quarta-feira, 16 de maio de 2012

#32 LARSSON, Stieg - A Rainha No Palácio das Correntes de Ar



1891 páginas depois, acabei de ler a Trilogia Milénio, do falecido jornalista Stieg Larsson. Com esta “viagem” atribulada de quase cinco meses, tirei várias conclusões sobre mim como leitora, sobre o meu género de livro e, sobretudo, sobre o não me meter em Trilogias/Sagas porque é um desgaste enorme de tempo e cabeça. Muitas vezes avançamos frustrados, na ânsia de resolver todas as pontas soltas de uma vez, de chegar à realização dos heróis e à punição dos bandidos. Esta Trilogia é, média de pontuações, 5*****. No entanto, devo dizer que o segundo livro é, de longe, o meu favorito. E o terceiro o mais “fraco” em termos de ritmo e entusiasmo.

Como leitora dei por mim a pensar, várias em vezes, em como o Larsson conseguiu hipnotizar-me. Quando algo me é difícil demais, desisto. No entanto sorvo 1891 páginas de uma cultura que desconheço - a sueca - de pessoas que me são estranhas e com as quais não é suposto ter ponto algum de concordância - o jornalista mulherengo Blomkvist e a excêntrica hacker da Salander, de um governo e um sistema judicial ao qual nunca tinha dedicado dois minutos, à própria Europa do Norte e às suas questões financeiras - indústria, investimentos, equipamentos, e social - imigração, comunicação social, problemas sociais. E política, claro. Primeiros-ministros, monarquia, etc., etc., etc.. Fiquei orgulhosa de mim por ter mergulhado tão fundo em questões tão complexas. Os livros são o raio de uns tabuleiros de xadrez avançadíssimo. Por vezes dei por mim totalmente às aranhas e só esforçando-me à séria cheguei lá... Mas são simultaneamente acessíveis, e por isso consegui!

Adorei o surrealismo das situações que o Larsson teceu em teia ao longo de três longos livros, adorei o modo quase científico como alinhavou as explicações. Convenceu-me do princípio ao fim, pôs-me a rir - a franguela da Salander avia dois motoqueiros machões com um taser e uma pistola que consegue remover das mãos dum deles - e fez-me amar de coração uma autêntica heroína massacrada dos tempos modernos, que não se fica e é francamente mais inteligente do que todos ao seu redor. Oh Lisbeth... vou ter saudades tuas!

Esta personagem [Lisbeth Salander] é épica, ao lado da Scarlett O’Hara do “E Tudo o Vento Levou”, é a minha favorita de tudo o que li até agora. Com a sua extrema magreza, olhos pintados de negro, tachas e correntes, saias curtas de couro, botas de biqueira de aço e cabelo tingido de preto e escortanhado, com piercings nos mamilos e tatuagens por todo o lado... Adorei o seu passado, admiro-a, admiro o seu instinto esmagador de sobrevivência. Amo o facto de ter sido, ao longo dos três livros e sob descrição do próprio Mickael Blomkvist “Uma rapariga cheia de recursos”. Acabou a trilogia com uma pistola de pregos eléctrica na mão, a lutar por se safar às manápulas implacáveis dum gigante sem sensibilidade à dor.

O Larsson habituou-me à sua escrita quase jornalística. Por vezes áspera, por vezes comparável à de uma menina inocente. “Fazer amor”, aplicado a um mulherengo. “F**er”, quando é a Lisbeth Salander a dizê-lo.

Sinopse: Lisbeth Salander sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com outro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no mesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas…

Entretanto, mantêm-se as movimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurança sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho.
Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também não está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, Anika Gianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger? Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser ameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?
Também revi este da Trilogia Milénio:

Opinião: Sabe-se, praticamente desde o início, que a Lisbeth Salander vai ser julgada. Acontece que ela foi quase mortalmente ferida pelo Zalachenko, pelo que passa metade do livro a restabelecer-se no Hospital, sob vigia médica e policial. O julgamento só sucede praticamente nas últimas duzentas páginas de um livro de 731. É no mínimo frustrante. Todo o livro é um jogo de estratégia avançada. É por isso que fiquei estupefacta com a mente brilhante do Larsson. Temos, em várias frentes e sob diversos propósitos, todos em conjunto para conduzirem a absolição/condenação/internamento da Lisbeth conforme os favorece, a polícia sueca, a Säpo (polícia especial de segurança do estado), a Secção dentro da Säpo (um banco de rufiões a manipular os assuntos de estado), a revista Milénio (com Mickael Blomkvist na frente e os seus colaboradores na sua peugada), a Milton Security, o psiquiatra de Lisbeth desde os seus doze anos, Peter Teleborian, e o tutor de Lisbeth desde os dezasseis. É um combate épico em que o estado se contorce para esconder espiões estrangeiros do tempo da Guerra Fria, questões de violência doméstica abafadas, prostituição, escutas e atentados ilegais, pervertidos a perseguir o objecto das suas obsessões, imigrantes a tentar entrar no país em busca de uma vida melhor e a serem inseridas violentamente em redes de prostituição internacional, exploração infantil, desfalques, deturpação de provas, etc., etc.. E a Salander no centro disto tudo, somente munida de um computador de bolso (ela, uma hacker brilhante) estendida numa cama com um colar cervical e a cicatriz recente de uma bala que lhe foi extraída do cérebro...
 
Classificação: 5*****

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