1891 páginas depois, acabei de ler a Trilogia Milénio, do
falecido jornalista Stieg Larsson. Com esta “viagem” atribulada de quase cinco
meses, tirei várias conclusões sobre mim como leitora, sobre o meu género de
livro e, sobretudo, sobre o não me meter em Trilogias/Sagas porque é um
desgaste enorme de tempo e cabeça. Muitas vezes avançamos frustrados, na ânsia
de resolver todas as pontas soltas de uma vez, de chegar à realização dos
heróis e à punição dos bandidos. Esta Trilogia é, média de pontuações, 5*****.
No entanto, devo dizer que o segundo livro é, de longe, o meu favorito. E o
terceiro o mais “fraco” em termos de ritmo e entusiasmo.
Como leitora dei por mim a pensar, várias em vezes, em
como o Larsson conseguiu hipnotizar-me. Quando algo me é difícil demais,
desisto. No entanto sorvo 1891 páginas de uma cultura que desconheço - a sueca
- de pessoas que me são estranhas e com as quais não é suposto ter ponto algum
de concordância - o jornalista mulherengo Blomkvist e a excêntrica hacker
da Salander, de um governo e um sistema judicial ao qual nunca tinha dedicado
dois minutos, à própria Europa do Norte e às suas questões financeiras - indústria,
investimentos, equipamentos, e social - imigração, comunicação social,
problemas sociais. E política, claro. Primeiros-ministros, monarquia, etc.,
etc., etc.. Fiquei orgulhosa de mim por ter mergulhado tão fundo em questões
tão complexas. Os livros são o raio de uns tabuleiros de xadrez avançadíssimo.
Por vezes dei por mim totalmente às aranhas e só esforçando-me à séria cheguei
lá... Mas são simultaneamente acessíveis, e por isso consegui!
Adorei o surrealismo das situações que o Larsson teceu em
teia ao longo de três longos livros, adorei o modo quase científico como
alinhavou as explicações. Convenceu-me do princípio ao fim, pôs-me a rir - a
franguela da Salander avia dois motoqueiros machões com um taser e uma
pistola que consegue remover das mãos dum deles - e fez-me amar de coração uma
autêntica heroína massacrada dos tempos modernos, que não se fica e é
francamente mais inteligente do que todos ao seu redor. Oh Lisbeth...
vou ter saudades tuas!
Esta personagem [Lisbeth Salander] é épica, ao lado da
Scarlett O’Hara do “E Tudo o Vento Levou”, é a minha favorita de tudo o que li
até agora. Com a sua extrema magreza, olhos pintados de negro, tachas e
correntes, saias curtas de couro, botas de biqueira de aço e cabelo tingido de
preto e escortanhado, com piercings nos mamilos e tatuagens por todo o lado...
Adorei o seu passado, admiro-a, admiro o seu instinto esmagador de
sobrevivência. Amo o facto de ter sido, ao longo dos três livros e sob
descrição do próprio Mickael Blomkvist “Uma rapariga cheia de recursos”. Acabou
a trilogia com uma pistola de pregos eléctrica na mão, a lutar por se safar às
manápulas implacáveis dum gigante sem sensibilidade à dor.
O Larsson habituou-me à sua escrita quase jornalística.
Por vezes áspera, por vezes comparável à de uma menina inocente. “Fazer amor”,
aplicado a um mulherengo. “F**er”, quando é a Lisbeth Salander a dizê-lo.
Sinopse: Lisbeth Salander
sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o
seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no
hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações
que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth
sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com
outro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no
mesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas…
Entretanto, mantêm-se as
movimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurança
sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está
determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho.
Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth
pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a
conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também não
está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, Anika
Gianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger?
Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser
ameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?
Também revi este da Trilogia Milénio:
Opinião: Sabe-se, praticamente desde o início, que a
Lisbeth Salander vai ser julgada. Acontece que ela foi quase mortalmente ferida
pelo Zalachenko, pelo que passa metade do livro a restabelecer-se no Hospital,
sob vigia médica e policial. O julgamento só sucede praticamente nas últimas
duzentas páginas de um livro de 731. É no mínimo frustrante. Todo o livro é um
jogo de estratégia avançada. É por isso que fiquei estupefacta com a mente
brilhante do Larsson. Temos, em várias frentes e sob diversos propósitos, todos
em conjunto para conduzirem a absolição/condenação/internamento da Lisbeth
conforme os favorece, a polícia sueca, a Säpo (polícia especial de segurança do
estado), a Secção dentro da Säpo (um banco de rufiões a manipular os assuntos
de estado), a revista Milénio (com Mickael Blomkvist na frente e os seus
colaboradores na sua peugada), a Milton Security, o psiquiatra de Lisbeth desde
os seus doze anos, Peter Teleborian, e o tutor de Lisbeth desde os dezasseis. É
um combate épico em que o estado se contorce para esconder espiões estrangeiros
do tempo da Guerra Fria, questões de violência doméstica abafadas,
prostituição, escutas e atentados ilegais, pervertidos a perseguir o objecto
das suas obsessões, imigrantes a tentar entrar no país em busca de uma vida
melhor e a serem inseridas violentamente em redes de prostituição
internacional, exploração infantil, desfalques, deturpação de provas, etc.,
etc.. E a Salander no centro disto tudo, somente munida de um computador de
bolso (ela, uma hacker brilhante) estendida numa cama com um colar
cervical e a cicatriz recente de uma bala que lhe foi extraída do cérebro...
Classificação: 5*****
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