
mãos dos Russos. Dizem que não faz sentido "sobreviverem à morte de Hitler".
Destaca-se,
ao longo do filme, uma jovem dactilógrafa, Traudl Junge, que só próximo do
final se apercebe da loucura surreal que a rodeia e decide que é jovem demais para
perecer. Esse gesto não demonstra deslealdade para com o governo, mas sim um
despertar do seu alheamento, que a levou a ignorar as atrocidades que eram
cometidas pelos nazis.
Todo
o filme é povoado de devotos Nacionais Socialistas, sendo que o que os difere é
apenas o nível de humanidade que ainda carregam no peito, bem como a sua perspectiva sobre o desperdício da vida humana para uma causa perdida. De resto todas as
personagens que circundam Hitler nos seus dias finais são fiéis agentes do
nazismo, pelo que não vale a pena verem o filme à procura de qualquer tipo de
oposição idealista àquilo que sabemos ter sido a Alemanhã Nazi.
As
emoções são um pouco confusas na construção deste retrato dos últimos dias no bunker com Hitler. Sendo este alemão, sobre alemães, os
mesmos parecem impávidos perante situações que escandalizariam qualquer pessoa
com um mínimo de coração, mas depois as mulheres surgem como criaturas
histéricas a berrar por coisas que parecem mínimas. Não consigo, sequer,
decidir se gosto do filme ou se o mesmo é bom. Todavia, Bruno Ganz, como Hitler,
afigura-se-me sublime. Foi a única personagem que transmitiu emoções coesas. É
difícil ler emoções nos filmes germânicos, mas penso que “A Vida dos Outros”
esteja bem melhor nesse campo do que “A Queda”.